Pato
Fu - Ao vivo no Museu de Arte da Pampulha
por
Fábio Sooner
10/09/2002
Seis
discos, uma carreira sempre ascendente, controle sobre todos
os aspectos do seu trabalho, notadamente videoclips, e aclamação
geral da crítica. Levando tudo isto em conta, não
dá para se condenar o Pato Fu por entrar na onda dos
discos Ao Vivo MTV. E olha que ainda nem falamos nos
10 anos de banda.
O quarteto mineiro poderia muito bem lançar uma coletânea
de sucessos com palmas ao fundo - mas, como quem ouviu o Pato
a Fundo poderia imaginar, o grupo escolheu a via contrária:
um repertório particular, recheado com quatro inéditas,
músicas meio esquecidas e alguns hits em arranjos novos.
Tudo gravado em casa, no Museu de Arte da Pampulha, com participação
do duo gaúcho Tangos e Tragédias. O resultado
soa como se todas as canções tivessem sido originalmente
compostas para Ruído Rosa, seu último e
aclamado trabalho - o que os aproxima dos Talkings Heads e seu
Stop Making Sense, mas isso é assunto para outro
dia.
No campo das inéditas, sobressaem o rock radioheadiano
Me Explica e o trip-hop deprê Não Mais,
enriquecido pela rabeca de Hique Gomes, do Tangos. Por Perto
e Nada Pra Mim são as baladinhas radiofônicas
regulamentares, desculpáveis por detalhes de nota, como
uma introdução tremulante na primeira e o sabor
bubblegum beatlesco na segunda.
Entre as canções inesperadas para um balanço
do Fu, destacam-se Porque te Vas, transformada em um
ska-folk (mais uma vez, cortesia do Tangos); Vivo num Morro,
com mais acento funk do que a versão original; e Um
Dia, Um Ladrão, que levanta vôo via teclados
futurísticos. É bom que se explique que todos
os novos arranjos, sem exceção, preservaram as
melodias anteriores - de pato esse Fu não tem nada: show
de banda pop é pra cantar junto e não tem conversa.
Quanto aos "alguns" hits, ficaram de fora Qualquer Bobagem,
Pinga e Ninguém - mas estão lá
Sobre o Tempo, Depois e Antes Que Seja Tarde,
mais próximas das versões em estúdio; Made
in Japan, que ganhou um balanço orgânico com
a ênfase nos instrumentos acústicos; e Eu,
a surpreendente abertura do disco, transposta diretamente do
folclore gauchês para o mundo da música experimental.
No geral, o quadro sonoro é tão multifacetado
quanto o Pato Fu sempre foi, mas com a enorme vantagem de soar
uno como um disco de estúdio. Talvez pelo som límpido,
pelos rearranjos, pela escolha em abdicar de n participações
para se ater a um duo que casou ao espírito-Fu como goiabada
com queijo. E para lembrar-nos que, afinal, se trata de uma
comemoração de 10 anos, está lá
a participação fundamental da platéia em
Capetão 66.6 FM - que por si só já vale
a aquisição do show em DVD - e Quase.
Como presente extra, ganhamos o fechamento do disco com nada
mais, nada menos do que Rotomusic de Liquidificapum,
faixa-título do primeiro e cultuado disco do Pato Fu.
Sem a citação ao tema dos Flintstones no final,
mas tudo bem. O corte acabou deixando como último recado
ao ouvinte uma apoteose hardcore e alguns dos versos mais emblemáticos
de toda a carreira dos mineiros: "tá na hora de você
pensar de novo/ nas 'porquêra' que 'ocê' faz na
sua vida/ ê, vida sofrida/ este ano eu vou curar 'minhas
ferida'". Nada mais apropriado.
Links
Site do Pato Fu
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