texto e vídeos de Bruno Capelas
fotos Coala Festival
Quanta música cabe em dez anos? E o quanto um evento pode mudar ao longo de uma década? Refletir sobre a edição do Coala Festival em 2024, com o evento comemorando seu 10º aniversário, pode ser uma boa resposta. De iniciativa ousada de uns moleques de São Paulo, como explicou o “então-não-curador” Marcus Preto, o festival se tornou padrão-ouro e modelo a ser seguido por eventos que quisessem louvar a música brasileira. Mais do que isso, o Coala se tornou responsável pelos primeiros shows nesse modelo de festival pós anos 2000 de artistas como Maria Bethânia ou Djavan, aproximando-os de um público sedento pela música brasileira, mas cujo bolso nem sempre toparia encarar a sisudez de um teatro ou casa de shows com whisky servido na mesa.
Ao longo de dez anos, o Coala também saiu de um para três dias de duração, sempre ocupando o espaço do Memorial da América Latina na capital paulista. Não foi só: de pequena empreitada, o Coala virou uma corporação, incluindo consultoria, gravadora e produtora de shows – exemplo mais recente é o de Liniker, que já esgotou ingressos para as primeiras datas da turnê “Caju” no “imenso” (para padrões indies) Espaço Unimed. Em 2024, o festival também ganhou sua primeira edição internacional, chegando até Cascais, em Portugal.
Em meio a tantos méritos, porém, o festival de 2024 foi uma experiência dúbia. De um lado, há uma porção de boas ideias e conquistas: o evento segue sendo confortável e tendo um tamanho razoável, embora as mudanças climáticas e a nuvem de fumaça que abatem São Paulo sejam cada vez mais um ponto de interrogação para um festival realizado num parque de cimento durante o dia – no domingo, no pôr-do-sol, o cenário parecia digno de filmes como “Akira” e “Blade Runner”.
Há também a boa novidade do uso do Auditório Simón Bolívar para shows, mas a ideia foi subaproveitada – no primeiro dia, pela desorganização da produção que fez muita gente perder tempo em fila; no segundo, pelo fator imponderável que fez o maestro Arthur Verocai cair nos preparativos do show e cancelar a apresentação. E segue elogiável o bom uso de um espaço urbano que tem fácil acesso via transporte público, com a divisão entre praça de alimentação de um lado e palco com bares do outro, embora a passarela entre os dois lados seja um caminho por vezes temerário.
Do outro lado, porém, o Coala parece perdido: pela primeira vez, o festival teve três headliners inequivocamente ligados ao rock, o que lhe fez parecer mais com um evento como o João Rock ou com reuniões nostálgicas tão comuns no ritmo. Poucos dos artistas também chegaram ao evento com novidades debaixo do braço, o que era algo marcante nas edições recentes do Coala, sabendo mesclar bem medalhões com indicações espertas ao público. Mais: entre os que tinham novidades, a maioria deles tocou cedo, quando a maior parte do público ainda está em casa preparando looks e maquiagens para arrasar no evento (e no Instagram, claro).
Houve ainda um menor número de cantoras e menor ecleticidade de gêneros – o rap, que ocupou posições de destaque em edições recentes, ficou levemente de escanteio nessa edição. A sensação que fica é que, ao completar uma década de história, o evento não sabe bem que rumo tomar sem precisar se repetir. E, ao enveredar pela sequência da história da MPB, acaba desembocando no rock mais clássico e virando justamente aquilo que não queria ser. Além disso, a curadoria também pecou num ponto importante: enquanto muitos headliners em anos anteriores pareciam “inéditos” ao público, em 2024 não foram poucos os nomes que se apresentaram recentemente na cidade a preços entre o acessível e o pagável – incluindo Lulu, Paralamas, O Terno, Planet Hemp, Xande de Pilares e Boca Livre. É algo que fez o bambu do Coala perder o frescor de outrora.
Outro ponto negativo que merece ser mencionado envolve limitações técnicas: se por um lado a ideia de usar DJs e artistas com equipamento “mínimo” (caso de dadá Joãozinho e Yago Oproprio) para os intervalos de ajustes entre shows é bacana, por outro por vezes a iniciativa faz o festival perder seu fluxo – e o caso mais evidente talvez seja a contraposição entre o pancadão do Deekapz antes das canções amorosas de Lulu Santos. Em outros momentos, há a sensação de que não há paz para os ouvidos no festival, sendo o silêncio por vezes o melhor ruído antes de um show esperado. Pensar num formato com dois palcos em shows alternados ou, então, num ritmo que deixe o festival com menos cara de balada ao ar livre pode ser uma boa ideia para os próximos anos – embora esse ar de festa talvez seja justamente o que o público queira.
Mas tudo isso são conjecturas maiores e teorias de mesa de bar sobre um evento que, ano após ano, segue atraindo um público fiel e shows muito interessantes, trazendo um bom pulso da música brasileira nos dias de hoje. Para destacar esses 10 anos, a reportagem do Scream & Yell propôs uma cobertura levemente diferente: o que se lerá a seguir são 10 polaroides de shows marcantes do Coala 2024, pelo bem ou pelo mal. Não são necessariamente os melhores ou os mais divertidos, mas aqueles que, de alguma forma, refletem um bocado como é a experiência de estar por três dias na Barra Funda, bebendo Lagunitas (enquanto ela estava disponível) e encarando um solzão que Niemeyer nenhum imaginou.
Silvia Machete – sexta-feira, 14h30
Dona de um dos discos mais charmosos de 2024 (“Invisible Woman”), a carioquíssima Silvia Machete teve a tarefa de abrir a comemoração dos 10 anos de Coala na sexta-feira – e o fez com um show glamuroso e classudo, encarnando a já clássica personagem da professora de inglês Rhonda. Entre lições safadas do idioma anglo-saxônico (“repita comigo: ‘one tit’”, disse Silvia) e um modelito esvoaçante, Silvia fez uma apresentação muito interessante, calcada no repertório do trabalho novo e também de “Rhonda”, álbum de 2020. Entre os destaques, é preciso sempre notar a aproximação entre os lados B de Tim Maia (na baladaça “With No One Else Around”) e Tom Jobim (“Two Kites”), ambas amparadas por uma caprichosa banda que continha o tecladista Chicão (Quartabê), o baixista Eduardo Lima e o guitarrista João Oliveira. O trio, ao lado do baterista Vitor Cabral, fez ainda a cama para um momento já clássico das apresentações de Silvia: a hora em que a cantora lança mão de um bambolê e, sem perder o rebolado, bola um cigarro e solta bolhinhas de sabão para a plateia. Difícil o festival começar de um jeito mais divertido.
Boca Livre – sexta-feira, 15h50
Se há uma tradição no Coala, esta é a de propor resgates para grandes artistas do passado. Na escalação de 2024, esse espaço foi ocupado pelo quarteto Boca Livre, que voltou aos palcos no começo do ano após uma separação causada por desavenças políticas. Com o recente trabalho “Rasgamundo” na mala, produzido pelo curador do festival Marcus Preto, o grupo fez uma apresentação de recepção mista. Se por um lado os arranjos vocais e o apuro instrumental chamaram a atenção na hora de executar os clássicos, por outro as tentativas de modernização do repertório foram controversas – “Mesmo Se Você Não Vê”, de Tim Bernardes, fica alguns degraus dos standards do grupo, enquanto a versão meio reggae meio coral de “O Vento”, dos Los Hermanos, fez muita gente sorrir amarelo. O show ainda foi afetado pelo fato de que o trabalho do Boca Livre é cheio de detalhes e silêncios, difíceis de serem bem percebidos num palco tão grande e ao ar livre. O próprio grupo pareceu perdido em alguns momentos, chamando o público para cantar sem ouvir resposta. Mas é preciso fazer justiça: o final do show, com “Ponta de Areia” em versão a capella, talvez tenha sido um dos momentos mais bonitos do fim de semana.
Lenine e Marcos Suzano – sexta-feira, 17h25
Há pouco mais de 30 anos, um disco que até hoje permanece como pequeno segredo da música brasileira lançava para o mundo a carreira do cantor e compositor pernambucano Lenine. Feito ao lado do percussionista Marcos Suzano, “Olho de Peixe” (1993) foi o motivo da apresentação dos dois no palco do Coala. Quem ouvisse o disco e suas delicadas composições talvez temesse que o repertório sofreria do mesmo problema que acometeu o Boca Livre, mas não: acompanhados de outros quatro percussionistas, Lenine e Suzano fizeram um show em que peso e beleza estiveram lado a lado, encantando um público que já começava a preencher (não lotar, fique claro) o Memorial da América Latina. Seja em balanços como “Acredite ou Não”, “Escrúpulo” e “Caribenha Nação” ou em momentos mais delicados como “O Que é Bonito”, os dois compuseram um dos melhores shows não só do festival, mas talvez da própria história de 10 anos de Coala. E quando o repertório do disco acabou, a dupla ainda alinhou laços bem bonitos com outros pontos de seu repertório – “O Dia Em Que Faremos Contato” e “Hoje Eu Quero Sair Só”, do próprio Lenine – e de Pernambuco para o mundo, relembrando António Nóbrega e o mestre Chico Science.
14 Bis convida Beto Guedes e Flávio Venturini – sexta-feira, 18h30
Uma das grandes novidades do Coala em 2024 (e há muito tempo pedida) era aproveitar o espaço do belíssimo Auditório Simón Bolívar, parte do complexo do Memorial, para apresentações mais intimistas (e na sombra). No primeiro dia, porém, o sistema foi confuso: era necessário chegar cedo, pegar uma senha, e só na hora do show pegar outra fila para trocar a senha por pulseira – o que fez muita gente perder a parte final do show de Lenine. Lá dentro do teatro, o preenchimento dos lugares demorou e gerou um leve atraso na apresentação, mas digno de nota em um festival tão cronometrado. Quando o som começou a rolar, o 14 Bis fez uma apresentação honesta, em que a voz de Cláudio Venturini sobressaiu de maneira positiva, superando os timbres um pouco datados de guitarra e de teclado escolhidos para o show. Foi bacana rever hits do proto-power-pop-mineiro, como “Mesmo de Brincadeira”, “Canção da América” ou “Natural”, esta cantada junto do fundador da banda, Flávio Venturini. Já o outro convidado da noite desapontou: Beto Guedes por vezes desafinou e errou a letra de três de suas composições lembradas pela banda – as baladas “Sol de Primavera” e “Amor de Índio” e o clássico seminal “Feira Moderna”. Ó telefonista, a palavra já morreu. (E vale o adendo: depois do fim do 14-Bis, Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes fizeram uma amálgama bacana entre seus repertórios, mas infelizmente não se pode estar em dois espaços ao mesmo tempo para conferir tudo. O finalzinho, porém, foi bonito demais, com direito até aos trabalhadores dos bares cantando hits de novela como “Devolva-me” e “Velha Infância”).
O Terno – sexta-feira, 20h40
Em uma edição cuja curadoria trouxe poucas novidades e discos de destaque do ano – ainda mais na comparação com iterações passadas –, o Coala teve como headliner de sua primeira noite um dos artistas mais “jovens” de sua história: O Terno. Capitaneado pelo contratado da Coala Records Tim Bernardes, o trio paulistano é um exemplo de artista que “cresceu” ao lado do festival, também explorando passado/futuro da música brasileira. Em 2024, eles surgiram na escalação em meio a uma comoção: seria no Memorial da América Latina o último show da banda em terras brasileiras, antes de submergir em uma famosa e precipitada “pausa por tempo indeterminado”. Ao longo de 80 minutos, o grupo fez o que pode para disfarçar a despedida, mas a emoção fez o espetáculo ser alguns furos abaixo do que o apresentado no Espaço Unimed em março deste ano. E houve até um momento infeliz: no meio de “Ai Ai, Como Eu Me Iludo”, Tim tentou fazer uma piada dizendo que a banda não ia acabar, só para mostrar ao público que eles não deveriam se iludir facilmente. Deu errado – e cortou o clima de muita gente entre os 20 e os 35 que estava ali pra se emocionar. Pior: a piada fez o grupo ter de cortar canções do repertório, ignorando a excelente “66” no encerramento do show. Foi bonito? Até que foi. Mas ao final do espetáculo, ecoou a pergunta que a própria banda deixou em “Atrás / Além”: “no tempo junto ao seu lado, fui feliz / quem sabe um dia eu te encontro, por aí / será que ainda vai lembrar de mim?”.
Tulipa Ruiz convida Criolo – sábado, 14h15
Ao longo dos últimos quinze anos, Tulipa Ruiz construiu uma carreira que flerta com diversos pontos da essência musical do Coala: tem rock, tem música brasileira, tem um lado dançante e, como não poderia deixar de ser pelo DNA, um flerte com o experimentalismo. Poucas semanas após perder o pai, o guitarrista Luiz Chagas, a cantora veio ao palco debaixo de sol forte e com um chamativo modelito verde-fluorescente para reforçar essa conexão com a curadoria e o público típico do evento. Foi uma apresentação muito bonita, com a cantora sabendo combinar releituras espertas (“Hotel das Estrelas”, conhecida na voz de Gal Costa) com seus próprios hits, como “Efêmera” e a bela “Às Vezes”, composta por Chagas e que recebeu uma leitura emocional e emocionante. Tulipa estava em tão alta rotação que nem mesmo a chegada de Criolo e a execução de um clichê – “Codinome Beija-Flor”, de Cazuza – puderam pará-la. Feliz de quem viu essa octanagem alcançar seu ápice com a performance de “Víbora”, em que o vestido de Tulipa virou véu de muitos metros e invadiu a plateia, como uma noiva dark-carnavalesca. Um show tão impactante que o final, com a modesta “Sushi”, acabou anticlimático, mas não a ponto de fazer esquecer o que se viu anteriormente. (Na sequência, digno de nota: João Bosco fez um espetáculo instrumentalmente bonito, mas sem muitas concessões para um público festeiro debaixo de um sol inclemente, pouco disposto a fritar junto com ele. Uma pena – ainda mais por ser o tipo de show que se encaixaria tão bem no teatro).
Sandra Sá convida Hyldon e Tássia Reis – sábado, 17h05
Pela primeira vez em muitos anos, o Coala fez seu público ter que passar por uma típica experiência de qualquer festival: escolher, tal como Cecília Meirelles, “isto ou aquilo”. Nesse roteiro pré-imaginado, muita gente inicialmente descartaria ver a reunião black de Sandra Sá, Hyldon e Tássia Reis para testemunhar o mestre Arthur Verocai ao lado de orquestra e Mano Brown no Auditório Simón Bolívar. Mas aí o imponderável aconteceu: Verocai caiu pouco antes do show, cancelando a apresentação. Melhor para o trio soul e para o público, que pode testemunhar uma das apresentações mais empolgantes de 2024. O espetáculo começou morno com Tássia aproveitando para anunciar disco novo (“Topo da Minha Cabeça”, já disponível nas plataformas), mas depois ganhou muita temperatura quando Hyldon, do alto de seus 73 anos, trouxe ao palco hits inesquecíveis como “As Dores do Mundo” e “Vamos Passear de Bicicleta”. Foi o início de uma chama que se incendiou quando Sandra Sá subiu ao palco para fazer de tudo, entre rap, discursos e entoar suas canções. Primeiro, veio “Bye Bye Tristeza”, que serviu como aula para quem quer entender a ligação entre o soul brasileiro e o pagode romântico; depois, teve ainda muito balanço e black power com “Sarará Miolo” e “Joga Fora”. Para completar a festa, veio aí o indefectível hit “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”, colocando quase 10 mil mãos para o alto em um movimento bonito, bonito demais.
Os Paralamas do Sucesso – sábado, 18h40
Comemorando 40 anos de carreira (efeméride que ganhou até livro escrito pelo baterista João Barone), Os Paralamas do Sucesso fizeram um show altamente previsível – mas nem por isso ruim, muito pelo contrário. Herbert, Bi e Barone trouxeram à Barra Funda seu caminhão de hits, começando pelos primórdios com “Vital e Sua Moto” e “Cinema Mudo” e alcançando no máximo até o repertório de “Um Longo Caminho”, com a baladaça “Cuide Bem do Seu Amor”. Quem queria pular, pulou; quem queria dançar, dançou – e quem queria chorar também, especialmente com os bonitos solos de sax e guitarra em “Lanterna dos Afogados”. Em pouco mais de uma hora, o grupo mostrou não só sua versatilidade, mas também toda a sua relevância e gentileza – e não faltaram as esperadas citações a Gilberto Gil, Tim Maia, Titãs, ao lado de uma mais nova a Raul Seixas, com “Sociedade Alternativa” aparecendo em meio a “Alagados”. É claro que em pleno 2024, assistir aos Paralamas sempre envolve um clássico “e se…”, mas tais conjecturas não precisam ser necessariamente feitas quando se pode curtir o show e, mais do que isso, ver a melhor cozinha do Brasil em plena atividade. É como diria o ditado: I know, It’s only Paralamas, but I like it, yes I do.
Lulu Santos – sábado, 20h35
Nem sempre ter um caminhão de hits basta para se fazer um show divertido – e se alguém precisava de uma contraprova aos Paralamas, estava lá Lulu Santos para oferecê-la. Depois de uma longa espera de quase uma hora com o DJ set da dupla Deekapz, muito correto passeando pelo funk mas pouco conectado ao que viria depois, Lulu subiu ao palco para trazer uma nova parada de sua turnê “Barítono”, na qual se conecta não só com um novo tom de voz, mas também com diferentes descobertas da maturidade. Até aí, tudo bem, mas enquanto os Paralamas oferecem um show rápido, suado, vigoroso, buscando aproveitar o melhor de seu tempo, Lulu parece investir numa versão pocket de seu espetáculo solo, sem cortar gorduras como vinhetas de entrada e reentrada ou repetições desnecessárias de seus marcantes refrãos. O público em sua maioria adorou, mas ao final de uma hora, esses momentos não só tomam tempo de canções que faltaram (“Tão Bem”, “Adivinha o quê”, “Casa”), como ainda cansam o espectador. As participações surpresa também não ajudaram: Tulipa Ruiz parecia desencontrada em “Apenas Mais Uma de Amor”, enquanto Liniker não pode ser aproveitada numa versão chata de “Sábado à Noite”. Há ainda outro ponto incômodo: o show foi cercado de propagandas da própria Coala, com Lulu se estranhando com a banda para elogiar Liniker. A cantora também subiu ao palco antes do show para falar de sua turnê “Caju” e anunciar Luís Maurício. No final, em meio a tanto anúncio, restou a sensação de que todos ali estavam querendo vender seu peixe, como numa onda zen-capitalismo.
Planet Hemp – domingo, 20h35
A despeito de ter sido o único dia do festival em que os ingressos foram completamente esgotados, o domingo foi o dia mais morno do Coala 2024, com apresentações que foram da MPB de barzinho e violão (Xande canta Caetano) ao enfadonho (5 a Seco), passando pela vibe bloco-em-vez-de-show (o divertido encontro de Timbalada com Afrocidade). Já ao Planet Hemp coube a missão de encerrar os trabalhos do festival com aquele que talvez tenha sido o show mais pesado e roqueiro dos 10 anos do evento. É um paradoxo: de um lado, o grupo de Marcelo D2 e B Negão tem tudo a ver com a vibração do Coala, não só pelo tipo específico de fumaça que se podia sentir ao longo de todo o domingo, mas também pela militância e pela posição política nos últimos anos. Do outro, a pegada do grupo talvez tenha sido intensa demais para um público pouco afeito a tantas guitarras, o que deixou a apresentação levemente arrastada. Além disso, pesa ainda o fato de que este é o mesmo show que o Planet Hemp tem apresentado nos últimos dois anos pelo Brasil, misturando clássicos ao repertório do excelente “Jardineiros”, de 2022 – e que o mesmo show, com convidados de luxo, tenha sido executado do outro lado da rua no Espaço Unimed há poucas semanas. É pouco pra comemorar 10 anos de aniversário, embora nem Marcelo D2 nem B Negão tenham exatamente culpa disso – e fizeram o melhor que puderam para fazer a gira girar.
COALA FESTIVAL 2024 – DIA 1
COALA FESTIVAL 2024 – DIA 2
COALA FESTIVAL 2024 – DIA 3
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista. Apresenta o Programa de Indie e escreve a newsletter Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais. Colabora com o Scream & Yell desde 2010.