Texto por Renan Guerra
Lá em 2017, quando o álbum de estreia de Letrux ganhou nossos ouvidos, escrevemos por aqui que a resposta do público ao novo projeto deveria “levar Letícia para muitas noites de climão por aí”. Nessa época, Letícia era ainda uma das metades do Letuce em busca de seu próprio seu espaço que, para isso, dava alguns passos arrojados. De lá pra cá, Letícia se tornou cada vez mais Letrux, um nome que a levou para os principais palcos do Brasil, tocando de norte a sul, em festivais como o Popload e o Lollapalooza, por exemplo.
O sucesso estrondoso da “Noite de Climão” levou a um questionamento geral: para onde Letrux iria agora? Para quem acompanhava Letícia há anos, era óbvio que ela acharia caminhos, mas a questão que ficava era “será que esse público que ela cativou nesses últimos anos vai embarcar nessa nova viagem?”. Isso porque “Letrux em Noite de Climão”, o álbum, era muito icônico, com seu vermelho e com suas frases que se tornaram citações frequentes – por exemplo, na gravação do DVD da turnê, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, era possível ver inúmeras pessoas fantasiadas de Letrux!
Nesse cenário cheio de expectativas, Letrux foi selecionada pelo edital da Natura Musical e seu segundo disco ganhou uma boa sustentação financeira para existir. Assim nasceu “Letrux aos Prantos” (2020), que foi lançado um pouquinho antes do mundo se paralisar, chegando ao mundo quando o cenário estava se tornando feio e as coisas estavam se complicando. Era um prenúncio: não sabíamos que logo estaríamos ainda mais aos prantos e ainda mais em uma bruta agonia.
“Letrux aos Prantos” segue o mesmo preceito que explicávamos lá no primeiro disco: “Um paradoxo alegria-tristeza, naquele cenário clássico de afogar as mágoas na pista de dança, com canções que mexem os nossos quadris e nos fazem chorar”. Nesse sentido, há nesse novo lançamento ainda mais paradoxos: há momentos bastante introspectivos e outros ainda mais fortes, intensos. São explorações de uma artista que, obviamente, vem de um bom tempo na estrada, fazendo shows e que entende cada vez mais sua voz, sua força e seu humor.
Humor, aliás, é uma palavra fundamental em “Aos Prantos”, pois, mesmo em momentos tristes, há uma coisa tragicômica de Letícia que reaparece: sua poesia é do banal, do simples, do cotidiano e por isso mesmo oscila entre o riso e o choro e com isso toca temas complexos, como o amor, a solidão, o sexo e a vida em sociedade. Há canções de amor, canções para chorar e canções para dançar até exorcizar todos os medos.
Produzido por Arthur Braganti e Natália Carrera, “Letrux aos Prantos” reúne aqui a mesma banda que normalmente acompanha Letícia ao vivo e que se mostra em completa sintonia com a artista. São eles: Arthur Braganti nos teclados, Thiago Rebello no baixo, Lourenço Vasconcellos na bateria, Natália Carrera na guitarra e Martha V nos teclados. Além disso, o disco conta com as participações de Liniker e Lovefoxxx (do Cansei de Ser Sexy), duas cantoras com as quais Letícia se encontrou e se uniu nessas andanças dos tempos de climão.
No balanço geral, é bastante natural que gente vá descobrindo as faixas aos poucos, nessa “roda de invocação” que é o novo álbum. Cada canção tem sua história particular, seu momento. “Déjá-vu Frenesi”, por exemplo, veio para Letícia como um trovão dentro d’água no mar da Grécia, em suas férias. Muitas canções vêm das viagens, dos encontros e dos aprendizados que o processo anterior criou e por isso é tão interessante a gente se ver enquanto parte desse movimento da artista, que segue em constante ebulição.
Enfim, tudo é muito cabalístico nesse novo disco de Letrux e por isso chega a ser assustador ouvi-la cantando “acordei bem, mas o país não colabora” (“Abalos Sísmicos”), em frase cada dia mais sincera e dolorosa. Nesse caos mundial, Letícia cancelou os shows de lançamento do disco e espera a pandemia passar para, aí sim, pensar nesse novo passo. Até lá, fica uma expectativa de ver como o disco funcionará no palco.
De todo modo, a conclusão é que “Aos Prantos” ainda é a mesma Letrux, mas é diferente, é vívido, é instigante, é uma nova curva cheia de descobertas. Agora a gente segue aqui apertando o repeat e esperando que a quarentena acabe, para poder estar por aí “transando, mentindo, usando droga e esquecendo de ligar pra mãe”.
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz.
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