por Marcos Paulino
A Hewie é uma banda pop. Até aí, nenhuma novidade. Mas saiba que, em vez de uma guitarra, o trio tem um piano. Então a coisa fica mais interessante. Agora acrescente que a vocalista e principal compositora também toca violino. Pra completar, não há um baixista fixo. A ideia é trabalhar com músicos convidados.
A história da Hewie começa em 2010, quando o grupo foi formado, e passa pelo programa Breakout Brasil, quando o então quarteto foi eliminado no terceiro episódio do reality show. O baixista decidiu pular fora, mas a vloger Paula Landucci (vocalista e violinista) mais Caio Gomes (bateria) e Guilherme Gulias (pianista) seguiram em frente e apresentam agora seu disco de estreia, que leva o nome da banda.
“Hewie”, o disco, foi concretizado via financiamento coletivo. A ideia era arrecadar R$ 40 mil, mas 1.350 fãs juntaram quase o dobro disso. Nada mal para quem começou a circular pela cena independente há apenas cinco anos, em plena adolescência. No papo abaixo, Paula Landucci conversou com o PLUG, parceiro do Scream & Yell, sobre o disco, a formação inusitada da banda e o sucesso do crowdfuding. Confira.
A banda tem uma formação um tanto inusitada, sem um guitarrista. Desde o começo vocês pensaram em fazer algo diferente ou as coisas se encaminharam naturalmente?
Naturalmente. Aos 10 anos, comecei a tocar violão, cantar e compor. Quando estava na 8ª série, com uns 14 ou 15 anos, conheci o Caio, o baterista, marcamos um ensaio e deu super certo. Então começarmos a tocar juntos, nós dois e um baixista. A gente sentia que faltava um elemento, e sabia que não era uma guitarra, porque queríamos um som mais acústico. Em 2010, um amigo que trabalhava numa loja de música indicou um pianista, que foi experimentar um piano lá. Convidamos ele para um ensaio e deu certo.
E o piano empresta certo charme à banda. Como é a reação do público frente a essa formação diferente nos locais em que vocês se apresentam?
Realmente, chama a atenção, até de uma forma que eu não esperava. Achei que fosse normal, até porque escuto bastante folk music, em que é super natural ter piano, banjo, violino… Mas a plateia realmente se surpreende, porque o piano é grande, impressiona. Ainda levamos piano digital, mas em breve queremos levar piano de cauda, porque é lindo demais e o som não tem comparação. Sem contar que nosso pianista é um ótimo músico, veio do erudito, tem um tocar lindo.
Por que a decisão de também não ter um baixista?
Sempre tivemos um baixista, mas já tínhamos tido duas alterações. Quando fechamos com a agência e não seríamos mais independentes, decidimos que a coisa seria séria, e optamos por não ter mais um baixista como integrante. Como tem que ter o baixo, convidamos músicos que nos acompanham. Acreditamos muita na amizade que temos na banda, somos realmente muito companheiros. Se aparecer um quarto “hewier”, vai ter que ser naturalmente, como foi com os outros. Até lá, seremos nós três e um convidado.
O som de vocês tem folk, mas também rock, pop e outros gêneros. Dentro dessa miscelânea, como funciona o esquema de composição?
Eu sou a compositora e gosto de ter a liberdade pra ouvir vários estilos musicais. Deixo fluir. Então, diferentes estados de emoção em que estou geram diferentes ritmos. Aí aparecem as influências que tenho de várias vertentes, por isso temos músicas mais para o reggae, mais para o rap, para o pop rock, para o folk… Porque é tudo que escuto. Depois que crio a melodia e a harmonia, levo pros meninos criarem as linhas dos instrumentos deles, com as influências que eles têm, que são totalmente diferentes das minhas. A mistura de tudo isso forma nosso som. Gosto de falar que a Hewie é pop com várias vertentes.
Nas suas letras, você busca mensagens positivas, alta astral. O que te inspira na hora de escrever?
Acredito muito em energia, que a gente atrai aquilo que está vibrando. Hoje percebo as pessoas, principalmente os jovens, numa energia não muito legal. E isso faz eles pensarem que o negativo é a energia certa. Se você se conecta com a energia positiva, consegue trazer isso pra sua vida. Gosto de ser positiva e de passar isso, porque sei que vou ajudar muita gente.
O público da banda é esse mesmo, formado por adolescentes?
É, a maioria. Mas percebo que não temos nada que impeça que um adulto goste da Hewie. E até mesmo crianças gostam. É uma música pra todos os públicos, o que é maravilhoso. Quero poder tocar todas as pessoas.
Pelo crowdfunding, vocês conseguiram arrecadar o dobro do que o previsto inicialmente. Como vocês sentiram o envolvimento dos fãs nesse processo?
Não tínhamos noção do que estávamos fazendo quando lançamos essa campanha. Arriscamos muito. De alguma forma, tínhamos que viabilizar a produção, resolvemos tentar e demos o nosso melhor. Mas acredito que o que fez com que alcançássemos esse resultado foi que filmei todo o processo de gravação. Os fãs puderam estar com a gente no estúdio, acompanharam tudo, os momentos em que dávamos risada ou chorávamos, a gravação, como é a captação dos instrumentos, das vozes. Muita gente nem imaginava como se grava um CD. Eles ficaram próximos da gente e nós, deles. Quando perceberam que podiam fazer parte daquilo, não pensaram duas vezes.
De onde vieram esses fãs que ajudaram a gravar o disco, já que, apesar de a banda ter cinco anos, só agora vocês estão lançando o álbum de estreia e ganhando mais espaço na mídia?
Sou vlogger e faço vídeos pro YouTube há cinco anos. Comecei com uma indicação do PC Siqueira, um youtuber famoso, que disse que dessa forma eu poderia atrair e cativar o público, e então levá-lo pra assistir a banda. Gostei da ideia e comecei com o vlog, onde falo de qualquer assunto. Se a pessoa gosta de mim, vai querer saber o que faço. Se sabe que tenho uma banda, vai querer ouvir. Assim, trouxe muitos fãs pra Hewie. Hoje tenho mais de 420 mil inscritos no canal.
Vocês são mais conhecidos em São Paulo, cidade de vocês. A ideia agora é alargar essa fronteira?
Tenho muito contato com os fãs, porque fico nas redes sociais o tempo inteiro, acompanho comentários de todas as plataformas. Posso dizer que a gente tem fã no Brasil inteiro. Nesse crowndfunding, nós mesmos enviamos todas as recompensas. Brinco que conheci mais sobre geografia nessa campanha do que na escola. [Risos] Do Nordeste ao Sul, tem fã da Hewie. Nosso próximo passo é fazer uma turnê passando por todas essas cidades e aumentar, claro, nosso público.
– Marcos Paulino é editor do caderno Plug (www.mundoplug.com), da Gazeta de Limeira.