Boteco: Brouwerij Van Honsebrouck (2)

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por Marcelo Costa

A Brouwerij Van Honsebrouck foi fundada em 1865 em Ingelmunster, uma cidadezinha de pouco mais de 10 mil habitantes nos Flanders Ocidentais da Bélgica (bem próxima da fronteira com a França). Ainda no comando da família (a sétima geração de Van Honsebrouck responde pelos negócios), a cervejaria tem um cardápio bastante interessante, do qual se destacam os seis rótulos extremamente alcoólicos da linha Kasteel, as estilosas versões Old Flemish da Bacchus (uma natural e outras duas com adição de frutas), sem rótulo, mas embrulhadas manualmente uma a uma, e, recentemente, a Passchendaele, uma cerveja belga que tenta conquistar britânicos, que venceram uma batalha na região em 1917, e hoje são um mercado bastante atrativo. Já havia falado das cinco primeiras Kasteel. Abaixo você confere a impressão que me causou a Kasteel Hoppy e outras quatro cervejas da Van Honsebrouck.

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A Bacchus Vlaams Oud Bruin (Flemish Old Brown na língua inglesa) é uma Red Ale típica dos Flanders belgas, ou seja, uma união de azedume (derivado da levedura), madeira (ela matura em velhos barris antes usados para vinho), vinho e doçura melada (derivada tanto do malte tostado quanto do açúcar adicionado). De coloração marrom com leve toque avermelhado e creme bege de média formação e baixa permanência, a Bacchus Vlaams Oud Bruin apresenta as principais características listadas do estilo com notas acéticas (azedume) em destaque mais leve sugestão de vinho, baunilha e madeira completando a paleta aromática. Na boca, acidez e azedume dão as mãos para provocar o bebedor, ainda que de maneira comportada, enquanto sugestão de doçura (baunilha) e de frutas vermelhas (próximas a vinho) distrai elegantemente o paladar. O final é suavemente azedo, acético e amadeirado. No retrogosto, madeira e vinho. Uma delícia.

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A Bacchus Kriekenbier tem como base a Bacchus Oud Vlaams Bruin (Old Flemish Brown), com a diferença do acréscimo de cereja (15% de seu total) e açúcar durante a maturação em barris de carvalho. Sua coloração é um hibrido entre o marrom da Old Flemish Brown e o vermelho tradicional da cereja, e seu creme, de boa formação e rápida dispersão, replica a coloração do liquido, com leve tendência ao bege. No aroma, domínio nítido e agradável de frutas vermelhas (cereja) com leve percepção de acidez e azedume (derivados da levedura). Na boca, o perfil é mais interessante do que no aroma, pois a doçura frutada (cereja) enfrenta um leve e interessante azedume que tenta equilibrar o conjunto, bastante agradável. Os 5.8% de álcool (a mais alta graduação das três irmãs) são imperceptíveis numa cerveja que finaliza com frutas vermelhas adocicadas, azedume comportado e leve remissão a Jerez. No retrogosto, delicioso, frutas vermelhas. Ótima!

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Fechando o trio da Bacchus, a Frambozenbier segue o mesmo método de produção da Kriek, ou seja, também tem como base a Bacchus Oud Vlaams Bruin (Old Flemish Brown) e adição de 15% de fruta e açúcar durante a maturação em barris de carvalho, no caso, framboesa. De coloração muito mais próxima do marrom do que do vermelho (ainda que existam feixes dos segundo) e creme bege de boa formação e rápida dispersão, Bacchus Frambozenbier exibe um aroma carregado de notas frutadas derivadas da framboesa, mas sem tanta doçura e azedume quanto o exibido na versão com cereja. Há ainda leve acidez num conjunto que sugere menos agressividade. Na boca, o que o aroma anuncia é cumprido: doçura frutada não excessiva e menos ataque acético num conjunto agradável que ainda traz suave amadeirado. O final junta framboesa, acético e azedume de forma comportada enquanto o retrogosto destaca apenas a fruta. Muito boa.

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Das seis cervejas da linha Kasteel (falei das outras cinco aqui), a Hoppy é a mais nova (2013) e a menos alcoólica (6,5%). A ideia do pessoal de Ingelmunster foi criar uma Belgian IPA que atendesse aos clientes lúpulo maníacos, mas, mesmo com alegados 45 de IBU, a Kasteel Hoppy não atende as expectativas. De coloração dourada cristalina com creme branco de excelente formação e média alta permanência, a Kasteel Hoppy apresenta um aroma com leve sugestão herbal (ervas) e floral além de percepção de acidez. Na boca, a doçura de malte parece mais presente do que o amargor do lúpulo belga, o que para uma IPA (mesmo belga) é descredito. Há suave percepção herbal no paladar (tanto grama quanto ervas), floral e doçura de mel. O amargor é perceptível, mas, bastante adaptado ao conjunto, não oferece combate, apenas equilíbrio numa receita que termina acética e herbal e oferece, no retrogosto, ervas e frescor. Pouco.

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Produzida em 2014 visando marcar (para ninguém se esqueça) os 100 anos do início da Primeira Guerra Mundial, e levando o nome de uma vila rural nos Flanders belgas (próxima de Gent e Poperinge) que viu 500 mil soldados morrer (entre britânicos, aliados e alemães) entre julho e novembro de 1917, a Passchendaele é uma receita de Belgian Ale que busca soar o mais próximo possível do que os soldados bebiam durante a guerra. O rótulo pede, ao abrir a garrafa, um minuto de silêncio pelos mortos. De coloração dourada cristalina e creme branco de ótima formação e permanência, a Passchendaele apresenta um aroma picante e com notas florais, cítricas (maçã verde e limão suaves) e herbais (grama). Há, ainda, sugestão de biscoito e leve azedinho. Na boca, um perfeito resumo do aroma: picância, condimentação, herbal, floral e cítrico apresentados de forma suave numa cerveja que parece destinada ao mercado britânico (apenas 5.2%). O final é refrescantemente suave (com cítrico, floral e herbal) enquanto o retrogosto traz biscoito, mel e suave herbal. Gostei.

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Balanço
A Bacchus Vlaams Oud Bruin é a cerveja base das três irmãs, mas, diferente das versões com adição de cereja e framboesa, é mais acética e azeda, ainda que traga consigo uma cativante sugestão de madeira e vinho dos barris de segundo uso em que ela é maturada. Ainda assim, este longe da aridez de uma Gueuze Lambic tradicional da Cantillon, e até por isso pode ser recomendada para curiosos que querem adentrar esse território apaixonante repleto de azedume e acidez: uma boa cerveja para iniciar desbravadores. A Bacchus Kriekenbier segue por outro caminho, frutado, adocicado e também cativante. Há bastante presença de cereja encobrindo os 5.8% de álcool, sem enjoar (a aridez da levedura trabalha com perfeição no equilíbrio do conjunto). Acho ótima para dias quentes tanto como para acompanhar entradas leves ou sobremesas. Fechando o trio da Bacchus, a Frambozenbier sugere mais suavidade que a versão com cereja: a framboesa se destaca no conjunto, mas sem tanta doçura e sem tanto combate de acidez. O resultado é agradável, ainda que a versão Kriek pareça mais complexa. Das seis Kasteel que bebi, a Hoppy foi a única que me decepcionou: falta presença de lúpulo no conjunto, e isso é inaceitável para uma cerveja que se promove como lupulada. Do jeito que ela está é uma cerveja agradável, equilibrada e saborosa, mas não entrega o que promete. E isso atrapalha. Fechando o quinteto da Van Honsebrouck com uma cerveja levíssima, gostosa e caprichada, que visa homenagear os soldados mortos na Batalha de Passchendaele. A receita soa como uma Pilsen Lager feita pelo modo belga: Belgian Ale. Refrescante, saborosa e de alto drinkability. É uma proposta diferente da escola belga tradicional, mas é bem interessante.

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Bacchus Oud Vlaams Bruin
– Produto: Flanders Red Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 4,5%
– Nota: 3,41/5
– Preço pago em São Paulo:  R$ 13 – 375 ml

Bacchus Kriekenbier
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 5,8%
– Nota: 3,41/5
– Preço pago em São Paulo:  R$ 14 – 375 ml

Bacchus Frambozenbier
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,39/5
– Preço pago em São Paulo:  R$ 15 – 375 ml

Kasteel Hoppy
– Produto: Belgian IPA
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,02/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 12 – 330 ml

Passchendaele
– Produto: Belgian Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 3,02/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 10 – 500 ml

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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