Entrevista - Fernanda Takai (Pato Fu)
por
André Azenha
Foto - Divulgação
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04/01/2006
A banda mineira Pato Fu (que conta com Fernanda Takai no vocal,
John Ulhoa na guitarra e voz, Ricardo Koctus no baixo, Xande Tarnietti
na bateria e Lulu Camargo nos teclados) passa por um momento especial,
tanto no campo musical como no pessoal.
Os cinco estão encerrando um período importante para a carreira
do grupo, pois colocaram na praça seu oitavo álbum, Toda Cura
Para Todo Mal, que promete ser destaque nas listas dos melhores
de 2005, e conseguiram algo sonhado pela maioria das bandas: liberdade
para criar. Atualmente, são eles que produzem seus discos em um
estúdio caseiro e todos os clipes desse trabalho (11 até agora)
foram feitos de forma independente (eles enviaram as músicas para
diretores amigos com liberdade total para a produção).
Além disso, o casal Fernanda e John tenta conciliar a vida artística
com os cuidados com a filhinha Nina (de dois anos e dois meses),
responsável por levar um clima familiar ao cotidiano da banda. "Tudo
que fazemos daqui pra frente é pra ela", diz a vocalista.
Com muita ralação, o Pato Fu conseguiu uma certa unaminidade perante
a crítica, que freqüentemente elogia os trabalhos do grupo; e o
público, que sempre marca boa presença nos shows. No entanto, comercialmente
falando, eles não atingem os mesmos números que seus companheiros
de Minas Gerais Jota Quest e Skank. "Talvez não sejamos tão pop
quanto eles", comenta a vocalista.
Em entrevista ao S&Y, Fernanda Takai falou sobre como andam os shows,
da vida familiar, projetos paralelos e o que a banda promete para
2006; além de comentar a maturidade que o quinteto alcançou. Ela
ainda confirma a liderança de John no grupo e se diz realizada com
o trabalho, o que torna inviável um projeto solo. Confira o bate-papo.
Muitos shows pela frente?
Esperamos que sim. Tivemos alguns meses bons este ano (2005), a
expectativa é de que a turnê esquente em 2006, pois viajaremos até
o fim do ano que vem com este show.
A turnê está cumprindo as expectativas?
Nunca foi fácil se fazer shows no Brasil. Os contratantes acabam
girando em torno de alguns artistas que freqüentam mais as paradas
de rádio. Não temos tido tanta execução assim, então não é das turnês
com mais datas que já fizemos. Por outro lado, o show está melhor
do que nunca e o reencontro com os fãs na estrada tem sido excelente!
Como funciona a vida de um casal que faz parte da mesma banda?
Lidar com as diferenças, ciúme, esse tipo de coisa. Isso rola?
Acho que estamos juntos há tanto tempo que esse nosso jeito de viver
e trabalhar é muito natural. Temos os mesmos horários, os mesmos
objetivos e nossas diferenças/semelhanças nos ajudam a enfrentar
o dia a dia. Agora, ciúme é algo inexistente tanto do meu lado quanto
do John. A gente acha uma grande perda de tempo. Se estamos juntos
é porque estamos felizes assim. Quando não for mais dessa forma,
acaba. Ciúme só implode as coisas.
A relação de vocês influi até que ponto nas composições? Qual
canção do Pato Fu retrata da melhor maneira a vida de vocês?
A gente é muito discreto na vida pessoal. Talvez isso seja uma característica
de se ter uma vida a dois mais centrada. O cotidiano em geral é
grande fonte de inspiração, mas poucas vezes nos expomos nas letras.
Foram raras as vezes que explicitamente isso aconteceu. A canção
que mais se parece com a gente? Não há como escolher uma só. Isso
é típico de um casal Pato Fu...!
Vocês têm uma filhinha (Nina, de dois anos e dois meses) e às
vezes a levam para os shows. Como vocês fazem para suprir a falta
dela e a falta que você e o John possam fazer a ela? Quais os cuidados
tomados?
Ela viajou com a gente em turnê ou divulgação pouquíssimas vezes.
A estrada não é uma coisa boa para uma criança. Come-se fora de
hora, dorme-se pouco e nem sempre os locais de hospedagem são bons.
Ela entrou cedo na escolinha pra ter sua própria vida, seus próprios
horários. Quando estamos viajando, ela fica com minha mãe, que mora
perto de nossa casa. Acho que Nina já entendeu o tipo de profissão
que temos. Pede pra ouvir o CD mais recente sempre que não estamos
e gosta de assistir a videoclipes, porque sabe que a gente pode
aparecer a qualquer momento.
Já tem alguma composição em homenagem a ela?
Ah, tudo o que fazemos daqui pra frente é pra ela. É a pessoa mais
importante pra gente. Só que não diretamente pras letras. Por incrível
que pareça, Amendoim não foi feita pra Nina. É uma canção
que existia há mais tempo.
Já li que o Toda Cura Para Todo Mal foi feito em um ambiente
familiar graças a presença dela. O próximo trabalho seguirá a mesma
linha? Quando deve pintar novidade da banda, já que do penúltimo
para o último trabalho houve um espaço de três anos?
Essa fórmula de gravar/mixar em casa com a produção do John não
deve ser abandonada porque provou ser muito econômica, confortável
e de muita qualidade. Ainda não há data para um próximo lançamento,
mas deve ser apenas em 2007, não antes disso. Temos o projeto do
DVD de clipes do CD que sairá depois do carnaval, e que conterá
cenas das gravações, a banda já na estrada com a turnê e outras
coisinhas. Esse deve ser nosso lançamento e novidade para 2006.
No mais é viajar pra tocar.
A banda vive seu momento de maturidade ou isso é conversa fiada
de crítico musical?
Não é conversa fiada, mas é uma coisa natural pra uma banda que
tem 13 anos de carreira e para integrantes que já passaram todos
dos 33. Vixe! Nem é bom comentar... he he. Procuramos evoluir a
cada trabalho que fazemos - tanto no conceito estético quanto na
construção das letras.
Vendas não representam qualidade. O Pato Fu é uma banda que costuma
receber elogios dos críticos e que possui belas canções que grudam
nos ouvidos e tocam em rádios. Mas comercialmente falando, não vende
tanto quanto seus companheiros mineiros como Jota Quest e Skank.
A que isso se deve?
Talvez investimento em promoção ou talvez não sejamos tão pop quanto
eles. Isso na verdade não importa muito. Não dá pra ficar comparando
as bandas. Somos muito diferentes, apesar da coincidência geográfica.
Não fazemos parte da mesma turma fora da estrada ou fora de ambientes
comuns à música.
Quais são os próximos clipes a serem lançados?
Temos 11 deles prontos. Não temos uma ordem específica. Quando queremos,
colocamos um novo lá na página de videos (do site oficial). Há duas
estréias recentes: Sorte e Azar e Boa Noite Brasil.
Não vão mais aparecer músicas cantadas em outras línguas?
Isso é imponderável. No disco mais recente teve português de Portugal!
Qual análise você faz do cenário musical brasileiro atual? O
caminho que as novas bandas devem seguir é o independente? Vocês
que já viveram os dois lados da moeda. Poderiam dizer qual melhor
caminho a ser percorrido?
Não existe um modelo a ser seguido. Os artistas querem coisas diferentes
e têm talentos específicos. A gente busca autonomia de fazer o máximo
nós mesmos. Temos estúdio, editora, produtora de shows, gerenciamos
o site, temos um produtor dentro da banda e até fotógrafo (o Ricardo
agora tem se dedicado a isso). É natural que nosso caminho daqui
pra frente siga esse norte. O melhor dos dois mundos é a liberdade
total de gerenciar prazos, verbas e criação e ainda ter a visibilidade
necessária para a banda sobreviver do que faz.
E as mulheres na música pop brasileira? Até que ponto você pode
ter influenciado no crescimento do número de meninas tocando em
formações rock e pop no Brasil, que atualmente tem a Pitty, a Bianca
Jordão do Leela, entre outras? Gosta de alguma em especial?
Minha voz feminina preferida da nova geração é a Vanessa Krongold
do Ludov. A minha participação no Pato Fu sempre foi dividida com
os outros integrantes, com o John principalmente. Nunca fomos a
banda da Fernanda, pelo contrário. Acho que hoje está claro pra
todo mundo que nosso mentor é o John! Acho ótimo que estejam surgindo
novos nomes femininos, quanto mais gente melhor. Mais garotas se
sentirão incentivadas!
Em que pé estão os projetos paralelos do John e a produção de
outros artistas?
Ele finalizou o disco da Érika Machado, uma nova cantora/compositora/instrumentista
de Belo Horizonte que vai ter seu disco lançado no início do ano
que vem. Agora, o John está terminando o disco do Digitaria, uma
banda de eletrorock que será lançado pelo selo Gigolo Records, do
alemão DJ Hell.
Já passou pela sua cabeça fazer algum trabalho fora do Pato Fu?
Faço trabalhos curtos, específicos, por enquanto. Coisas como trilha
de teatro, desfile, campanhas beneficentes, participação em discos
de outros artistas. Quando eu quiser fazer algo solo, é porque o
Pato Fu deixou de me atender musicalmente falando. Por enquanto
eu estou muito realizada com o grupo. Acho que o trabalho solo de
um vocalista é uma competição com a própria banda, então não faria
isso enquanto estivermos juntos ainda.
Obrigado pela atenção e deixe um recado para os fãs...
Espero que tenham a oportunidade de ver a turnê nova no ano que
vem! Até qualquer dia na estrada.
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