Cinema: As Melhores Coisas do Mundo

por Bruno Capelas

O fato de que boa parte do público alvo do cinema é formado por jovens não é mistério pra ninguém. Também não é novidade a enorme quantidade de películas que são produzidas sobre a vida deles próprios – desde bobagens, como “American Pie”, até visões mais críticas da sociedade, como “Elephant”. Por mais que esses filmes existam e alguns deles sejam atraentes e instigantes, eles não se aproximam do cotidiano brasileiro, não falam da vida, das coisas e dos problemas da nossa terra.

Pense rápido: quantos filmes nacionais você viu que tratavam sobre adolescentes, não importando a classe social deles? Ganha um doce quem conseguir encher duas mãos.  Talvez por isso “As Melhores Coisas do Mundo”, de Laís Bodanzky, salte tanto aos olhos quando propõe exibir as agruras e as vitórias de um adolescente paulistano. Entretanto, essa qualidade admirável acaba por ser, ao mesmo tempo, um defeito que não chega a estragar o filme, mas incomoda um bocado.

“As Melhores Coisas do Mundo” conta a história de Mano, um garoto de classe média que se vê às voltas com a separação dos pais, com a perda da virgindade, o conflito do primeiro amor, picuinhas e calúnias que ocorrem na escola, a música como ferramenta de escape, o irmão mais velho revoltado que desmancha o namoro e pensa em se suicidar… Como é possível perceber, tantos são os temas que, em algumas passagens, a trama tenta abraçar o mundo de um adolescente e não agarra mais nada que o ar, uma vez que as ideias se superpõem e acabam não chegando a grandes conclusões – como é o caso do fim do namoro e a tentativa de suicídio.

Porém, a diretora Laís Bodanzky (que já tinha mostrado jeito para retratar esse universo juvenil e familiar em “Bicho de Sete Cabeças”) acerta bastante e chega a surpreender em algumas passagens. A começar pelas atuações do elenco mirim – com destaque para a dupla Francisco Miguez (Mano) e Gabriela Rocha (Carol) – e de Paulo Vilhena, na figura do conselheiro travestido de professor de violão – sim, ele conseguiu sair do seu papel de sempre e dar algum estofo dramático ao personagem.  A delicadeza com que certas cenas são tratadas merece elogios: o trecho inicial, por exemplo, na qual Mano e seus amigos vão a um bordel, é de uma rara fineza na produção cinematográfica brasileira. Ou ainda o trabalho de pesquisa extensivo, que deu força a determinadas passagens do filme, como a do “esquenta” antes da festa de debutantes, ou a da repercussão de fofocas emitidas pela blogueira Dri – algo bem próximo da série “Gossip Girl”, febre entre os estudantes.

Uma coisa interessante na película é que ela pode agradar tanto às meninas que lêem a revista Capricho (pela presença de Fiuk, o famigerado filho do Fábio Jr, no papel do irmão mais velho de Mano) quanto a seus pais quarentões que se emocionaram vendo os filmes de John Hughes nos anos 80. Aliás, muito bacanas as referências ao seminal “Clube dos Cinco”, seja na figura da “Bruna Sapata” que lembra a Allison (a gordinha tímida), seja na presença da chapa montada pelos amigos de Mano a fim de combater preconceitos e difamações ocorridas na escola em que estudam. Outra citação respeitável é o uso de “Something” – aquela mesmo, a dos Beatles – como trilha sonora romântica para as desventuras sentimentais de Mano.

No fim das contas, o problema de “As Melhores Coisas do Mundo” não é exatamente seu. É do cinema brasileiro como um todo. São tão poucos os filmes tupiniquins que conseguem falar de determinados temas – adolescência, futebol, música, história – que muitas vezes eles acabam por se atropelar nessa vontade de falar de tudo que envolve aquele assunto. É o caso, por exemplo, de “Boleiros 2” ou “Durval Discos”, que partem de ótimas premissas e se enroscam em conclusões malfeitas. Aqui, se o roteiro focasse em apenas dois ou três temas, no lugar de atirar para todos os lados, “As Melhores Coisas do Mundo”, poderia muito bem tomar o lugar da bomba de chocolate da padaria da esquina, líder indiscutível das últimas 28 semanas.

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Bruno Capelas é estudante de jornalismo e escreve para o blog coletivo Pop To The People

7 thoughts on “Cinema: As Melhores Coisas do Mundo

  1. Recomendo às pessoas interessadas em conhecer melhor o trabalho da banda sul-matogrossense ‘Sheriff Billy Joe’ – interprete música ‘Identificado’ – tema de abertura da trilha sonora do filme ‘As melhores coisas do mundo’ – Warner Bros – Layz Bodansky – acessar o site http://www.palcomp3-sheriffbillyjoe – que apresenta o perfil e as canções inéditas deste grupo de vanguarda do ‘pop-rock pantaneiro’.
    Mr. Billy Oliver

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