por Elson Barbosa
Kurt Vile é um artista praticamente desconhecido no Brasil. Prolífico, desde 2009 lança mais de um álbum ou EP por ano. Seu primeiro grupo, The War on Drugs, chegou a lançar um disco pelo respeitado selo Secretly Canadian, “Wagonwheel Blues” (2008), mas pouco depois Kurt optou pela carreira solo (The War on Drugs segue na ativa sem ele, sendo que “Slave Ambient”, álbum de 2011, bateu no número 127 da Billboard).
Seus dois primeiros álbuns oficiais – “Constant Hitmaker” (2008) e “God Is Saying This To You” (2009) – são coletâneas de faixas antigas, gravadas de forma caseira, e chamaram a atenção do selo Matador, que contratou Kurt em maio de 2009. Em outubro do mesmo ano, “Childish Prodigy” viu a luz do dia, mas foi com “Smoke Ring For My Halo” (2011) que Kurt conseguiu cravar seu nome em diversas listas de melhores do ano em veículos como Mojo, Uncut e Pitchfork.
Incansável, Kurt já lançou outro EP e se prepara para entrar em estúdio nos próximos meses. “Tenho uma página cheia de ideias de títulos anotadas”, avisa em conversa por telefone com o Scream & Yell. Porém, antes, Kurt Vile desembarca ao lado de sua banda de apoio (os Violators) e do ex-Sonic Youth Thurston Moore para uma série de apresentações no Brasil (11/04 em Porto Alegre, 12/04 em São Paulo e 13/04 no Rio. Veja os locais e informações de ingressos aqui).
Nesta bate-papo bem humorado, Kurt relembra o tempo em que lançava discos por conta própria, fala sobre a vantagem de se estar em um selo conhecido e respeitado como a Matador, e conta de como tocou (e ensaiou) um cover de Joni Mitchell com Thurston Moore durante um set acústico em uma loja de discos. Com vocês, Kurt Vile.
Fiz uma rápida pesquisa na internet sobre o seu trabalho e a primeira coisa que chamou a atenção foi o quanto você é prolífico, lançando mais de um álbum ou EP por ano. Como é ser esse “constant hitmaker”?
Bem, eu escrevo música há bastante tempo, desde quando tinha mais ou menos 23 anos [Kurt hoje tem 32]. Por volta de 2006 resolvi começar a lançar algumas músicas por conta própria, uma espécie de “Greatest Hits Que Ninguém Nunca Ouviu” (risos). Tenho bastante material guardado. Quando a Matador lançou “Childish Prodigy” (2009), boa parte desse material tinha dois ou três anos de idade. E “Smoke Ring For My Halo” (2011) já era de material mais recente. Mas ainda tenho músicas guardadas nesse arquivo.
Você tem planos de lançar esse material antigo?
A maior parte eu já lancei. Ainda tenho bastante material guardado, mas as músicas que eu gostaria que vissem a luz do dia já foram lançadas.
Sendo tão prolífico, você já está escrevendo material novo para lançar esse ano?
Sim, já tenho algumas canções escritas. Das faixas que mais gosto cerca de 80% já estão completas, e tenho uma página cheia de ideias de títulos anotadas. Já comecei a filtrar esse material para o próximo disco. Vamos começar a trabalhar nele dentro de algumas semanas, mas somente quando voltarmos da turnê depois do verão que vamos entrar a fundo na produção do disco.
Alan McGee escreveu um texto para o Guardian (link no final) no qual ele fala sobre a “cultura CDR” mencionando você como exemplo de alguém que lançava seu próprio material. Quais as diferenças entre essa época e agora que você lança por um selo como a Matador?
A Matador é um selo cool o suficiente para aceitar lançar trabalhos lo-fi gravados em casa, no esquema DYI [do it yourself]. Mas claro que é legal trabalhar de forma mais profissional. Eu continuo fazendo música caseira numa estética DIY, mas também estamos cada vez mais profissionais, gravando em estúdios da melhor forma possível. Acho que estamos no melhor dos dois mundos. Gosto de lançar EPs e singles, e neles dá pra fazer algo mais estranho. Digo, dá pra ser estranho nos álbuns também, se você não quiser ser acessível ou comercial ou pop você não precisa ser. Mas se quiser manter um trabalho consistente é ideal fazer um trabalho mais focado.
O seu último trabalho, “Smoke Ring For My Halo” (2011) foi muito bem aceito pela crítica, chegando a aparecer em diversas listas de melhores do ano como a Mojo, Uncut e Pitchfork. Como foi isso?
Foi muito legal, fiquei muito feliz, não poderia ter sido melhor.
Você tocou em duas edições do festival All Tomorrow’s Parties, sendo convidado por curadores como Jim Jarmusch e Animal Collective. Como foi a experiência?
Foi ótimo. Jim Jarmusch foi muito educado. Comentei que gravei uma música dedicada à ele no EP “Square Shells” (2010), e ele respondeu [imita uma voz formal]: “Sim eu ouvi isso, mas não pense que foi por isso que estou te convidando” (risos). Ele é muito legal, quase como um pequeno herói pra mim. Os caras do Animal Collective foram super legais (também). Eu já havia feito shows abrindo para o Panda Bear e para o próprio Animal Collective. Foi ótimo.
E sobre os shows no Brasil. Você vai tocar solo ou com os Violators?
Com os Violators. Eu toco uma ou outra faixa solo durante o show, mas o principal será com eles.
Achei um vídeo no YouTube com você tocando uma cover de Joni Mitchell junto com o Thurston Moore. Vocês pretendem repetir a experiência aqui?
Não sei, nós não falamos nada sobre isso, não combinamos nada. Pode até rolar. Essa apresentação foi em uma loja de discos. Nós só havíamos trocado alguns emails antes, e na hora foi tudo improvisado. Ensaiamos rapidamente nos fundos da loja, e tocamos. Foi bacana, espero que façamos de novo algum dia.
Seria legal se rolasse aqui no Brasil.
Seria legal mesmo. Eu deveria chamá-lo para tocar guitarra no show. Vamos ver.
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– Elson Barbosa toca baixo no Herod Layne e é um dos capos do selo virtual Sinewave
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– “The rise of CD-R culture”, texto de Alan McGee para o jornal britânico Guardian (aqui)
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