por Marcelo Costa
Titulo Original: Jobs (2013)
Titulo Nacional: Jobs
É incrível como conseguiram errar em praticamente tudo em “Jobs”, cinebiografia que tenta, e fracassa miseravelmente, contar 20 anos da vida de Steve Jobs, desde a criação da Apple em uma garagem da Califórnia até seu retorno triunfal à empresa em 1996, quando retomou o comando da companhia – com certa dose de vingança. O primeiro grande problema de “Jobs” é o péssimo trabalho de roteiro, que na tentativa de abraçar um longo período de tempo, acelera passagens e, com ajuda da péssima edição, confunde o espectador. O desenho do personagem também não foi feito a contento. Fica a impressão de que o roteirista Matt Whiteley queria glorificar Steve Jobs, dando a ele uma carta branca para ser babaca com a justificativa de que o gênio tudo pode. E se houve um rei dos babacas na história da humanidade, Steve Jobs é forte concorrente para a coroa – o filme valoriza isso – passando amigos para trás, abraçando ideias de outros como se fossem suas, tratando funcionários com enorme desprezo e mesmo não reconhecendo a filha que teve antes de seu primeiro casamento (o roteiro, inclusive, não deixa isso claro, mas Steve só foi ver a primeira filha quando ela já tinha 8 anos de idade e ele já estava em um segundo relacionamento, com três filhos). Tanto particularmente quanto profissionalmente, Steve Jobs era odiável, e mais odiável ainda na leitura de Ashton Kutcher, um ator sem expressão e sem força. O diretor Joshua Michael Stern tinha um material inspirador nas mãos para construir um grande filme, e só conseguiu realizar uma imensa bobagem. Perda de tempo.
Nota: 1
Titulo Original: Renoir (2013)
Titulo Nacional: Renoir
Representante da França na corrida pelo Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, “Renoir” lança luz sobre a vida de dois grandes artistas: o pintor impressionista Pierre Auguste Renoir e seu filho, e futuro grande cineasta, Jean Renoir. A história se passa em 1915, em Cagnes-sur-Mer, quando Pierre Auguste (Michel Bouquet, em excelente caracterização), já com 79 anos, sofre com artrite e passa quase todo o tempo sobre uma cadeira (um exército de mulheres – empregadas, auxiliares e ex-amantes – o carrega ao seu estúdio), mas ainda pinta diariamente, boa parte de nus femininos, que irão dominar sua última fase. Jean (Vincent Rottiers, bastante contido) está com 21 anos, e junto ao irmão Pierre, 30 anos, defende a França na Primeira Guerra Mundial – os dois seriam afastados por ferimentos de guerra. O cineasta Bourdos trata com delicadeza seus dois personagens míticos em um verão em Côte d’Azur, quando Jean, de licença médica, retorna à casa do pai, e o auxilia nas pinturas. Os dois acabam envolvidos pela beleza agressiva de Andrée Heuschling (Christa Theret), modelo (“de seios lindos, corretos, iluminados”) que inspira o velho pintor enquanto enche de desejo o jovem soldado, transformando a vida dos dois Renoir: Pierre vive seu último grande momento artístico enquanto Jean descobre-se cineasta (por influência de Andrée, que viria a ser sua primeira estrela). Há uma profusão de cores na tela, belíssimas, e os quadros, pintados por uma famoso falsário de Renoir, impressionam em um filme elegante, artístico e bonito.
Nota: 7
Titulo Original: Après Mai (2012)
Titulo Nacional: Depois de Maio
1971. Não muito longe de Paris, um grupo de jovens revolucionários luta contra a força do Estado e da CRS, a tropa de choque do governo conservador francês, descendo violentamente o sarrafo (não muito diferente do que vem acontecendo em cidades brasileiras em 2013) em busca de justiça, direitos humanos e uma França moderna. Entre eles estão dois garotos que almejam ser pintores, uma jovem cineasta e vários outros jovens que querem acordar a nação para os atos revoltantes que vem ocorrendo desde o mítico maio de 1968. A revolução é uma das molas motrizes de “Depois de Maio”, grande filme de Olivier Assayas (o mesmo diretor de “Carlos”, o elogiado filme de 5 horas e meia sobre o Chacal), mas o diretor – de uma forma semelhante a Bertolucci em “Os Sonhadores” – está mais interessado em louvar a juventude enquanto observa seus personagens crescendo em um momento histórico, violento e conturbado. Gilles (o estreante Clément Métayer) é um dos jovens que quer se pintor e sua trajetória na trama oscila entre a paixão revolucionária e, como um Antoine Doinel pós 68, a paixão desencontrada por duas belas mulheres: a hedonista Laura (Carole Combes) e a engajada Christine (Laura Creton). Tendo como foco esse trio romântico de personagens, Assayas busca (e consegue com brilhantismo) reconstruir um período que influenciou diretamente na personalidade dos jovens que viveram aquela época. Se em “Sonhadores”, o externo não interfere no interno, em “Depois de Maio” ele modifica radicalmente o rumo dos personagens embalado por rock progressivo, pintura e política. E pelo futuro. Exemplar.
Nota: 9
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Leia também:
– “Os Sonhadores”, de Bertolucci, é um sonho quase perfeito de adolescentes (aqui)
– Três filmes: ‘A Datilografa’, ‘Fim de Semana em Hyde Park’, ‘Era Uma Vez Eu, Verônica’ (aqui)
– Três filmes: ‘Bling Ring (2011)’, ‘O Casamento do Ano’, ‘Tabu’ (aqui)
– Três filmes: ‘Tese Sobre um Homicídio’, ‘Truque de Mestre’, ‘O Amante da Rainha’ (aqui)
– Jean Renoir: ‘A Grande Ilusão’, ‘A Marselhesa’, ‘A Regra do Jogo’ (aqui)
Odiei a trilha sonora óbvia de JOBS. Me lembrou um pouco aquele filme OLGA. Na hora de ficar triste a música sobe, na hora em que ele tem um insight rola aquele sonzinho inspiracional. Tudo muito alto, tudo muito piegas.
De fato, Jobs erra em praticamente tudo. Uma lástima! Resta torcer para que o filme escrito por Aaron Sorkin honre a ótima premissa.