Belle & Sebastian (Interview)

(Gentilmente cedido pelo site London Burning)
Por Luciano Viana
Foto: Divulgação
01/02/2001

Objeto de verdadeira adoração dos indie kids, o Belle and Sebastian é sem dúvida a mais cultuada banda britânica da atualidade. Apesar de ter como política não dar entrevistas, a banda teve que dar o braço a torcer para as pressões da gravadora e selecionou jornalistas de diversos países para um bate-papo num hotel londrino no começo de maio para promover seu novo single, Legal Man e seu quarto álbum, Fold Your Hands Child, You Walk Like a Pleasant. Todos os sete integrantes da banda compareceram - Stuart Murdoch, Sarah Martin, Stevie Jackson, Isabel Campbell, Richard Colburn, Chris Geddes e Mick Cooke - e, como não podia deixar de ser, o London Burning estava lá, se tornando a primeira e única publicação brasileira a ter entrevistado o grupo. Com vocês, Belle and Sebastian:

S&Y - Vocês já têm um substituto para o baixista Stuart David?
RC - Não, mas o Mick vai fazer alguma coisa com o baixo, ao invés de só ficar parado ...

S&Y - No faixa do disco novo (Chalet Lines), Stuart, você canta na primeira pessoa, a experiência de uma mulher estuprada... Isso não é um insulto a vítimas reais de estupro?
SM - Essa é a história de alguém que conheci quando trabalhava na Butlin, há alguns anos. Eu tentei me identificar e coloquei o relato numa canção. Na história não tem mais ou menos drama do que tinha na canção. Acho que não. É tudo o que posso dizer.

S&Y - Vocês participaram do programa Apocalypse Tube recentemente. A experiência despertou interesse pela TV e, se sim, de que outros programas vocês gostariam de participar?
SM - Sim. Certamente despertou o nosso interesse. Nós amaríamos tocar no Top Of The Pops.
MC - Eu quero participar do CD:UK!
SM - Então, vai sozinho.

S&Y - Vocês acham que o single Legal Man vai lhes dar essa oportunidade?
SM - Eu espero que sim. Não tem muita coisa que você pode fazer antes de lançar um disco. Eu espero que as pessoas o comprem.

S&Y - Vocês concordam que Legal Man soa um pouco como a música-tema do programa Eurotrash?
SJ - Depois que a escutei através dos caixas de som eu me dei conta disso. Mas não foi intencional. Tem um tema parecido. Não acho que eles possam nos processar.
CG - Legal Man só é um single porque a gente não sabia o que mais fazer com a música.
SM - Não era nem para ter sido incluída em lugar nenhum, mas na fita soou legal, então a gente achou melhor experimentar para ver o que acontece.

S&Y - O que vocês pensam do grupo Steps?
SM - Eu não conheço os discos deles em profundidade, mas eles parecem ser de uma escola mais antiga de entretenimento do que as boy e girl bands de hoje em dia. Provavelmente eles são esquisitos. Eles são como um grupo de colônia de férias muito estranho. Mas eles vendem um zilhão de discos a mais do que nós, então 'bom para eles'.

S&Y - O que vocês fazem diferente do que os integrantes do Steps fazem, em entretenimento?
CG - Se você passa um ano e meio fazendo um disco ele é menos descartável que o do Steps. Se você coloca essa quantidade de tempo da sua vida trabalhando em alguma coisa, então você espera que seja um sucesso, mas você não é capaz de julgar por conta própria.
SM - É para vocês decidirem o que vocês preferem. A gente faz o que faz porque a gente gosta e sente que tem que ser assim. Claro que isso é também válido para o Steps, se eles gostam do que fazem.

S&Y - Por que vocês normalmente não dão entrevistas?
SM - A gente fez algumas no começo, mas depois me desinteressei. Eu não gostava de dar entrevistas. Você tem que estar alerta quando falando de você mesmo, porque você pode acabar soando como um idiota. Nós todos já nos sentimos frustrados depois de falar com pessoas e o que dissemos ter sido reproduzido fora de contexto. A única resposta é não dar entrevistas. É fácil e você não fica frustrado. A verdade é o que você diz, é o que importa, e é por isso que estamos aqui hoje. A gente está aberto para tentar tudo pelo menos uma vez.

S&Y - Por que o título bizarro do disco?
SM - Era um grafitti escrito no chão de um banheiro e eu o li em 1986. Por algum motivo ficou na minha cabeça. Eu pensei 'Por que alguém escreveu aquilo. Será uma citação de um livro?'. Naquela época eu era muito impressionável e a frase me pareceu muito inteligente e misteriosa.

S&Y - Vocês estão planejando tocar ao vivo?
SJ - Estamos trabalhando nisso no momento, mas estamos tomando o nosso tempo. A gente tem que chegar ao som certo para ter certeza de que tudo está perfeito.

S&Y - De onde vem a sua obsessão com ônibus?
SM - Glasgow tem um ótimo sistema de transporte público. É o melhor do mundo! É ótimo, você tem que experimentar. Se eu disse alguma coisa afetuosa sobre os ônibus é porque eu o senti assim. Eu passo muito tempo em ônibus. Quando comprei o meu primeiro passe de ônibus a minha vida mudou.

S&Y - Os fãs de vocês têm a reputação de serem loucos, obsessivos e assustadores ...
RC - Eles são pessoas legais. Se eu vou em piqueniques? Não, eu não sou um homem de piqueniques.
MC - Não se pode beber nos parques em Glasgow, por isso a gente não faz piqueniques.
SM - Todos os fãs que encontramos foram supimpas.

S&Y -Com tanta gente na banda, como vocês tomam decisões?
SJ - É bastante caótico. Tudo tem que ser unânime, ou a gente não faz nada.
MC - A gente costumava votar levantando as mãos, mas agora a gente só senta e conversa sobre as propostas que recebemos. Se parece legal, a gente vai em frente. Se não, não.

S&Y -Vocês vão organizar outro Bowlie Festival? Quem vocês convidariam da próxima vez?
SJ - Os Bootleg Beatles, Lee Hazlewood, Sleater-Kiney. É até aonde vou no momento. Já fiz o que tinha que fazer, foi uma vez na vida. Tem um monte de bandas que querem fazer o festival, por isso a cada ano uma diferente deveria fazê-lo, chamando um line-up melhor que o anterior.

S&Y- Stuart teve a idéia para a música Nice Day For A Sulk lendo o teu diário, Isobel.
Como você se sente em relação a isso?

IC - Eu escrevo tudo num diário. Nell, nosso empresário, viu isso. Naquele dia, no estúdio, a gente estava tocando Nice Day For A Sulk, e ele pensou que eu estava pensando em ficar birrenta. Isso acontece, porque eu posso ser birrenta, mas naquele dia a gente estava gravando aquela canção. A música veio primeiro, não o diário.

S&Y - Vocês acham que as bandas deveriam expressar suas opiniões políticas nos seus discos?
SM -A gente tem coisas a dizer e as diz nos nossos discos. A gente não guarda nada. Se a gente sente que tem que colocar isso para fora, mataremos para fazê-lo nos shows, na arte do disco, tudo. A gente tenta fazer o melhor em tudo. Eu acho que qualquer coisa feita com vaidade é perigosa. Às vezes uma banda se junta e faz algo sensacional, como os Stone Roses. Mas aí eles conseguiram um pouco de fama, começaram a ficar vaidosos e se transformaram em lixo. No começo era poderoso e mágico, mas depois perdeu o controle. Primal Scream é outro. Eu não escutei os discos recentes, mas eles estão parados em pódios e isso não me atrai. Se dessem a Bobby Gillespie um pronunciamento em favor do Partido Primal Scream seria porcaria. O que importa para mim é Velocity Girl, um minuto e meio de pura música.