OUTUBRO 2022
Argentina | Bolivia | Brasil | Chile | Colômbia | Cuba | Espanha | México | Peru | Uruguai
Clique no país acima para conhecer seus destaques de outubro! E ouça nossa playlist.
BRASIL
por Marcelo Costa / do site Scream & Yell
“O Brasil não é para principiantes”, disse certa vez o maestro Tom Jobim, e essa frase se atualiza dia a dia. Quem acreditava que o país iria se acalmar com a eleição de Lula está vendo cenas vergonhosas de pessoas pedindo intervenção militar e até extraterrestre (sério!). Aqui nada é certo até que aconteça, mas o principal, que era derrotar Bolsonaro, já foi conseguido. O que vai acontecer até que Lula assuma o posto de 39º presidente do Brasil é uma incógnita, mas as mudanças já começam a surgir: entre os nomes para a equipe de transição entre o governo atual e vindouro na área de Cultura, extremamente sucateada na atual gestão, estão o da grande atriz Lucélia Santos, da cantora baiana Margareth Menezes e do músico e poeta pernambucano Antônio Marinho. Que tenhamos paz para reconstruir o país. E que sigamos atentos aos novos lançamentos, que não param de chegar. Abaixo, os nossos destaques de outubro.
DESTAQUE PRINCIPAL
“O DONO DO LUGAR”, DJONGA: O sexto disco do rapper mineiro Djonga, um dos principais nomes da cena hip hop brasileira na atualidade, que fez um show poderoso no Lollapalooza Brasil 2022, mantém a qualidade e a essência de seus discos anteriores, porque as coisas não mudam no Brasil (e no mundo), e é preciso falar continua falando sobre racismo, LGBTfobia e outros temas do cotidiano.
“O Dono do Lugar” atingiu o sétimo lugar no ranking mundial no Spotify enquanto na Deezer, o novo disco do rapper foi o segundo álbum mais ouvido do planeta, em dados levantados pela ONErpm, distribuidora digital das músicas do artista, entre 14 e 16 de outubro – menos de uma semana após o lançamento da produção.
Lançado pelo selo do próprio Djonga, A Quadrilha, criado para divulgar novos nomes da cena rap de Minas Gerais, e com feats com Vulgo FK, Sarah Guedes e Tasha & Tracie, “O Dono do Lugar” é mais um disco poderoso de um artista que tem muito o que falar, e que não tem medo de peitar o mundo para se fazer ouvir.
OUTROS DESTAQUES
“PASSARINHO URBANO” / “NATUREZA”, JOYCE: Clássico registro lançado na Itália em 1975 com um repertório altamente político no auge da ditadura brasileira, “Passarinho Urbano” ganhou reedição luxuosa em vinil pela editora Três Selos. No embalo, “Natureza”, álbum de samba-jazz gravado em 1977 pela artista, em Nova York, com Claus Ogerman, e dado como perdido, finalmente chegou ao streaming mostrando a força dessa artista sensacional.
“BRUTAL BREGA”, JOÃO GORDO: O vocalista do Ratos de Porão, que lançou em 2022 com sua banda um dos discos essenciais do período pandêmico no Brasil, “Necropolítica”, retorna aos holofotes com um disco solo de regravações de canções populares e de apelo kitsch e romântico, que aqui renascem embaladas por guitarradas punk rock e o tradicional vocal gutural do músico. Divertido e caprichado. Assista ao clipe do single “Fuscão Preto”.
“JARDINEIROS”, PLANET HEMP: 22 anos após seu terceiro registro de estúdio, o Planet Hemp, um dos principais grupos do rock noventista e pró-maconha no Brasil, retorna com um disco inteiro de faixas inéditas – no embalo do show que fizeram no Lollapalooza 2022 substituindo o Foo Fighters devido a morte do baterista Taylor Hawkins. O mantra aqui é rap, punk, samba e hardcore com letras fortes que questionam: “Com quantos pobres se faz um rico?”. Poderoso.
“RAMILONGA_ A ESTÉTICA DO FRIO (25 ANOS)”, VITOR RAMIL: Para comemorar um quarto de século do disco que abriu novos caminhos para a música produzida no Sul do Brasil, questionando estereótipos tanto da brasilidade quanto da gauchidade e conferindo cidadania brasileira à milonga (gênero musical de origem afro-platina), Ramil lança uma edição especial do álbum acrescida do bonus track “Milongamango”, uma colagem musical de três milongas do repertório, além de uma versão caprichada em CD com direito a caderno de anotações, letras e fotos. Um disco essencial.
MAIS CULTURA
Com muito pesar, a música brasileira perdeu uma de suas maiores vozes: a baiana Gal Costa nos deixou aos 77 anos em 9 de novembro. Ela havia feito sua última apresentação ao vivo no Coala Festival, em São Paulo, em setembro e cancelado depois dois shows em festivais, o segundo dele na edição brasileira do Primavera Sound, onde recriaria um de seus discos mais clássicos, “Fa-Tal – Gal a Todo Vapor”, de 1971. Tivemos a oportunidade de entrevistá-la pela última vez em 2017 numa conversa que dá o tom de sua carreira: “Ao longo da minha carreira, e lá se vão 50 anos, tive muitos momentos em que aconteceram mudanças radicais. (…) Eu vivo dessas rupturas, e sim, é muito difícil, não vou dizer que não é sofrido, porque é sofrido, mas traz vitalidade, frescor e renovação” (leia a entrevista completa). Uma perda inestimável.