por Marcelo Costa
Titulo Original: Populaire (2013)
Titulo Nacional: A Datilografa
1959. Aos 21 anos de idade, Rose Pamphule (Déborah François) mora com seu pai em uma pequena vila francesa perto da Normandia. Ele é dono de uma mercearia, e quer que a filha se case com o filho de um mecânico, “o melhor partido da região”. A garota, no entanto, tem outras planos e opta por deixar a casa da família e ir trabalhar em uma cidade próxima fazendo a única coisa que sabe: datilografar (com apenas dois dedos). Ela consegue a vaga de secretária no escritório de um segurador, Louis Echard (Romain Duris interpretando o mesmo papel de sempre), e como você já deve imaginar o que irá acontecer daqui em diante, pouco importa a história, porque Regis Roinsard, que assina roteiro e direção, cria uma comédia romântica tolinha usando todos os elementos mais óbvios do gênero para criar clímax, anticlímax e final meloso, isso tudo não bastasse o péssimo tratamento de fotografia, artificial, que não consegue conferir vida às cenas, fazendo parecer que o espectador está diante de um novelão (sem contar o cenário, que parece… cenário). A sensação é de que o clima todo busca homenagear os filmes de Audrey Hepburn nos anos 50 e 60, mas o resultado é um pastiche que não chega aos pés dos filmes da época de ouro de Hollywood. Por incrível que possa parecer, até eles eram mais maliciosos e melhor acabados que este “A Datilografa” (para ficar no território francês, “Quando Paris Alucina”, de 1963, coloca “A Datilografa” no bolso), um filmezinho bonitinho para ver na Sessão da Tarde entre cochilos.
Nota: 4
Título Original: Hyde Park On Hudson (2012)
Título Nacional: Um Final de Semana em Hyde Park
Melhor começar por desfazer a confusão do titulo nacional: o filme não se passa no famoso grande parque de Londres, mas sim nos Estados Unidos, na casa de campo do então 32º presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt (Bill Murray, eficiente, ainda que o roteiro não ajude), em um fim de semana de 1939 (quando a Segunda Guerra Mundial está prestes a eclodir) em que o presidente recebe a visita do Rei George VI (o mesmo rei gago de “O Discurso do Rei”, aqui interpretado muito bem por Samuel West) e da Rainha Elizabeth (Olivia Colman), buscando parceiros para enfrentar o exército de Hitler. Paralelamente, Franklin Roosevelt, que, quando não está em Washington dirigindo a nação, mora com a mãe, vive um romance com sua prima, Margaret Stuckley (Laura Linney). O diretor Roger Michell quis dar o mesmo peso às duas histórias, e o resultado fica aquém do esperado. Na primeira, uma tradicional comédia de costumes choca o jeitinho norte-americano com a alta classe da realeza inglesa, e rende ótimos momentos (o episódio do hot-dog é sensacional). A segunda, um drama romântico, fica devendo pelo pouco carisma com que o roteiro trata o personagem de Franklin Roosevelt, que soa absolutamente apagado. Baseado em cartas escritas por Margaret, e encontradas embaixo de seu colchão após sua morte, aos 100 anos, “Um Final de Semana em Hyde Park” tinha tudo para ser um bom filme, mas alguma coisa faltou (talvez coragem) e o que veio para as salas de cinema é apenas uma boa história subaproveitada. Pena.
Nota: 5
Titulo: Era Uma Vez Eu, Verônica (2012)
Verônica (Hermila Guedes) mora em Recife, tem 24 anos e está passando por uma fase de transição bastante comum nesse período da vida. Ela ainda mora com o pai, José Maria (Waldemar José Solha, de “O Som ao Redor”) e acabou de se formar em Medicina. Sai de cena a vida descompromissada do meio estudantil e entra no lugar a responsabilidade profissional, numa equação que não envolve apenas salário e dinheiro, mas principalmente a relação com outras pessoas, no caso de Verônica, no cotidiano de um ambulatório de hospital público. Ao mesmo tempo em que tenta entender o problema de seus pacientes, Verônica se torna sua própria paciente, e começa a estudar essa fase de crise, que ainda envolve um possível romance com Gustavo (João Miguel de “Estômago”), e que marca a transição da adolescência para a maturidade, momento que muitos (cada vez mais) costumam querer retardar ao máximo (e Verônica não será diferente) O diretor e roteirista Marcelo Gomes (“Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo”, de 2009, e “Cinema, Aspirinas e Urubus”, 2005) observa com delicadeza seu personagem central, e não interfere na trama a ponto de dizer ao espectador o que ele “precisa” entender do filme, muito pelo contrário, dispõe uma sequencia de cenas aparentemente desconexas, deixando para o público o dever de montar o pequeno quebra-cabeça que Verônica é para cada pessoa. Objeto lúdico, “Era Uma Vez Eu, Verônica” ganha força na interpretação grandiosa de Hermila Guedes, e seu grande mérito é dizer mais sobre quem assiste do que exatamente o que exibe na tela.
Nota: 7,5
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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