Resenhas por Adriano Mello Costa
“Uma Dobra no Tempo”, de Madeleine L’Engle, adaptação Hope Larson (Darkside Books)
Escrito por Madeleine L’Engle em 1962, “Uma Dobra no Tempo” abocanhou prêmios na época e se manteve relevante depois. A história juvenil de ficção científica e fantasia se estendeu por mais volumes e invadiu outras áreas como o cinema (em uma produção bem sem graça comandada pela Disney lançada este ano). Os quadrinhos também tiveram sua versão pelas mãos da Hope Larson (de “Batgirl”) que em 2012 adaptou a obra nos EUA. Essa adaptação ganha edição nacional agora em 2018 pela Darkside Books com o habitual capricho que a editora tem com seus produtos. Com 394 páginas, capa dura e tradução de Érico Assis, “Uma Dobra no Tempo” ganhou uma edição nacional belíssima. Nela, Meg é uma adolescente com problemas típicos dessa idade e que não consegue transitar bem entre aqueles ditos “normais”. Junto com Charles – o sagaz irmão mais novo –, ela embarca em uma tremenda viagem em busca do pai desaparecido. Nessa tresloucada e surreal aventura pelo universo são acompanhados de um garoto tão “estranho” quanto eles e atravessam o tempo e o espaço conhecendo criaturas das mais diversas estirpes. Usando uma paleta de cores reduzida, mas que produz bons efeitos, Hope Larson conversa sobre diferenças e convivência em harmonia com eficácia, porém, com pouco brilho.
Nota: 6
“Salto”, de Rapha Pinheiro (Avec Editora)
O carioca Rapha Pinheiro começou a fazer quadrinhos em 2014. Estudou na Inglaterra e na França, onde concebeu “Salto”, graphic novel viabilizada através de financiamento coletivo que em 2017 ganhou distribuição pela Avec Editora. Nela, concebeu um mundo fantástico onde são permitidas analogias com nossa vida em sociedade. Em formato grande (21,3 x 27,7 cm) e 96 páginas conhecemos Intos, uma cidade escondida debaixo da terra devido a eventos naturais que forçaram os habitantes a migrarem para uma situação única de salvação. Guiada por informações do governo e do dono da fábrica que emprega a maior parte da população, todos vivem no piloto automático, sempre com um pequeno temor inserido no peito de que algo desande novamente e, por conta disso, seguem fielmente as regras. Mas no meio disso tudo existe o jovem Nü. Ousado, inquieto e diferente, Nü acaba se envolvendo por acidente em algo maior do que imaginaria e cabe a ele revelar a todos que as coisas não são exatamente como pensavam. Com arte exuberante e cores que agravam mais as nuances que o texto questiona, temos um trabalho que agrega diversas influências e explode no fundo da aventura que narra em crítica social e comportamental, além de versar muito bem sobre preconceitos.
Nota: 8
“Open Bar – Edição Definitiva”, de Eduardo Medeiros (Stout Club / Panini Comics)
Existem amizades que estão ali desde o início da vida e lá permanecem até quando passamos dos 30, dos 40 anos. São raras, isso é fato, mas existem. Amizades com cumplicidade e liberdade total entre as partes que ajudam a seguir em uma vida cada vez mais complexa e dinâmica. Barba e Leo se conhecem desde pequeno e formataram um desses casos em “Open Bar – Edição Definitiva” do quadrinista Eduardo Medeiros (de “Sopa de Salsicha”). Essa nova edição lançada no final de 2017 pela Stout Club através da Panini Comics tem 272 páginas e apresenta os dois volumes da história concebida por esse gaúcho radicado em Florianópolis. O ponto de partida é um bar que Barba recebe de herança do pai e chama Leo para entrar de sócio nesse empreendimento que está amarrado a algumas pequenas regras de posse. Enquanto trata dessa nova jornada dos amigos com humor e leveza, o autor esconde ao fundo temas bem mais complicados como relacionamento familiar, casamento, paternidade e culpa. É uma história arrebatadora que na sua sutileza puxa o leitor cada vez mais para dentro da trama, fazendo este se apegar aos personagens enquanto caminha para um final surpreendente e devastador.
Nota: 9
– Adriano Mello Costa (@coisapop) assina o blog de cultura Coisa Pop: http://coisapop.blogspot.com.br