"Fold Your Hands Child, You Walk Like A Peasant" - Belle and Sebastian
por Marcelo Costa
1999

Mesmo morto, ou em estado terminal, como querem alguns, o rock, como objeto de culto, tem o fôlego renovado com os novos discos (coincidentemente, o quarto de cada banda) de duas das bandas mais comentadas/adoradas dos últimos anos: Belle and Sebastian e Radiohead. O Radiohead adia mês a mês o lançamento do sucessor do sublime Ok Computer, e os fãs saciam sua fome musical vasculhando a Internet atrás de outtakes preciosos como I Promisse e True Love Waits. Já o Belle and Sebastian volta com single inédito (Legal Man) e álbum novo.

De um grafitti escrito no chão de um banheiro (Fold Your Hands Child, You Walk Like A Peasant) saiu o titulo do novo álbum do Belle & Sebastian, que eleva o agora septeto escocês a categoria de grande banda. A independente Jeepster aposta tanto nisso que investiu muito na divulgação do álbum e, dizem as más línguas, se o álbum não ultrapassar a marca de 100 mil cópias, a gravadora abre falência.

Celebrados depois de três álbuns praticamente impecáveis e quatro singles inesquecíveis, os escoceses voltam colocando a melancolia num pedestal e criando arranjos suntuosos para suas frágeis melodias. Certo, você já viu isso. E esse pode ser o problema.

Muita gente, daqueles acostumados a gostar da banda quando ela é desconhecida e odia-la quando ela faz sucesso, vai questionar a fragilidade das melodias, o lirismo ultra-retrô e as limitações (quase que por opção) de uma banda que se contenta, simplesmente, em escrever pequenas jóias pop em formato canção, pouco ligando para questões que mais preocupam a jornalistas (o rock morreu? O tecno é a nova onda? a eletrônica é a saída?) que ao público, em geral, e a eles mesmos, em particular.

Mesmo assim vai ter gente dizendo que Fold Your Hands exagera na melancolia e tem um q de preguiçoso, de silêncio absurdo, com razão. I Fougth In A War, a canção de abertura, é tão econômica na instrumentação inicial que parece cantada à capela. Ao fim de onze canções temos mais folks, menos rocks. Mais contemplação, menos sorrisos. Esse é o mundo de Belle & Sebastian.

Isso não quer dizer, absolutamente, que o álbum seja ruim. Não é. Tanto que a obsessão em arranjos suntuosos para as melodias simples arrebata. Mas frustra que esperava algo especial da banda mais cultuada da atualidade. Fica para o próximo. Ou para o Looper...

E que venha, então, o novo Radiohead.