por Marcelo Costa
A boa música pode ser revolucionária, flagrar um fragmento do espaço/tempo e tornar-se de tal forma representativa destes segundos da História que tudo mais parece girar ao seu redor. A boa música pode ser futurista, apontar o dedo para o infinito e mostrar o exato lugar em que outros menos desfavorecidos irão buscar inspiração – e plágios – enquanto o futuro torna-se presente. Por fim, a boa música pode até não ser revolucionária nem futurista e mesmo assim ser boa por apoiar-se no conhecimento e bom exercício de tudo que já é conhecido dentro dos acordes musicais. “Country Mouse, City House”, novo álbum de Josh Rouse, (felizmente) pertence a este ultimo grupo.
“Country Mouse, City House” é o sétimo álbum de uma discografia belíssima em que se destacam principalmente os três mais recentes, “1972” (2004), “Nashville” (2005) e “Subtitulo” (2006), todos representados de alguma forma neste novo lançamento, que segue o clima feliz e contemplativo do álbum anterior e do EP “She’s Spanish, I’m American”, lançado em janeiro deste ano e dividido com a namorada (e principal inspiração de Rouse) Paz Suay. Aliás, “She’s Spanish, I’m American” é um bom ponto de partida para entender “Country Mouse, City House”. Rouse é norte-americano, e deixou o país para esquecer um vício em alcoolismo que estava colocando sua genialidade em xeque. Na Espanha, no final de 2005, conheceu a cidade de Puerto de Santa Maria e a cantora Paz Suay, e se apaixonou pelas duas. O resultado destas paixões pode ser vislumbrado desde então em seus lançamentos.
A felicidade não costuma ser boa para os songwriters, que acabam muitas vezes vertendo pieguice em forma de canção pop. Josh Rouse não sofre deste mal. Suas canções são delicadas, românticas, mas nada piegas. “Country Mouse, City House” abre com “Sweetie” que traz uma introdução com orgão, notas de teclado dispersas, um violão discreto e a voz de Rouse contando a história de um casal de artistas sonhadores prontos para sair em turnê e planejando o futuro na estrada: “Dormiremos em telhados, andaremos de bicicleta, até podemos nos casar, você não gostaria, sweetie?” A próxima, “Italian Dry Ice”, traz Suay nos backings (ele assina a co-autoria de três das noves faixas do álbum, e participa aqui e ali) em um clima jazzy de primeira. “Hollywood Bass Player” é um soft rock inspirado e flagra um rapaz que abandonou os estudos em Manhattan e acabou indo tocar baixo em Hollywood.
A melancólica “God, Please Let Me Go Back” é uma das canções mais bonitas do álbum deixando escorrer uma influência de Smiths pelo arranjo sutil que serve de cama para uma letra que flagra um cara se apaixonando, desesperado por sentir ciúmes de qualquer son of a bitch que olhe para sua amada com desejo. “Nice To Fit In” é indie pop de primeira grandeza. Em “Pilgrim” retorna o clima jazzy destacando uma linha de baixo chapante. “Domesticated Lovers” é a equivalente de “The Man Who Doesn’t Know How To Smile”, uma das canções reluzentes do álbum anterior, “Subtitulo”, e assim como sua antecessora traz Paz Suay em dueto. O clima indie pop continua com a fofa e desencantada “London Bridges”, em que o narrador não se sente afortunado por estar apaixonado: “Eu não sou o cara que vai te dizer como amar e viver”.
“Country Mouse, City House”, assim com o álbum anterior, foi lançado pelo próprio selo do artista, o Bedroom Classics, e está sendo distribuído pela pequena Nettwerk. Foi gravado em seis dias em Puerto de Santa Maria, na Espanha, e mixado em Nashville, Estados Unidos. Em sua página no My Space (que destaca quatro canções de “Country Mouse, City House”), Josh Rouse fala sobre a gravação do álbum de uma maneira tão sincera que impressiona. “Eu não vou entrar em muitos detalhes sobre as canções, mas posso dizer que há temas sobre morte, isolamento, natureza, religião e sonhos. As canções foram compostas em julho (2006), e o título surgiu durante uma caminhada pelo norte da Espanha. Achei um nome engraçado. Algumas pessoas dizem que às vezes pareço um rato nas fotos. Rima também com meu nome”, explica o compositor, que ainda escreve: “Meu som é o dos songwriters dos anos 70. É o meu estilo favorito de música, e tem algo que muitos dos lançamentos modernos não têm”. Ele não diz o que é esse algo, mas arrisco uma palavra: alma.
Josh Rouse é destes artistas que sabem o que querem. Não propaga revolução musical, nem tampouco requer em suas obras, um exercício delicado de familiaridade em suas músicas, na sua primeira audição. Isto pra ele, não importa.
Talvez a palavra que mais sintetize as obras de Josh Rouse, seja mesmo: a alma. A alma de um trovador solitário que evoca em suas músicas, a sinceridade que falta em mundo mesquinho.
Pontualmente, a cada ano, Rouse, solta um disco. Sua vasta discografia permeia entre o delicado, o belo, a suavidade para com os arranjos orquestrais e sopros, violões acústicos, slide guitars, melodias simplórias, mas líricas, emoção à flor da pele e o diferencial em suas obras, a sinceridade.
Sinceridade vista e sentida também, em filmes de Clint Eastwood, Tim Burton, e do sempre genial, Neil Young.
Enfim, “Country Mouse, City House” é tudo isso escrito aí em cima, com uma pitada a mais de doçura, calmaria e sutileza, do que os discos anteriores. Um disco com a marca e identidade Josh Rouse. (Pouco para alguns, mas muito, para quem acredita que as respostas para problemas complexos podem estar nas coisas mais simples. Como é o som e a proposta de Josh Rouse).
Afinado com o seu tempo, Rouse, deixa claro através das palavras verbalizadas como melodias, o reflexo da existência do ser humano, neste mundo atual: isolamento, morte, solidão, natureza, religião, sonhos, desapegos, etc. Afinado?
Um álbum para se apreciar deitado em um confortável sofá ou poltrona, enquanto lá fora, o mundo corre com os seus dissabores e poucas alegrias.
Rouse é gênio, ja falei isso outras vezes, mesmo quando lanca um disco apenas bom ele é acima da media..e la vai mais algumas canções para deixar a alma mais feliz…