por Marcelo Costa
A Paulaner Brewery é uma cervejaria fundada em 1634 em Munique, na Alemanha, e seu nome tem raízes na Ordem dos Mínimos (Paulaner Orden, em alemão), uma ordem religiosa fundada por São Francisco de Paula, na Munique do século XVI. O logotipo atual das cervejas Paulaner, inclusive, mostra a figura do santo. No ranking alemão, a Paulaner aparece na oitava posição em vendas, mas gaba-se de ter a cerveja de Munique mais vendida no mundo, a Paulaner Original Münchner Hell. Além, a Paulaner é uma das seis cervejarias que abastecem a mítica Oktoberfest de Munique, desde 1810. No cardápio da casa há mais de 16 cervejas, mas vamos nos atentar a seis delas, todas facilmente encontradas em grandes mercados brasileiros (a maioria em garrafas de 500 ml – latas idem – e apenas a Paulaner Salvator em long neck de 330 ml). Vamos a elas.
Carro chefe da cervejaria de Munique, a Paulaner Hefe-Weissbier Naturtrüb é uma cerveja de trigo tradicionalíssima, que costuma integrar o café da manhã bávaro (alguns, inclusive, reforçam as notas de banana batendo a própria fruta com a cerveja no liquidificador). A receita une água, trigo, cevada, levedura e lúpulo resultando numa cerveja não filtrada, de coloração alaranjada e majestosa espuma branca, de longa permanência. No aroma, levedura e trigo são bastante perceptíveis, mas o grande destaque são as intensas notas frutadas que remetem a banana (embora a fruta não faça parte da receita). O paladar é inconfundível: intensa presença de banana mais trigo (sugestão de biscoito e pão) e um leve picante derivado da levedura criam o perfil clássico de uma weiss bávara. Parece um suco de banana alcoólico, e é ideal para ser consumida no verão, por sua refrescancia. O final é frutado e o retrogosto traz trigo e levedura. Um clássico do estilo.
A Paulaner Weissbier Kristallklar é a Paulaner Hefe-Weissbier em versão filtrada, o que concede ao conjunto diferentes qualidades. De coloração dourada e cristalina, a Paulaner Weissbier Kristallklar exibe um creme branco de ótima formação e permanência. No aroma, suavíssimo, muito trigo, pouca sugestão de banana, apesar de presente, e nenhuma sensação de especiarias. O paladar, por sua vez, exibe um corpo levíssimo e uma textura suave. O primeiro ataque é de doçura, com muito trigo e, agora sim, sugestão de banana com mais intensidade, ainda que menos que a versão não filtrada. O lúpulo equilibra as coisas, mas a sensação geral é de uma boa Weiss, refrescante e saborosa. Visualmente, ela lembre uma lembra uma Lager, mas o aroma o paladar atestam que estamos diante de uma Weiss bávara. O final é balanceado entre o amargor do lúpulo e o frutado que remete a banana, e que retorna mais intenso no retrogosto. Uma boa surpresa.
A Paulaner Salvator é, segundo o pessoal da cervejaria, a Paulaner original, e a receita desta poderosa Doppelbock é praticamente a mesma desde o século 18, período em que os monges se substituíam o alimento pela cerveja durante a Quaresma. A primeira receita data de 1773 e, visando proteger o nome, o termo Salvator foi registrado no Gabinete de Patentes de Munique pela cervejaria em 1896. De coloração ruiva e espuma de alta formação e média permanência, a Paulaner Salvator traz no aroma uma junção do adocicado do malte de caramelo com certa picância advinda dos 7,9% álcool, chegando a remeter a pimenta e leve defumado. No paladar, a textura é levemente licorosa e corpo, de médio para alto. O adocicado caramelado do malte volta a marcar presença, aqui embalado em álcool, especiarias e leve defumado que remete a tabaco. O final é carregado de melaço e álcool enquanto o retrogosto guarda pra si o defumado e certo calor. Uma cerveja clássica e muito boa.
União de dois estilos (Weiss e Dunkel), a Paulaner Hefe-Weissbier Dunkel é uma cerveja de trigo que ganha uma coloração ligeiramente acastanhada devido ao uso de malte levemente tostado, o que rende um creme denso e bonito, de alta permanência. No aroma, notas clássicas que remetem a banana, trigo, pão, chiclete (tutti-frutti), leve floral e sugestão de especiarias (cravo, talvez) e caramelo. No paladar, de corpo leve e textura cremosa, o adocicado domina com notas que reforçam algumas percepções do aroma (principalmente banana, trigo e chiclete) enquanto aumenta outras (o caramelado do malte de cevada é muito mais perceptível). A sensação é de que a weiss predomina sobre a dunkel em uma cerveja saborosa que conta com um final frutado (banana), retrogosto maltado (trigo) e drinkability altíssimo. Perfeita até para o café da manhã…
A Paulaner Hefe-Weissbier Alkoholfrei é a versão sem álcool da estrela da casa (0,5% na verdade), isotônica, e com nutrientes e minerais, mas quase nenhum açúcar, poucas calorias e, graças à lei de pureza alemã, um produto completamente natural. De coloração ambar caramelada, espuma branca de ótima formação e permanencia, a Paulaner Hefe-Weissbier Alkoholfrei traz no aroma uma forte sensação de trigo que remete a cereais e biscoito, e lembra muito o mosto cervejeiro – as notas de banana, clássicas na versão tradicional, ficaram de fora nesta Alkoholfrei. Difícil notar a presença do lúpulo. No paladar, muito dulçor e reforço das notas sentidas no aroma (biscoito, pão, trigo, caramelo), com leve valorização da aveia e absolutamente nenhum amargor. O final é adocicado e maltado enquanto o retrogosto reforça o malte e ainda destaca aveia. Muito boa no que se propõe.
Fechando o passeio com a Paulaner Original Münchner Hell, a Premium Lager campeã da casa alemã. Com receita criada no final do século 19, a Original Münchner Hell é, segundo a Paulaner, a cerveja de Munique mais vendida no mundo, representando a tradição cervejeira bávara. Utiliza lúpulo aromático Hallertau, malte de cevada leve e leveduras exclusivas da Paulaner. De coloração dourada e cristalina, creme branco exuberante de alta permanência, a Paulaner Original Münchner Hell traz no aroma suaves notas de trigo (que remetem bastante a biscoito) e sugestão levemente picante de lúpulo. O paladar segue a risca a tradição bávara com um amargor aconchegante e notas maltadas delicadas num perfil de cerveja produzida para refrescar o freguês em dias quentes. É uma autêntica Premium Lager, que na Alemanha é conhecida como Münchner Helles. Tanto final quanto retrogosto são suavemente amargos e maltados.
Balanço
A Paulaner é uma cervejaria clássica alemã, que abastece dezenas de biergartens nas principais cidades germânicas e está disponível, inclusive, nos restaurantes que atendem ao público no Tiergarten, o grande parque de Berlim. Como toda cervejaria alemã, a Paulaner segue a Lei da Pureza, de 1516 (a popular Reinheitsgebot), o que a torna parelha em qualidade com suas concorrentes – embora a Weihenstephaner esteja algumas largas passadas à frente não só da Paulaner, mas de todas as demais no quesito Hefe-Weissbier. Isso não quer dizer que a Paulaner Hefe-Weissbier Naturtrüb fique devendo no mercado, pois ela é uma delícia e honra a tradição da cerveja de trigo da região bávara com um belo exemplar do estilo. Talvez o maior destaque da casa seja a pequena e robusta Paulaner Salvator, mas todas as cervejas da Paulaner – incluindo a sem álcool – merecem voto de confiança. Eles sabem fazer cerveja, e bem.
Paulaner Hefe-Weissbier Naturtrüb
– Produto: German Weizen
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 3,64/5
Paulaner Weissbier Kristallklar
– Produto: German Kristallweizen
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 3,35/5
Paulaner Salvator
– Produto: Doppelbock
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 7,9%
– Nota: 3,68/5
Paulaner Hefe-Weissbier Dunkel
– Produto: German Dunkelweizen
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5,3%
– Nota: 3,45/5
Paulaner Hefe-Weissbier Alkoholfrei
– Produto: Sem Álcool
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 0,5%
– Nota: 2,34/5
Paulaner Original Münchner Hell
– Produto: Munich Helles
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 4,9%
– Nota: 2,90/5
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