“We All Raise Our Voices To The Air”, The Decemberists (EMI)
por Adriano Costa
Após dez anos de carreira e um disco de grande sucesso (“The King Is Dead”, 2011), o Decemberists repensa a trajetória com um CD duplo ao vivo (o vinil é triplo) que traz 20 canções que retratam toda a carreira da banda até aqui (com números de todos os álbuns, e algumas raridades como “Oceanside”, do EP “5 Songs”, de 2003, e “Dracula’s Daughter”, gravada apenas em “Colin Meloy Sings Live”, registro que o líder do grupo lançou em 2008). As gravações foram feitas no ano passado em 12 cidades distintas e vários são os momentos de luminosidade (como “Calamity Song”, “Down By The Water”, “The Soldiering Life”, “Rox In The Box” e “The Rake’s Song”), com destaque para a versão intensa de “Leslie Ann Levine”, do álbum de estreia, “Castaways and Cutouts” (2002), mas das suítes com mais de 10 minutos que a banda tanto gosta de fazer (três estão presentes aqui), apenas “I Was Meant For The Stage” funciona realmente, o que mostra que liberdade que faz do Decemberists uma das melhores bandas em atividade também pode atrapalhar em alguns momentos.
Preço em média: R$ 40 (lançamento nacional)
Nota: 8
Leia também:
– “The King is Dead”: alt-country extremamente tradicionalista, por Marcelo Costa (aqui)
– The Decemberists ao vivo em Columbus, Ohio, 2011, por Marcelo Costa (aqui)
“Criôlo”, B Fachada (Mbari)
por Pedro Salgado
B Fachada é um músico que divide opiniões. Os seus fãs gabam-lhe a originalidade e o sentido estético e os detratores criticam a voz afetada e alguns maneirismos. Entre a paixão e o escárnio é possível entender que o autor de “Kit De Prestidigitação” nunca faz um disco igual e que procura explorar novas formas de prolongar a sua arte e mensagem. “Criôlo” sucede o equilibrado disco homômino de 2011 e representa um passo a frente. “Felizmente ainda há prazer navegar navegar navegar a nação e renascer afro-xula para dançar”, ele canta na excelente “Afro-Xula”, em que uns teclados retro animam uma cadência angolana. Embora o título do álbum sugira um flerte com ritmos africanos, o que a humorada “Tendinite” justifica, o músico português assina alguns momentos pop como “Carlos T”. A subversão anima a faixa dub “Quem Quer Fumar Com O B Fachada”, sobre o consumo de baseados, numa prova de que as realidades mundanas também habitam o novo trabalho. Com “Criôlo”, B Fachada atinge o zénite da sua criatividade, mas, como todos os pontos altos, poderá ser superado futuramente.
Preço em média: R$ 14 (lançamento digital e streaming no Bandcamp)
Nota: 9,5
Leia também:
– A tradição inovadora de B Fachada, por Pedro Salgado (aqui)
“El Nuevo Magnetismo”, El Mato a Un Policia Motorizado (Senhor F)
por Marcelo Costa
Formado em La Plata, na Argentina, em 2003, o El Mato é daquela estirpe de bandas dispostas a construir hinos. A receita, simples, junta doses de guitarradas à lá Pixies e Sonic Youth ao gancho pop do Radiohead fase “The Bends” tocados com a urgência do Ramones. Esta bela coletânea, com 14 faixas selecionadas a dedo por Fernando Rosa, do selo Senhor F, passa a limpo oito anos de carreira dos portenhos (tempo em que eles lançaram um álbum e uma trilogia em EPs) com registros que flagram a crueza do início de carreira (principalmente no trio “Sabado”, “Tormeto Roja” e na rara “Sobredosis de Droga”) até a construção de pequenos hinos guitarreiros como “Chica Rutera” (cuja repetição intensa de uma única frase – “Espero que vuelvas, Chica rutera” – abre espaço para um belíssimo trabalho de guitarras enquanto o vocalista Santiago rasga a voz em diversos tons), “Amigo Piedra”, “Mi Proximo Movimento” e “Navidad em Los Santos”, esta última em duas versões, uma delas ao vivo no Festival El Mapa de Todos, em Porto Alegre, 2011, com a participação de Andrio Maquenzi (Superguidis) nos vocais. Para ouvir e se tornar fã.
Preço: R$ 20 (na loja da Monstro Discos aqui)
Nota: 9,5
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