Balanção do Planeta Terra 2012

Texto por Marcelo Costa
Fotos por Liliane Callegari

Em sua sexta edição, o Planeta Terra Festival passou por uma série de provações em seu ano mais complicado. Tudo começou com a venda do Playcenter, parque de diversões que casava à perfeição com o conceito do festival e era casa do Planeta Terra desde 2009 (após duas boas edições na Vila dos Galpões, no bairro do Morumbi). Vários lugares foram sondados, alguns reservados, e a produção do evento optou pelo Jóquei Clube de São Paulo, que tinha passado no teste após a elogiada primeira edição do Lollapalooza Brasil, em abril.

Depois, um line up aparentemente sem grandes surpresas (e com alguns nomes que não só tinham tocado recentemente no Brasil, como no próprio Planeta Terra) não esgotou os ingressos e fez muitos economizarem o suado dinheirinho. Por último, na véspera do evento, o cancelamento do Kasabian, por motivos de saúde de um dos músicos, acenava um ano de uruca. Será que havia salvação para o festival mais indie do país? Sim, e o Planeta Terra saiu de cabeça erguida após um grande festival repleto de bons shows.

O primeiro fator interessante: a produção ocupou muito bem o enorme Jóquei Clube. Se no Lollapalooza Brasil, mais de 70 mil pessoas ocuparam o espaço, os 30 mil presentes anunciados pelo Planeta Terra caminharam, beberam, se alimentaram e assistiram aos shows sem atropelo e sem maiores dificuldades – sem parecer que o festival estivesse vazio. Marca registrada desde a primeira edição, em 2007, a produção impecável do festival merece elogios, e permitiu ao público focar naquilo que queria: os shows.

E, grande surpresa, o line-up “fraco” impressionou. Ok, podemos ser vitimas da baixa expectativa, mas os dois palcos montados no Jóquei Clube receberam apresentações competentes em um desfile de atrações que, no geral, bateu com facilidade a edição de 2011, que tinha “apenas” Strokes (em uma rara noite inspiradíssima) e mais alguns nomes inexpressivos em shows que não deixaram saudades. Em comparação direta, 2012 foi muito mais completo que 2011. Ou podemos ver assim: 2011 teve um ótimo headliner e muitos nomes para preencher espaços. Neste 2012 o headliner era fraco, mas as demais bandas cumpriram seu papel com louvor.

A festa começou às 13h, com o grupo Far From Alaska, de Natal, abrindo a maratona. A banda foi escolhida por uma mesa formada por Rafael Ramos (Deck), Martim (Agridoce) e Marcelo Costa (Scream & Yell) e, se repetiu no festival a boa apresentação que fez na casa noturna Na Mata Café, dois dias antes, na finalíssima do concurso Um Som Pra Todos, pode ter conseguido mais alguns fãs – merecidos. Fique de olho neles. O Madrid tocou na sequência, debaixo de chuva, e, dizem, fez um show melancólico num dia cinza e nublado. Quem assistiu merece um prêmio (por dedicação ao festival).

Às 15h, quando as capas de chuva batiam recordes de venda na mão dos camelôs, um bom e surpreendente público (para o horário, as atrações e principalmente pelas condições do tempo) se dividia entre Banda Uó, que fazia boa parte dos presentes dançarem até o chão, e Mallu Magalhães, que enfrentava seus fantasmas num show que teve choro na primeira música e bons momentos nas covers de “All of Me”, de Louis Armstrong, e “Me Gusta Tu”, de Mano Chao, mas Mallu (alternando entre violão e teclado, e desafinando em vários momentos) interessa muito mais pelo que pode vir ser do que pelo que é – e seu show reflete isso.

Quem se animou na caminhada entre um palco e outro pode se divertir com o som dançante e datado de Victoria Christina Hesketh, aka, Little Boots, no segundo palco, que promoveu uma rave debaixo de um céu nublado. Enquanto isso, Bethany Cosentino comandava o Best Coast, que distribuía riffs comportados de guitarra num set list de 17 canções pop fofo guitarreiras que pouco se diferenciavam uma das outras. Ao menos, o sol saiu no meio do show, e a chuva decidiu dar tréguas até o fim do evento, para felicidade de Bethany, que festejou o calor, e de todo o público, que aposentou as capas de chuva.


De meros desconhecidos de boa parte do público a grande surpresa do evento, o quinteto britânico Maccabees – que encerrava no Planeta Terra a turnê de seu terceiro álbum “Given to the Wild”, lançado em janeiro – iniciou a escalada do festival ao topo com um grande show de indie rock entorpecido por bons riffs de guitarras em canções como “Child”, “Young Lions” e os singles “First Love”, “Love You Better” e “Precious Time”, que ao vivo se tornaram mais intensos e poderosos do que nos discos. “Pelican”, com seus arremedos de rock de arena, fechou a noite e um dos grandes shows do festival.

No palco principal, o Suede levava todo mundo de volta aos anos 90 com uma apresentação vigorosa e sem pausas, que conquistou os fãs, mas só eles. Brett Anderson cantou, pulou, girou o microfone e gastou a voz pouco se importando que boa parte do público não conhecesse as canções de sua banda. E que canções. Da abertura com “She”, passando por versões poderosas de “Animal Nitrate”, “We Are The Pigs”, “So Young” e da baladaça “The Wild Ones” até o encerramento com “Saturday Night” e “Beautiful Ones”, o Suede fez no Jóquei Clube um dos grandes shows internacionais do ano no País. Emocionante.

Festivais são escolhas, por isso Azealia Banks e The Drums foram deixados de lado pelo Scream & Yell (ambos receberam elogios de amigos, embora existam dúvidas de que “The Drums” e “grande show” caibam numa mesma frase), que decidiu se concentrar no Garbage, comandado por uma Shirley Manson com jeitão de garota má (aos 46 anos imperceptíveis) mastigando cada letra de canção, mas que se entregava ao público com sorrisos nos intervalos. “I Think I’m Paranoid”, “Stupid Girl”, “#1 Crush”, “Milk” e “Only Happy When It Rains” foram cantadas em uníssono num show que terminou com o baterista Butch Vig tomando o microfone e agradecendo geral após Shirley recomendar aos fãs: “Monte uma banda amanhã de manhã. É sensacional”.

O grande desafio do festival neste ano era entrar e sair do Jóquei sem sequer ver a cara de algum dos Followill e/ou ouvir algum segundo que fosse do show inexpressivo de uma das bandas mais desempolgantes dos últimos 10 anos, e a graça foi alcançada. Ou quase: “Nós somos o Kings of Leon”, sarreou Beth Ditto assim que pisou no palco indie com uma apresentação dançante aberta com “Oi Oi Oi” (“Vem Dançar Com Tudo”), tema da novela global “Avenida Brasil”. A musa passou boa parte da noite se desculpando (em português e inglês) pelos cancelamentos anteriores enquanto arrotava e cantava de Lady Gaga a Queen, de Tina Turner a Ramones, de Nirvana a Gossip. Ganhou o público pela simpatia e pelo vozeirão em um show com jeito de festa.

No saldo final, a sexta edição do Planeta Terra foi muito melhor do que a expectativa previa. Com um público de 30 mil pessoas (mais um bom punhado de milhares acompanhando o festival em casa via streaming) em um local perfeitamente adaptado para o festival, o Planeta Terra segue com a moral intacta no quesito produção, se posicionando muito a frente de outros festivais brasileiros, e consegue entregar a seu público alguns grandes shows que, se não foram inesquecíveis (para não fãs, afinal as apresentações do Suede e Garbage irão acompanhar muita gente), valeram muito a ida ao Jóquei Clube de São Paulo em um sábado de chuva. Que venha 2013!

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
– Liliane Callegari (@licallegari) é fotógrafa. Veja a galeria completa de fotos do festival aqui

Leia mais
– Planeta Terra 2007: CSS, Devo e Rapture fazem bons shows (aqui)
– Planeta Terra 2008: Indie bate o Mainstream no segundo festival (aqui)
– Planeta Terra 2010: uma noite púrpura hip-hip-hipster (aqui)
– Planeta Terra 2011: quatro olhares sobre um mesmo festival (aqui)
– Planeta Terra 2013: No saldo geral, o melhor Planeta Terra dos últimos anos (aqui)

16 thoughts on “Balanção do Planeta Terra 2012

  1. brett anderson, uau! essa foi a única coisa na qual consegui pensar durante o show do suede.

    realmente, a produção do terra foi incrível! os palcos estavam ótimos, o som excelente e a lotação, na medida. que alívio poder caminhar pelo jockey sem aquela muvuca que marcou o lolla!
    ótima ideia trazer de volta o eucalipto pros banheiros químicos, relembrando os bons tempos de vila dos galpões, mas uma pena que faltou o carrinho de bate-bate!

  2. Comprei o ingresso quando confirmaram que haveria Suede. E não me arrependi. O show deles foi épico; tocaram 16 grandes canções, quase todas dos 3 primeiros (e melhores) discos. Brett Anderson parecia ter o mesmo vigor que tinha nos anos 90. Tive a certeza disso quando ele desceu pra platéia em “Saturday Night”. Enfim, pelo 3º ano consecutivo o Planeta Terra me permitiu ver bandas que marcaram minha vida.
    Outros dois shows espetaculares foram Garbage (caramba, como conseguem tornar as músicas ainda mais poderosas ao vivo!) e Gossip (muito bom humor e canções empolgantes. E o novo disco ‘passou no teste’, fornecendo músicas tão boas quanto a dos anteriores).

  3. Só posso falar do que assisti. Curti demais o Suede, o Garbage e The Gossip, e até esqueci do KOL, pois detesto! Mas, para mim, e pelo que representa para mim, Suede foi o meu preferido! Fiquei muito emocionada, me lembrei de uma época muito saudosa da minha vida.

  4. Foi uma das melhores edições do Planeta Terra, sem dúvida. Suede e Garbage fizeram grandes shows e com um setlist digno. O Gossip foi 98%, os 2% fica por conta do som que estava baixo para a voz da Beth Ditto, deveria estar no volume 11 para implodir o Jóquei.

    Sobre a organização do festival não tem o que reclamar, shows pontuais, sem filas para comer/beber, no final havia opções de transporte (táxi, ônibus, metrô, estacionamentos com preço justo). Para quem atolou no SWU ou ficou sem metrô no Lolla, o Planeta Terra foi perfeito.

    Para o próximo podem trazer o Wilco, Patti Smith, Shins, PJ Harvey, Nick Cave e Neil Young por favor!!!!!

  5. Festival com o line-up mais sem-graça dos últimos tempos. Não anima nem os fãs mais fervorosos das bandas em questão.

    O Planeta Terra vem decaindo a cada ano que passa. Muito abaixo das duas primeiras edições que foram ótimas.

    Um festival que conseguiu a proeza de nos trazer o Devo, deveria ser mais ousado no line-up. Fica a lição.

  6. Que pena que não viste o show da Azelia. Foi incrível. Talvez a grande chance (única?) de ver uma performance com gosto de ineditismo no festival. E, não, The Drums não fez um showzão. 😉

  7. Também fui ao festival meio desconfiado, mas Garbage, Suede e Gossip destruíram minha apatia, excelentes shows com três dos maiores vocalistas dos últimos tempos.
    Gostei do Beast Coast, uma banda que cumpre o que promete, é meio simplista as vezes, mas acerta em cheio nas melodias.
    Não vi o KOL, já os tinha visto na fase caipira quando eles abriram para o Strokes em 2005, tudo bem que essa fase radiofônica não empolga ninguém, mas em termos de inexpressividade eles tiveram bastante companhia, afinal, tivemos Azaelia Banks, The Drums e Banda Uó no mesmo festival.

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