por Leonardo Vinhas
Embalados que somos pelo comodismo da agradável melodia do pop anglofilizado, nem sempre é fácil dar referências a artistas cujas músicas bebem de outras fontes. E essa é apenas uma das razões pela qual a música da dupla norte-americana A Hawk and a Hacksaw tanto seduz e intriga.
Formada por Jeremy Barnes (acordeão) e Heather Trost (violino), a banda explora sonoridades enraizadas majoritariamente no Leste Europeu sem cair no exotismo do folclore forçado. O vigor e a estrutura das composições – que oscilam entre quatro ou cinco minutos – fazem com que as músicas não pareçam estranhas mesmo a quem nunca ouviu suas fontes de inspiração.
Os músicos têm em seu currículo parcerias que dão uma boa referência da qualidade que buscam em seu trabalho: ambos tocaram em “Gulag Orkestar”, primeiro álbum do Beirut (e foram responsáveis por ajudar Zach Condom a conseguir seu primeiro contrato), e Jeremy foi baterista do Neutral Milk Hotel, tendo participado do clássico álbum “In The Aeroplane Over the Sea”.
Foi quando o Neutral Milk Hotel (1999) se separou que ele se mudou para a França. De lá, passou a viajar pela Europa trabalhando como entregador de uma ONG que atendia refugiados de diversos países. Em suas viagens, começou a ter um contato mais próximo com a música que já o instigava, e daí para começar a banda – que já tem seis discos e um EP (este gravado com os húngaros do The Hun hungar Ensemble) – foi um passo natural (ouça o novo aqui)
Enquanto o Neutral Milk Hotel prepara sua volta para 2014, Heather e Jeremy vieram ao Brasil para uma série de shows em seis cidades durante nove dias. Antes da maratona, Heather bateu um papo rápido com o Scream & Yell para ajudar os brasileiros a entender um pouco do que A Hack and a Hacksaw se propõe a fazer nos palcos e nos discos.
Como a música do Leste Europeu apareceu na vida de vocês?
Ouvi as melodias do Leste Europeu pela primeira vez com as gravações de campo de Béla Bartók. Depois disso, eu simplesmente passei a colecionar discos de qualquer coisa que pudesse encontrar dessa região. Era uma descoberta especial descobrir ligações entre os diferentes países dos Balcãs com a Turquia, por exemplo. Foi necessariamente uma parte de nossa criação musical, e tinha muito apelo para mim porque era muito diferente de qualquer música que eu tivesse escutado antes.
Acho que é justo dizer que esse tipo de sonoridade é uma influência notável na música de vocês, mas não a única. Vejo muito da musicalidade das jug bands norte-americanas, por exemplo.
Adoro as primeiras gravações folk dos Estados Unidos. Não diria que é uma influência consciente, mas provavelmente sendo norte-americana, você pode estar certo. Simplesmente não somos tão conscientes disso, penso eu, das coisas que podem nos influenciar.
Você chegaria ao ponto de chamar a música de vocês de “folk”? Pergunto por que para mim não soa como algo tradicional, embora use muitos elementos assim.
Não tentamos ser uma banda folk ou tradicional, então gosto de saber que soa como algo novo [para as pessoas]. Não tentamos ser uma banda cover, só queremos fazer nosso trabalho autoral, refletindo a música que amamos e na qual nos inspiramos.
Sua música é majoritariamente instrumental, mas de vez em quando há letras, como em “I Am Not a Gambling Man”. O pianista brasileiro João Donato já disse que “letra é coisa que a indústria inventou para vender disco”. Você concorda com isso?
Talvez em certos gêneros. Claro que na maior parte da música pop as letras são insípidas e despidas de algo genuíno. Alguns poetas podem argumentar que a música é um veículo para contar uma grande história ou trazer uma boa lírica. Há uma grande tradição de trovadores cuja razão de ser é contar uma história, ou poema épico ou balada. E se a música é muito boa então os dois lados são importantes. Mas raramente cantamos, e quando o fazemos geralmente não é em inglês.
Vocês têm planos de convidar algum músico brasileiro para subir ao palco com vocês? A propósito, vocês vão fazer os shows como duo, ou trarão outros músicos para acompanhá-los? (não foram poucas as vezes que eles subiram ao palco com uma formação mais ampla)
Será só nós dois. De uns dois anos para cá voltamos a tocar como um duo e a curtir o espaço que essa formação proporciona. Claro, adoraríamos colaborar com músicos brasileiros. Mas a não ser que encontremos alguém e ensaiemos em menos de 24 horas, seremos só eu e Jeremy. Mas adoraria simplesmente assistir e ouvir um pouco de música brasileira.
Vocês terem tocado com Zach Condon é sem dúvida um apelo para os brasileiros, já que o Beirut têm um bom público por aqui. Como vocês se conheceram?
Conheci Zach em Albuquerque quando éramos praticamente adolescentes. Eu estava tocando com um amigo dele, que me deu o CD do Zach. Achei muito interessante para uma gravação feita por alguém de 16 anos na casa dos pais então mostrei para o Jeremy e colocamos Zach para abrir nossos shows em Albuquerque. Passamos o disco para um amigo nosso, gerente da Badabing Records, e ele acabou assinando com o Beirut.
A maior parte dos lugares onde vocês tocarão no Brasil são clubes, não teatros. Como muitas de suas composições induzem tanto à dança como ao transe, podemos contar com um show em que ambas as coisas podem rolar sem restrições?
Espero que sim!
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.
Leia também:
– Jeff Mangum no TOP 5 Shows do Primavera Sound Festival 2012, em Barcelona (aqui)
– Beirut ao vivo: uma festa para global ver e apaixonados por música ouvirem (aqui)
Figuraça o Sr Jeremy Barnes que é um excelente baterista também. Infelizmente fiquei sabendo do show só agora pelo Scream porque a imprensa, mídia gaucha praticamente não quis, não soube divulgar o evento.