por Adriano Mello Costa
“Homem Formiga: Mundo Pequeno”, de Tim Seeley (Panini Comics)
O Homem-Formiga nunca esteve no primeiro escalão de heróis da Marvel, e mesmo sendo fundador dos Vingadores, ele sempre ficou como coadjuvante na maioria das histórias, nas sombras do cidadão por trás da máscara, o cientista Hank Pym. Com a chegada do (divertido) filme lançado esse ano sobre o personagem, a Marvel tenta jogar uma luz maior em torno dele, sendo que isso reflete aqui no Brasil também com alguns lançamentos, entre eles “Homem Formiga: Mundo Pequeno”, que dá uma boa visão geral sobre o herói. Três foram aqueles que vestiram o traje: Hank Pym no início, Scott Lang a partir do final dos anos 70 (é ele que aparece no longa envergando a roupa) e o degenerado Eric O’Grady de um tempinho para cá. Essa coletânea de histórias que a Panini Comics coloca no mercado traz em suas 146 páginas aventuras de todas essas fases. A melhor trama é a mais recente, no entanto, existem republicações de valor histórico, como a primeira aparição do Homem-Formiga e a estreia da Vespa, parceira, namorada e esposa de Hank Pym. Apresenta também as tramas de 1979, em que Scott Lang inicia suas tarefas do lado dos mocinhos e não mais como bandido. Algumas dessas histórias ainda não tinham sido publicadas no país, ou fazia muito tempo que isso havia acontecido. Tendo em vista entender melhor esse diminuto super-herói, “Homem-Formiga: Mundo Pequeno” serve bem, porém seu valor fica praticamente nisso, como introdução e valor histórico, não conseguindo ir muito além.
Nota: 6
“Besouro Verde: Ano Um”, de Matt Wagner e Aaron Campbell (Mythos Books)
Britt Reid é um jovem que, após o falecimento do pai, assume o posto de presidente do jornal da família. Inconformado com a situação de uma cidade dominada pela máfia e com um senso de justiça estourando no peito, ele coloca uma máscara no rosto, usa a fortuna para criar diversas geringonças e apetrechos e sai pelas ruas combatendo o crime junto com um parceiro. Ok, a ideia não é das mais originais, porém foi assim que nasceu o Besouro Verde nas rádios dos anos 30, mas só foi nos anos 60, com um seriado de televisão que tinha Van Williams como o vigilante e Bruce Lee como Kato (parceiro e mordomo na luta contra o crime), que o personagem ganhou uma dimensão maior, desaguando até nos cinemas em um longa razoável de 2011. Nos quadrinhos desde mais ou menos a época da criação, o Besouro Verde passou por inúmeros cancelamentos e reestreias, e nunca agradou por completo até que a Dynamite Entertainment conseguiu a franquia e convocou Matt Wagner (Sandman, Batman) para o roteiro e Aaron Campbell (O Sombra) para a arte. O resultado, publicado lá fora entre abril de 2010 e março de 2011, ganhou este ano edição nacional pelas mãos da Mythos Books em mais um trabalho belíssimo da editora. “Besouro Verde: Ano Um” tem 304 páginas, capa dura e um trabalho gráfico repleto de cuidado. É narrado o começo da carreira, voltando para as raízes familiares, atravessando viagens de conhecimento pessoal e culminando na luta contra a máfia. É uma história de formação, com muitas cenas de ação, diálogos divertidos e uma mensagem crítica sempre planando ao fundo. Para quem gosta de aventura com uma arte exuberante, enxertos de histórias policiais e aquele clima pulp no ar, esse encadernando é um prato muito bem servido.
Nota: 8,5
“Supernada”, de Raphael Mortari e Daniel Sanchez (Independente)
A safra atual de quadrinhos nacionais surpreende positivamente a cada dia. Não somente os artistas e escritores encontram mais espaço dentro de projetos endossados por editoras, como também desbravam caminho nos financiamentos coletivos, fazendo com que de modo independente as ideias ganhem um cuidadoso aparo de publicação. Esse é o caso de “Supernada” dos paulistas Raphael Mortari e Daniel Sanchez, que através de campanha no site Catarse viabilizaram a imaginação para o campo físico. Com 40 páginas em preto e branco, o álbum apresenta alegorias e trabalha em cima de uma fábula triste e incrivelmente real nas suas aplicações. O personagem principal, que nasce sem vício algum, vai gradualmente sendo exposto a um vírus que atinge quase toda a população, mas que é aceito perante os olhos de todos. Visualmente com uma arte simples, porém bastante funcional, esse personagem vai se transformando em porco, ficando cada vez mais parecido com todos a sua volta. “Supernada” é um retrato fiel do que acontece com a uma parte considerável da sociedade, apaixonada por bens (e que mede o sucesso pela aquisição desses), mas extremamente vazia de sentimento e conteúdo. Versa também em como o comodismo toma conta de cada um com o passar dos anos e, quando menos se percebe, tudo passou e nada foi construído, seja também por medo, procrastinação ou uma superficial sensação de alegria com que o mundo nos brinda vez ou outra. É uma obra crítica e ao mesmo tempo emocional que não só convence, mas faz também o leitor tirar alguns minutos depois de ler para pensar nos caminhos que anda traçando pra si mesmo. Estupendo. Vá atrás!
Facebook: http://www.facebook.com/hqsupernada
Nota: 9,5
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop