"Life Pursuit", Belle & Sebastian
por Pedro Damian
Blog
12/12/2005

Life Pursuit, novo álbum do Belle & Sebastian, poderia ser aclamado como o disco do ano de 2005. Só não vai por um pequeno detalhe: seu lançamento foi marcado para fevereiro de 2006. E, como os Strokes devem lançar seu novo trabalho por esse mesmo período, deduzimos que o burburinho no mundo da música indie está garantido, ao menos no início do ano. A gravadora é a Matador, casa norte-americana da banda durante todo o começo de carreira. Os fãs brasileiros podem ficar tranquilos. No Brasil, é certo que a Trama vai lançá-lo e sem atrasos.

Em bom português, Life Pursuit significa "Busca pela Vida". E é isso o que parece que os escoceses do B&S parecem querer com este brilhante trabalho. Levantar o pescoço para fora do mundinho indie e mostrar o seu talento para um público diferente. Evidentemente, tudo o que consagrou o Belle & Sebastian está em Life Pursuit, só que em doses bem menores. Se o disco abrisse com a segunda música, Another Sunny Day, até se poderia ter uma primeira impressão de que eles continuam os mesmos (Act of Apostle, música que abre o CD, apesar do título religioso, é a mais fraca do disco e não dá idéia do que vem pela frente).

A abertura eletrônica de White Collar Boy surpreende, mas nem tanto quando entram as vozes. Apesar de, em termos de melodia não se parecer tanto, os vocais repartidos entre Stuart Murdoch e o resto da banda lembram muito My Uptight Life, clássico dos conterrâneos Teenage Fanclub, álbum Howdy!.

Uma das grandes novidades do disco é a quarta música, The Blues Are Still Blues. E é exatamente o que o título sugere. Belle & Sebastian tentando tocar blues a lá... Belle & Sebastian. O vocal grave de Stuart na abertura até lembra um pouco Mick Jagger (!). Maravilha! Já a canção que a sucede, Dress Up In You, mostra que os escoceses estão optando por temas mais adultos e é uma típica balada que poderia estar em qualquer dos discos anteriores. O que vai agradar muito fãs antigos.

Sukie in the Graveyard também tem levada parecida com várias outras canções mais agitadas da banda, só que o vocal de Stuart está mais agressivo e a melodia remete à psicodelia do final dos anos 60 - inspiração também de Song for Sunshine, que poderia ter sido tocada tranquilamente em Woodstock. Entre Sukie... e Song... está We Are the Sleepyheads, outra música típica do B&S, mas com o característico tempero psicodélico que marca boa parte das canções de Life Pursuit.

O primeiro single é a nona música do álbum, Funny Little Frog. Quando ouvi pela primeira vez, pensei que era uma música do Manic Street Preachers (dos trabalhos mais recentes)! Se Stuart tivesse um mínimo de engajamento político na letra e vocais mais agudos, certamente a canção passaria fácil por uma qualquer da banda de James Dean Bradfield, pós-Richey James.

O disco vai chegando ao final e as surpresas não param. To Be Myself Completely tem vocal copiado de Michael Stipe (R.E.M.) e melodia à Monkees. Acreditem se quiser. Act or the Apostle II abre com um teclado que lembra muito os últimos trabalhos do Felt, mas, quando Stuart entra com o vocal, a música vira uma balada com um quê jazzístico que poderia fazer sucesso em boates na alta madrugada. Quem gostava de fazer canções assim, no limite da decadência era um tal de Freddy Mercury. Credo? Ouça Act... e diga se estou errado.

For the Price of A Cup of Tea é uma faixa alegre (como várias de Life Pursuit, aliás), tem um tema banal e refrão inspirado em Electric Light Orchestra - vai, essa banda não era tão ruim assim... Sensacional! E o Belle & Sebastian termina outro excelente trabalho com mais uma balada inspirada, chamada Mornington Crescent, e que os aproxima também de Coldplay e Keane.

Com tantas influências, alguém poderia ficar tentado a criticar o disco como sendo "despersonalizado". Mas quem pode me dizer o que existe de puro na música pop de hoje?

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Links:
Site Oficial do Belle & Sebastian

Pedro Damian é editor do blog No Shit Music