1000 Toques por Marcelo Costa
“Recanto”, Gal Costa (Universal)
Enquanto o terceiro rebento de Caetano ao lado da banda Cê não vê a luz do laser (libera a verba, Paulinha, por favor, pode vir coisa bem boa), o homem que adora opinar sobre tudo e todos conseguiu vender um projeto interessante, que até você que está lendo, caso fosse diretor de gravadora, teria comprado: um disco composto apenas por canções inéditas suas cantado por Gal Costa quebrando um silêncio de seis anos sem lançar discos da cantora. Bonito e vendável, certo? Errado. Seguindo os passos radicais de seus dois últimos discos de estúdio (os bons “Cê”, de 2006, e “Zii e Zie”, de 2009), Caetano pega Gal pela mão e a leva por um território inóspito e quase surreal habitado por alfinetas de eletrônica e rara melodia. “Recanto” é econômico, corajoso e… fake, especialmente porque a voz de Gal não se encaixa na métrica e falta de corpo de várias canções – como a electro “Neguinho”, em que a voz da cantora soa robótica, e por isso sem alma, cansada, entendiada, adjetivos que servem a várias canções do disco. Esse desencontro forçado entre interprete e arranjos não só coloca a perder um repertório de boas canções como flagra o desmascaramento do wannabe: Querer ser (moderno) é uma coisa. Ser é outra.
Preço em média: R$ 25
Nota: 6
Leia também:
– “Multishow ao Vivo”, Caetano Veloso e Maria Gadú, por Marcelo Costa (aqui)
– Caetano Veloso ao vivo em São Paulo, 2009, por Marcelo Costa (aqui)
“O Que Você Quer Saber de Verdade”, Marisa Monte (EMI)
A cada cinco anos, o contador consulta o saldo das finanças e avisa: “Marisa, hora de gravar disco novo”. É uma cena hipotética, claro, mas os longos intervalos (a média, desde 1994, é de cinco anos e meio entre um álbum e outro) mostram um desprendimento discográfico que pode simbolizar falta do que dizer, medo (das mudanças, do possível fracasso, dos limites) ou pouco caso. Mas ela volta enfrentando os “fantasmas” com as mesmas parcerias de sempre, os mesmos coverizados de sempre e aquela produção tão fechada em si mesma (e naquilo que a tornou Marisa Monte) que a lista de músicos participantes é apenas uma curiosidade dispensável (tente reconhecer a cozinha da Nação Zumbi ou a voz de Rodrigo Amarante nas canções). É a fórmula MM. Porém, num momento que boa parte da nova cena brasileira usa o samba como ponto de partida para o futuro, algo que Marisa havia feito com inteligência em dois álbuns clássicos dos anos 90 (“Mais”, de 1991, e “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão”, de 1994), soa comodismo excessivo a cantora lançar um álbum feliz, que reverencia o passado sem desafiar o mercado. Para vender e colocar as finanças no azul. Ela pode mais. Ou talvez achássemos que poderia…
Preço em média: R$ 29
Nota: 5
Leia também:
-Dez perguntas para Marisa Monte, por Marcelo Costa (aqui)
“Longe de Onde”, Karina Buhr (Coqueiro Verde)
Lançado em outubro do ano passado, “Longe de Onde” é a sequencia natural do trabalho autoral de Karina após a bela estreia solo com “Eu Menti Pra Você”, de 2010. Ela assina as 11 músicas do disco (apenas uma delas dividida com músicos de sua banda) e novamente divide a produção com o baixista Mau e com o baterista Bruno Buarque, mas continua saltitando livre entre sonoridades setentistas (o zumbido de guitarra que abre “Cara Palavra” é puro Lanny Gordin enquanto “A Pessoa Morre” poderia ser uma canção d’Os Mutantes), reggae (“Cadáver”), surf music (“Guitarristas De Copacabana”), psicodelia (a matadora “Não Precisa Me Procurar”) e xameguinhos como o da aconchegantemente contraditória “Não Me Ame Tanto”, de sotaquezinho jovem guarda e clima de veraneio, e a doce “Amor Brando”. Acompanhada por uma super banda que conta com Fernando Catatau e Edgard Scandurra nas guitarras, Guizado no trompete e André Lima nas teclas, Karina exibe uma qualidade e frescor que anda fazendo falta no mainstream nacional.
Preço em média: R$ 17 (download gratuito em http://www.karinabuhr.com.br/)
Nota: 8,5
Leia também:
– “Eu Menti Pra Você”, de Karina Buhr, 6º melhor disco de 2010 no Top 7 Scream & Yell (aqui)
– “Vou Voltar Andando”, o melhor disco do Comadre Fulozinha, por Adriano Costa (aqui)
Sensacional a sequência de Karina Buhr.
Ela está mais rock’n roll e até mais irônica que em Eu Menti Pra Você. Está no Top 5 fácil. Quando fui ao show dela no Sesc Pompeia fiquei impressionado com a irreverência e a puta presença de palco que ela tem.
Marisa Monte e Gal Costa ficam no chinelo diante desse discaço!
Abs!
Karina tem um som arraigado.
A nova pernambucanicidade.
Sempre fui muito fã da Marisa, achava(ainda acho até certo ponto da carreira) que ela tinha pego o bastão da Gal(em termos de vanguarda e talento vocal) na chamada linha evolutiva das cantoras. Como diria Caetano.
Mas ela caiu demais!
Mac, sempre associei o desprendimento fonográfico dela a esmero/respeito em relação a carreira. Tipo: Só gravo quando eu achar que tem coisa muito boa.
Enfim, essa aí já era. Pena morrer artisticamente tão cedo.
Com relação a Gal, concordo contigo. O disco é bem experimental, corajoso e fake.
O som não parece ter nada a ver com aquela senhorinha burguesa e roliça.
É coisa de Mano Caetano.
Já minha conterrânea Karina eu só curto como backing do Eddie ou um disco, como o novo do Bid, em que ela cante uma ou duas músicas.
Acho sua voz bem enjoadinha.
Mas, sem dúvida, a cabeça pensante dela vale a pena. É bom que exista.
PS: Quase que nesse post estavam minha linha evolutiva de cantoras.
Troco a Karina pela Céu.
Caetano é uma farsa. Cê é uma farsa. o novo da Gal é uma farsa.
Caetano não é uma farsa. É desconhecimento dizer isso. mas há um fato de que desde os anos 80, a Gal deixou de ser a mesma cantora que teve discos como Gal (69), Fatal, Legal e Cantar. a Gal dos anos 60 e 70 não tem nada a ver com a cantora que passou a se achar diva. e isso foi desastroso para a carreira dela. Concordo com o zé. A marisa foi relevante até, na minha opinião, barulhinho bom. de lá para cá, deu voltas em torno de si mesma. e é uma pena, pois foi extremamente importante durante um período. Só não entro muito nessa ideia tola de achar que tudo que caetano faz é fake. virou moda dizer isso, mas acho que o disco ficou meio despropositado. gal deveria fazer como a bethania…ela exala respeito.
Zé Henrique, concordo em tudo que você disse sobre a Marisa, e talvez fosse mesmo esmero, mas o fato é que, agora, o disco soa uma gravação mais por obrigação do que por prazer, né.
Sobre a farsa ou não de Caetano: ser ou não ser fake, eis a questão? 🙂 Primeiro ponto: a farsa muitas vezes não desqualifica a arte (por outra via podemos contar nos dedos das mãos artistas que acreditamos serem honestos, e ainda assim não podemos afirmar o mesmo com certeza). Há muito a ganhar com as farsa na arte sabendo utiliza-la (Malcolm Mclaren foi mestre nisso).
Desta forma, não vejo o adjetivo fake, neste caso em particular, com um tom explicitamente negativista. Pra mim, o álbum soa despropositado (usando um adjetivo do Ismael) pela busca do fake, da provocação (algo tão ligado ao Caetano na música quanto a Almodóvar no cinema), que acaba resultando em um objeto rarefeito, que não é ruim (embora tenha momentos ruins – e bons também, principalmente nas letras), mas incomoda pela sensação forçada da coisa toda. Wannabe total.
Ainda assim vejo com muito mais valor uma tentativa como esta do Caetano (e, por conseguinte, da Gal) do que o lugar comum, a zona de conforto da Marisa. Do ponto de vista de carreira, ambos poderiam ter lançado grandes álbuns partindo de onde partiram (afinal é possível fazer grande arte mesmo dentro da zona de conforto, sem arriscar um milimetro que seja – exemplos existem aos montes), mas o resultado, para mim, ficou aquém do esperado nos dois casos.
Abraços
O único problema aqui é ver uma “linha evolutiva” nessas três cantoras. É uma linha involutiva, infelizmente.
Pô, muitos amigos (principalmente a ala feminina) tinham estas expectativas com relação a Marisa Monte. Mas eu, sei lá, nunca vi essa coisa vanguarda nela, não. Pra mim, no máximo, isso aparecia como um possibilidade evolutiva, nunca concretizada. Na verdade, acho que a mulherada (as contoras) precisam é se libertar destes modelos elis/marisa/gal. Durante muito tempo mal conseguia ouvir uma mina no Brasil cantando, pois logo vinha aquela entonação, aquela interpretação chupada de uma dessas matrizes aí. Nessa sentido, Cássia Eller era um puta alívio, tanto interpretativa quando comportamentalmente falando. Outra postura, outra abordagem. Ainda bem, as minas parecem estar, lentamente, conseguindo romper com essa estagnação. Antes o último disco da Ceu (bom pra caramba) do que qualquer lambe saco de elis etc etc etc. É preciso procurar novos sons, sempre. E não é ficando eternamente na sombra de musas do passado que as gurias vão se afirmar. Obviamente, estes nomes clássicos marcaram época por mérito próprio, por terem trazido algo novo e relevante. Cabe à nova geração buscar o mesmo, mas por outros caminhos…
Três bostas.
nessa linha do que o paulo comentou é interessante perceber que há um fluxo maior de cantoras compositoras, que cantam seu próprio repertório, como a karina buhr mesmo, a céu, a mariana aidar, e outras. é uma geração bem boa de cantoras
Boa observação, João. Abaixo um trecho de uma entrevista do Romulo Fróes em que ele salienta exatamente isso:
“Todo mundo compõe nessa geração, mas a novidade é que as cantoras compõem. É uma espécie de premissa. Você não pode mais ser cantora se não compor. A Nina (Becker), a Thalma (de Freitas), a Karina (Buhr). E mesmo as cantoras intérpretes, porque o trampo da Karina não é só dar a voz, é tudo, e não é à toa que a acho uma das melhores letristas. Ela está se esforçando pra isso. Mas uma cantora como a Mariana (Aydar), que é espetacular, brilhante e podia ter todos os compositores a seus pés, eu em primeiro lugar, mesmo ela quer compor, porque ela acha que precisa. Não tem mais a Maria Bethânia que fica no Olimpo: “Por favor, mandem chamar os compositores”. A coisa do homem compondo desde os anos 60 já é realidade, mas cantora é novidade”
A linha evolutiva, meu caro Cel, não é no sentido da próxima ser melhor que a anterior. E sim ter anseios artísticos, postura e qualidade(cada uma com a cara do seu tempo) parecidos.
Vejo na Gal dos anos 70, na Marisa dos primeiros 4 discos e na Céu de hoje uma grande semelhança.
Cada qual se cercou com alguns dos melhores de sua época para fazer, sim, música de vanguarda. Com o grande mérito de não soar chata, cabeçoide.
Mac, eu nem sei o que pensar mais dessa Marisa. Não saberia dizer se ela gosta mesmo ou canta profissionalmente(pela grana e fama) essas músicas bobocas que tem gravado. Pra mim é incógnita.
Quanto a Mano Caetano. Quem faz a fama deita na cama.
PS: Paulo, assino embaixo o que disse sobre a Cássia Eller.
Comento apenas para deixar o nome embaixo do nome do autor: concordância plena.
Gente, desculpem, mas nem que Marisa Monte e todas as outras cantoras que vieram depois ou no mesmo tempo que ela reencarnassem e se juntassem, não fariam nada como os discos que a Gal gravou em 1969/70. Ouçam lá, por favor, vocês estão precisando. Nem em termos de repertório, interpretação, sintonia com o contexto cultural. Nada. E concordo sobre esse disco novo dela ser lastimável.
CEL, apesar de achar que esse é um argumento que não leva a lugar nenhum (pode se encerrar qualquer discussão sobre música dizendo que os Beatles fizeram antes e melhor, o que geralmente não quer dizer nada sobre o assunto – além de soar apocalíptico, afinal, se tudo já foi feito antes, e melhor, por que estamos todos aqui mesmo?), há algo nessa afirmação que pode resultar em uma boa discussão: qual o melhor disco de uma voz feminina no Brasil? Será algum dos cinco da Gal entre “Gal Costa” de 1969 e o “India”, de 1973, ou algum da Elis, da Rita, Elizeth, Bethania, Elza?
Comparar os discos de Gal dos anos 1970 com dois cds lançados em 2011 é anacrônico e soa como uma justificativa apelativa. O cd da Karina Buhr foi o melhor destes três lançados em 2011, e isso é quase unanimidade perante os críticos.
Acho que dá pra arrumar uma boa briga com Elis, Nara, Rita e Baby Consuelo (com nos Novos Baianos). Sobre o tom apocalíptico das comparações com MM e KB, sinto muito, eu acredito piamente que a música pop já passou por seu melhor momento e vive um processo irrefreável de perda de qualidade/relevância. Há momentos de falha na Matrix e algo imprevisível aparece, mas, infelizmente, são eventos cada vez mais raros…
David, talvez seja um cacoete de análise da minha parte, mas, acho que é possível, sim, comparar discos de 1970 com discos de 2011. Por que não? Se a gente restringir a visão sobre o que é feito em termos de arte, ficaremos presos apenas no hoje, sem memória e sem visão do futuro, cada vez mais ignorantes de tudo. Essa coisa de não olhar para o passado/futuro e abraçar uma modernidade vazia e oportuna de duração limitada, matou a criatividade.
Não precisa sentir muito, hehe, não há problema você acreditar nisso, mas é preciso saber que essa é a sua verdade. 🙂 A minha verdade é diferente. Para mim, estamos em uma encruzilhada histórica que pode render muita coisa, ou absolutamente nada. Quem vai saber?
Cel, eu sempre ouço esses discos da Gal. Gosto pra caralho!
Acauã do Gonzagão com a guitarra de Lanny Gordin comendo solta, por exemplo, é a mesma coisa(em termos de representatividade) que Águas de Março versão Marisa Monte com David Byrne e Rosa, Menina Rosa versão céu com Los Sebosos.
Sabe quando vc diz que tal pessoa lembra a outra? Não é que é indêntica.
Apenas lembra – uma boca, um olhar, um sorrido…
Pra mim Chico Science e Nação Zumbi lembra os Novos Baianos. Não no som, mas no que representou. Na linha evolutiva da música de qualidade.
No mais, como o Mac bem colocou a fila anda.
Marisa fez coisas lindas, cara. Ela cantando Dança da Solidão do Paulinho da Viola é sublime e Ceú com sua voz de veludo e seu som próprio se destaca fácil da manada de novas cantoras.Com o Vagarosa(discaço) mostrou que não irá pelo caminho mais fácil. Ouça Nascente.
Mac, se valer disco ao vivo eu voto no Fa-Tal.
PS: Pra ser justo com a caída Marisa o Universo ao Meu Redor(o de samba) faz jus aos seus primeiros discos.
David,
cada um com suas preferencias mas fatos sao fatos: Recanto obteve cotação maxima dos 3 maiores jornais do país, quer se goste deles ou nao. Folha, estadão e o globo.
Foi alvo de artigo de capa ultra elogioso do Pedro Alexandre Sanches na revista Bravo.
Recanto também foi eleito disco do ano numa enquete executada pelo jornal Valor economico e pelo site do uol onde participaram criticos respeitados como Tarik de Souza, Carlos Callado e Mauro Ferreira, quer eles sejam conservadores ou nao.
Recanto freguentou varias listas de melhores do ano, como do jornal o globo, da MTV, da Globo News e de varios blogs alternativos.
Para finalizar o disco foi tema recente de artigos do hermano vianna, do Joao paulo cuenca e do Felipe Hirsch na imprensa onde eles o apontam como um dos discos do ano.
O disco da karina, embora seja excelente, na imprensa mainstream nao obteve essa resposta tão positiva que vc informa.
Concordo com o Mac, a música brasileira vai bem pra caramba.
Muita coisa boa, relevante.
Eu gosto de ter um pé no passado e outro no presente.
Os dois pés no passado ou os dois no presente, por incrível que pareça, causa desequilíbrio e o futuro fica comprometido. :>)
Para deixar claro,
sou um que joga no time do cuenca , do hermano e do felipe, acho Recanto um disco excepcional.
Só quem nunca ouviu o cantar de 74 ou o disco de 69, ou desconheçe a historia artistica dela pode achar que Gal está fria, deslocada em Recanto ou que o disco seja Fake.
Recanto dialoga o tempo todo com esses dois discos anteriores e varias letras são biografias cifradas dela ou evocam a sua figura e ação.
Gal sempre foi uma cantora impressionista, de interpretação éterea e é por isso que voce escuta o menino e aquilo soa atemporal. A voz dela flana sobre a melodia e a massa sonora, exatamente como a escutamos em cantar, outro disco dela produzido pelo Caetano.
Caetano correu atras do cool da voz de Gal e particurlamente acho essa opção estetica a mais acertada. É o contraste do peso eletro e da leveza da voz de Gal que faz recanto ser esteticamente tao contundente.
Quem nao for preguiçoso é só acessar no youtube a entrevista faixa a faixa do cd para ver que Caetano pedia para Gal cantar como se entivesse conversando, passeando por cima das melodias, sem explicar a letra.
Marcelo T, esse desencontro entre imprensa mainstream e imprensa nanica (para usar um termo anos 80) diz mais sobre a própria imprensa (e suas particularidades de mercado) do que sobre o disco da Gal. Ronaldo Evangelista, que por sinal é responsável pela entrevista com Gal e Caetano na Rolling Stone #58, foi mais incisivo do que eu sua crítica na Rolling Stone #63: “canções cabeça e modernidade de butique”. Ainda assim, não é porque fulano ou zezinho escreveram bem (ou mal) que isso torna o disco bom (ou ruim). Eles gostaram. Eu (e muitos outros) não. Talvez, assim como “Araça Azul”, seja um disco para entendidos. Ou para quem está preocupado (impressionado) com a capa do livro.
Você escreve “Só quem nunca ouviu” tais discos pode achá-la fria. Eu ouvi, tenho todos esses discos (e os demais pós-Lanny também). E acho frio. Tenho esse direito. E acredito ainda que a frieza faz parte da proposta do fake, do conceito do álbum, como comentei expliquei no comentário 5. Ainda: a dialogação é uma coisa, a contextualização é outra. Naquele época, quando lançou seus primeiros discos, Gal tinha 20 e poucos anos, e vivia aquele cenário, aquela efervencência, aquele movimento tropicalista, ou seja, é algo de que ela participava in loco, e mais do que isso: vivia aquilo. A Gal de hoje, aos 66 anos, não vive “Recanto”. Ele é um produto de produtor, de um cara que sofreu um revés sentimental, lançou um disco excelente (“Cê”) e se perdeu na liberdade pessoal e profissional (o que explica o desfoque de “Zii e Zie” – falo sobre isso no texto sobre o show da turnê linkado no fim da resenha do álbum da Gal), dai teve a ideia desse disco. O que há de Gal nesse disco? A voz, e mesmo a voz (por provocação, conceito) está insegura.
A raiva legitimava “Cê”, a escolha do rock, da nova banda. O que legitima “Recanto” é a vontade de ser “muderno”. Mas, voltando a frisar: vontade de ser é uma coisa; ser é outra.
” lançou um disco excelente (”Cê”)” – uma coisa que eu nunca, jamais vou conseguir entender, é como gente de opinião tão respeitável quanto vc, Mac, consegue realmente achar o Cê uma grande coisa.
Não só eu, jw: “Cê” foi disco do ano do Scream & Yell em 2005 com 25 votos. Ou seja, mais 24 pessoas votaram nele (o que também não garante nada – risos): http://www.screamyell.com.br/outros/listas/2007disconacional.htm
isso é um mistério pra mim. rs
“Jornalistas mortos não mentem” 04
Melhor cantora de todos os tempos é Elis. E na minha opinião a Gal morreu tem gente que não viu a hora de parar e tal. O disco da Karina é ótimo mas nada pra dizer que ela é a melhor/maior cantora. A performance de palco dela é incrivel, o disco é legal mas a Céu por exemplo é muito melhor cantora, enfim.
Boa discussão. Mas, fiquei pensando, e o que estaria fazendo Cassia Eller na cena atual?
O fato é: não há mais cantoras como antigamente, certo? E isso é bom? Isso é ruim?
Nem bom, nem ruim, acho eu (tirando, claro, do “não há mais cantoras como antigamente” o julgamento de valor). É apenas outra época com outras cantoras. Tenho tanto prazer em ouviu o disco da Céu, da Tulipa, da Karina, da Luisa Maita, da Nina Becker quanto da Elis, da Gal, da Bethania, da Elza, da Nara.
Mac,
Me desculpe, mas Caetano também nao vive o universo “contextualizado” do Ce. Ele flagrou o ambiente musical do moreno e o puxou para si.
O que é otimo e salutar. Arte não é tudo aquilo que somos e sim o que podemos ser, o que fomos e o que queremos ser.
Dizer que nao existe nada de Gal em Recanto, é desconhecer o significado mais profundo da letra de Recanto, de Autotune autoerotico, de O menino, mansidão, madre deus e desconher o momento tb delicado que Gal viveu nos ultimos anos e que Caetano deixa claro no Release do disco. Enfim, é desconhecer o jogo que o titulo abortado do disco propunha: é nós, é eu. É menosprezar a “contextualização” do jogo proposto ja na bela direção de arte da capa que flagra os dois no festival de ilha de wight e cita o filme melancholia.
PS: quem escreveu a materia da RS quando o disco ainda estava em fase de gravação nao foi o R.Evangelista e sim Marcus Preto que deu cotação maxima ao disco na Folha.
Mac,
agora nao sei se foi mesmo o Preto ou o Evangelista, na RS 58 mas enfim…vc pode confirmar…
E para, digamos, jogar um pouco mais de brasa na discussão, um dos mais entusiasmados com Recanto se chama Romulo Froes, alias, que Gal ja gravou.
Romulo nao cansou de citar o disco em sua pagina do face como a maior alegria musical que ele teve no final de 2011 e em recente entrevista de capa no segundo caderno do O Globo, falou de Recanto como um dos discos mais bonitos do ano e citou a coragem de Gal e Caetano em propor um disco mais complexo, triste e dificil do que o mercado espera.
Vamos lá, xará:
1) Quem entrevistou Gal e Caetano para a RS #58 foi o Ronaldo. A crítica (da edição #63) está aqui: http://rollingstone.com.br/guia/cd/recanto/
2) Ontem tuitei um trecho do livro “O Restou é Ruído”, do Alex Ross, em que Richard Strauss saúda a chegada de Hitler ao poder: “Graças a Deus! Finalmente um chanceler que se interessa por arte”. Não é porque Strauss acreditava que Hitler é um ótimo chanceler que devemos achar o mesmo, certo? No fim tudo são opiniões. Eu tenho a minha, o Ronaldo tem a dele, o Marcus tem a dele, o Romulo tem a dele. E o disco não me convence. Eu gostaria de poder ter o direito de achar um disco uma merda (e olha que nem é o caso, pois até acho o disco interessante – tem discos aqui que receberam de nota 0 a 1, e esse da Gal foi nota 6). O problema é querer arranjar uma desculpa para não aceitar a opinião do outro. Mas paciência.
Mac,
vc tem todo o direito de achar o que quiser. Só que acho relevante, como informação, informar que os versos escritos em recanto escuro são sobre Gal Costa. Que ” a voz global americana ” de Autotune é a voz de Gal. Que o menino descrito na letra de “O menino” é sobretudo o gabriel, filho adotivo de Gal, aquele que rema contra a maré para trazer alegria a um coração escuro.
No fim é assim: na ultima decada a imprensa cobrou que Gal arriscasse e saisse da zona de conforto onde havia estacionado a tempos. Quando ela o faz guiada ou nao por Caetano ( seu parceiro desde sempre) e porque o que importa é o disco , o produto final e nao a metodologia de execução e afinal sua profissão é ser cantora e cantora, ate ordem em contrario, canta, ela é fake. difícil.
O que me consola é que transa, tropicalia e cantar para ficarmos em alguns disquinhos basicos foram detonados quando lançados.
Se alguém disse que era fácil, mentiu
🙂
Lendo o comentário do marcelo descobri pq achei o disco da gal chato. é inspirado nela mesma
O Marcelo fica citando mil pessoas para legitimar. Que bobagem, cara!
Goste ou desgoste pela sua própria cabeça.
Vanessa(aiaiai), acho que a Cássia Eller(sou fã) estaria gravando O Segundo Sol pela vigésima vez ou então cantando José Augusto dentro do Bailão do Ruivão. :>)
Como diria Paulinho da Viola: Coisas da vida, minha nega.
PS: A bem da verdade, com raras exceções, artista EM TERMOS DE DISCO tem prazo de validade.
Esperto foram os Beatles.
Ze,
a opiniao é minha, apenas quis relativizar verdades absolutas.
Pelo menos das publicações que li apenas uma malhou o cd, a Rolling Stones. Todos os outros veiculos fizeram criticas extremamente positivas do cd. O que nao quer dizer nada, mas é um fato.
O que eu tentei apontar é que da analise do evangelista e do marcelo fica a impressao que caetano e gal sao estranhos entre si. E que oportunistamemente houve uma aproximação falsa e postiça de universos para a execução do cd.
Gal sempre foi colada à Caetano nao é? estrearam dividindo o mesmo disco, executaram projetos em parceria como cantar, doces barbaros e na trilha de tieta. Gal é a interprete por excelencia de Caetano. Ou estou errado? Quem é a Vaca Profana? A Erratica? A voz de minha voz minha vida? a que vem de um recanto escuro?
Quando caetano foi exilado quem é que cantou antonico como um hino para o amigo? Quem segurou a estetica tropicalista quando baniram a voz dele?
Sera que alguem aqui sabe que caetano desembarcou do exilio no galeao usando o echarpe de poa que Gal usa no disco de 68, com a boca pintada de vermelho e com o cabelo igual à ela num mimetismo de agradecimento pela amizade dos dois?
Moreno é afilhado dela e foi um dos produtores do disco, as letras de Recanto são versos cifrados em homenagem à amiga, esteticamente e mesmo os timbres sonoros do disco dialogam diretamente com Cantar e com o disco psicodelico de 69.
A capa é uma bela homenagem ao amor e a um tempo de contracultura que uniu e que volta a unir os dois e mesmo assim há quem ache tudo isso, todo esse arcabouço de historia, fake. Enfim. É so isso.
“acho que a Cássia Eller(sou fã) estaria gravando O Segundo Sol pela vigésima vez ou então cantando José Augusto dentro do Bailão do Ruivão. :>)”. KKKKK. Boto fé, Zé. Teoria bem plausível..
Vocês ai discutindo a importância do Caetano para a música atual (que é igual a zero) e lá fora o pau quebrando entre Michel Telo e Los Hermanos.
Marcelo, ninguém disse que a história dos dois é fake!
Por tudo que vc disse e por muito mais, ninguém diria tal bobagem.
O que alguns disseram(e eu me incluo) é que o SOM desse novo disco da Gal NADA tem a a ver com seu atual momento de vida.
Soa fake uma senhorinha há anos acomodada de repente, num rompante, virar a cantora mais moderninha e antenada do país.
Enfim, não orna. Mas, alguns vêem justamente nisso a graça da coisa.
O tempo dirá.
PS: Paulo, é uma teoria baseada na prática da acomodação para alguns, escassez de inspiração para outros e as duas coisas pra muitos. heheehe
E Nickelback e Black Keys
C é um disco fraquinho pra rolar discussão.
Caetano (persona non grata) é um baita cara para discussão.
Estrangeiro é muito mais muderno que essas coisas atuais.
Aliás, ‘chupar muitíssimo’ pixies no C chegou a ser constrangedor.
Há quem goste! Até que rola. Mas é uma enganação.
Assim que o axé voltar a ser moda o caetano faz um disco de axé, e vai ser notícia e vai vender. Ou quem sabe um nu-metal. Hahahahahahah
Eu gostei do disco da Gal,ele é um dos melhores do ano com razão.Pode até ser fake(apesar de que não vi isso),mas gostei muito do resultado,é um descolamento bonito que só o Cae faria.Apesar de que a ideia toda foi dividida a dois(o disco é co-produzido com o Moreno,filho dele).No máximo fiquei pensando:Caetano trabalhando com musica eletronica,rsrs?Lembro de uma entrevista pra Zero que o Marcelo D2 foi convidado a participar de uma trilha que tinha como cabeça o Caetano,só que recusou porque o D2 queria produzir a propria faixa.Ai rolou aquela discussão conhecida com a Paula Lavigne.Enfim,mas que tem um dedo do Moreno,isso tem mesmo.Quanto a Marisa Monte,sei lá,como eu vi no twitter:Roberta Miranda meets Rua Augusta,e é algo assim mesmo:breguice com um quê de descolado.Sei lá,eu não digo que o disco é ruim,só que acho que a Marisa está exagerando muito no rastaquera.Não está saindo do lugar comum e nem está melhorando ele.É foda isso,e eu acho ela muito boa,independente dos discos.Sei lá,eu acho que ela está com cabeça em outras coisas ao inves dos discos.Acho que não é o caso do contador,Mac,é preguiça mesmo,haha.Fora que o marido dela é rico.Agora a Karina,que foda ela é.Adoro Nassiria & Najaf,musica muito boa do disco,uma das minhas preferidas ultimamente.E esse disco é muito bom também,rock & roll mesmo.Fora que continua experimental,como no primeiro disco.Ela vai longe,independente do caminho que seguir.Só Pernambuco salva,ou alivia.
Discaço da Karina Buhr, um dos melhores brasileiros de 2011! Sempre achei a Gal uma artista presa a arrasadora, e alucinada, primeira fase de sua carreira. A impressão que dá é que ela tenta causar algum impacto, ora soando conservadora, ora cometendo erros bobos como esse. Fazendo o que for, ela nunca chegará perto do que fez no início dos anos 70, talvez fazendo um disco com o Omar Rodriguez-Lopes ela consiga se reaproximar daquela loucura toda…
Tem gente que quer pagar de cult-crítico, metendo o pau no album da Gal. Infelizmente esses pseudo-palpiteiros desconhecem a vasta obra musical dela. ‘Recanto’ é experimental SIM, porém conceitual e atemporal(se perceberam) acima de tudo! Aqui, resume-se claramente não só a carreira de Cae e Gal, mas também a vida deles! Portanto antes de falarem besteiras, procurem se informar a respeito de Música Popular Brasileira! Boa tarde a todos!
Bah esqueci, sobre o álbum de Marisa Monte: ouvi duas faixas e deu preguiça de ouvir(até o fim do ano eu ouço), já o da Karina é SENSACIONAL!!!
Nunca li tanta coisa que não diz absolutamente nada. É apenas a opinião de uma pessoa sobre um disco. Nada mais e nada menos. Ficam se contorcendo para acharem um argumento melhor a favor ou contra o disco ou o artista, como se fosse uma disputa.
” O gosto é inimigo da arte “
E o desgosto(como sentimento) amigo. :>)
Achei essa opinião nos comentários da música Recanto Escuro no youtube.
Achei interessante esse ponto de vista.
“pra mim, esta não é uma tentativa da Gal de “ser jovem”.? Pelo contrário, nem mesmo é um disco da maturidade, mas da velhice. Gal traz, com coragem, a passagem do tempo pelo seu corpo. Mas somos muito preconceituosoos com o tempo, e achamos que ele apenas deteriora as coisas. Não e verdade. Ele transforma, cansa, gera outra beleza. Gal canta sua velhice, nestes dias, dialogando (como contemplasse) com novidades dos nossos dias. Mas não quer passar pelo q nao é: é uma mulher contemplando o tempo”
Tava numa livraria hoje a noite e folheando a revista Brasileiros(Gal na Capa) vejo a seguinte declaração del. Mais ou menos isso:
“Acho muito estranho algumas pessoas dizerem que esse disco é um atestado de velhice meu e do Caetano. Pelo contrário, é um disco forte, pujante, vivo.”
Enfim, se é bom ou ruim eu não sei, mas cumpriu seu papel.
Estou mais simpático a bolachinha.
O que mais me decepciona são as pessoas dizendo que a voz da Gal não é mais a mesma!!! Que hipocrisia maldosa! O tempo muda TUDO meus lindos! É inevitável. A voz de Caetano, de Bethânia, de Alcione, de Madonna, de Gil, de Roberto Carlos, sei lá.. de Ângela Maria também não é mais a mesma! Agora simplesmente vocês esquecem de tudo que Gal já fez na cena musical brasileira pelo motivo ridículo de um tom mais grave na sua linda voz! – ai porque ela não tem mais aqueles agudos. – ai porque ela não alcança as mesmas notas! E blá-blá-blá. Bah! A voz dela mudou com certeza, porém isso não é motivo para ridiculariza-lá! A voz continua marcante e única! Será sempre nosso eterno passarinho! Não estou bancando o fã chato, apenas acho que ela merece força nesse momento de transformação musical positiva, já que saiu do mais do mesmo que estava nos últimos anos! Todos sabemos que Gal é tímida e possui depressão, não acho interessante críticas bobas e sem estrutura a respeito de sua voz! Pensei nisso!!!
Achei divertida toda essa discussão e resolvi tirar a prova dos 9 onde se deve: ouvido o trabalho. Meu veredito particular: O Recanto tem vocação para clássico. É um disco e Caetano para Gal que parece quase conceitual e mostra uma unidade e coragem ímpares. A chance dele brincar com esse lado Bjork, que ele cita desde os tempos do CD Livro para emergir em espasmos lentos toda as referências, sejam a eletro acústica dos tempos de faculdade da Bahia ou tambores baianos. E a voz da Gal continua bela e para mim, não soa fake nem cansada, essa sensação me passa mais algo como o tributo as Jobim por exemplo. Junto com “Aquele Frevo Axé” a melhor coisa que veio dela nos últimos 20 anos.
HIPOCRISIA! “Comparar os discos de Gal dos anos 1970 com dois cds lançados em 2011 é anacrônico e soa como uma justificativa apelativa” Disse tudo!
O que “HIPOCRISIA” tem a ver com isso? risos
Gal Costa é a maior cantora do Brasil!
Ele merece respeitar Gal Costa, isso sim.
Marcelo não entendeu o disco “Recanto” nem a proposta. Uma pena. Respeite a maior cantora do Brasil !!!