por Bruno Lisboa
Liderada pelo catarinense Fábio Della (ex-Aerocirco), radicado em Belo Horizonte desde 2010 e acompanhado por Felipe Brant (baixo), Hamilton Soares (teclados) e Nenel Neto (bateria), a Monocine lança seu primeiro disco, “Tão Deserto Quanto Eu” (2015) (disponível para download gratuito no www.monocine.com.br), um álbum de composições autorais vigorosas (assinadas pelo próprio Della) embebidas em guitarras pungentes e melódicas.
No site oficial, Fábio Della explica o conceito do álbum: “É como encaro a música, como um deserto, que seja gelado quando for frio, e muito quente quando for calor”. No rápido bate papo abaixo ele fala da nova fase (“Nós nos identificamos com cada frase que cantamos”), se mostra animado com a abertura musical da capital mineira (“Basta apresentar um bom show pra ir conquistando o público pouco a pouco”) e relembra o tributo “Espelho Retrovisor”.
De que maneira “Tão Deserto Quanto Eu” se difere dos tempos de Aerocirco?
O Aerocirco nasceu e cresceu em outra cidade, em outro Estado, em outra época, há exatos 12 anos, com outra formação e, principalmente, com outras pessoas, a não ser eu mesmo, que também não sou mais o mesmo. Nesse tempo minha vida mudou totalmente, vivi grandes tristezas e grandes alegrias. Por conta delas, mudei meus valores e prioridades, mudei minha forma de encarar as coisas e, por consequência, a forma de compor e o que dizer nas letras. A Monocine colocou em “Tão Deserto Quanto Eu” músicas emblemáticas com a época atual, que não tinham como ser escritas nem tocadas antes. Ali estão músicas como “Enquanto Nós”, que fala das novas e velhas amizades na frase “enquanto nós, jamais seremos sós”. Tem “Tão Deserto Quanto Eu”, que canta minha visão atual do que é a música: “que você seja a minha poesia e eu declame bem, espero tanto, tanto, tão deserto quanto eu”. Em “Antes Tudo Fosse Assim” relato uma das fases mais pesadas da minha vida – quando, em 2013, minha filha ficou por um fio numa UTI – cantando “fui com você, no incerto sem talvez, o estranho e puder, com o medo de não ter mais você”. O CD todo é assim, cheio de coisas atuais e tocadas por pessoas que viveram juntas tudo isso. Nós nos identificamos com cada frase que cantamos.
Belo Horizonte, mesmo com uma prolífica cena autoral, é tida por muitos como a terra de bandas covers, vide o grande número de casas noturnas que dão abertura para esse segmento. Como é tentar se estabelecer de maneira autoral por aqui?
BH é uma grande cidade, tanto em tamanho quanto culturalmente, tem na sua história muitos artistas que aqui nasceram e se tornaram referência no Brasil e até mundo afora, tem no sangue vida noturna, botecos, rica gastronomia. Enfim, é uma cidade que tem espaço para tudo e para todos, e já sentimos isso nos nossos primeiros shows. Existe um circuito de cover com grandes músicos, assim como um circuito autoral também com grandes artistas. Agora é seguir o caminho para nos fazer existir no meio de tanta coisa bacana. Temos muito trabalho para fazer aqui. Espaço não falta, basta apresentar um bom show pra ir conquistando o público pouco a pouco.
Recentemente vocês participaram de “Espelho Retrovisor“, tributo aos Engenheiros do Hawaii. Como se deu a escolha pela regravação de “Refrão de um bolero”?
Os Engenheiros fizeram história no Brasil, principalmente no Sul, e, mais especificamente, na época da minha adolescência. Seu repertório esteve presente em boa parte das minhas rodas de violão, e suas letras representaram muito minha geração. Quando o produtor do projeto, Anderson Fonseca, nos convidou, na hora veio à minha cabeça inúmeras músicas, entre elas “Refrão de Bolero”, e, pra falar a verdade, foi a primeira da lista. Para a nossa felicidade, ela ainda estava livre.
– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator/colunista do Pigner e do O Poder do Resumão
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