O
Escorpião de Jade
por
Marcelo Costa
19/07/2002
O
Escorpião de Jade é o pior filme de Woody
Allen. Ponto. Uma pausa para você respirar, caro leitor,
e vamos começar tudo de novo, como mandam os manuais
de redação.
Chega aos cinemas brasileiros nesta semana O Escorpião
de Jade (The Curse of Jade Scorpion – 2001), 31º
longa de Woody Allen, com um atraso de um ano e após
o diretor já ter lançado um novo filme, Hollywood
Ending (Dirigindo no Escuro), em Cannes.
Allen
investe em climas noir, escala Helen Hunt para o dueto e se
dá ao luxo de exibir Charlize Theron em apenas duas curtas
passagens, muito boas por sinal. O filme é simples, a
história é simples, o roteiro é simples.
E é tudo simples demais.
A
começar pelo argumento, tolo.
C.W.
Briggs (Woody Allen) é o melhor investigador de seguros
dos anos 40. Trabalha na surdina, com vários contatos
e acaba de resgatar um Picasso roubado ("estava procurando um
quadro com um cavalo e demorei horas para achar o nariz dele
na pintura", diz logo no começo). Apesar da fama de Briggs,
um problema surge em seu caminho e quer problema maior que uma
mulher?
Betty Ann Fitzgerald (Helen Hunt) foi contratada para reorganizar
a empresa e seus planos não satisfazem nosso amigo Briggs.
Dessa insatisfação surge uma inimizade que percorrerá
praticamente uns 100 minutos dos 110 que o filme tem de duração.
E irá gerar as melhores piadas, já que, todos
sabemos, em se tratando de diálogos, Allen é imbatível.
A
reviravolta de toda história se dá quando em um
jantar entre amigos, Fitzgerald e Briggs são hipnotizados
pelo escorpião de Jade. O hipnotizador não irá
desfazer a hipnose e manipulará os dois inimigos para
que eles roubem jóias das famílias mais ricas
e que estão protegidas pela seguradora.
A tolice do argumento é salva pelos diálogos,
excelentes e deliciosos. Mas nem só roteiro falta neste
novo longa de Allen. Falta um maior cuidado com os cortes das
cenas. Em várias delas, e principalmente na final, a
história parece estar rápida demais, o que faz
soar forçadamente encenado. E por fim, ao contrário
da trilogia Desconstruindo Harry / Celebridades
/ Poucas e Boas, em que a chave da questão era
a discussão sobre a criação de identidades
e como isso influência na felicidade real, e do filme
anterior, Trapaceiros, que amparava na trilogia citada
mostrando que dinheiro não traz felicidade, este O
Escorpião de Jade nada discute, nada transmite, nada
passa ao espectador além do básico diversão
por uma hora e meia e R$ 10. Do ponto de vista artistico é
apenas um exercício de cinema.
Desse jeito, Allen, inspirado nos noir dos 40, criou uma comédia
"romântica" toda pessoal, com diálogos matadores,
mas que não dura entre a saída do espectador da
sala do cinema e a chegada em sua casa. Isso, comparada a outros
filmes do diretor, é imperdoável. Por tudo isso,
O Escorpião de Jade é o pior filme de Woody
Allen.
O
grande senão dessa história toda é que,
olhando os cartazes de cinema, você verá homens
de preto, garotinhas do Havaí e alienígenas, grandes
garotos, mulheres infiéis e meninas que se apaixonam
por meninas, entre outras coisas, e pode ter certeza que este
pior filme de Woody Allen é melhor que todos os supracitados.
E ponto final.
Ps.
1 - Isso precisa ser dito. Na lista S&Y alguns cantaram
a bola que eu também percebi no filme: Woody Allen e
Renato Aragão são irmãos separados no nascimento.
Veja esse filme e, em várias passagens, isso fica claramente
perceptível.
Ps
2. - A Charlize Theron existe?
Leia
também:
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Woody Allen, Uma Trilogia,
por Eduardo Fernandes Poucas e Boas, por Eduardo
Fernandes
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