De 4 a 8 de dezembro, São Paulo recebeu a primeira edição da Semana Internacional da Música, evento que reuniu todos os tipos de profissionais do mercado da música no modelo consagrado de Music Conventions. O formato adotado foi o do MaMa, uma conferência francesa, já que a iniciativa partiu do seu diretor Fernando Ladeiro-Marques em parceria com a diretora da Inker Agência Cultural, Fabiana Batistela, e contou com cerca de 20 painéis de palestras e debates, além shows e mostras audiovisuais espalhados em diversos pontos do centro da cidade, com concentração na ainda pouco usada Praça das Artes.
Um evento similar que já acontece no Brasil desde 2005 é o Porto Musical, em Recife (e vale mencionar também Conexão, que neste ano chegou a capital paulista), mas ao concentrar-se em São Paulo – como repetido várias vezes no evento, o maior “hub cultural” da América Latina – a SIM, no ponto de vista de representantes de produtoras, músicos e canais de mídia, multiplica as potenciais trocas entre todos esses profissionais. Em instantes nas rodas que se formavam nos intervalos entre os debates era possível obter diversos cartões, CDs, além de se presenciar ali desde o músico Tatá Aeroplano até toda a equipe do Deezer Brasil, Youtube e Natura, entre outros.
Essa troca de informações e contatos não foi a toa, tanto que no grupo online, dezenas de profissionais se apresentavam e tentavam divulgar o seu trabalho para fortalecer redes, objetivo que certamente foi cumprido. Conferências do tipo quando acontecem em outras cidades na Europa e nos EUA movimentam o mercado, e alguns artistas que se apresentaram na SIM – como Black Drawing Chalks e os uruguaios Franny Glass – estiveram em uma das maiores, o SXSW (contado aqui no Scream por Tiago Agostini), mais uma prova de que a necessidade de consolidar São Paulo como polo internacional de (discussão de) música era eminente.
O circuito de palestras foi antecedido por uma série de hangouts interessantes sobre “Como Tocar na Rádio Sem Pagar Jabá?”, “Independente Não é Bagunça” e “O Que Fazer Para Chamar a Atenção do Mercado”, todos disponíveis online. Já no evento mal deu tempo pra respirar. As mesas foram de alto nível e abrangeram muitos aspectos da produção cultural, desde os mais específicos do Brasil como os impactos do vale-cultura e os desafios de criar e manter um festival de música, até uma visão global de como bebidas alcoólicas como Heineken e Absolut investem em música.
Entre as críticas, a que mais se repetiu foi a de que nas mesas houve pouco espaço para dissenso, o que acontecia claramente em alguns casos quando o público (formado por profissionais do mercado, músicos e curiosos) ganhava a palavra. Até pelo tom das pergunta era notável certa insatisfação com o mercado e a atribuição de culpa recaiu sobre todos. Desde as políticas públicas até aos jornalistas especializados. Uma mudança que poderia melhorar o ritmo para 2014 seria espaçar um pouco mais uma palestra de outra, para que a discussão saudável entre público e palestrantes seja maior (isso aconteceu com resultados positivos durante o tema “Dinheiro Digital: Novos Modelos de Monetização da Música”, em que os palestrantes tiraram dúvidas do público e o público colocou questões pertinentes numa discussão interessantíssima).
No geral, a impressão foi de que apesar de bem representativas, algumas opiniões expostas com maior autoridade foram pouco contestadas. Como a mediação muito posicionada e incisiva de André Forastieri na mesa sobre Jornalismo Musical, de viés cético e pessimista quanto às possibilidades futuras da profissão. Ou a posição de Anderson Foca, responsável pelo Festival do Sol, em Natal, em não pagar cachês para bandas que não levam público, “como se arte se resumisse a dinheiro”, observou Marcelo Costa, editor do Scream & Yell, em conversa após a palestra. “Esse é um cara que não levaria o Velvet pra tocar em 1967, porque a banda não levaria público. Música é mais que isso”, analisou, completando: “No fundo não há regras: tem banda que aceita tocar pela diversão e tem artista que tem precisa do cachê para pagar a conta de água e luz. Cada um tem que ser respeitado, não é apenas matemática, é respeito”.
Contudo, percebiam-se também muitos pontos de convergência entre todos os temas. Falou-se muito e repetidamente sobre “maturação do mercado brasileiro”, “inserção de marcas”, “dedicação prioritária”, “compreensão local”, “falta de infra-estrutura”, “estabelecimento de parcerias” e “continuidade”. A presença de profissionais estrangeiros aguçou uma troca de informações interessante, que pode render boas parcerias futuras. Os desafios estão postos a todos que decidiram viver indiretamente ou diretamente de música.
No ano em que o dólar aumentou substancialmente (e com perspectivas de mais aumento), que a Fora do Eixo se provou como uma não alternativa real como modelo de divulgar música para o grande público, e num período de recessão de consumo de música ao vivo é imensamente animador ver tanta energia ser empregada em pensar modos de refinar a importação, a exportação e a manutenção de produtos musicais a partir de tudo isso. Que venha a próxima! As perspectivas para 2014 inclusive já são bem positivas.
Abaixo, cinco palestras/debates na integra. Assista e tire suas conclusões:
Leia também:
– Saiba mais detalhes da Semana Internacional de Música (aqui)
– Finlândia: “Já nos chamaram de “world elétrico” (aqui)
– Guri Assis Brasil: “Estou numa fase maravilhosa” (aqui)
– Blubell: “Estou muito mais pra palhaça do que diva” (aqui)
– Boogarins: “Jovens que acreditam no que estão fazendo juntos” (aqui)
– Assista a três Hangouts da SIM São Paulo na integra (aqui)