texto por Juliana Simon
fotos por José de Holanda
Para entender o novo show do Mombojó é mais fácil virar para o público que para a banda. Afinal, nas duas horas de apresentação deste sábado (4) no Sesc Pompeia, foi a plateia quem ditou as regras. Dividido em duas partes, o espetáculo foi a apoteose dos antigos hits contra a indiferença dos fãs às faixas do novo álbum, “Amigo do Tempo”, liberado gratuitamente três meses atrás.
A abertura, com a nova “Antimonotonia”, foi timidamente acompanhada por coreografias – ironicamente – monótonas. E assim foi em grande parte das canções de “Amigo do Tempo”. Com uma postura quase fria, o vocalista Felipe S. mostrava a nova verve da banda, com faixas mais elaboradas, introspectivas e algumas tristes, como “Praia da Solidão”, “Triste Demais” e a belíssima “Qualquer Conclusão”.
Entre os sucessos “O mais vendido” e “Duas Cores”, “Casa Caiada”, que se assemelha à boa parte das canções do álbum anterior “Homem-Espuma” (2006) e já vinha sendo apresentada em shows desde 2008, foi a que mais despertou interesse da platéia.
Enquanto a banda executava as novas canções de maneira comportada e, às vezes, burocrática, o público fazia sua festa juvenil. Nas rodinhas, meninas chegavam a fazer uma improvável e cômica sensualização de “Justamente”. A cada intervalo surgia o mesmo pedido: “Deixe-se acreditaaaaaaaaar”. Alguns perguntavam os nomes das novas canções, outros aguardavam calados pelos hits.
De improviso e cantada em coro,“Swinga”, faixa do CD anterior, encerrou a primeira parte do show. O que viria a seguir não se pode chamar de bis, mas de um segundo show, completamente diferente do anterior.
De volta ao palco, os músicos trouxeram versões pesadas de canções do primeiro CD “Nadadenovo” (2004), como “Cabidela”, “Discurso Burocrático”, “Missa” e “Faaca”. Neste momento, as músicas eram tocadas com tanta energia e fôlego que rodas de pogo pipocavam no público até então muito tranquilo.
“Realismo Convincente” teve seus últimos versos (“Tô te explicando pra te confundir/Tô te confundindo pra esclarecer/Que estou iluminando pra poder cegar/E estou ficando cego pra poder guiar”, citação de Tom Zé) berrados a todo pulmão por uma plateia finalmente despertada. Só na parte final do show viria “Deixe-se Acreditar”, outro hit de “Nadadenovo“ e música mais pedida durante toda a noite.
Para o bis, os músicos voltaram fantasiados e encerraram o show com a animada “Papapa” (assista ao clipe aqui), talvez a única nova canção que o público já soubesse a letra.
Se a banda tomou rumos diferentes em seu novo disco, a resposta da frente do palco a esse caminho ainda é fraca. O público, por enquanto, não parece acompanhar a nova fase do Mombojó e continua estacionado nas canções ora singelas, ora pesadas dos discos “Nadadenovo” (2004, eleito quatro melhor disco da década em votação do Scream & Yell – veja aqui) e de “Homem –Espuma” (segundo melhor disco de 2006 – veja aqui).
Após quatro anos de silêncio discográfico, o Mombojó retorna com um álbum introspectivo, menos festivo e às vezes sombrio, que parece revelar certa frustração com a expectativa causada pela ótima receptividade da crítica e do público em relação aos dois primeiros álbuns, e, apesar disso, a não concretização de uma carreira (algo que os recifenses viram surgir apenas com o projeto paralelo Del Rey).
Transpostas para o palco, as canções de “Amigo do Tempo” ainda soam parecidas demais com a execução em estúdio, e a diferença entre a calmaria destas com o caos musical e festeiro causado pelos números mais antigos transmite uma postura ainda pouco confiante na maturidade e qualidade do material novo. A hora de ousar, de experimentar mais coisas no palco e fazer conhecer a nova fase da banda é desperdiçada. Talvez a constante de shows dê confiança ao grupo, mas é bom ficar de olho. É bom ser amigo do tempo, mas melhor não esquecer: ele passa.
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“Amigo do Tempo”, Mombojó (Independente)
por Adriano Mello Costa
“Almejo ser amigo do tempo…” deseja o Mombojó na música que dá nome ao seu terceiro trabalho, disponibilizado gratuitamente para download no site oficial. Manter uma relação amiga com o tempo é sempre complicado, principalmente no campo da música. Como manter a chama acesa, o mesmo amor pelas músicas, quando os anos passam, as cabeças mudam, os fãs querem sempre o mesmo disco, as relações se estremecem e amigos se vão?
Já passou algum tempo desde que a banda mostrou, em 2004, o arrebatador “Nadadenovo”. Fizeram mais um (ótimo) disco pela Trama, o “Homem Espuma” em 2006, viram um amigo falecer, outro sair da banda, se mudaram para São Paulo e engataram uma longa temporada de sucesso com o projeto Del Rey, na qual tocam versões de canções do Roberto Carlos. O tempo passava e o novo disco cozinhava com paciência no forno das idéias.
“Amigo do Tempo” é o resultado disso. O Mombojó é agora um quinteto – Felipe S. (vocal e guitarra), Marcelo Machado (guitarra), Chiquinho Moreira (teclado), Samuel Vieira (baixo) e Vicente Machado (bateria) – exercendo novas funções que passam por outros instrumentos até a produção do álbum e da carreira. Conseguem a façanha de olhar para os discos anteriores com carinho, mas sem se prender a eles, procuram sempre algo novo.
Financiado inteiramente pela banda, “Amigo do Tempo” teve produtores diferentes, o que não prejudica a unidade do trabalho. Das 11 faixas, mais da metade já era conhecida do público, como “Casa Caiada”, que aparece melhor ainda com efeitos diversos, e a melancólica e melódica “Triste Demais”. O grupo explora mais o poder das eletronices, mas sem deixar de lado as frases certeiras, a malemolência preguiçosa do vocal e o ritmo peculiar.
Em “Antimonotonia” o clima é tão tenso que parece a trilha sonora de um filme dramático. Em outras, como “Papapa” (com direito a clipe hilariante da banda vestida como heróis de desenhos japoneses), o Mombojó aparece mais pop que nunca e convida discretamente para dançar. “Aumenta o Volume” tem a bateria característica do grupo, mesmo que mascarada. “Praia da Solidão” é mais um bonito exemplo do lado melancólico do grupo.
“Amigo do Tempo” talvez não agrade de entrada alguns fãs que esperam novas “Deixe-se Acreditar” ou “Merda”, mas é uma extensão perfeitamente entendida de “Homem Espuma”. Como diria Chico Science: “Um passo a frente e você não está no mesmo lugar”. O Mombojó segue habilmente essa trilha, mostrando ser um dos mais importantes nomes da música nacional dos últimos anos. Sem alardes ou histrionices, apenas fazendo música como arte.
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– Juliana Simon é jornalista e assina o blog Deixo Um Post It
– Adriano Mello Costa é assina o blog Coisa Pop
– José de Holanda: mais fotos do show http://www.flickr.com/photos/josedeholanda
Eu acho muito natural, depois de anos sem lançar disco e de tanto barulho pelo Nadadenovo (principalmente pela imprensa), haver um certo descompasso entre banda e público… Mas o fato é que o tempo não passa para a música de qualidade. Para mim, Mombojó é um exemplo disso.
Não sei em que lugar da platéia a Juliana estava, mas perto de mim estava todo mundo cantando as músicas do novo disco sim… concordo que havia um certo marasmo por parte do público, mas isso acontece muito em shows no SESC Pompéia… aposto que um show no StudioSP seria muito mais participativo
ah, esses fãs…
No show do Rio, no Circo, tava todo mundo cantando as novas. E achei que eles tão bem mais seguros no palco. Gosto cada vez mais desse terceiro disco!
Pra mim é o melhor cd deles!
Espero vcs em Salvador
Em resumo, disco do ano!.
Não gosto dessa coisa de ligar sempre o antigo ao novo, mas isso acontece muito, é preciso cuidado. Sou fã demais do Mombojo ha muito tempo, e sempre tive “ciuminho”dos albuns novos. Ouvia mas sempre voltava pro Nadadenovo. Acontece que os caras surpreendem, e o mais legal: nao é a primeira vista. Acredito que o mesmo acontece com o Amigo do tempo. É outra vivencia, sao outras historias, talvez uma abordagem mais cotidiana, mais carregada de experiencias e fatos atuais. É bem arranjado, é bem diferente. Parece? Parece sim, com varias coisas, nao so com o Home-espuma -alias. Mas musica é isso, e nao deixa de ser autentico. A banda tem sua peculiaridade, e deixa isso bem claro. Vale a pena, apesar do que se diz ser ou nao ser ou demais bablabla’s.