Por Marcelo Costa
Ele não está tão a fim de você. Ei, amigo, não adianta rir ou olhar de lado: ela também não está tão a fim de você. Ok, não é assim tão simples, porém existem uma série de sinais que dizem se um relacionamento vai para frente ou não, e ele (ou ela) não ligarem no dia seguinte, não responderem e-mail, não deixarem mensagem no seu My Space, no Orkut ou não mandarem um bilhetinho via Pombo Correio, acredite, não vai rolar. Tudo bem, tudo bem: não é assim tão simples. Vamos por outro caminho…
Na primeira cena da arid comedy “Ele Não Está Tão A fim de Você” (“He’s Just Not That Into You”) vemos uma menininha de uns três ou quatro anos brincando em um parquinho. Ela está construindo um castelo de areia até que seu príncipe encantado surge: ele aparenta ter a mesma idade que ela, chega, a encara e lhe dá um empurrão. Mais. Faz declarações de amor do tipo: “Eu não gosto de você porque você cheira a cocô de cachorro”. A garotinha vai correndo para o colo da mãe e pergunta: “Por que ele fez isso comigo?”. E a mãe responde: “Porque ele te ama”. \o/
Em off, a garotinha – que já não é mais uma garotinha – abre o berreiro dizendo que são cenas como essa que fazem as mulheres ficarem esperando o telefone tocar no dia seguinte, e um dia depois, e outro dia após até que, um ano se passa, ela esbarra com o cara na rua, e ele nem se lembra que saiu com ela. Parece crueldade, eu sei, mas o ser-humano em geral (e as mulheres em particular) não está preparado para levar um fora. No entanto, ninguém pára para pensar no outro lado: e se o cara realmente não estiver a fim? Não precisa responder… ainda.
“Ele Não Está Tão A fim de Você” é baseado em um livro que surgiu após um capítulo da série “Sex and The City”. Os roteiristas Greg Behrendt e Liz Tuccillo encaixam em certo momento uma passagem em que o namorado de Carrie (a personagem central da série) explica que não dá para confiar nas desculpas dos homens. O assunto já havia sido tratado com bastante propriedade na série “Friends”, quando Chandler começa a sair com a chefe de Rachel, e não consegue deixa-la sem dizer: “Eu te ligo”. Ela fica esperando ele ligar, ele não liga, ela pressiona Rachel que pressiona Chandler: “Por que você disse que ia ligar e não liga?”. E ele: “Porque é isso que os homens fazem”.
A adaptação para o cinema do best-seller de Greg Behrendt e Liz Tuccillo (mais de dois milhões de exemplares vendidos no mundo de um livro que, dizem, é ainda mais venenoso que o filme) é uma amostra que pode existir vida inteligente na comédia romântica do cinemão norte-americano – que o digam Billy Wider e Woody Allen. Uma gama imensa de personagens se esbarra em situações de encontro que amplificam uma das sensações mais geniais do livro “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera: um tenta adivinhar o que o outro está sentindo… e erra miseravelmente (discuti isso com Fernanda Young em algum lugar aqui).
Em uma das várias cenas divertidas – e reais – de “Ele Não Está Tão A fim de Você”, após um primeiro encontro em um bar, um casal se despede e vai um para cada lado. Ela liga para uma amiga contando que adorou o rapaz, completando: “Ele deve estar me mandando um torpedo agora”. No sentido contrário, na mesma calçada, nosso amigo está ligando para outra garota por quem ele está apaixonado. Aliás, ela também não está tão a fim dele, e isso fica perceptível no primeiro momento em que o casal entra na tela. Os sinais são óbvios, acredite.
Ok, Seinfeld já discursou brilhantemente sobre sinais (leia aqui) chegando a conclusão sublime: “Nós, homens, não entendemos os sinais femininos. Nunca”. O que “Ele Não Está Tão A fim de Você” propõe, porém, é que o inverso também acontece: as mulheres não entendem os sinais masculinos, pois se ele não ligou no dia seguinte, ele não está tão a fim de você. É claro que ela vai pensar que ele foi atropelado quando foi comprar pão na padaria, que ele perdeu seu telefone, que ele não quer parecer afobado, o que é tudo bobagem: se um homem se apaixona ele dá um jeito de ir atrás da garota (mesmo que ele não tenha pego o telefone, e-mail ou endereço para o Pombo Correio).
Isso tudo é cientifico? De maneira alguma, e essa é a graça do negócio (claro, depende do seu senso de humor). “Ele Não Está Tão A fim de Você” acumula um bocado de clichês românticos que funcionam perfeitamente na tela com méritos para uma escalação impecável de atores (que inclui, entre muitos outros, Jennifer Aniston, Jennifer Connelly, Ben Affleck, Justin Long, Drew Barrymore, Scarlett Johansson e Kris Kristofferson) e um roteiro esperto que junta várias histórias em pequenos núcleos sem perder o foco – e ampliando o título em capítulos divertidíssimos como “Ele não quer transar com você”, “Ele não quer casar com você” e outros.
Nestes outros capítulos, “Ele Não Está Tão A fim de Você” avança positivamente destroçando a obsessão feminina pelo casamento (e o desejo masculino pela solteirice) analisando de forma interessante a vida de dois casais, um que vive junto em pecado (hehe) sobre o mesmo teto faz mais de sete anos e outro cujo enlace foi uma decisão sábia em um esquema de tortura: “Após nós sairmos da faculdade ela disse: ou você casa comigo ou terminamos. Eu casei”, conta nosso amigo. O que acontece em ambas as histórias você vê na tela, caro (a) amigo (a), e são duas opções bastante interessantes.
Porém, nem tudo é acerto no filme. Uma das prováveis premissas simplórias do longa prevê que basta amar e tudo se resolve, só que não funciona assim (românticos, é brincadeirinha, tá). Apenas amar não basta. É preciso compromisso, planos sincronizados, fidelidade, família. Ou seja: é preciso comprar todo o pacote que vem junto com um relacionamento. Não é fácil, mas também não é impossível. No entanto, é preciso estar ciente que o amor sozinho não basta. E se não bastar, o que acontece? Pergunta o leitor espectador, e o filme responde: siga em frente para novos amores, novas histórias e novas cicatrizes. A ironia é que a grande maioria das pessoas não sabe seguir em frente, mas Greg Behrendt e Liz Tuccillo fizeram sua parte e deram a dica. Mova-se.
Amar é um clichê, um enorme clichê. Alain de Botton escreveu um livro (“Ensaios de Amor”) inteiro sobre o tema entremeando a narrativa com sacadas filosóficas. Está tudo ali. Tudo. Para rechear este texto repleto de citações vai mais uma. O grande Tony Parsons já havia dado a dica em um texto brilhante chamado “Compromisso” que faz parte do livro “Disparos do Front da Cultura Pop”. Em certo trecho ele manda (muito bem): “Encontros de uma noite nunca deveriam acontecer. Ou a experiência é boa o suficiente que deveria ser repetida. Ou é ruim e nunca deveria ter rolado”. Para fechar, mais uma:”Enquanto o homem certo não aparece vou me divertindo com os errados”, escreve a gaúcha Claudia Tajes no divertido “Dez (Quase) Amores”.
Quem tem razão? Todo mundo. E ninguém. Divirta-se. E que sejam felizes… para sempre.
Ps. Douglas Copland quer um lugar nas citações: “Primeiro o amor, depois o desencanto”.
Leia também:
– “Manual do Amor”, de Giovanni Veronesi, por Marcelo Costa (aqui)
– “Disparos do Front da Cultura Pop”, de Tony Parsons, por Marcelo Costa (aqui)
– Três filmes clássicos de Woody Allen, por Marcelo Costa (aqui)
– “Monogamia para Principiantes”, de Marc Malze, por Marcelo Costa (aqui)
Tá, fui convencido. Vou assistir. [romantiquinho mode off] haha
Haha, boa! Quero ver a briga por quem você vai se apaixonar! (risos). Aqui, surpresa total, mas a morena Jennifer Connelly bateu as loiras! hahahaa
hahhahaha, preciso ver esse filme, já, agora, now.
eu ia achando a escalação do elenco realmente impecável até esbarrar no nome do ben affleck, e me pergunto: se a escalação de elenco foi boa, ele deve estar “interpretando” um pára-choque ou um arbusto seco.
e a jennifer connelly, diabos, não dá para ver comédia romântica com ela depois de ter visto requiém para um sonho.
adorei o filme. chorei duas vezes com o ben affleck e a jennifer aniston, quando ele está lavando a louça na casa do pai dela, e quando ele a pede em casamento. fora que o justin long está ótimo.
Pelo jeito eu sou a única que acha que o filme poderia ter terminado na primeira cena (a do parquinho – que por sinal é sensacional.)
achei varias cenas sensacionais. aque se segue a essa do parquinho que a Tati comenta é tçao boa quanto culminando na passagem da aldeia e na frase “ele deve ter perdido o numero da sua cabana”. rssss. hilario! gostei muito
“Escrevemos ‘a fim de’ quando queremos indicar finalidade.
E devemos escrever ‘afim de’ quando queremos indicar semelhança, parentesco.”
Muito bom mesmo!
Bjos
Bela resenha…. não conseguiu sequer citar o título original, aliás mal que que atinge grande parte da mídia e imprensa em particular. No RS já virou lei nos jornais da capital, ninguém mais cita o título original (mas como gostam de malhar o título tupiniquim).
Alexandre, se o título nacional for descabido (como é o caso recente de “Foi Apenas Um Sonho”, vale a pena malhar). Neste caso acima, o título original não acrescenta nada, mas se você faz taaaaanta questão assim a ponto de se incomodar, a gente dá um jeitinho.
Um mês depois de ler teu texto, finalmente assisti! (é q o legendas.tv demorou pra disponibilizar a legenda em português haha).
Então, fiquei tentando me apaixonar por uma delas, mas acho q a expectativa atrapalhou. 😀 E achei o filme meio triste… isso tb pesou. E aí não me apaixonei.
É lógico que a Scarletzinha estava linda e a Jennifer um mousse de maracujá naquela cena do escritório, mas se houvesse um meio termo entre as personagens, psicologicamente falando, aí sim eu ficaria fascinado.
Mas, se fosse pra cometer um sacrilégio e escolher só uma, teria que dispensar a Scarlet. \o/
Só consegui assistir ontem. Beeeeeem legal! =)
E podem se matar entre a Connelly e a Scarlet… Eu fico com a Aniston. E bem feliz 🙂
vi agora na HBO. que elenco feminino, meu Pai!
Um excelente filme com grande elenco. Um dos aspectos mais importantes de cada produção é o seu elenco, pois deles despende que a história seja caracterizada corretamente. Acho que em Ben Affleck é grande ator, no seu ultimo filme fizeram uma eleição excelente ao eleger os atores, eu li a critica e vi o trailer e sem dúvida é grande, e acho que é muito bom filme. Gostei muito desta história, acho que é perfeita para todo o público.
Chocada com os comentários machistas. Um filme muito educativo, espero que ao menos tenham aprendido algo com o Ben Affleck lavando a louça.