por Marcos Paulino
Em seu terceiro álbum de estúdio, “Cavaleiro Selvagem Aqui Te Sigo”, a cantora paulistana Mariana Aydar resolveu colocar para fora seu lado compositor. São de sua autoria quatro das 13 faixas. Nas demais, como intérprete, ela mostra seu ecletismo. Gravou de Caetano Veloso a Emicida, passando por Zé Ramalho, Trio Virgulino, Orquestra Imperial e Zeca Pagodinho, entre outros. Em “Preciso do Teu Sorriso”, ela canta com seu ídolo Dominguinhos, sobre quem idealizou um documentário.
Cantora profissional há 12 anos, Mariana começou como backing vocal do forrozeiro Miltinho Edilberto. Na sua primeira banda, a Caruá, manteve-se no forró, e chegou a cantar com gente como Elba Ramalho. Também consta em seu currículo uma participação no trio elétrico de Daniela Mercury, no Carnaval de 2004. Depois de estudar na Berklee School of Music, em Boston, e de morar em Paris, ampliou seus horizontes musicais.
De volta ao Brasil, lançou-se na carreira solo, na qual passeia com desenvoltura por vários estilos. A ponto de ter sido convidada para cantar o hit “Set The Fire To The Third Bar” com os britânicos do Snow Patrol no Rock in Rio de 2011. Em meio à turnê de lançamento de seu mais recente trabalho, Mariana conversou com o PLUG, parceiro do Scream & Yell.
Neste novo disco, você apareceu mais como compositora do que nos anteriores. Por que tomou a decisão de mostrar com maior ênfase esse seu lado?
Desde o segundo disco, estou meio apaixonada pelo ato de compor. É um jeito mais solitário de se relacionar com a música. Quis ver o que estava saindo de mim pra então tomar as rédeas do disco. Pra minha surpresa, as composições estavam saindo com bastante ritmo, com um sotaque nordestino. Foi um processo natural.
Fica nítido no disco que você teve influências das músicas nordestina e africana. Isso surgiu de forma natural ou você realmente procura trilhar por esses caminhos?
As duas coisas. Algumas composições já estavam saindo desse jeito, então percebi que era uma coisa de sangue mesmo. Vou pro Nordeste desde muito pequena, porque minha mãe era empresária do Luiz Gonzaga e viajava muito pra lá. Ouvi muito os discos dele e comecei cantando forró. No meio do caminho, encontrei o Letieres Leite, (maestro) da Orquestra Rumpilezz, um gênio que me influenciou muito. E faz quatro anos que faço dança afro, ao som ao vivo dos tambores, e às vezes saía de lá com uma ideia na cabeça. Então foram vários fatores que resultaram nessas músicas.
No disco, você incluiu composições suas, alguns clássicos e músicas menos conhecidas de autores famosos. Como foi a escolha desse repertório?
Foi muito pautada pelas minhas composições. Escolhi músicas que tinham a ver com aquelas que estavam nascendo, basicamente pelas letras. Como eu já estava mexendo com um território muito afro-brasileiro, nordestino, não queria partir pra essa regionalidade também nas letras, e sim falar de temas mais amplos, com que todos se identificassem. Também levo muito em conta meu coração. Pesquiso meus colegas, tem muita gente que me manda composições. Então tem também essa geração, de que gosto muito.
Como foi a participação do Dominguinhos, de quem você se declara fã?
Ele participou também do meu primeiro disco. É um cara muito generoso e que recebe os convites de todos de uma maneira muito aberta. Estou fazendo um documentário sobre o Dominguinhos, gravamos este ano todo. Então tive uma aproximação muito grande com ele e achei que seria muito importante sua participação no disco. Aprendi muito convivendo com ele, mesmo fora da música.
E o Emicida, como entrou nessa história?
Sou superfã dele, desde que ele começou. Eu estava no Twitter e pedi dicas de compositores pra gravar. E ele respondeu: “Emicida” (risos). Lógico! Tinha uma música que estava travada, só tinha o refrão. Ele foi a minha casa e acabamos a música.
Você já estudou nos Estados Unidos e morou na França. Está nos seus planos aproveitar essa vivência no exterior pra levar sua música pra lá?
Fiz alguns shows lá fora e provavelmente vamos voltar. Estive em Portugal no ano passado, mas, com essa coisa de empresários, deu uma parada. Sempre fui muito bem recebida, muito entendida no exterior, as pessoas gostam bastante. Quero sim.
Inclusive teve uma participação sua no show do Snow Patrol, no último Rock in Rio. Foi legal essa mistura de uma cantora tão brasileira com uma banda irlandesa?
Foi muito legal. Fiquei completamente apaixonada pela música, achei que tinha muito a ver comigo. Foi surpreendente, porque eu nunca tinha cantado em inglês pra tanta gente. Eles foram muito simpáticos, muito generosos. Foi uma experiência muito boa cantar pra, sei lá, 100 mil pessoas. A música fala mais alto, não fiquei nervosa porque sabia que era uma que eu tinha vontade de cantar, me sentia dentro dela.
Você sente aceitação do público jovem pelo seu trabalho?
As pessoas estão cantando no show. É um disco muito experimental, então fiquei com receio de não entenderem. Acho que estamos formando um público. Tem muita gente aparecendo e muita gente querendo ouvir. É um público de jovens, mas também dos pais, que vão com eles. Mas os jovens estão bem ligados nessa música nova. Vejo com muito otimismo, acho que é um momento bem legal da nossa história.
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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira
Pô, Mac, cadê aquelas clássicas entrevistonas regadas a cerveja?
Falta de cerveja sei que não é.
Estão fazendo falta.
Falta de tempo. Um entrevistão desses requer no minimo 20 horas de dedicação (entre preparação, entrevista, decupagem, edição e revisão), e atualmente 1 hora livre é sonho.
Putz, vinte horas!
Mas quando rolar tempo – mesmo a longo e médio prazo – manda bala, Mac.
Pelo tamanho delas e pela qualidade me lembravam as lendárias entrevistas da Playboy de tempos já idos.