por Pedro Salgado, especial de Lisboa
Os primos Guilherme Tomé Ribeiro (guitarra, vozes, sintetizadores e programações) e Luís Montenegro (baixo, fender rhodes, sintetizadores, guitarra e programações), começaram as suas experiências musicais aos 12 anos, recriando canções de seus artistas favoritos. Em 2007, quando iniciavam o processo de composição, surgiu uma oportunidade de fazerem a primeira parte do show de outra banda da cidade do Porto, Os Azeitonas, e foram desafiados pelo grupo a criar um nome próprio para se apresentarem.
Com a ajuda de um amigo, ligado à área musical, escolheram o nome Salto, traduzindo com ele o conceito que pretendiam para o conjunto: reação, visualização e uma ideia de pop direta e universal. Durante dois anos, a banda tocou em vários festivais e eventos acadêmicos, construindo gradualmente uma sonoridade revivalista, apoiada no gosto dos seus elementos pela música eletrônica dos anos 80, praticando uma organização de ideias diferente e afastando-se de um clone.
A experiência posterior, acumulada em espetáculos, nas principais salas portuguesas, proporcionou ao grupo a edição do álbum homônimo de estreia. Para além da marca evidente dos shows, e da influência de gente como o New Order ou James Blake, “Salto” revela uma construção sensorial e paisagística variada. Músicas como a pop maximalista “Deixar Cair”, “Por Ti Demais” e “O Teu Par” remetem para as pistas de dança, mas o boogie funk de “Arcade” e a soul eletrônica de “Sem 100” são um contraponto interessante.
Sobre a concessão de “Sem 100”, o grupo diz que busca “traduzir o seu fascínio pela cultura do baixo e do som grave”. E é possível encontrar nela “uma noção de música escura e sombria, mas ao mesmo tempo acolhedora e não distante”. De certa forma, a ideia de positividade nunca abandonou os Salto e deles emana uma mensagem otimista, que os levou a construir um disco que concorre, legitimamente, a trilha sonora do Verão português de 2012.
Recentemente, o grupo incluiu um baterista nas suas apresentações, um aspeto que se aproxima do formato mais clássico. Tal como as várias cores que o disco apresenta, o caminho será sempre exploratório, mas atento a soluções que não contrariem a vertente melódica. Nos sites www.saltoedequemouvir.com/ e www.myspace.com/saltopt há mais informação sobre a banda. De Lisboa para o Brasil, os Salto conversaram com o Scream & Yell. Confira:
A música de vocês resulta de um conjunto variado de influências, mas os anos 80 parecem definir melhor o som do Salto. Concordam?
É uma pergunta muito interessante. Nos últimos três anos apontaram-nos essa marca. A referência aos anos 80 apareceu de uma forma natural e não premeditada, do tipo: “Vamos ouvir Pet Shop Boys e New Order e experimentar a ver no que dá!”. O que não é necessariamente uma coisa boa nem má, depende do que se faz. Mas, depois de fazermos as canções, notamos que esses elementos estão presentes. A justificação passa pelo fato de muita música contemporânea ter recuperado essa sonoridade e as bandas que o fazem influenciam-nos consciente ou inconscientemente. Embora conheçamos esse lado dos anos 80, não quisemos nos apoiar só numa época ou gênero (e isso está patente no disco), e incorporamos componentes dos anos 70 ou 90. Muitas coisas podem ser revividas e reutilizadas atualmente. É o caso do two step que nós abordamos, do dub step, bem como o UK funky (movimento underground londrino).
Porque escolheram “Deixar Cair” como primeiro compacto?
É um hino à festa e é uma faixa que mostra que os Salto fazem música para dançar. No entanto, não é uma canção que traduza o modo geral do disco, embora tenha um grau muito direto e convide as pessoas a escutarem o álbum. “Deixar Cair” é mais simples do que os outros temas do nosso trabalho e a própria estrutura é bastante imediata. Por vezes, a característica principal de um compacto, quando é escutado muitas vezes, é de se tornar cansativo, por resultar de uma procura de chegar ao público eficazmente.
“Por Ti Demais” é apenas uma canção dançável ou revela uma história pessoal?
Retrata uma fase da vida pela qual todos passamos. Está relacionada com o excesso de dedicação, aborda uma ideia de confiança total e a procura do futuro pelo indivíduo. Não se trata de uma experiência pessoal, mas é uma situação muito comum: confiar cegamente. A música mais uma vez é direta e tenta desmistificar a ocorrência de episódios como esse. Quando escrevemos, por mais que não o queiramos, vamos sempre buscar alguma história que nos aconteceu e, por isso, existe algo de biográfico nesse processo. Divertimo-nos muito a fazer esta letra (risos).
Sentiram, em algum momento do processo criativo, que as programações rítmicas e a eletrônica adaptadas podiam não agradar ao público?
Já tocávamos ao vivo muitas músicas do álbum antes de ele ser lançado. E é muito engraçado fazer um disco em que primeiro interpretamos as canções e depois gravamo-las, porque podemos ver como o público reage. As programações não afetaram as pessoas e elas não se sentiram incomodadas nem enganadas, porque a nossa entrega, ao vivo, era tão grande e natural que não parecia estarmos fazendo mais alguma coisa. Foi uma vontade assumida de querer fazer as coisas de uma forma diferente. Desde o início dos shows, as programações agradavam-nos (ambos estudam na Escola Superior de Música do Porto, em produção e tecnologias da música). A tecnologia e a sua ligação à música sempre nos fascinaram e criamos uma estética que não confunde o público e é muito rica.
“Salto” é um trabalho que resulta de uma evolução artística. Em que medida os shows realizados pela banda ajudaram à sua construção?
Influenciaram totalmente. O disco nasce da rodagem que fomos tendo em pequenos concertos. Entre setembro de 2010 e setembro de 2011 fizemos mais de 60 shows. Através da reação do público percebemos para onde iria a nossa música e o que deveríamos acrescentar à atuação. Colocamos luzes, com barras de leds programáveis e sincronizadas com o computador. Sentíamos que faltava cor e a música vive disso. O álbum também o reflete: tocar ao vivo instrumentos que não usávamos daquela forma, teclados e sintetizadores. Aprendemos muitas técnicas, experimentando, porque queríamos apresenta-las ao vivo.
Quando for feita a história da atual cena musical portuguesa, como gostariam de ser lembrados?
Para se ser lembrado tem de existir algo de novo para dizer. Sem querer ser pretensioso, os Salto utilizaram ingredientes distintos, juntaram-nos e deram-lhes um carácter muito português. Isso deu bastante trabalho (o álbum foi produzido em um ano), e de certa forma é um exercício estético com sustentação. O mais importante é que tenhamos alguma coisa a dizer às pessoas e elas a nós. Temos muitas referências, ouvimos muitas músicas e não excluímos nenhuma. Todas fazem sentido.
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui
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