Três perguntas: Emygdio Costa, ex Sobre a Máquina e Fábrica, apresenta sua nova persona musical, EMY

entrevista por Diego Albuquerque

No final do mês de maio, EMY, nome artístico de Emygdio Costa, cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista nascido no subúrbio carioca que integrou bandas como Sobre a Máquina e Fábrica, lançou seu primeiro single solo. A faixa “rei coroado” marca então a estreia, o nascimento do cantor e artista EMY.

rei coroado” versa sobre o triunfo negro através da festa e da luta, misturando pontos de Ogum, sintetizadores e beats eletrônicos com forte influência do soul e do R&B narrando os angustiantes últimos momentos de uma comunidade cercada por seus inimigos enquanto evoca a presença de Ganga Zumba, primeiro líder do Quilombo de Palmares e figura não tão distante dos corpos pretos que habitam os subúrbios dos grandes centros urbanos. Embrenhando-se por passado e presente, morte e vida, o falsete luminoso de EMY desenha um realismo fantástico no qual celebração e combate marcham em uníssono.

A faixa foi lançada nas principais plataformas de música e abre as portas para o primeiro álbum solo do cantor, autointitulado “EMY”, que chegará ao mundo no segundo semestre deste ano. “rei coroado” conta ainda com um clipe, roteirizado e dirigido pelo artista. EMY revela ter rodado o clipe numa sala minúscula totalmente mergulhada no escuro, utilizando apenas closes e planos bem fechados, para reforçar a sensação de claustrofobia e cerceamento. Abaixo, EMY responde nossas três perguntas:

“rei coroado” é o primeiro lançamento de EMY. O som faz parte do primeiro álbum da sua carreira solo e com este nome. Quais as influências deste álbum? Este single dá uma boa ideia do que esperar ou é um ponto fora da curva?
(As influências giram em torno de) Timbaland, Kanye West, Dev Hynes, ABRA, D’Angelo, Ne-yo, Fergie, Justin Timberlake, Yves Tumour, JPEGMAFIA, Edu Lobo, Daniel Lopatin, a lista é longa. “rei coroado” talvez tenha sido o primeiro single porquê, de algum forma, enxergo nela uma ato de transição entre o que eu apresentava como artista anteriormente e o que me tornei e deixei emergir nos últimos anos. Tem algo ali – sempre tendo uma certa grandiosidade, uma conexão com poderes superiores, com o divino, algo maior que a vida – que sempre me acompanhou e sempre acompanhará, mas quem me segue a mais tempo provavelmente sentiu alguma estranheza. “É você mesmo que está cantando?” é uma pergunta recorrente, talvez por causa dos falsetes que junto com outros aspectos são uma quebra violenta com meu procedimento artístico anterior. O próximo single acredito que vai ainda mais fundo nessa direção, busco uma ruptura mesmo. O artista e o homem que fui no início dos anos 2010 – época em que estive mais ativo na cena – certamente não existe mais daquela forma.

Para além do novo som, que você compôs e tocou boa parte dos instrumentos, produziu, mixou e masterizou, você também fez o roteiro e dirigiu o clipe da faixa e fez a capa do single. Devemos te ver como um artista multi ou como alguém que centralizou o trabalho por conta de uma ideia / caminho muito especifico a ser seguido?!
Curioso isso! Somente agora, lendo a pergunta, me dei conta de algo muito importante, acredita? Este será o primeiro disco de um projeto meu, onde assino sozinho a produção! O álbum está quase todo pronto e eu ainda não tinha dado atenção a isso. Por muitos anos busquei artistas para colaborarem comigo e interferirem na minha obra, sempre tive tesão nessa troca, em assistir um terceiro elemento surgindo da união de duas ideias distintas, mas acho que também tinha a ver com uma certa insegurança que definitivamente não mora mais em mim. Hoje em dia eu sei – e principalmente me permito saber – exatamente o que quero, como e quando. É libertador.

Você foi do Sobre a Máquina, teve o projeto Fábrica e tocou com alguns artistas/bandas, além do trabalho de produtor (que é um inside job na música). Por que se lançar numa carreira solo só agora? E o que ainda falta ser dito na música que te move a ir nesse caminho?
Quando concebi a ideia do disco, tracei uma linha de todos os meus pudores e decidi ultrapassar essa linha em todos os aspectos. Daqui a pouco faço 40 anos, não quero de forma alguma passar a primeira metade da minha vida preso a certos receios, medo da opinião alheia, sabe? Foda-se essa porra! EMY é um disco despudorado, sem amarras, onde realizo todos os meus fetiches.

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