O
outro lado dos Strokes
por
André Luiz Fiori
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01/02/2002
Quem
for mais "antenado" já ouviu falar. Quem acompanha
a música pop mais de perto com certeza já ouviu:
The Strokes. A banda de Nova York que de uma hora para
outra se tornou a mais falada, "the next big thing" , "a salvação
do rock", entre outros epítetos.
O
caderno Ilustrada da Folha de São Paulo no Brasil,
e o New Musical Express na Inglaterra saíram na
frente, estampando na capa o grupo que só tem dois singles
e está sendo comparado ao Oasis em 1995, ou seja, prestes
a conquistar o mundo.
Os
Strokes fazem um rock básico e cru, com nítidas
influências de Velvet Underground (circa White Light
White Heat) e Stooges (principalmente no vocal), mas eles
têm principalmente o carisma, o visual e aquela atitude
"típica da ruas de Nova York", facilmente reconhecível
mesmo por aqueles que nunca chegaram nem perto da cidade de
Woody Allen e Lou Reed.
Bem,
esses primeiros parágrafos dizem o que todo mundo (ou
quase todo mundo) já sabe (ou com certeza vai saber).
O que não é muito divulgado é o que está
por trás da primeira grande reveleção do
rock n roll do século XXI: The
Strokes é um ambicioso projeto cuidadosamente planejado
para dar certo.
O
grupo pode ser considerado o primeiro grande fenômeno
musical da Internet. Foi através da 'world wide web'
que todos, sem exceção, ficaram conhecendo as
músicas. Uma das estratégias é conquistar
primeiro a Inglaterra (seus singles saíram pela britânica
Rough Trade) para depois voltar com moral para os EUA (como
ocorreu nos anos 70 com outras grandes bandas de NY, como Ramones
e Blondie, por exemplo).
Todos
os jovens (entre 21 e 22 anos) integrantes vêm de boas famílias:
O guitarrista Albert Hammond Jr, como já entrega o nome,
é filho do compositor e hitmaker Albert Hammond. Nascido
na Inglaterra, participou de alguns grupos na juventude, até
mudar para os Estados Unidos, mais precisamente Los Angeles, no
início dos anos 70. Seu segundo single, It Never Rains
In Southern California, vendeu mais de um milhão de cópias
somente nos EUA, e se tornou também um 'hit' mundial em 1972.
Mesmo gravando regularmente, Hammond se estabeleceu mesmo foi como
compositor, escrevendo (com parceiros variados ) êxitos como
The Air That I Breathe para os Hollies em 74, 99 Miles
From L.A. para Art Garfunkel em 75, I Need To Be In Love
para os Carpenters em 76, When I Need You para Leo Sayer
em 77. Nos anos 80, Nothing Gonna Stop Us Now para o Jefferson
Starship, I Don't Wanna Live Without Your Love para o Chicago,
One Moment In Time para Whitney Houston (tema das Olimpíadas
88) e a inacreditável To All The Girls I Loved Before,
com a mais inacreditável ainda dupla Willie Nelson e Julio
Iglesias.
É
sintomático que o pai de um dos músicos do Strokes
seja um 'insider' da indústria, que conhece como ninguém
os bastidores da coisa toda. Fora que eles devem ter estúdio
em casa, essas coisas que facilitam muito. Mas até aí
tudo bem, é mérito deles. Outro pai ilustre é
o do vocalista Justin, que vem a ser John Casablancas, o milionário
presidente da agência de modelos Elite, o que com certeza
não deve atrapalhar em nada. Logo após a banda
começar a aparecer em shows pequenos, seus MP3 circularem
pela internet e eles se tornarem 'talk of the town' , receberam
ofertas de várias gravadoras 'majors' e optaram pela
RCA, o que significa que Is This It, seu álbum
de estréia deve sair no Brasil simultaneamente pela BMG.
Que
fique claro que não estou aqui para criticar os Strokes.
Também acho o som deles bem legal, eles têm talento
e tudo o mais, porém que não venham com a conversa
de "banda que saiu do nada direto para o estrelato", afinal,
estamos no século XXI e ninguém mais aqui é
ingênuo. Só talento não faz um banda iniciante
tocar no festival de Reading (mesmo sendo nos palcos menores),
ou aparecer no Top Of The Pops da tv inglesa (tocando
New York City Cops, lado B do single Hard To Explain).
Como
curiosidade, um crítico do New Musical Express, ao comentar
o single The Modern Age disse assim: "Modern? em 1975
ou 76 poderia ser..." e emendou "só falta aos Strokes
um pouquinho mais de substância, já que visual,
atitude e estilo eles têm de sobra..."
A banda é boa, mas não é um bando de pés
rapados, com certeza.
André
Luiz Fiori é dono da Vevet Cds - www.velvetcds.com.br
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