"Storytelling"
- Belle and Sebastian
por
Marcelo Finateli e Marcelo Costa
finateli@hotmail.com 03/07/2002
Ganha
edição o "novo" trabalho do Belle and Sebastian
na mesma semana que Europa e América. O "novo" entre
aspas refere-se ao fato de que não sei se podemos contar
Storytelling como álbum de carreira. Por que?
Direto ao ponto:
À pedido do diretor de cinema Todd Solondz, mais famoso
pelos temas abordados em seus filmes e as repercussões
que causam do que pela obra em si, vide "Happiness"
de 1998, o Belle and Sebastiam foi convidado para compor a trilha
de seu então novo filme, Storytelling (no Brasil
foi lançado como Histórias Proibidas).
Em fevereiro de 2001, a banda voou para Nova Iorque, já
com alguma coisa gravada previamente em Glasgow.
Mais de um ano passou e assim que você colocar seu Storytelling
para tocar, seu CD player irá mostrar dezoito faixas,
porém vai ser apenas na sétima, Black And White
Unite, que você irá ouvir Stuart cantando a
primeira canção. As primeiras seis dividem se
em composições instrumentais ao piano e em diálogos
do próprio filme.
Tanto Black And White Unite como a faixa título,
Storytelling, resgatam muito do clima de Fold Your
Hands Child..., refinada produção, harmonia
dos instrumentos onde podemos ouvir cada um fazendo muito bem
seu trabalho. O avanço nas composições
e, principalmente, na produção é notável.
As faixas instrumentais são quase todas centradas no
piano dedilhado que busca as notas baixas, melancólicas,
perfeitas para um filme de Solondz, ou, em outra via, para flutuar
pelo ambiente.
Desde que viraram queridinhos da crítica mundial, cada
álbum do grupo é esperado entre dúvidas
e esperanças. Todas as dúvidas de que o grupo
talvez se repetiria em um próximo álbum caem logo
nas duas primeiras instrumentais. Freak, a segunda, explora
um vocal quase sacro, inédito em termos de Belle and
Sebastian. A melodia delicada é conduzida por teclados
e violão, claro, dedilhados. É tudo Belle and
Sebastian, mas, de forma alguma soa repetitivo, o que é,
definitivamente, um passo a frente.
O álbum soa como uma divisão ficcional que remete
diretamente ao filme. Storytelling, o filme, é
dividido em ficção e não-ficção.
A trilha segue o mesmo caminho. As instrumentais permitem que
o ouvinte deixe a imaginação fluir - ficção.
As canções com vocais externam o tema na letra
- não ficção. O resultado são 13
belas canções intermediadas por cinco diálogos
do filme.
Nas instrumentais, a banda procura evitar a repetição
amparando-se em arranjos que privilegiam diferentes instrumentos,
sempre com base ou violão, ou um piano "catador de milho"
(aquele das notas esparsas). Assim, uma harmônica carrega
Fuck This Shit enquanto Consuelo é quase
jazzistica, com um belo arranjo de trumpete. As "cantadas" vão
da doce Black And White Unite, passando pela delicadeza
quase a capella de I Don't Want To Play Football mas
contagiando realmente no clima flamenco de Wandering Alone
(que eles tocaram no Free Jazz Festival).
No exato momento que Storytelling aporta nas lojas, a
violinista Isobel Campbell informa sua saida do grupo. Assim,
Sarah Marting, violinista, já assume os vocais em Storytelling,
a faixa título. A batida lembra a de outras canções,
mas a produção mais cuidada faz a diferença.
Não dá para ter uma idéia do que a banda
planeja para o futuro a partir desse lançamento, mas
é perceptível certas mudanças. E muito
pouco provável que eles voltem num próximo álbum
com aquela sonoridade folk que os tornaram célebres e
tão adorados. Tanto o clima flamenco de Wandering
Alone quanto a guitarra funk estilizada da faixa de encerramento,
Big John Shaft, com instrumental mais descontraído
e "swingado", quase dançante, demonstram a intenção
do grupo em continuar explorarado as fábulas de Stuart
Murdoch em novas fórmulas. São sinais que você
não precisa temer quanto ao futuro da sua banda predileta,
eles não perderam a inocência mas amadureceram
antes de qualquer um conspirar a respeito dela.
|