por Marcos Paulino
O Pato Fu está querendo festa. A banda mineira, com mais de 20 anos de carreira, acaba de lançar “Não Pare Pra Pensar”, seu 12º disco e o primeiro de estúdio desde 2007 (Já à venda na lojinha da banda). John Ulhoa (guitarra, voz e mais um monte de coisas) e a vocalista Fernanda Takai, sua mulher, mais o baixista Ricardo Koctus e o tecladista Lulu Camargo, acharam que estava na hora de liberar o alto astral, contrastando com trabalhos anteriores.
Agora com Glauco Mendes na bateria, ocupando o lugar de Xande Tamietti, que resolveu se dedicar a projetos pessoais, o Pato Fu apresenta um CD de pop rock, pra ficar numa definição simplória. Do ponto de vista de John, o disco tinha que ser bom de tocar ao vivo, sem muitas firulas. “Forçamos esse conceito de ter um bit pulsante”, ele diz.
“Não Pare Pra Pensar” mistura guitarras setentistas e marcações eletrônicas convidando o ouvinte para dançar. Tem música em inglês (“You Have To Outgrow Rock’n Roll”, cantada por John, para alegria dos fãs mais antigos), tem Ritchie (em “Pra Qualquer Bicho”) e uma versão para uma canção de Roberto e Erasmo (“Mesmo Que Seja Eu”).
Na conversa abaixo, John Ulhoa, que gravou o disco em seu próprio estúdio em Belo Horizonte e assina a produção de “Não Pare Pra Pensar”, analisa os 20 anos do Pato Fu (“Acho que podemos considerar que conseguimos uma carreira longa e próspera”) e diz que o grupo virou “uma banda vintage, que é diferente de banda velha (risos)”. Confira o papo.
O disco novo tem rock, pop, country, eletrônico… Como vocês escolheram os ingredientes que entrariam nesse caldeirão?
Mesmo quando não estou com um disco no horizonte, acabo rabiscando algumas coisas, registrando umas ideias no estúdio que temos em casa. Algumas músicas desse disco vieram disso, mas a maioria é mais recente mesmo. Nosso último disco (“Daqui Pro Futuro”, de 2007) foi o mais calmo, mais contemplativo da nossa carreira. Entre ele e este novo teve o “Música de Brinquedo” (2010), voltado às crianças. A sonoridade mais pesada, mais dançante deste disco vem da sensação de que tínhamos que fazer alguma coisa mais pé na porta, um disco bom de fazer show.
Então o alto astral deste disco, a levada dançante, nada disso veio por acaso?
Não, foi pensado. No Pato Fu, raramente as coisas são muito espontâneas nesse sentido. Não somos uma banda que se junta pra fazer jam session. Neste disco, em quase todas as músicas, forçamos esse conceito de ter um bit pulsante. Tínhamos também a ideia de fazer as guitarras inspiradas nos anos 70, quando vários riffs ficaram mais conhecidos que as próprias músicas, grudentos. Mas os teclados são meio disco. Foi uma mistura agridoce, pouco ortodoxa, mas no fim das contas ficou interessante.
Comentando algumas faixas, “You have to outgrow rock’n roll” segue a tradição de sempre ter alguma faixa em outra língua, certo?
É, a gente sempre gosta de colocar alguma coisa em outro idioma. No caso dessa música, ela fala que você tem que superar o rock, formar uma família, levar uma vida séria, mas o som é o contrário, é um rock. É um pouco clássico esse cinismo, essa ironia do Pato Fu. A gente trafega bastante nesse terreno da música dizer uma coisa e a letra, outra. Sendo cantada em inglês, essa música faz mais sentido ainda.
Como surgiu a ideia de chamar o Ritchie pra participar de “Pra Qualquer Bicho”?
O Ritchie tem sido nosso amigo nos últimos anos. Gravamos uma canção dele, “Pelo Interfone”, no “Música de Brinquedo”, e ele participou com a gente de shows. Ele é daquele tipo de artista que mais me interessa, tem um universo próprio, nunca está dentro de uma onda. Ele está meio esquecido não só em relação às músicas antigas, mas também no excelente trabalho que faz atualmente. Tem uma pegada meio folk, meio pop clássico nas músicas novas dele, que tem muito a ver com essa faixa. O timbre de voz dele também ficou muito bom.
Teve também “Mesmo Que Seja Eu”, do Erasmo, com a qual vocês já tinham uma experiência e resolveram levar pro disco. Por quê?
A gente gravou essa música pra um projeto chamado “Muda Rock”. Ficou muito legal, mas, antes de lançarmos, o projeto acabou. É a única que tem o Xande como baterista, e ela não soa estranha com o conceito deste disco.
Depois de 20 anos de estrada, vocês poderiam estar acomodados, regravando sucessos ou fazendo covers, mas continuam lançando discos de inéditas. Como você vê essa história?
Lá no comecinho, a gente dizia que queria ter uma carreira longa e próspera, como falaria o Spock. Acho que podemos considerar que conseguimos isso. Nunca nos encaixamos numa moda, e em longo prazo isso é bom, porque quando elas passam, a gente continua.
Mas você percebe uma renovação no público da banda?
Tem muita gente nova. Tem uns caras das antigas, mas acho que eles não fariam número pra encher os shows. Nas filas de camarins, sempre tem alguém que diz que fomos apresentados a ele pela mãe (risos). No começo, nosso público era quem estava começando a gostar de rock, que nos ouvia na rádio. Mas hoje as pessoas vêm de todo lado. Tem quem conheceu a banda por causa da carreira solo da Fernanda, ou, por causa do “Música de Brinquedo”, tem o pai que levou o filho. Viramos uma banda vintage, que é diferente de banda velha (risos).
– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira.
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