Três perguntas: André Mendes

por Marcelo Costa

A arte do site oficial de André Mendes (http://www.andremendesmusica.com.br/) exibe uma parede repleta de retratos. Ali você irá encontrar (para download), entre fotos de ontem e hoje, os cinco discos que André Mendes já lançou: o primeiro é de quando ele integrava um excelente power trio, o Maria Bacana (o disco saiu pelo selo Rock It!, de Dado Villa-Lobos, em 1997), e praticamente fecha o primeiro ciclo da carreira deste músico de Salvador.

A segunda fase começa com “Bem-vindo À Navegação”, estreia solo de 2010, e segue com “Das 10 às 12” (ao vivo de 2011), “Enfim Terra Firme” (2012) e, lançado neste ano, “Amor Atlântico”, o mais suave dos trabalhos deste compositor, que passou um bom tempo em busca de sua própria musicalidade até redescobrir o prazer em compor canções, e hoje não consegue se imaginar sem lançar discos.

Segundo André, “Amor Atlântico” é um disco com “canções minimalistas focadas nas letras e no clima de trilha sonora”. Se os dois primeiros álbuns solo de estúdio eram discos de verão, “Amor Atlântico” soa como um disco outonal. É um disco delicado, reflexivo e bonito de um cara que gostaria (e merecia) de ouvir suas canções tocando em rádios, mas não vai parar de compor caso isso não aconteça. Ainda bem. Três perguntas pra ele:

Como você chegou ao formato de “Amor Atlântico”? Foi uma coisa pensada soar mais econômico, acústico?
Em cada novo disco que faço, o conceito surge derivado de como as cinco primeiras canções nascem. Disso eu não tenho controle. Simplesmente, como diz uma letra, eu deixo fluir. Mas fui percebendo que essa safra de novas músicas apontava pra um disco minimalista, focado na letra e música. Até mais na letra do que na musica. Então cheguei à ideia do clima de trilha sonora, que fechou o conceito: canções minimalistas focadas nas letras e no clima de trilha sonora.

Dia desses estava vendo em seu um foto sua moleque, com uma camisa do Slayer. O que ficou daquele garoto no André Mendes de “Amor Atlântico”?
Ficou tudo. Eu ainda sou aquele carinha radical e dono da verdade como qualquer headbanger é. Claro que as duas décadas que me separam de quem eu era naquela foto me deram um verniz, mas o feeling “punk” do “eu vou fazer o que eu quero, porra” ainda está aqui. O que eu queria agora era fazer um disco leve e minimalista. Pronto, está feito.

Como você vê o cenário musical em Salvador e no Brasil? Quais são suas expectativas em relação a musica?
Acho que estamos (vivendo) num cenário estranho. Ao mesmo tempo em que temos muita gente se mexendo e produzindo algumas coisas com muita qualidade, não transformamos isso em carreira, capitalistamente falando. Acho que pra muita gente falta o capital inicial pra dar um start. Pagar uma assessoria de imprensa, circular, construir público, tudo isso custa dinheiro, custo que era antigamente bancado pelas gravadoras. Hoje temos os editais, que não vejo com maus olhos, mas prefiro não entrar nessa. Se é pra ser independente, sou completamente independente.

Também sinto falta de um veículo, algum lugar que lance artistas independentes, novos. Algo tipo a Fluminense FM, o Cassino do Chacrinha, algum lugar que consiga alcançar um grande público, popular mesmo. Se tivéssemos esse lugar e artistas com grandes canções como, por exemplo, Jair Naves, a coisa caminharia. Mas a minha expectativa principal é continuar compondo e lançando as minhas músicas, que é o que eu simplesmente adoro fazer. Tudo mais que vier é lucro. E lucro é muito bem vindo.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

Leia também:
– “Amor Atlântico”: um disco essencialmente acústico que valoriza a canção (aqui)
– “Enfim Terra Firme”: para ouvir, se aquecer e abrir um sorriso (aqui)
– André Mendes: “Chegamos oficialmente no fundo do poço com “tchêtchêrêrêtchêtchê” (aqui)

Três perguntas para:
– Gaía Passarelli e Chuck Hipolitho falam do canal Gato & Gata (aqui)
– Russell Slater, editor do site britânico Sounds and Colours (aqui)
– Pedro Veríssimo: “A Tom Bloch nunca acabou, como muita gente pensa” (aqui)
– Explosions In The Sky: “Acho que você disse a palavra principal: emoção” (aqui)
– Oy: “Senti que a música deveria crescer, tornar-se mais abrangente” (aqui)
– John Ulhoa: “Agora vamos pensar um bocado em Pato Fu, e virá algo novo” (aqui)

4 thoughts on “Três perguntas: André Mendes

  1. Conheci o André aqui no site, e desde sempre virei fã. Todos os discos são bem acima da média. Que ele continue sempre caminhando (e compondo).

  2. Gostei muito desse disco, acho que vai entrar na minha lista de melhores nacionais de 2013, lembro da Maria Bacana…era uma boa banda.

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