por Marcos Paulino
Vitrolla 70 é um trio. Tem Mateus Machado no vocal e na percussão, Rodrigo Santos, o Digão, no contrabaixo, e Dáda Soul no piano e nos teclados. Mas, em seu primeiro disco, “Rock Samba Style”, recém-lançado, a banda se cerca de muitos convidados para enriquecer o som que presta, como deixa claro seu nome, um tributo aos anos 70.
Ora mais samba-rock, ora mais samba, ora mais soul, o grupo paulistano formado em 2009 vai esbanjando suingue nas 11 faixas do do álbum, encorpadas com os instrumentos e com as vozes dos músicos que fazem participações especiais.
Entre esses destaque para as mulheres, que assumem os vocais em três canções. Conhecida no circuito paulistano das casas de samba-rock, a Vitrolla 70 tenta agora atingir novos públicos, embalada pela música “Preta Rara”, que acabou fazendo sucesso sem que isso fosse programado, conforme conta Mateus nesta entrevista.
Vocês tocavam em outras bandas e foram descobrindo afinidades musicais que levaram à formação da Vitrolla 70. Como foi essa história?
Os músicos acabam se encontrando antes ou durante os shows. Nessas ocasiões, falamos sobre música, trabalho e, como você disse, descobrimos afinidades. Surgiu a ideia então de fazermos um som que a gente gosta. Com a correria, levou um ano pra que resolvêssemos realmente fazer esse projeto. Fomos compondo, escolhendo repertório e gravamos a demo de uma música pra ver se era aquilo que a gente realmente queria, não era pra distribuir. Mas essa demo vazou do estúdio, e alguns DJs começaram a tocar nos bailes de samba-rock, de samba, mesmo sem estar finalizada. Essa música, “Preta Rara”, agradou o público, que começou a pedir nas rádios, e elas tocaram.
Então o sucesso da música aconteceu à revelia de vocês?
Totalmente, foi natural. Nunca pensamos nela como uma música de trabalho. Até porque a gente estava num processo de estruturar, de pensar como seria o som. A coisa se antecipou.
Vocês dizem que o nome da banda, que também dá título à primeira faixa, é autoexplicativo. Quando vocês se reuniram, a ideia já era fazer algo na linha dos anos 70 ou esse estilo foi surgindo naturalmente?
Isso foi pensado, foi o motivo pra se formar a banda. Quem trabalha com música nem sempre faz exatamente o som que quer. Você faz o trabalho para o qual é contratado naquele momento. E nessas nossas conversas foi surgindo isso de curtir o som daquela época, do final dos anos 60, dos anos 70. A gente falava muito de Jorge Benjor, da Jovem Guarda, de Ray Charles. Todos os músicos que passaram pela banda têm em comum esses sons como referência.
Além de beber nessas fontes mais antigas, vocês também recebem influências de sons mais recentes?
Sim, porque escutamos muito esses sons antigos, mas estamos fazendo música hoje, então acabamos naturalmente agregando coisas atuais.
Vocês não têm componentes femininas na banda, mas buscaram várias mulheres para participar do disco. Por que essa decisão?
Cada música que tem a participação das meninas foi pensada pra elas. Por exemplo, conhecemos o trabalho da Marina Decour, e a “Vitrolla 70” foi composta pra ela cantar, no tom dela. A Tereza Gama é uma cantora de samba conhecida, e também fizemos “Se For Meu” pra ela cantar. É uma música diferente no disco, porque tem essa pegada samba mesmo. Foi uma vitória pra gente ter a participação dela no disco. “A Minha Cor”, com a Mariela Kruz, tem uma pegada latina, meio salsa. Um dos músicos que estava conosco tocava em bandas de salsa e merengue e conhecia a Mariela, que é cubana. Ela curtiu a música, traduziu para o espanhol e cantou. Inclusive, levou a música pra Cuba, o que foi muito bacana.
O público da Vitrolla 70 ainda está restrito aos locais que tocam samba-rock ou vocês estão conseguindo expandi-lo?
Acredito que isso vai acontecer agora. Com o CD, acho que a visibilidade vai aumentar. O circuito samba-rock já conhece a banda, mas como o disco tem essas referências de Jovem Guarda, de rock, de samba, acho que podemos atingir outras pessoas.
Vocês também são mais conhecidos em São Paulo. Está nos planos partir para outros lugares?
A ideia é essa, queremos mostrar o trabalho pro maior número de pessoas possível. Queremos sentir qual será a recepção em outras cidades, em outros Estados.
– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira