por Leonardo Vinhas
“Durand Jones & The Indications”, Durand Jones & The Indications (Colemine Records)
Nessa década de 10 (aaah, estar no começo do século!) criou-se um pequeno, mas constante, circuito de novo soul nos EUA. A “cena” – bastante espalhada no país, na verdade – é composta de artistas que procuram trazer o gênero para o presente, sem radicalismos ou apego excessivo ao passado. A lista de “ingredientes adicionais” pode ser o rock (JC Brooks & The Uptown Sound, Sister Sparrow & The Dirty Birds), o pop (St. Paul & The Broken Bones) ou a eletrônica (Pretty Lights). No caso de Durand Jones & The Indications, esse extra é a música negra dos anos 1970, tanto o funk como o próprio soul do período. Assim é natural que o álbum tenha porções iguais de faixas mais lentas com outras mais groovadas, as primeiras apelando para o sensual e as demais para o dançante. A voz de Jones, que teve formação nos coros de igreja da sua Louisiana natal, é o molho especial que torna o álbum saboroso, especialmente em “Make a Change”, “Is It Any Wonder?” e “Now I’m Gone”. Jones é coautor das faixas, juntamente com o baterista Aaron Frazer e o guitarrista Blake Rhein, e o cuidado que o trio dedica aos arranjos fazem deste álbum uma estreia bastante digna.
Nota: 7
“Fresh Blood for Tired Vampyres”, Electric Six (Metropolis Records)
“Nós continuamos fazendo música para que possamos continuar a fazer shows. Por dinheiro”. Assim disse Tyler Spencer, vulgo Dick Valentine, vocalista e principal compositor do Electric Six. Esse é o mesmo cidadão que diz que bebe do começo ao fim do show porque já não tem mais saco de estar em um palco. Mas não importa quanta autodepreciação e acidez Valentine despeje em suas declarações, o fato é que o Electric Six dá um jeito de gravar novas canções praticamente uma vez por ano – esse é o 12º álbum em 13 anos, sem contar um ao vivo e uma coletânea de raridades. E o resultado final desses discos oscila entre o satisfatório e o muito bom. “Fresh Bllod for Tires Vampyres” pertence à última categoria. O tecladista Tai Nucleus?, único membro original além de Valentine, e o guitarrista Johnny Na4hinal (também produtor), formam com o vocalista o incansável núcleo criativo da banda, e não se prendem às fórmulas que eles mesmos estabeleceram em discos anteriores. As guitarras distorcidas mal se fazem notar; abundam vocais de inspiração soul e timbres do pop oitentista. De certa forma, soa como seu álbum de 2007, “I Shall Exterminate Everything Around Me That Restricts Me from Being the Master”, despido dos exageros. Aliás, apenas “Lee Did This to Me” pode ser considerada uma faixa que força um pouco a barra kitsch. Nada que a boa vibe nonsense de “Mood Is Improving”, a pegada heavy disco satanista de “Dance with Dark Forces” e a sacanagem pop de “(Be My) Skin Caboose” não façam esquecer rapidamente. Se você ainda pense nessa banda de Detroit como uma “one hit wonder” (o “one hit” sendo “Gay Bar”, de 2003), ou pior, nunca ouviu falar deles, “Fresh Blood…” é um ótimo caminho para reparar esses erros.
Nota: 7,5
Leia também:
– O absurdo das letras de Dick Valentine em “Destroy the Children” (aqui)
– Electric Six (2012): “Ao longo dos anos houve pequenos desentendimentos” (aqui)
– “Fire”, Electric Six – “É colocar o CD no som e armar a festa” (aqui)
“Radius (Deluxe Edition)”, Allen Stone (Capitol)
Natural de Washington, Allen Stone começou sua carreira profissional aos 22 anos, e já desde essa época mergulhava com gosto em quase todas as variações possíveis de soul e r&B. “Radius”, de 2015, foi seu primeiro álbum pela Capitol (ele tem outros dois por selos menores) e já mostrava a que veio com “Perfect World”, um espetáculo pop de poucos acordes, muitas cores e uma batida uptempo capaz de destruir qualquer mau humor. Prestes a fazer 30 anos, Stone mostra categoria de veterano nos arranjos desse álbum, que ganhou no ano passado essa versão deluxe, com nada menos que 21 faixas – sete a mais que a edição original. Apesar da duração extensa – e quase surreal para os padrões atuais da indústria fonográfica – o produto final não cansa, graças à alternância de climas e de timbres (a maioria tirada de instrumentos vintage). Dentre as novas, a rapidinha “Loose”, o pique à Jackson Browne de “The Weekend” e uma versão alternativa de “Freedom” se destacam. Stone sempre cita Stevie Wonder e Marvin Gaye como suas influências principais – nomes aos quais ele faz justiça, diga-se – mas também é possível pensar nele como um New Radicals que não se intimidou com o mainstream e seguiu em frente.
Nota: 7,5
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.