por Marcelo Costa
Se há uma banda que resume muito bem a trajetória de um jovem artista em ascensão nestes anos difíceis de world wide web, essa banda é o Vanguart. De nome comentado na internet, no circuito de casas e festivais independentes na dobradinha 2006/2007 com a “Cachaça Tour”, o grupo de Hélio Flanders (vocal, gaita e violão), David Dafré (guitarra), Reginaldo Lincoln (baixo), Luiz Lazzaroto (teclado) e Douglas Godoy (bateria) chegou ao primeiro álbum em 2007, que serviu para oficializar uma ideia: eis uma banda que acredita no coração.
O coração, porém, pode tanto salvar quanto condenar, e o parto complicado do segundo álbum, “Boa Parte de Mim Vai Embora” (2011), quase nocauteou o grupo, que caminhou no fundo do poço e conseguiu, já com o acréscimo da violinista Fernanda Kostchak, sobreviver a si mesmo absorvendo traumas e arrebatando prêmios. No segundo show de lançamento de “Muito Mais Que O Amor”, recém-lançado terceiro disco, no Sesc Pompeia, um Hélio Flanders feliz citava Diogo Soares (Los Porongas): “Hoje é dia de dizer que o amor compensa”.
Ao contrário da grande maioria de artistas que lançou discos em 2012/2013, e fizeram shows de lançamento para apresentar seu novo rebento (muitas vezes como se apresenta um bebê recém-nascido que ainda tem cara de joelho), o Vanguart chegou ao Sesc Pompéia não apenas pronto para mostrar um novo repertório, mas também uma nova turnê, e isso já os coloca em outro patamar no decantado cenário musical nacional do novo milênio, um território repleto de boas ideias na teoria, mas que ainda peca miseravelmente na prática.
O Vanguart não pensa apenas em um show, mas na sequencia deles, na estrada, e o cuidado da produção da nova turnê é um belo exemplo desse intento, com vídeos especiais preparados pelo diretor Ricardo Spencer (responsável pelo clipe de “Minha Vida Eres Tu”, vencedor do VMB, e também de muitos outros clipes), que destacam Debora Rebecchi, Danilo Grangheia, Cida Moreira, Darília Lilbé e Thiago Pethit lendo “cartas recebidas em sonho”, segundo Hélio, que emolduram o novo site do grupo – e, agora, o novo show através de projeções.
Musicalmente, o Vanguart talvez viva sua melhor fase no palco (com David surpreendendo no clarinete e Hélio se dividindo entre violão, trompete, gaita, rhodes, bandolim), uma banda segura que passeia pelo repertório de seus três álbuns conseguindo atiçar a plateia em momentos indistintos da noite, seja na dobradinha que abre o novo disco (e o show), “Estive” e “Demorou Pra Ser”, ambas recebidas com entusiasmo pelo publico que lotou a choperia do Sesc Pompeia, seja em hits fortes como “Cachaça”, “Para Abrir os Olhos” e “Semáforo”.
Entre os grandes momentos da noite destacam-se “Nessa Cidade”, com o público vibrando na primeira nota, a pungente versão de “Se Tiver Que Ser Na Bala, Vai” (canção de uma fase em que o amor não era suficiente), “Pelo Amor do Amor” (“A minha preferida do novo álbum”, segundo Hélio) e a comovente versão de “Olha Pra Mim” (outra do novo álbum), introduzida por uma “carta sonhada” e lida por Thiago Pethit e apresentada num arranjo delicado que valoriza bandolim e clarinete.
O final da noite – com “Minha Vida Eres Tu” e “Das Lágrimas” – encerra com sucesso um show que valoriza a nova fase do Vanguart, mais luminosa, mais ensolarada, mas ainda ciente de que “o diabo é perto e deus é longe”. Nestes tempos sombrios (de rádios, TVs e público sonâmbulos) em que ser artista é mais do que transformar o tédio em melodia, o Vanguart segue em ascensão tateando possibilidades, e com estofo pra ir além. O disco, o show e o momento da banda permitem isso, mas nada como um dia (de sol) após o outro. Acompanhe.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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