por Marcelo Costa
Título Original: Bling Ring (2011)
Título Nacional: Roubos em Hollywood
A história real da gangue de adolescentes de classe média de Los Angeles que fez fama roubando astros de Hollywood entre 2008 e 2009 ganhou uma versão televisiva em 2011 com direção de Michael Lembeck. Tanto Lembeck quanto Sofia (que lançou este ano sua versão) utilizam o recurso dos depoimentos para ligar os pontos na história, e essa é uma das raras semelhanças entre os dois filmes (embora Lembeck não consiga o mesmo intento que Coppola). Tirando isso, a primeira versão abusa do maniqueísmo e, pior, tenta passionalizar alguns dos atos finais cometidos pelo rapaz (Zack na versão 2011, Marc na versão 2013, Nick na realidade), como se o amor por uma garota (na versão de Sofia e no livro de Nancy Jo Sales, Nick é gay) fizesse com que ele entregasse todos os membros da Bling Ring. Sem contar o tratamento piegas e atuações nível produções da TV Playboy (não, não há sexo no filme, mas o grupo de atores é constrangedor). Sofia Coppola critica ferozmente o personagem de Emma Watson (Nicky, que na versão de 2011 se chama Cherry) enquanto Michael Lembeck desenha Natalie (Rebbeca na versão 2013) como uma pessoa má em consciente busca pela fama. A leitura de Sofia Coppola é obviamente superior em níveis técnicos (fotografia, atuação, montagem, cenário) e evita com brilhantismo as armadilhas bregas em que Lembeck atola os dois pés. Ela intercala crítica ao ridículo da situação com um olhar observador que não compreende, mas busca entender os motivos que levaram os jovens a cometerem estes crimes. Lembeck, por sua vez, parece ter todas as respostas (estereotipadas), e nenhuma delas convence. Vale como curiosidade e comparação. Só por isso.
Nota: 2
Titulo Original: The Big Weekend (2013)
Titulo Nacional: O Casamento do Ano
Você já viu esse filme antes. Diversas vezes. Elencando alguns “recentes”: “O Pai da Noiva” (1991), “Quatro Casamentos e um Funeral” (1993), “O Casamento de Muriel” (1994), “Casamento do Meu Melhor Amigo” (1997), “Casamento Grego” (2002), “A Sogra” (2005), “O Casamento de Rachel” (2008), “Mamma Mia” (2008), “Se Beber Não Case” (2009) e “Missão Madrinha de Casamento” (2011). Todos eles, em maior ou menor grau, estão representados em “O Casamento do Ano” (The Big Wedding, 2013), que reúne um elenco estelar numa história bonitinha, mas tremendamente ordinária, que se não acrescenta nada ao gênero, funciona como passatempo descompromissado. Em seu segundo longa (o primeiro, “Going Greek”, é de 2001), o roteirista Justin Zackham brinca com os clichês do gênero, desde a rivalidade das famílias dos filhos à decantada comédia de costumes, que sempre funciona (a mãe do rapaz que irá se casar é colombiana, e sua fervorosidade religiosa deixara a família em pânico), e apesar de soar deja vu, consegue, com ajuda do elenco, driblar as várias tramas secundárias, que pouco acrescentam a história principal. O trio Robert De Niro (o maridão), Diane Keaton (a ex) e Susan Sarandon (a atual) consegue fazer muito com pouco enquanto Amanda Seyfried (a noiva, mais uma vez), Katherine Heigl (a filha problemática) e Topher Grace (o filho certinho) escorregam em papeis óbvios. Quem se sai bem é Ben Barnes (o filho adotivo que irá se casar) num filme que parece mais uma lavação de roupa suja do que uma análise acerca das instituições (família, casamento, igreja). Para ver, rir e esquecer.
Nota:5,5
Titulo Original: “Tabu” (2012)
Titulo Nacional: Tabu
Instigante co-produção portuguesa, alemã, brasileira e francesa, “Tabu” é uma engenhosa fábula sobre nostalgia que arrebatou o prêmio da crítica em Berlim em 2012, merecidamente. O cineasta português Miguel Gomes choca presente e passado, porém, antes, apresenta um prologo absolutamente lírico, que, em off, narra a história de um explorador europeu que, após perder a esposa, parte em uma jornada suicida pelo território africano. Seus ajudantes acreditam que ele está a serviço do Rei de Portugal, mas “já o coração, o mais insolente músculo de toda a anatomia, dita em paralelo outras razões para a marcha”. Nosso herói encontrara seu destino na forma de um jacaré, que irá devora-lo. “Nesse tempo, e depois dele, por mais absurdo que pareça a todos os homens de razão, há quem jure, a bom jurar, ter avistado demoníaca visão: Um crocodilo triste, melancólico, acompanhado por uma dama de outros tempos, inseparável par que um misterioso pacto uniu”, conta o narrador. Corte para Lisboa, novo século, primeira parte da história, chamada “Paraiso Perdido”: Pilar (Teresa Madruga), a pedido da empregada de sua vizinha, precisa resgatar a vizinha Aurora, que acabara de perder todo seu dinheiro em um bingo. O espectador vê a aproximação das duas mulheres, e seus dramas, o que se amplifica na segunda parte da história, denominada “Paraiso”, que flagra Aurora em sua juventude. A esperteza do roteiro de “Tabu” é exatamente inverter a trama, e colocar o próprio espectador frente ao espelho. O resultado é um filme delicado, poético e emocionante (e ainda tem “Be My Baby”, das Ronnetes, em versão aportuguesada).
Nota: 9
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Leia também:
– “Bling Ring”, de Sofia Coppola: O “Goodfellas” do novo século, por Marcelo Costa (aqui)
tabu é 10, mac = )