Três CDs: Lulu, Bahia Export, Gil e Gal

por Marcelo Costa

“Luiz Mauricio”, Lulu Santos (Sony Music)
Lulu Santos é um batalhador do pop nacional, ainda que, em algum ponto de sua carreira, tenha perdido conexão com as paradas. Não à toa, nenhum de seus últimos seis (bons) discos de inéditas cravou uma canção, um riff ou mesmo um refrão no imaginário popular que equivalesse a seus maiores hits do século passado. Mudou Lulu ou mudou o mundo? Essa sensação retorna com seu 20º disco de inéditas, “Luiz Mauricio” (2014), que reedita a parceria de sucesso de Lulu com DJ Meme – que rendeu seu único milhão de cópias vendidas com “Eu e Memê, Memê e Eu”, de 1995 – logo na faixa de abertura, a afiada canção título, que soa mais interessante na delicada versão praieira do final do álbum, com Lulu explicando porque não segue o caminho de “velhos companheiros” do pop oitentista que abraçaram o partidarismo de Direita (“Não entendo de política, não tive educação, o que não quer dizer que vá confundir, fato com boato”), segue apoiando-se em loop eletrônico (de Dadi) na internética “Segue de Volta?”, escala Mr. Catra (que participa de “Miche”, outro dos números “dançantes” do álbum) e DJ Sany Pitbull (que remixa a ganchuda “Sócio do Amor”) e encerra o lado A com a instrumental dançante “Drones”. No lado B, pop eficiente (“Torpedo”, “Fogo Amigo”), uma canção que flagra um casal abraçado chorando em frente ao Jornal Nacional (“Lava-Jato”) e mais uma instrumental esperta (“Blueseado”) mostram que, apesar das paradas de sucesso repletas de breganejos, Lulu continua fazendo o que sempre fez: bom pop.

Nota: 6.5
Preço em média: 20

“Bahia Music Export Volume 6”, Vários (Secretaria da Cultura do Estado da Bahia)
Projeto que integra o Programa de Mobilidade Artística e Cultural promovido pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e busca dar visibilidade à música contemporânea feita no estado para públicos e mercados de todas as partes do planeta, o Bahia Music Export já vinha mostrando uma boa seleção nos volumes anteriores: o número 4 tem muita coisa boa com destaque para “Sobre Tudo O Que Diz Adeus”, da Maglore, “Colombo”, do Cascadura, e “O Mais Clichê”, da Vivendo do Ócio, enquanto o número 5 exibe um remix dub de “Lycra-Limão”, de Lucas Santtana, mais “É Só Jogar”, com Os Nelsons (que convocaram Luiz Caldas para participar) e “Sambathon de Roda”, de Mauro TeleFunkSoul. Lançado em 2014, o volume 6 surge como o melhor do projeto até agora: da ótima abertura com “Xingling”, do Barrunfo do Samba, passando pelo excelente rap “Invasão”, da Rapaziada da Baixa Fria (que abre com a frase: “Vários botecos abertos / várias escolas vazias”) até a carta de intenções moderna “Desliga a Rede”, do Poeta de Aço (“Saia do Feice, menina, saia do Feice”), com ecos de Mundo Livre S/A, este volume 6 tem força para cativar o ouvinte. Outros bons momentos: “Não Precisa”, de Luciano Salvador Bahia; “Brezhnev”, dos antológicos Retrofoguetes; “Fulorá”, de Jurema; a mutantiana “Riso”, de Nalini; e a empolgante “Sinfonia Número 7 do Pagode”, do Sanbone Pagode Orchestra. Já há um sétimo volume na praça, e todos eles podem ser ouvidos online no site do projeto. Vale a pena!

Nota: 8
Ouça online: http://www.cultura.ba.gov.br/bahiaexport/

“Live in London, 1971”, Gilberto Gil e Gal Costa (Discobertas)
Durante o período no exílio, de julho de 1969 até o começo de 1972, Gilberto Gil gravou dois álbuns, mas apenas um deles, “Gilberto Gil” (1971, com canções em inglês e incluindo versões de Beatles, Steve Winwood e Jimi Hendrix), foi lançado na época – o outro, a trilha sonora para o filme “Copacabana Mon Amour”, de Rogério Sganzerla, só foi lançado em 1998. Gil, porém, seguiu compondo e fazendo shows (incluindo alguns em Nova York no meio de 1971) como este registro duplo acompanhado por Gal Costa no Student Centre da City University London. Gal acabara de estrear o show “Gal Fa-Tal – A Todo Vapor” no Rio no começo de novembro e cantado com João Gilberto (19/11) quando viajou para Londres (22/11). Quatro dias depois (26/11), Gil e Gal dividiam o palco mostrando 19 canções: acompanhado de baixo, bateria e percussão, Gil mostrava no violão números que iria gravar apenas no ano seguinte (como “Expresso 2222” e “Oriente” além de “Sai do Sereno”, de Onildo Almeida) enquanto Gal fazia um resumo do show “Fa-Tal” em oito canções (incluindo as icônicas “Vapor Barato”, “Como Dois e Dois” e “Dê um Rolê”). Como explica Gil em certo momento, o clima é de informalidade (“É porque a gente tá informal”), e mostra um músico brilhante improvisando no violão e nas vocalizações acompanhado de uma grande cantora em seu auge. Mais do que um disco, “Live in London, 1971” é um tesouro que se junta a outro momento brilhante de Gil ao vivo: “O Viramundo” (1998), com registros de shows entre 1972 e 1976. Histórico.

Nota: 10
Preço em média: R$ 40

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

Leia também:
– Gal Costa: “O público jovem já anda ouvindo meus discos dos anos 60” (aqui)
– Recanto”, de Gal Costa, é um álbum econômico, corajoso e… fake (aqui)
– A mesma música: “I’m a Believer”, Monkees x “Não Acredito”, Lulu Santos (aqui)
– 10 canções esquecidas de Lulu Santos (aqui)
– Lulu canta Roberto & Erasmo com um olho no cifrão e outro nos bons arranjos (aqui)

2 thoughts on “Três CDs: Lulu, Bahia Export, Gil e Gal

  1. O registro ao vivo dos baianos, pelo própro contexto de ambos, deve ser realmente estonteante. Como bem frisado na resenha, eles encontravam-se em estado de graça artística e, certamente, entregam um grande show.

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