"Igual a Tudo na
Vida"
por
Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
16/08/2004
Christina
Ricci é uma gracinha. Sem apelar para tortas, até que Jason
Biggs surpreende. E é mais ou menos isso que é possível falar
de Igual a Tudo na Vida (Anything Else –
2003), 33º filme de Woody Allen, um dos cineastas mais geniais
de todos os tempos, mas que vem descendo ladeira abaixo nos
últimos anos. Hummmm. Pela primeira vez, nos últimos dez anos,
bocejei em um filme de Allen. Não que a minha avaliação artística
deva ser levada em consideração, mas pela primeira vez um
filme de Woody Allen realmente me decepcionou.
Dirigindo no Escuro (2002) não era um clássico, mas
Allen carregou o filme direitinho até o final redentor. A
história de O Escorpião de Jade não durava da saída
do cinema até a chegada em casa, mas mesmo assim trazia diálogos
matadores. E Trapaceiros (2000) é daqueles filmes
bonitinhos, mas tremendamente ordinários. Mesmo assim, este
último é um dos seus melhores filmes recentes.
Nos últimos dez anos, ao menos dois filmes de Allen soaram
(e soam) clássicos: Tiros na Broadway (1994) e Poderosa
Afrodite (1995), enquanto Todos Dizem Eu Te Amo
(1996), Desconstruindo Harry (1997), Celebridades
(1998) e Poucas e Boas (1999) são filmes bons e acima
da média.
Igual a Tudo na Vida, porém, não consegue ser melhor
do que nenhum dos filmes citados. Pior. Allen volta a fragmentar
histórias que os espectadores já viram em diversos de seus
filmes, tais como piadas de divã, de judeus e de mulheres
a beira de um ataque de nervos ao som do bom e velho jazz.
O grande problema, porém, é que o filme não flui. Os diálogos
são longos, cansativos, e parecem que não vão chegar a lugar
algum (e às vezes não chegam mesmo). O casal de atores se
porta bem. Christina é uma jovem pretendente a atriz enlouquecedoramente
encantadora. E louca (como toda mulher, diria Allen). Jason
Biggs é um jovem comediante comportado. E perdido (como todo
homem, diria Allen). E Woody Allen encarna um escrito veterano,
sem sucesso, que banca o conselheiro para o jovem perdido.
Não à toa, as melhores piadas saem da boca do cineasta. É
muito pouco para a imensa genialidade do diretor, ou então
ele está caducando.
O leitor pode perguntar que prazer eu tenho em assistir um
filme de Woody Allen sabendo que o resultado não chegará aos
pés de obras clássicas como Annie Hall e Hannah
e Suas Irmãs e que ele vive recontando as mesmas piadas.
É verdade que há uma certa decepção em encontrar um Allen
menor na sala de cinema. Porém, eu adoro piadas de psicanalistas
(uma, no filme, é sensacional), me reconheço em algumas falas
sobre amores imperfeitos, gosto de jazz e acho que vou ver
o filme de novo, só para encontrar Christina Ricci transpirando
excitação. Allen invade a memória afetiva de seu público com
seus filmes, sem nenhum sinal de surpresa, para ambos. É pouco,
é muuuito pouco, mas eu respeito esse cara. E no ano que vem
vou ver seu novo filme. Espero que seja melhor, mas se não
for, não tem problema. O cinema de Allen é como pizza e sexo:
mesmo quando é ruim, é bom.
Leia
também:
Dirigindo no Escuro,
por Marcelo Costa
O Escorpião de Jade,
por Marcelo Costa
Trapaceiros, por Marcelo
Costa
Woody Allen, Uma Trilogia,
por Eduardo Fernandes
Poucas e Boas, por Eduardo
Fernandes
Site Oficial
do filme Anything Else