EDITORIAL
MARÇO
2002
Eu sei o que você está
esperando. Quer saber sobre a ZERO,
certo? Ok, devagar e sempre. Nenhuma novidade por enquanto, além
de que a redação Zero nunca participou de tantas reuniões
como as que vem participando nas últimas semanas. De gráficas
a agências de publicidade, passando por distribuidoras, anunciantes
potenciais e possíveis parceiros, estamos nos desdobrando para que
a revista chegue as bancas entre abril/maio. Acredito que nós cinco
(eu, Petillo, Luiz, Daniel e Abônico) estamos sonhando com essa revista
todas as noites. Eu, particularmente, decorei o número 0 da ZERO.
Logo logo serão vocês. E, antes que você pergunte: sim,
ela será nacional.
Abaixo, para não ficar pensando
muito, uma matéria sobre sites brasileiros de cultura pop, feita
pelo jornalista Omar Godoy e publicada no caderno de cultura do jornal
Gazeta do Povo, de Curitiba. Muito do que eu penso sobre web está
neste texto.
Abraços e até
Marcelo Costa
WEB | Sites brasileiros sobre cultura
pop proliferam e abrem espaço para colunistas autônomos
Febre de juventude
Caráter democrático
da internet tem fortalecido uma tribo fiel e consistente
OMAR GODOY - Gazeta
do Povo - Curitiba
Se você vibra com longas-metragens
como "Quase Famosos", discute com seus
amigos sobre a qualidade do grupo americano "Strokes"
ou simplesmente aprecia a literatura de Nick
Hornby (autor de "Alta Fidelidade"),
sua praia é a cultura pop.
É verdade que o termo tem uma abragência muito ampla, mas
vem sendo bastante usado no Brasil de uns tempos para cá. Entusiastas
desse "estilo de vida" sempre existiram por aqui, mas a carência
de informações e lançamentos nacionais de bons discos
e filmes emperravam o crescimento de uma cena organizada.
Com o advento da internet, a situação
começou a mudar. Fãs brasileiros passaram a consultar diretamente
as fontes jornalísticas mais importantes e se empenharam na procura
por novidades em MP3. E o melhor de tudo: criaram uma verdadeira rede alternativa
de troca de idéias, por meio de listas de discussão e sites
especializados.
Páginas brasileiras sobre cultura
pop são uma febre na web e se reproduzem como coelhos. A cada semana,
novos escribas autônomos colocam sites no ar, dispostos a integrar
um círculo cada vez mais aberto. A qualidade da informação
nem sempre é respeitada, mas isso não importa muito. O caráter
democrático (e até anárquico, em alguns casos) da
rede permite que qualquer garoto produza conteúdo e participe ativamente
do meio cultural.
"Antigamente, poucos tinham acesso
à publicações estrangeiras como NME e Melody Maker.
Hoje em dia, com a internet, tem muito leitor que sabe mais do que jornalista",
afirma o paulista Marcelo Costa, um dos editores do Scream & Yell.
Para ele, que começou fazendo um fanzine em papel, a web é
um canal aberto para quem tem o que dizer. Independente das condições
materiais da equipe de criação. "Faço o site há
dois anos e até hoje não tenho um micro em casa", revela.
Hospedado num provedor gratuito, o
Scream & Yell teve seu design idealizado por um fã da versão
impressa que sugeriu uma adaptação para a internet. Hoje,
Costa pode fazer as atualizações em qualquer computador disponível,
até mesmo no trabalho. "A atualização é o forte
da rede. Se você tem uma notícia quente na mão e não
coloca no ar rapidamente, acaba deixando o site datado", explica.
Mas nem só de informação
vive um endereço eletrônico de cultura pop. A maioria deles
dedica boa parte de seu espaço para colunistas,
que estão espalhados por todo o país e dão suas opiniões
em torno dos mais variados assuntos (da demo de uma banda iniciante aos
ataques terroristas contra os Estados Unidos). Como qualquer um pode se
expressar livremente na web, o nível conceitual dos textos muitas
vezes é comprometido. "Por isso tenho o cuidado de escolher apenas
pessoas de confiança e que tenham uma linha de pensamento parecida
com a do site", diz o jornalista carioca Luciano Vianna, do London
Burning.
Para o paulista Fábio Casaca,
um dos editores do Modular,
os colunistas da rede escrevem textos extremamente pessoais. "Não
é todo mundo que quer saber se o cara curte determinada banda ou
não", reclama. Por essas e outras, Casaca e seu parceiro Josmar
Madureira preferem apostar em entrevistas e amostras de som. "Não
queremos perder tempo falando mal dos outros", garante.
Outra característica interessante
dos endereços eletrônicos de cultura pop: muitos deles são
produzidos por jornalistas, que encontraram na web uma válvula de
escape para seus verdadeiros anseios profissionais. "Eu me sinto realizado
escrevendo no Scream & Yell, poderia ficar o resto da vida me dividindo
entre ele e um emprego normal", confessa Marcelo Costa, que trabalha no
site
de esportes do Banco do Brasil.
Em outros casos, jornalistas consagrados
usam a web para apresentar textos mais descontraídos. Luciano Vianna
cita o exemplo de Mário Marques, crítico de música
de O Globo e colunista do London Burning. "Muitas vezes ele dá uma
opinão na internet e depois resolve colocá-la no jornal",
conta.
Se os entusiastas da cultura pop invadem
cada vez mais a internet, por outro lado o mercado nacional para a produção
do gênero continua minguado. "Isso é engraçado. Um
disco do Pulp vende apenas 5 mil cópias por aqui, porém existem
cerca de 200 sites muitos bons que falam sobre o grupo. Essa nova febre
pode não ser um fenômeno de massa, mas é uma coisa
de turma, de gangue", diz Marcelo Costa. Para Luciano Vianna, o problema
é que a cena está nas mãos de pouca gente. "São
as mesmas 50 pessoas que fazem tudo. Produzem shows, montam selos de distribuição,
formam bandas, criam fanzines... Mas fora do Brasil é a mesma coisa",
afirma, com a experiência de quem cobriu por três anos a movimentação
musical da Inglaterra.
Mesmo representando um grupo pequeno,
os adeptos locais da cultura pop formam uma tribo fiel e consistente. Com
a chegada da internet, a carência de lançamentos por parte
de gravadoras, distruibuidoras de filmes e editoras de quadrinhos vem sendo
suprimida pela troca rápida e eficiente de informações.
Quando a web é uma ferramenta – e não um fim em si mesma
–, ela se torna um poderoso instrumento de agregação. |