“I’m With You”, Red Hot Chilli Peppers

por Tomaz de Alvarenga

Tudo conspirava contra. “Stadium Arcadium”, até então último álbum de estúdio do Red Hot Chili Peppers no longínquo ano de 2006, é medíocre, bem abaixo dos ótimos “By the Way” (2002) e “Californication” (1999). John Frusciante, aclamado guitarrista, deixou o grupo em 2009, colocando dúvidas no futuro e na sonoridade do grupo. Então, chegou o dia 29 de agosto e o álbum “I’m With You” chegou às lojas e internet.

Anthony Kiedis (voz) e Flea (baixo) estão na banda desde o início, em 1983. Chad Smith é o quarto baterista do grupo, mas desde que sentou no banquinho em 1988 não saiu mais. Já na guitarra, Josh Klinghoffer é o nono nome na história responsável pelos riffs funkeados do grupo. Destes nove, além de Josh, três merecem destaque: o primeiro é Hillel Slovak (que faleceu em 1988), quando o Red Hot ainda não tinha uma veia comercial tão forte. Já Dave Navarro (1993 a 1998) aproximou a banda do seu Jane’s Addiction (mais rock) e gravou o bom, pesado e injustiçado “One Hot Minute” (1995). E John Frusciante, presente entre 1988 e 1992 (quando gravou o festejado “Blood Sugar Sex Magik” de 1991) e retornou após ressurgir das cinzas em 1999, permanecendo na banda por mais 10 anos e eclodindo vários sucessos na última década.

Então chega Josh Klinghoffer, amigo de Frusciante, que tocou com ele no projeto Ataxia, como guitarra base do próprio Red Hot Chili Peppers em 2007, além de colaborar com Beck, PJ Harvey e Gnarls Barkley. E sim, deixou sua marca no novo álbum, ora tentando (em vão) ser Frusciante nos solos, mas conseguindo soar muito mais competente nas melodias, com belos arranjos caprichados, harmônicos.

Em “I’m With You” percebe-se uma banda mais coesa. Chad Smith nunca tocou tão forte (mais “solto” na linguagem de baterista), Flea continua sendo o monstro descomunal “pescoçando” seu baixo e a guitarra deixou de ser a estrela, o centro das atenções, para ser uma coadjuvante de luxo. A impressão é de uma banda mais unida, homogênea.

E as músicas? “Brendan’s Death Song” é desde já candidata a melhor do ano. Emociona a cada minuto que passa lembrando, um pouco, “Breaking the Girl”, de 20 anos atrás. Com um trompete matador, “Did a Let You Know” é a porção “caliente” do disco, deliciosa e leve, perfeita para se escutar na praia ou no clube. O piano nunca esteve tão presente, e é o destaque da ótima “Happiness Love Company”. A balada de destaque é a maravilhosa “Police Station” (com um climão que remete ao álbum “By the Way”, sonoridade também presente na linda “Meet Me at the Corner”), ambas já no rol das grandes canções do quarteto.

Os hits prováveis são “Monarchy of Roses”, “Factory of faith” e “Ethiopia” além do single “The Adventures of Rain Dance Maggie”, todas aprovadas com poucas ressalvas. Outra música que pode cair na graça das rádios é a surpreendente “Even you Brutus?” com um vocal mais puxado pro hip hop, mas com um refrão é absurdamente Chili Peppers. Imagine como seria se o Black Eyed Peas fizesse música de qualidade? Pois é, seria algo semelhante a esta música. O álbum encerra com “Dance, Dance, Dance”, a música mais Vampire Weekend que o Red Hot já fez na vida.

“I’m With You” cumpre a expectativa em surpreender. Klinghoffer não é Frusciante, mas o Red Hot Chili Peppers continua oferecendo boas canções e ainda acerta bem mais do que erra. Portanto, a surpresa é boa. Estou com eles.

– Tomaz de Alvarenga (@tomazalvarenga) é colaborador do jornal Estado de Minas e escreve para o blog Contratempo

28 thoughts on ““I’m With You”, Red Hot Chilli Peppers

  1. concordo que o álbum é bom. e concodo que ‘did i let you know’, ‘happiness loves company’ e ‘police station’ são ótimas (pra mim, as três melhores do álbum). só acho que errou feio ao chamar stadium arcadium de medíocre. acho que o erro foi ser duplo, jogar 28 músicas de uma só vez. daí as muito boas acabam se perdendo no meio de tanta coisa ‘ok’. mas naqueles dois cds ali tem coisas ótimas e belas, das melhores do red hot. medíocre só algumas músicas ali no meio que poderiam ter ficado de fora…

  2. Pessoal, considero o álbum razoável, na média = medíocre. Tem ótimas faixas lá sim, mas como bem disse o Guilherme, ele peca pelo excesso. Mas não chego a considerá-lo ruim, isso sim seria um excesso.

    Se pegasse as melhores 14 músicas do “Stadium Arcadium”, o resultado seria tão bom ou até melhor que este novo álbum.

  3. Stadium Arcadium é um prolongamento daquilo que havia sido esboçado conceitualmente no Californication. É o llugar onde se dá a batalha final arquetípica entre o bem e o mal . E o que a banda faz é transportar essa vibe em prenúncios prosaicos e extraordinários desse advento. Tem-se preguiça ou ignorância em buscar esse entendimento, uma vez que isso não é relatado em lugar algum.

    Outra coisa: não é que os discos com Slovak não sejam “comerciais”, como tu apregoaste, caso contrário esse material não seria o SUSTENTÁCULO dos shows na época da tour do “Mother’s Milk”. O diferencial é o orçamento que a banda obteve para suas produções. Cinque abórit!

  4. stadium é um ótimo cd, tbm acho q o black eyed peas faz sim música de qualidade……porém o texto ficou muito bem escrito….parabéns pela resenha…..

  5. Cara, do alto dos meus 11 anos de fanatismo pelos peppers (grandes merda) te cumprimento pelo “medíocre Stadium Arcadium”. Medíocre sim, finalmente leio uma verdade sobre aquele álbum. Nem vou me alongar muito em descascar aquela megalomania descabida dos peppers, melhor elogiar o surpreendente I’m With You. Os caras tão de parabéns. Police Station tem um dos melhores refrões da carreira deles, e o resto, com exceção de algumas descartáveis, tá bem digno do nome da banda.

    Enfim, bem vindos de volta!

  6. John Crush, concordo que na década de 80, o orçamento de divulgação da banda era menor, mas é inegável que antes do ‘Blood Sugar”‘ a banda fazia músicas menos comerciais, mas já de grande qualidade. Compare qualquer hit pós-1991, com “Knock me Down”, “Me & My Friends” e “Higher Ground”. São hits em “andares” ou “níveis” diferentes, essas que citei agora o fã de Red Hot conhece, mas uma “Californication” e “Give It Away” um ouvinte qualquer já escutou, mesmo que não seja fã entende? Pode ser que o “efeito Rick Rubin” (produtor) tambem contribua bastante…
    Sobre a temática do “Stadium Arcadium”, creio que eles podiam ser mais “diretos” e “econômicos” nas músicas, até pra essa “viagem” deles ficar mais clara e sucinta. Se ele tivesse metade das faixas, seria um discaço.

    E agradeço aos demais pelos elogios. Obrigado mesmo!

  7. És a primeira pessoa que vejo falando bem do disco, pensei que estava sozinho nessa. haha

    Vale ressaltar que os backing vocals do Josh são muito bons também, ele não tem o agudo do John, mas combina bastante com melodias mais suaves, como Police Station e Meet Me at The Corner.

    E Did I Let You Know? carimbó puro, haha muito boa.

  8. “I’m forever near a stereo saying, ‘What the fuck is this garbage?’ And the answer is always the Red Hot Chili Peppers.” – Nick Cave

  9. Im with you é pavoroso de ruim. A banda acabou, só se repete. O último disco bom deles foi BoodSugarSexMagik. Depois dessa fase, o único que se salva é o Stadium Arcadium. O resto é trilha sonora de desenho japones, tipo Jaspion.

  10. Não concordo em quase nada. Acho que o Red Hot nunca soôu tão diferente e insosso quanto nesse album. Acho o By the way lamentável e desesperadamente apontado pra tocar em rádios, como aconteceu. Gosto apenas de Can’t Stop daquele disco, que realmente parece um lampejo dos Chili Peppers de outrora. Stadium Arcadium foi uma grata surpresa pra mim, achei o álbum muito bonito e melodioso. Agoa esse novo foi um balse de água fria. Não é ruim, totalmente, acho que ele começa bem, e as 3 ou 4 primeiras me agradaram de forma moderada. Porém após isso é uma ladeira, e rola até um som que lembra Eminem. Incrível como o John Frusciante fez a banda ficar tão dependente de sua criatividade minimalista, a ponto de desfigurar o som e até a atitude da banda.

  11. Fiquei entediada na maior parte do tempo. Pouquíssimas músicas consegui ouvir até o final (‘did I let you know” é bem boa). Achei repetitivo e tive a impressão de que eles estão cansados e sem criatividade para fazer rock e funk e o que eles faziam de melhor, e acabaram fazer isso ai, o “I’m with you”. Se o RHCP não sentiu a falta do Frusciante, eu senti. Minha opinião. E Stadium Acadium é mesmo medíocre, pessoal.

  12. Minha opinião é um pouco de cada um aí acho. Então vou tentar resumir.

    O último disco BOM do Red Hot é o “One Hot Minute” e sei sim que sou minoria total nesse pensamento, mas acho um discaço, 100% à flor da pele, seja nas baladas ou nas porradas; além de cheio de experimentos, ambientações, vindas, provavelmente, do Dave Navarro.

    Aí a volta do Frusciante me decepcionou muito. Dessa fase dá pra tirar poucas coisas: Scar Tissue, Easily, Can’t Stop, Fortune Faded…

    Veio o Stadium Arcadium, e tô 100% com quem disse: dá pra fazer um DISCAÇO com umas 12, 14 músicas dele.. tem umas “opa! me lembrei que fazia uma coisa funk-rock!” ali que merecem o carimbo RHCP.

    E o “I’m With You” bem.. já ouvi de cabo a rabo umas 5, 6 vezes e não bateu . Tem umas coisas ali que até dou um Alt+Tab pra ir pro iTunes ver o nome da música, mas são passagens dentro de músicas. Achei bem mais ou menos, muito mais pra menos.

  13. Tb acho o One hot minute muito bom , mas ele só comprova a minha teoria de que o Red hot assume o perfil musical do guitarrista…. a banda é muito maleável nesse sentido, e muito dependente do guitarrista que está ali. Pode constatar que o One hot minute é a cara do Jane’s Addiction, por causa do Dave Navarro. É o disco mais diferente da carreira do Red hot, mas peralá, parecer com Jane’s Addiction não é defeito, é um Achievement FODA. “I’m with you” não me desceu mesmo, e me pareceu obra de uma banda órfã e perdida, principalmente por culpa de guitarrista acanhado.

  14. O texto parece ter sido escrito por um fã ardoroso da banda. Que lê, pensa que trata-se um disco perfeito – coisa que está longe de ser e as críticas por todo lado estão aí para provar. Gostaria de ter lido uma resenha mais isenta.

  15. eu não entendo nada de RHCP, só sei dizer que amo “One Hot Minute” e o disco novo não me bateu, ainda…mas tb não achei chato. to tentando me acostumar.

  16. Prezado Daniel,

    em nenhum momento no texto afirmei que o álbum é perfeito, apenas que “acerta mais do que erra”. Acompanho a discografia do RHCP desde o início e sei apontar os grandes momentos e os fiascos (que sim, ocorreram). Nesta perspectiva, creio que não haverá textos “isentos”, nem dos que falam bem, como os do que falam mal. Pois se ele é opinativo, dificilmente ele ficará “em cima do muro”.

    A maioria das críticas negativas são de fãs que sentem saudades do som que o RHCP faziam tempos atrás. Também não há isenção aí. Texto totalmente isento soa frio, sem emoção e sempre escrevo como se estivesse na mesa do bar conversando com os amigos, pois meu intuito é aproximar o leitor e deixá-lo à vontade.

    Aliás, mesas de bar são ambientes mais que perfeitos pra esta discussão, mas enquanto não marcamos, prossigamos aqui 😉

  17. O Stadium tem Charlie e Readymade… grandes pérolas perdidas numa feijoada meia boca.
    Desse disco só Etiopia me chamou atenção.

  18. Depois do texto do Tomaz resolvi dar uma chance para o álbum e gostei, no início senti falta do Frusciante mas depois foi acabando, não vai ser disco do ano,( Wilco vem aí, Rem e Foo Fighters já lançaram discaços), mas não deixar de ser um excelente disco. Vale dar uma chance ao RHCP.

  19. A crítica está adequadissima, parem de mimimi. E é impossível fazer qualquer coisa humana nessa vida sem um pingo de subjetividade. Lembrem-se que robôs (ainda) não escrevem resenhas de discos

  20. Eu que comprei o Freaky Styley nos idos de 87, alias de troco já que o álbum estava lá desprezado e ninguém tinha idéia do que fosse aquilo, nunca iria imaginar que aqueles porra-loucas chegassem no Mainstrean, sinceramente depois do Blood Sugar Sex Magic, nunca mais acompanhei a banda, não fizeram nada de mais relevante desde então, até esperava uma volta ao funk psicodélico anárquico do começo, mas infelizmente os bons tempos não voltam mais.

  21. A maioria dos artistas, mesmo os bons, têm prazo de validade.
    O lance é ficar com o melhor deles e desprezar o restante.
    Tb parei no SENSACIONAL Blood Sugar…

  22. Caralho, achei o album muito foda, esqueçam BLOOD SUGAR amigos, nunca mais nenhuma banda da humanidade vai fazer nada parecido com aquilo… assim como não haverão mais discos como Led IV, Aqualung e outros clássicos… Curtam sem comparar vocês parecem velhas saudosistas chatas pra car….

    Caiam na real o Red Hot se reinventou várias vezes na carreira e manteve o nível, isso já prova que a banda é foda, parem de mimimi.

    RHCP uma banda do cacete com músicos excelentes há 30 anos no topo das paradas com musicas de qualidade.,

  23. Hehehehe
    Manteve o nível é o cacete!
    De funky endiabrado pra baladinhas MTV. Embranqueceu o som, perdeu o suingue.
    Só sobrou o Sugar.
    O Living Colour também seguiu o mesmo caminho. Só que ao invés de balada, trocou pelo rock duro. Perna de pau.

    PS: Não entendo muito isso de ter que ouvir o novo. Por que?
    Se o velho é melhor e música boa é atemporal… Eu fico com o velho, ora essa.
    Se o novo for melhor, fico com ele.
    O tempo é escasso, tem que se ouvir o melhor seja velho ou novo.

  24. Confesso que gostei de apenas duas músicas no disco todo. ‘did i let you know E “Brendan’s Death Song”. Ouvi e- isso é apenas uma opinião pessoal- achei que o Red Hot meio que fez um disco meia boca, perto do que eles podem produzir. Não é um disco ruim, mas também está longe de empolgar. Digamos que se fosse um disco de uma banda iniciante seria um grande disco. mas perto do que é o RHCP, acaba sendo pouco. MAs repito, foi apenas uma audição rápida…talvez eu esteja redondamente enganado.
    Ou não.

  25. “Stadium Arcade”, pode não ser tão bom quanto “By the Way” ou “Californication”, mas está muito longe de ser medíocre, tem diversas canções sensacionais, parei de ler nesse ponto só para escrever isto. Agora vou continuar, com licença.

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