ENTREVISTÃO DO MÊS DE ABRIL
por Marcelo Costa e Tiago Agostini
colaboração de Marco Tomazzoni
fotos de Liliane Callegari
Em certo momento das quase cinco horas de conversa para esta entrevista, Romulo Fróes foi categórico: a cena atual é uma das melhores da história da música brasileira. Alguns podem torcer o nariz, principalmente aqueles que não acompanham o cenário independente nacional dos últimos dez anos, mas a afirmação do compositor tem base sólida e não é fruto de alguém que vive em um universo paralelo negando o passado.
Ok, a atual música brasileira de qualidade dialoga com passado e com futuro ao mesmo tempo, mas vive num universo paralelo por questões pontuais de mercado e exposição. O jornal não tem a mesma força de antigamente. A televisão, na maioria das vezes, transforma o artista em mico de circo. E as rádios, o principal veículo de massa quando o assunto é música, está viciada em jabá necessitando urgentemente de uma rehab.
“A internet é o quarto momento”, explica Romulo Fróes enquanto busca formatar um discurso em meio a um grupo de pessoas que compreende música de uma forma muito mais ampla do que nos anos 60, por exemplo, mas não sabe se portar direito quando precisa falar da própria obra, não tem a manha do negócio, não exercita o conceito, o manifesto. “Não sei se falta ambição. Pode ser”, diz Romulo.
Tendo como parceiros letristas os artistas plásticos Nuno Ramos e Clima, Romulo Fróes adianta que está voltando ao samba em seu quatro disco, em fase de gravação, que promete ser seu álbum mais representativo. “Não à toa estou pensando em chamá-lo de ‘Romulo Fróes’ pela primeira vez, e aparecer na capa”. Nas canções, o cavaquinho de pagode de Rodrigo Campos encontra a guitarra estridente de Guilherme Held.
Neste extenso e interessante bate papo regado a cervejas, Romulo joga louros sobre uma porção de jovens cantoras e compositores, cobra postura daqueles que não fazem nada para a cena se transformar em algo maior e conta que quer fazer shows em Recife, no Acre e em Belo Horizonte, mas não paga pra tocar. Fala da festa semanal que está organizando no CB, em São Paulo, e, sobretudo, se mostra feliz com o que tem, mas não satisfeito. Quer mais. Meia dúzia de caras como ele talvez mudassem as coisas.
Com vocês, uma alma pensante em meio a terra devastada. Romulo Fróes:
Como surgiu a idéia de fazer a festa Versão Brasileira?
Eu sou amigo dos caras (do CB), e eles me convidaram pra fazer algo. Eles queriam tocar a nova cena de música brasileira, e me disseram: “Queríamos chamar o Cidadão Instigado (pra tocar), mas não sabemos falar com os caras”. Eles são uns roqueiros velhos, tatuados, e só ouvem Ramones. Já toquei duas vezes lá porque sou amigo deles. Então foi um pouco isso. Agitei junto com as garotas da Alavanca. Mas essa história de fazer a festa e outras coisas que estou correndo atrás – um programa de rádio, um documentário, escrever sobre música – tem um motivo mais nobre, que é pensar a cena que surgiu nos anos 2000 e falar dela, coisa que não tem nenhum artista falando. Acho bacana que um artista fale sobre o que está acontecendo, que não fiquem apenas os jornalistas. É uma cena próxima porque todo mundo toca junto, mas ninguém pensa muito sobre o trabalho do outro. Fiquei a fim de fazer isso pra falar pras outras pessoas: “Tem gente fazendo música boa pra caralho”, e isso está se desdobrando. Há ainda outro motivo mais prosaico que é tentar viver de música. O caminho é abrir frente. Escrevo pra uma revista, ganho um troco; faço uma curadoria em um buteco, ganho outro troco; faço um programa de rádio, mais um troco; um show aqui, outro ali e junto uma grana pra viver de música sem ter trampo, fazendo coisas que eu gosto e tocando isso pra frente. Estou com essas duas coisas na cabeça: falar pra todo mundo que está acontecendo algo importante. E viver dessa porra.
A gente tem um mercado falido. A Tropicália surgiu no final dos anos 60, com militares no poder, mas eles ainda conseguiram aparecer no mercado, conseguiram chamar a atenção.
Era a TV começando a rolar, né. A internet é o quarto momento disso. Primeiro teve a indústria fonográfica, que começou a gravar disco. Depois o rádio, a TV e agora a internet. Curiosamente, nesses quatro momentos estavam rolando um monte de coisas. Estou lendo agora a biografia da Carmen Miranda e o negócio do rádio foi uma maluquice. Não foi fácil. Então as coisas se ajustaram e todo mundo nadou nas ondas do rádio. Chegou a TV e uma galera caiu fora. Vicente Celestino se fodeu, e o Roberto Carlos começou a surfar na onda. A internet, de certa forma, fodeu uma galera também. O povo da MPB que fica chorando por causa da pirataria, falando que não vende disco, tipo o Fagner reclamando na TV. O Fagner se fodeu, em certo sentido. A Biscoito Fino fica reclamando… uma banqueira. E tem a minha turma, que só existe por causa da internet. Só que talvez seja a geração mais difícil de assentar e se mostrar justamente porque o negócio ficou muito amplo. É muita gente fazendo no mundo inteiro a toda hora. Está cada vez mais difícil de formar o negócio.
É que hoje existe uma oferta muito grande de coisas. Antigamente você tinha um disco do Caetano e só ia pintar um disco da Gal, do Chico, meses depois. Então você ficava um bom tempo em cima daquele disco do Caetano. Agora a gente tem o seu disco e na semana seguinte sai o da Lulina…
O meu disco já é velho. Lancei um disco duplo em abril (de 2009) e não deu nem um ano e já era.
A facilidade que a internet leva pras pessoas mostra que tem muito mais coisa acontecendo, e você não concorre só com o Cidadão, com a Lulina e com o disco novo do Caetano, mas também com Pixinguinha. O cara vai, baixa o disco e ouve.
Acho que a gente pertence a uma geração que tem uma percepção diferente. E tem que parar com isso. Eu cada vez me ponho mais o desafio: posso ser esse cara pra sempre, do meu tamanho, que gravo meus disquinhos, vendo mil cópias e é isso, acabou. Talvez não exista mais o fenômeno Caetano Veloso, Gilberto Gil, os caras que fizeram música de invenção e ainda assim tiveram apelo popular no Brasil inteiro. Talvez não tenha mais. Estou cada vez mais me forçando a isso: você grava teu disco, tem uma turma que ouve, um povo te chama pra fazer entrevista, que gosta de você e é isso, acabou. Talvez a sua tia nunca vá saber que você grava disco. Tem um monte de parente meu que não sabe que eu gravo. (Por outro lado) essa angústia vai tomando conta. Entendo que pessoas como o Bruno Morais, por exemplo, que gosto muito, tenham essa angústia. Ele faz música pop, comercial. Ele não está fazendo maluquice. (Está cantando) “Corações partidos”. Ele é fofo, podia estar na novela das 8 fácil. Não está porque não é mais… Acho o Curumin um exemplo louco. Ele nasceu pra ser ídolo pop, pra ser do tamanho do Tim Maia e do Jorge Ben.
Mas voltamos naquele ponto de que não há combatividade, união. No documentário do Jards Macalé tem uma parte que ele fala: “Então, lá em casa, no quartinho do fundo estavam o Torquato, o Chacal, o Caetano, o Hélio Oiticica, o Wally e eu imaginava: não vai sair coisa boa, os caras enfurnados num quarto 4 x 4”. Era uma cena sendo pensada, um pessoal que chegou com um discurso, assim como o manguebeat, que não bateu tão forte (como apelo popular), mas chegou com um manifesto.
O discurso da minha geração, sem ter sido organizado, é o do cara que faz sozinho e foda-se. E eles fazem do jeito que querem. Aprenderam a gravar disco, gravam em casa, e sabem dessa porra como nenhuma geração soube. O Curumin sabe mais de estúdio do que muito engenheiro de som que trabalhava para gravadora nos anos 70. E não é só ele: é o Catatau, é todo mundo. Nós fazemos os nossos discos, os nossos shows e não precisamos de ninguém. É um discurso meio punk. Mas eles também não querem ter discurso. É isso: “Eu não tenho discurso, não tenho pensamento. Eu faço um som, gravo um disco em casa e não enche o saco”. Isso é uma espécie de não discurso, talvez.
Você acha que isso atrapalha? Falta ambição a essa geração?
Falta ambição… Que pergunta, hein (risos).
Vamos imaginar essa geração daqui 20 anos…
Eu acho que a gente vai continuar gravando disco. Tenho certeza que a galera vai estar fazendo música e talvez vá estar no mesmo patamar que está hoje, de fazer disco, uma turnêzinha na Europa, e volta. É gravado por não sei quem. Não sei se falta ambição (relutante). Pode ser. Eles podem estar satisfeitos com o que eles têm. Aliás, eu acho que eles são muito satisfeitos com o que eles têm.
Podemos falar que é pouco?
Podem.
Por que, por exemplo, o Cidadão é uma banda do caralho. Ao contrário do Bruno Morais, que tem uma veia pop muito boa, de qualidade, o Cidadão é mais… pirado, mas tem coisas ali que muita gente iria adorar. O Cidadão poderia quintuplicar o público dele se tivesse um pouco mais de ambição de chegar a um público maior. Talvez falte jogo de cintura…
A nossa geração não sabe se portar. Vi o Wado falando isso e acho que ele tem razão. Não é uma geração que tem a manha do negócio. Pelo contrário, não tem a mínima manha do negócio. Neguinho tem vergonha de ir à televisão. Fui fazer o programa do Edgard (Piccoli) agora, e foi do caralho. O cara é gente fina, a fim, estava eu e a Céu, vai ser o programa de estreia, um cara do bem. Ele tem as limitações dele, pode não ser o maior entendido de música, mas o cara estava lá totalmente a favor de você. Eu sei de neguinho que fica em dúvida se vai lá ou não. Tipo: “ah, esse programa é meio caído”. Mas velho, o programa é feito pra você! Você vai tocar música, não vai entrar numa banheira. Vai estar com outro artista, não vai ser playback. Existe um pouco de medo. Ele não tem a manha, não sabe se portar. Não é à toa que quando um artista tem a manha, como o Seu Jorge, sei lá de onde veio aquela porra, o cara tem a manha extrema, mais do negócio do que da música, (o cara se dá bem). Sempre lembro do Lucas Santtana no Altas Horas junto com o Chiclete com Banana, os dois baianos. Começaram a falar da Bahia, o Lucas sobre as pretas do acarajé que ele canta. De repente ele solta um “essa é pra dançar” e canta “Cira, Regina e Nana” – não dá pra dançar. O Lucas acha que dá e ele dança, mas a galera fica sem saber o que fazer. Quando o Bell falou “galera vamos cantar” a platéia veio abaixo. Esse é um retrato acabado da minha geração. A gente não é praquilo. Ou aquilo vai ter que mudar ou a gente vai ter que mudar. E era o Lucas, que segundo ele faz música pra dançar, e é verdade, mas não praquela galera. É um chameguinho. A minha geração tem isso. Talvez a falta de ambição seja o medo de dar conta de algo que vai foder. Porque devia ser foda (antigamente). Adoro entrevista de artista velho, que está meio caído, e que fala que agora está fazendo o trabalho que queria. Outro dia vi a Sandra de Sá: “Por que eu fazia uns discos que eu não acreditava muito, mas a gravadora me fazia fazer aquilo”. Então ela lança agora o disco que é o que ela queria, e ele é idêntico aos discos antigos (risos). Mas tem esse discurso. Talvez a gente tenha isso: não queira ninguém cagando regra, tipo falando da minha roupa. Talvez tenha um pouco de medo de “não vou me meter nisso”. Agora, eu fico esperando que o público mude também. Se os artistas mudaram, o público também tinha que mudar.
Mas é complicado porque a gente está pensando no nosso microcosmo. A grande massa continua a mesma coisa, só que agora eles estão ouvindo o Fresno, que é a banda que a gravadora está desenvolvendo no momento, ou a Ivete. O Caetano, Gil, Chico, nunca foram grandes sucessos de venda, mas eram muito representativos, pois havia um André Midani que sabia que, se estava ganhando uma puta grana com o Odair José, então dava pra deixar o Caetano fazer o “Araçá Azul”…
Eles não vendiam pra caralho, mas eles tinham a indústria por trás deles. A gente não tem ninguém, ninguém. Só blog da internet, cujo publico é parecido com o nosso, um pouquinho maior. Eu tenho a minha gravadora (YB), que é ótima. Tenho uma assessoria de imprensa do caralho, e tem um estúdio foda, onde gravo meus discos. Eu já estou num outro patamar. No meio da miséria eu sou rico. É uma geração meio abandonada, cada um por si. A gente é o nosso próprio empresário, a gente que grava, que divulga, que se fode. Talvez, se tivesse naquele esquemão, iria ser daquele tamanho. O Curumin iria ser pop star, o Bruno iria ter um monte de fã clube feminino, e eu ia ser o cabeçudo, o maldito da gravadora. Ia continuar igual, só que agora é todo mundo do mesmo nível.
Do “Calado” pra cá, as coisas melhoraram? De quando é o disco?
2004, mas eu comecei a fazer em 2001. Independente tem isso, o disco demora dois, três anos porque você não tem estúdio marcado. Faz quando dá. Vou começar a gravar (o novo disco) dia 22 de março, mas o disco pode não sair este ano. Mas do “Calado” pra cá melhorou muito, pra caralho. A Tulipa (Ruiz) ainda não gravou disco, mas todo mundo só fala dela. Tem um monte de show, matéria. No meu tempo – no meu tempo é bom, né (risos) – era foda pra caralho pra neguinho ouvir falar de você. Ele ainda esperava muito o disco.
Você começou a tocar quando?
Bom, tem o capítulo “meu passado me condena”, de quando não tinha internet. Eu tinha uma banda chamada Losango Cáqui, vocês não vão achar nada dela na internet porque eu apaguei todas as provas (risos). Lancei dois discos com essa banda, em 98 e 2000. Em 2001 lancei um EP, esse eu gosto muito, mas é difícil de achar. São só quatro musicas, mas considero meu começo mesmo.
E o que era o Losango Cáqui?
Era um Renato Russo de segunda. Eu cantava parecido com ele, umas letras péssimas minhas. Foi uma experiência legal porque gravei disco, mas quando fui compor com o Clima é que o negócio acendeu. Em 2002, 2004, eu era meio alienígena fazendo música brasileira. Ainda tinha muita coisa do indie. Lo-Dream ainda fazia sucesso. O Pin-Ups estava sempre pra voltar e não voltava. O disco do Los Hermanos (“Bloco do Eu Sozinho”) é 2001, né. Era nessa mesma época que eu estava gravando (o “Calado”). Tinha o Acabou la Tequila, que ninguém sabia direito qual era; tinha o Mulheres Q Dizem Sim, que era um troço esquisitaço, ninguém entendeu – eu adorei, tenho o disco até hoje. Então veio o Los Hermanos e começou a abrir um pouco. Hoje em dia neguinho faz guitarrada paraense aqui em São Paulo e todo mundo acha normal. É essa coisa que vocês falaram de o cara pensar: “Vou ouvir o Rômulo, ou o Pixinguinha ou a Aracy de Almeida?”. Tem uma geração inteira que ouve Aracy de Almeida e ouve Ramones, e tudo é música e tudo vale. É uma espécie de realização da Tropicália. O Caetano fazia isso de um jeito pragmático. Falava que o Odair José era foda pra neguinho ficar puto. Não é à toa que quando o Caetano faz algo desse tipo hoje em dia não dá certo. Quando ele canta “Um Tapinha Não Dói” ninguém fica puto mais, porque o Curumin canta “Feira de Acari” com mais propriedade. O Kassin faz guitarrada paraense, fala que acha o Chimbinha foda e não tem nada demais. Não precisa ter discurso. Se o Caetano falasse nos anos 60 que guitarrista foda era o do Genival Lacerda, pronto, neguinho pegava no pé.
E era uma época que tinha a marcha contra a guitarra.
Exatamente. Então melhorou pra caralho, e daí que vem coisa boa. Tem lá um pessoal tipo o Leo Cavalcanti e o Marcelo Jeneci, que falam que foram influenciados por Guilherme Arantes. Foram influenciados por ele, por Luiz Gonzaga e pelo Velvet Underground (toca o telefone). Esse maluquinho que me ligou tem 20 mil vinis. Ele conhece música brasileira pra caralho e é um cara que tinha um tesouro escondido. Eu vou na casa dele uma vez por mês e fico lá catando coisa. Mas agora é so ir na internet, está tudo lá. Eu vou lá (na casa dele), anoto o vinil, chego em casa e baixo. E eu sou de uma geração de gente que comprava a Melody Maker na vaquinha pra todo mundo ler, que neguinho descolava o vinil do Kiss e ficava se gabando, comia umas minas na escola por causa disso. Agora você tem tudo. Isso é muito forte. E é isso que move essa geração. É isso que faz neguinho fazer música boa. Tem muita informação. Agora, talvez eles não consigam (chegar a grande massa)… Eu sei que vocês esperam, eu também espero, não é à toa que estou tentando criar um discurso, mas não posso fazer isso pros outros. Cada um tem que criar o seu discurso. Aliás, neguinho ficou puto quando eu fiz um show no Ibirapuera, porque achou que eu estava querendo criar um movimento. Me ligavam. E eu falando que foi o cara do jornal que disse (que era movimento). Respondia: “Eu não falei nada no show, nem gosto de você” (risos).
Mas qual o problema de ser movimento… O negócio é aglomerar.
A gente aglomera de outro jeito. O Curumin toca comigo. A banda do Bruno Morais tem a cozinha da Andréa Dias. O show que fiz no Ibirapuera era isso: Andréa Dias, Bruno, Cidadão, Curumin, Guizado e eu. Tinha seis bandas, mas devia ter menos artistas. E isso que estou falando de artista. Tem músico, que nem o meu guitarrista, o Gui (Guilherme Held), que vive só do mercado independente. Toca comigo, com a Iara Renó, com o Leo Cavalcanti, com a Tulipa, com o Lanny (Gordin) – o Lanny é o maior artista dele. Já tocou com o Bruno, mas não faz show com Chitãozinho, porque ele é musico pra tocar com o Caetano. Ele nem tenta isso e só faz coisa que gosta e se banca.
É o negocio do Gabriel Thomaz, que conseguiu criar ao redor dele uma banda sustentável. Ele toca com o Lafayette, faz uma coisinha aqui e ali, mas vive do Autoramas.
Mas um cara que vive da própria banda ainda é raro. O Curumin não vive. Não conheço ninguém mais famoso que o Curumin. Ele faz turnê nos Estados Unidos e tem que tocar com o Arnaldo (Antunes), comigo, com o Guizado. O Cidadão não consegue, porque todos eles tocam com todo mundo. Talvez só a Céu, porque foi a única artista que virou. Tem a estrutura por trás, mas foi ela quem quis a Universal. E ainda vende disco pra caramba nos Estados Unidos com a Starbucks.
Mas ela foi um acaso… caiu no gosto dos franceses, do povo lá fora. Não é exemplo.
E é a única artista. Vai tocar no Coachella. Lindo, e não toca pra caralho. É um ideal de vida. Ela não faz perrengue de TV, não precisa entrar num esquemão. Porque é foda ser artista. Não é à toa que (Jards) Macalé, o (Luiz) Melodia, esses caras se foderam. Eles não sabiam fazer essa porra. O Macalé não conseguia ir no Chacrinha, não dava conta daquela atrocidade – que hoje seria o Faustão. O Caetano faz isso com tesão, pensa nisso como análise sociológica, achava o Chacrinha um gênio da raça. O Macalé tinha vergonha de ficar tocando e o cara jogando bacalhau. A minha geração não quer isso. Vamos ficar aqui por quê? Vai que neguinho chama a gente pra tocar no Big Brother, que é um mico, um negócio absurdo. Tem que estar muito seguro de si.
Mas seria legal tocar no BBB. É uma puta vitrine. Desde que a banda toque sem ninguém falando o que tem que fazer, vestir, é uma puta abertura. E é dessa coisa de ambição. Tudo bem, a gente está cada vez caminhando pra um mundo de internet maior…
(Interrompendo) Acho que esse parâmetro pequenininho está aumentando. Não tinha lugar pra tocar antigamente. Eu fiz show no Hotel Cambridge, e era ridículo. Agora tem um monte de lugar, neguinho entende. Ainda é pouco. Aliás, estou batalhando essa festa (Versão Brasileira, no CB) porque é mais um lugar legal pra gente tocar. (Hoje) tem o Studio SP, o Espaço Soma, o Centro Cultural Rio Verde…
Mas uma coisa é tocar samba triste no Sesc com todo mundo sentadinho, outra coisa é tocar no Studio SP as 2 da manhã. Como foi essa adaptação? Como você percebeu que precisava aumentar tudo e colocar guitarra?
Outro dia dei uma dura numa menina que toda vez que me encontra fica dando conselhos batidos. A pessoa não tem noção de como é a minha vida. Primeiro reclama que você não leva metais pro Studio SP. Velho, eu já pago do bolso pra três caras, como é que eu vou levar metais? E se levar, ninguém vai ouvir por que o som é uma bosta. E eu não consigo ensaiar. A vida é outra. Não tem mais o negócio de chamar o iluminador, fazer cenário e etc. Então eu fazia aquele som, nego não ouvia, não tinha lugar pra tocar e eu fui sacando. Não é também que mudei só porque neguinho queria me ouvir, porque aí pode parecer meio ridículo. Lógico que eu já gostava de outras coisas. Só acelerou o processo. Então, se (violão de) sete cordas não dava mais, vamos logo chamar um guitarrista. Só que eu queria juntar o guitarrista com o sete cordas, que se recusou a fazer isso. Tudo vai acontecendo e vai te acelerando na vida, te joga pra um lado e pra outro. Não tem muito glamour intelectual. Claro, tem no sentido de você sacar as coisas e ir tocando. Eu podia deprimir, ter o perfil do gênio que não consegue… Porém, como estou a fim, eu vou tocar. Então a menina vira pra mim, no Rio de Janeiro, e fala: “Gostei muito do seu show, mas você devia ter tocado algumas covers conhecidas, pras pessoas saberem de onde você vem”. No Rio ninguém tem dinheiro pra me levar, então arrumei uma banda carioca pra tocar. Dream team: Kassin, Domenico e Bubu. Puta banda foda. Passei de cara 10 faixas, os caras tiraram, fiz um ensaio de três horas e toquei. Pô, estou no Rio de Janeiro, fazendo meu melhor, não gostou do show, beleza, mas não fala de coisa que não tem a ver! O mundo não é assim. Eu não estava com a minha banda, não ensaiei, não ganhei dinheiro – aliás, paguei pra ir – não dá pra ter metais. Esse show que ela queria ver eu já fiz, no Sesc. Tinha metais, piano de cauda, figurino, cantoras, já foi. Você estava nesse? Não? Esquece. Agora é rock n’ roll. É vida real. Minha geração é essa também, faz do jeito que dá. Neguinho pode achar que é meio capenga, mas a gente ainda faz muito. Tudo isso melhorou. E toda vez que encontro com músico de fora de São Paulo, então, parece que a gente mora em Nova York. Salvador é um deserto, terra arrasada. Tem gente foda fazendo musica foda e se fudendo na Bahia, em Belo Horizonte, Recife, no Rio de Janeiro. O Kassin toca mais em São Paulo do que no Rio. O Brasil não expande, vai ficando cada vez mais só em São Paulo. E não é nem no interior. Acabei de passar no primeiro edital da minha vida, no Sesi. Vou tocar em Marilia, Franca. A chance de tocar para quatro pessoas é enorme. Não tem mercado. Mas beleza, vou ser pago pra isso. Fui tocar no Sesc Ribeirão Preto e tinha mais gente no palco do que na platéia. Em São Paulo não, se você tocar uma vez por mês está bom.
Que é o que o Wado faz em Maceió. Ele falou que começou a criar publico. Num show tinha 200 pessoas, mais pra frente 400, no lançamento do “Atlântico Negro” tinham 800, e agora eles tocam a cada mês e meio e dá 600 pessoas.
O Wado é um dos raros exemplos (da cena) de cara que sabe falar, que sabe do trabalho, produz pra caralho. Tem mais disco que eu. Ele tem cinco, o meu agora vai ser o quarto, mas tem um duplo no meio (risos). É um cara que eu gosto pra caralho e está lá em Maceió, veio pro Rio e não rolou.
E vai voltar pra cá…
Porque lá vai rolar menos ainda. Ele era um cara que tinha que ter acontecido já. Não é por falta de trabalho, de pensamento, de qualidade, de popice, porque o último disco dele é impressionante.
É um cara que teve música em novela.
Exatamente. Gosto pra caralho dele. Acho ele foda. A coisa de ele ter mixado minha voz quase inaudível no último disco… Eu fiz um coro e não me ouço. Reclamei com ele (risos). Uma canção linda pra caralho (“Martelo de Ogum”), estava eu e o Curumin no estúdio, e o Curumin dá pra ouvir. Ele me botou nos créditos, mas não me ouço (risos).
É um cara que tem um discurso…
E é um cara que tem isso de ir sacando as coisas e ir se adaptando, nas melhores intenções. É engraçado porque a gente se adapta pra ficar do mesmo tamanho, não é pra crescer. Não é que a gente faz música esquisita e de repente vai fazer musica pop pelo sucesso. Não! Você se adapta pra tocar mais. Se eu tiver um trio de baixo, guitarra e bateria eu vou tocar mais do que se eu tivesse um trio, como era o meu caso, que era um sete cordas, clarinete e tamborim. Uma vez no Sesc e olha lá. Mas o cara olha e fala: “Ah, ele se vendeu”. É ridículo. Se vendeu pra ficar no mesmo lugar. É engraçado porque tem o discurso de “a gente faz o que quer, sem ninguém metendo o dedo”, mas não é bem assim. Talvez na hora de gravar o disco, pois é ridículo uma pessoa não gravar o disco que quer hoje em dia. Você não tem pressa. Quer gravar com uma orquestra? Vai juntando dinheiro até o dia que conseguir, ou vai conhecendo músicos eruditos até o dia que você conseguir juntar quatro músicos, leva pro estúdio e grava. Eu nunca gravei disco que não queria. Botei arranjo, piano, cordas, metais. Agora, uma vez lançado o disco, que você vai pra vida real, você não domina mais nada. Tipo: quero tocar em Recife. Legal, eu quero, mas nunca toquei. Curitiba eu demorei anos, e fui não por causa da música, mas por causa das artes plásticas. E estava lotado, neguinho cantando todas, pedindo música que eu nem sabia tocar, uma loucura. Então eu penso: por que não toquei lá antes? Belo Horizonte a mesma coisa. Tem uma multidão que me adora, mas não tem um puto que consiga me levar pra tocar. E eu não estou pedindo cachê. Quero pagar a minha banda e as passagens, só.
Você nunca pensou em tocar nos festivais ao redor do país?
Você tem que pagar. É simples assim. Não estou nem criticando, as regras são claras. Ano passado eu tive um probleminha com o Fabrício (Nobre), que sempre falava em entrevista que me adorava, e é verdade, ele gosta mesmo. Fui falar com ele pra eu tocar, e ele perguntou se eu tava a fim mesmo e sabia como era o esquema. Então ele me escalou pro Bananada (em Goiânia), e me mandou um e-mail longo dizendo o que eles não davam, que é nada. Basicamente era um cachorro quente e um translado. Mas era claro o e-mail dele, e eu não entendi, achei que nada não incluía a passagem. Então combinei cachê com a minha banda. Eu ia perder mil reais, dar R$ 300 pra cada um mais um rango que eu ia pagar pra eles, mas ia tocar no Bananada. Massa. Falei com o Curumin e ele perguntou: “Os caras vão dar passagem? Pra mim não deram”. Falei com o Tatá e a mesma coisa. Falei com o Bubu e a mesma coisa. Só então me liguei que tinha entendido errado. Voltei no e-mail e estava lá em maiúscula. Liguei pro Fabrício e pedi desculpa, não dava pros caras irem de ônibus, disse que entendia eles não terem dinheiro, mas pedi o da passagem. Ele me disse que não podia e arrematou: “Mas está claro no e-mail?”. “Está claro, super claro, mas eu não entendi”. Pior é que saiu na revista Bravo que eu ia tocar. Não fico puto com o Fabrício, porque as regras estavam claras. Mas se as regras são essas eu não vou tocar, não tem como eu ir tocar. Como vou pagar passagem pra minha banda ir pro Acre? Eu não sou uma banda de rock de moleque. Eu vi o Pablo Capilé numa entrevista (para o site O Inimigo – leia aqui), e estava todo mundo um pouco com razão, mas só fiquei puto de neguinho falar que o China era estrela. Isso é ridículo. Ele é um puta cara que agita as paradas dele, vai atrás. O foda dessas discussões é que neguinho daqui fica puto achando que o Fabrício e o Capilé tão comendo camarão (na beira da praia), o que não é verdade. Os caras agitaram um negócio importantíssimo. Tem problemas como todo mundo tem, mas não é verdade que eles estão enriquecendo. Agora, eles também acharem que o China é estrela não dá. O China se fode. Tem estúdio, grava o disco dele. Ele só não quer e não pode pagar (pra tocar). Está todo mundo certo e todo mundo errado. Mas eu não vou tocar em festival nenhum, porque não tenho dinheiro. Eu já decidi que não vou mais pagar pra tocar. Ano passado fiz um monte disso, agora nunca mais. Não toco mais pela metade da bilheteria. E o cachê é R$ 450 reais, R$ 150 pra cada cara da minha banda. E o cara me diz: “Ah, mas eu acho que você consegue isso”. Terça-feira, 2 da manhã na Rua Augusta eu não consigo. Não vai nem minha mulher. Vão quatro pessoas e o cara vai me dar R$ 60. O cara do Tapas (bar na rua Augusta) até hoje não me pagou. Não dá. Por isso que não toco em festival. Se neguinho me ligasse e garantisse passagem, hotel e rango, eu ia e pagava o cachê pros músicos. Agora eu ter que pagar tudo não dá. Tenho essa relação com os músicos da minha banda, eu pago tudo. Se a gente vai tocar no programa do Edgard eu pago, porque eles são músicos profissionais. E por isso eles me amam, porque curtem minha música, mas também porque eu respeito eles.
A gente está passando por essa experiência agora, com a festa do site na Casa Dissenso. Estamos descobrindo como funciona esse negócio de contratar banda. Não sabemos se a casa vai encher ou se vamos ter que tirar grana do bolso pra pagar a banda (nota: tivemos que tirar). O lance é ir atrás de patrocínio porque só assim vamos conseguir pagar um cachê decente.
Que é o caminho de todo mundo hoje. O CB é legal. E eu fico puto porque nenhum cara vai ao show do outro. Ninguém foi me ver tocar até hoje. Com exceção ao Bruno, que é muito meu amigo, e tem uns caras novos que eu conheci agora. Curumin nunca foi ao meu show. Catatau nunca foi. Andréa Dias nunca foi. Leo Cavalcanti também não. Só estou falando de todos que eu fui. Porque, cara, você tem que ir! Por interesse artístico, pra ajudar a cena, pra sair de casa. Vai ver seu amigo, porque se você não for ele não vai conseguir tocar mais. Eu fico: “Moçada, tenho uma festa no CB, vamos lá, a casa paga cachê bacana, vai lá ver, vê o bar, vê que a festa é legal, depois você vai lá tocar”. Eu acho foda essa coisa de um não ver o show do outro. A galera gosta tanto que toca junto, grava disco, mas eu acho que tem que ser mais do que isso. Tem que prestigiar. Você não pode ir lá só quando for gravar o disco. Vai lá porque você gosta, e fala pros outros. Isso eu sinto falta, de neguinho não fazer a cena virar.
Como você vê essa patotinha São Paulo e Rio?
São cenas que convergem, mas são bem diferentes, até pelo clima da cidade. A do Rio me parece ser alegre, e a de São Paulo mais urbana.
O pilar da cena do Rio é a Orquestra Imperial, aquela coisa de “Ereção”, mais festiva, e em São Paulo tem você, mais triste, mais reflexivo…
Tá, mas tem o Curumin que fica cantando música de baile mais feliz que os caras de lá. Tem o Leo que faz música hedonista. É que a cena de São Paulo é a cena do Brasil, tem cara do Ceará, cara do Recife. A novidade em São Paulo é que tem gente daqui fazendo música. Antigamente era mais pontual. Tinha o Adoniran, o Paulo Vanzolini e você vai contando nos dedos. Agora tem uma galera enorme que nasceu aqui, conviveu com a galera do Recife, do Rio, então acho que isso já faz a cena ser diferente. No Rio são os cariocas e pronto. E acho que tem uma diferença de humor sim por que o humor do Rio é diferente, mas se você pegar o Los Hermanos, se pegar o “Ritmistas”, que é o disco do Domenico, vai ver que é um disco triste, profundo. Tem diferença de temperamento, mas me sinto absolutamente identificado com a galera do Rio de Janeiro, com Kassin, Nervoso, +2, Los Hermanos, Rubinho (Jacobina)… Se eu morasse lá seria a minha turma fácil. Que aqui é o Cidadão, a Andréa Dias, o Guizado. Talvez tenha isso de temperamento, o carioca é mais feliz mesmo. Também, com aquela puta cidade foda, linda, mas não sinto que tenha diferença na música. Quer dizer, tem, e é bom que tenha, mas o Kassin está totalmente dentro de uma cena aqui de São Paulo. Toca com banda paulista, produz disco da galera daqui. Eu acho que a galera de Recife é mais diferente. Eles tem algo deles que bate aqui em São Paulo, mas eles tem algo deles. A Karina Buhr tem algo que a gente não tem, apesar de parecer pra caralho, do Guizado tocar com ela. Tem um sotaquinho que é diferente.
Você nunca compôs com a Lulina?
Estou tentando. A Lulina é paulista. Ela fica tirando sarro de paulista, mas ela é daqui, com sotaque pernambucano. Adoro. Acho um caso exemplar de uma garota de Olinda que mora em São Paulo, e tem o sotaque e é do rock, uma figurinha pequena e que compõe e grava como uma doida. Essa eu nem tento competir, está no décimo disco. E é uma cantora que compõe. É muito representativa.
A gente tem uma safra de compositores enorme. Bruno compõe, você compõe…
Todo mundo compõe nessa geração, mas a novidade é que as cantoras compõem. É uma espécie de premissa. Você não pode mais ser cantora se não compor. A Nina (Becker), a Thalma (de Freitas), a Karina (Buhr). E mesmo as cantoras intérpretes, porque o trampo da Karina não é só dar a voz, é tudo, e não é à toa que a acho uma das melhores letristas. Ela está se esforçando pra isso. Mas uma cantora como a Mariana (Aydar), que é espetacular, brilhante e podia ter todos os compositores a seus pés, eu em primeiro lugar, mesmo ela quer compor, porque ela acha que precisa. Não tem mais a Maria Bethânia que fica no Olimpo: “Por favor, mandem chamar os compositores”. A coisa do homem compondo desde os anos 60 já é realidade, mas cantora é novidade. Eu fico puto, porque acho que cantora tinha que cantar só compositores (risos). Eu fico puto quando pego o disco de uma cantora que adoro e só tem música dela. Pô, libera ai. E toda hora que conheço uma cantora já tento a aproximação. É um outro jeito de sua música ir pra outros lugares. Isso eu acho uma coisa interessante. Não adianta, a gente sempre vai voltar na geração dos anos 60, os caras estão aí até hoje. O Caetano cantava o Chico, o Gil. Eu podia cantar musica do Catatau, que acho foda, mas nunca penso nisso. Talvez isso faça falta também. Acho que até penso mais em compor com o Catatau, o que vai ser impossível, mas eu podia, por exemplo, cantar “O Pinto de Peitos”. Que não seja em disco. Podia cantar em show. Podia cantar “Magrela Fever”, que é foda, totalmente pra minha banda, e eu não toco.
Se amanhã você tivesse uma proposta do Sesc pra fazer um show apresentando a nova geração tocando cinco musicas dessa galera toda que você circula, o que você cantaria?
Cinco… Tem uma dos “Ritmistas”, do Domenico, que acho linda. Alguma do Catatau. É difícil escolher qual, pois tem umas doze que acho foda. “Magrela Fever”, do Curumin, que talvez nem seja uma das músicas que eu mais gosto, mas acho que o Curumin teria que estar nesse negócio. Nossa, cara (pensando). Ia ter alguma do (Marcelo) Camelo, mas não sei qual.
Carreira solo? Você gostou do disco dele?
Não, mas acho bacana o lance que ele quis fazer. Acho um bom disco, mas a minha expectativa dele é gigante. Ele foi fazer o disco, esperei uma obra prima. Ela não veio. Estou esperando o segundo. Voltando… tem uma música do Camelo, uma do “Ritmistas”, Curumin, Catatau, que eu não sei qual. Perai, vou escolher uma que tem um dos versos mais lindos da música brasileira: “Escolher entre chuva e sol é como sofrer de hérnia e correr uma maratona de cem passos de animais”. Falta a quinta, (pensando). Não pode ser música minha, né? (risos gerais).
Do Cérebro Eletrônico? O que você acha deles?
Acho muito bom! Acho o Tatá (Aeroplano) um cara muito foda, que conhece, fala, tem opiniões fortes, vai ao show de todo mundo. Ele é nosso DJ oficial, tocando nossa música no Studio SP. Mas tem algo ali, e o problema é meu, não do Tatá. Eu tenho problema com musica engraçada. Por exemplo, o DoAmor eu não dou conta. Sou um sujeito muito mal-humorado, não dou conta da piada, mas isso é problema meu.
Mas “Pareço Moderno” não é uma piada…
Não, mas tem algo ali. Piada não é a palavra. No caso do DoAmor sim, que é piada escrachada. No caso do Cérebro é humor, tem uma ironia, tipo: “Vou acordar o Sérgio Sampaio”, mas o Cérebro é foda em termos de som, e o Tata é um grande compositor. Está difícil achar uma quinta música, podia ser uma do +2. O Kassin tem músicas lindas… tem o Lucas Santtana…
Se fosse o Caetano?
Eu escolhia doze agora, só dos últimos dois discos…
E o Rodrigo Campos?
Calmaí! Claro, o Rodrigo! “Rua 3”. A música mais linda que eu ouvi no ano passado. Fiz alguma lista pra alguém, que fiquei numa dúvida louca entre o disco do Rodrigo ou o “Método Tufo” como melhor da década e escolhi o Cidadão porque já passou tanto tempo e ainda está na minha cabeça. Mas ”Rua 3” é brilhante, narra a semana do cara, fala do metrô Carrão, em São Paulo, coisa que eu nunca vou conseguir fazer. Rodrigo Campos foi um dos encontros mais fáceis que eu tive na música. Estou compondo um monte com ele, e a gente vem de dois lugares diferentes.
Como foi a aproximação?
Eu me apaixonei pelo disco do cara e fui atrás dele. Fui no Tuca, não gostei do show, porque ele cantava mal no sentido da dicção. Achei o som legal, comprei o disco e pirei. Fui atrás dele, escrevi, e ele é mó brother. Neguinho fala, eu vou atrás. Por isso fico puto quando ninguém vai ao meu show. O Kiko Dinucci agora é uma paixão nova. O Rodrigo é foda. É uma linguagem louca, uma gíria de bandido que vira poesia. Tem uma música nova dele do caralho chamada “Sete Vela”, sobre um amigo que é puxador de carro…
São Paulo era o túmulo do samba, e o novo samba está nascendo aqui…
Porque a gente não tem tradição nessa porra, não tem que ficar pagando pau pra Portela…
E não adianta a Maria Rita gravar um disco no morro como foi o último…
No Morro da Urca, né. Ô disquinho de merda aquele… Perdi minha chance de ser gravado… (risos)
Tudo bem, você ainda tem chance com a Marisa Monte…
Iria adorar se a Marisa me gravasse. Ela é do caralho. Acho engraçado… ela é muito importante pra minha geração e ninguém admite isso. Em alguma hora ali era ela quem fazia essa ponte pop gravando Laurie Anderson, Jamelão, Velha Guarda, Lou Reed, fazendo parceria com o Arnaldo e o Carlinhos Brown. “Cor de Rosa e Carvão” é um disco foda. É a melhor gravação de “Dança da Solidão”, melhor que a do Paulinho da Viola. Tem o Gil tocando violão! Mas ninguém fala dela. Talvez seja vergonha, sei lá. Ela piorou bastante, o que é normal na carreira de alguém, e acho que ela inventou uma formulinha e está indo atrás… mas não vejo nenhuma cantora falando dela e todas devem muito. Adoraria que ela gravasse uma música minha. Ela lê teu blog?
Ela lê o blog do Alexandre Matias (risos – para entender a piada, clique aqui)
Quando ela ia lançar o disco duplo, de samba, o Arnaldo (Antunes) falou comigo e com o Nuno (Ramos) perguntando se a gente não queria mandar algo. A gente gravou umas 300 músicas e mandou, mas não sei nem se ela ouviu. Saber quem eu sou ela sabe, que ela também não é boba, ela sabe o que acontece, mas nunca acenou pra gravar uma música minha.
Essa brincadeira de escolher músicas da sua geração para tocar é meio como defender a cena mesmo. Era uma coisa que o Renato Russo falava nos anos 80, de fortalecer o cenário, um falar do outro, e a Plebe tocava música da Legião, a Legião tocava com a camiseta da peça “Feliz Ano Velho”, do Marcelo Rubens Paiva, que usava camiseta da Plebe Rude, o Paralamas tocava “Química”…
Eu faço isso no sentido mais estreito, tipo o Rodrigo Campos. Conheci o cara, me apaixonei pela música loucamente, escrevi sobre o disco, chamei ele pra minha banda e estou compondo com ele, vão ter três músicas dele no disco. E estou a fim de fazer um disco só eu, ele e o Kiko Dinucci, os sambistas tortos de São Paulo. Mas eu podia colocar duas ou três músicas (dessa geração) a cada show meu. Tipo: “Agora vou cantar uma música de um cara que se chama Wado, agora uma do Curumin, uma do Catatau”. Estou falando isso e pensando comigo mesmo. E isso era uma coisa que neguinho fazia, todo mundo cantava com todo mundo além de compor. O Caetano cantava o Chico. Essa minha geração tem uma coisa autoral muito forte, até as cantoras, que não gravam Chico, Caetano, porque pega mal. Mas deviam cantar. Falo isso pra Mariana: “Você é cantora, e pode cantar o que você quiser”. Já vi ela cantando “Carcará”, e ela pensa na Bethânia e, na boa, foda-se a Bethânia. Canta “Carcará” que você pode, e fica lindo. Mas também acho do caralho que ela queira me cantar…
Você falou de disco novo. O que vem?
Depois dessa maluquice de disco duplo… gravei um monte de coisa, e acho que esse disco me serviu pra tirar uma espécie de sumo dessas coisas que vão do Nelson Cavaquinho até o Jards Macalé e tentar entender qual o som que eu faço…
E qual o som que você faz?
Eu sou um sujeito que lida com a música brasileira, um compositor com muita facilidade de compor, muito ligado na letra, faço música por causa dela – e a letra é muito mais importante que a música. Sou um cara que não sabe de música, mas que fica querendo inventar brincando com isso. Inventar não é misturar as coisas, mas esticar, pegar o que o Macalé fez e tentar esgarçar aquilo, pegar o Nelson Cavaquinho e esgarçar, e juntar os dois tecidos. Acho que esse monte de coisa que eu fui fazendo acabou criando um novo tecido, que é difícil de dizer o que é, teria que dar um nome. Mas acho que esse (novo) disco vai ser uma coisa muito pessoal. O samba voltou de algum jeito, não do jeito que era, pagador de um tributo a um samba triste. É outra coisa. É o Rodrigo, que veio de outro lugar, que tem um cavaquinho meio venenoso. O cavaquinho de antes era melodioso. O dele também é, mas é um negócio do Cacique de Ramos, que ele gosta muito, e eu nunca gostei. Ele me abriu o olho, eu tinha muito preconceito.
Como ele entra esteticamente dentro da banda?
É um negócio muito rico, por que o Gui (Guilherme Held) mudou o jeito de tocar guitarra por causa do Rodrigo. A grande novidade do último disco foi o Gui, as guitarras dele, mas mais que isso suas composições. As melhores músicas que fiz na vida foram com o Gui. “Para Fazer Sucesso”, “Sei Lá”, “Pierrot Lunático”. Eu trouxe pra esse disco novo tudo que aprendi com o Gui. O Rodrigo entrou com um sotaque que fez a guitarra do Gui ir pra outro lugar, porque ele tinha que dar conta de um cavaquinho. Ele fica se medindo, e está adorando, fica querendo fazer naipes, uma maluquice. Você pode dizer: Novos Baianos. É, mas por um cara de Araçatuba que é discípulo do Lanny Gordin e é isso que liga ele aos Novos Baianos, mas o cavaquinho do Rodrigo não é o do Pepeu. O do Pepeu é o do choro, o do Rodrigo é o do pagode, é o do Fundo de Quintal, ele gosta daquela porra. O comportamento é o mesmo, mas o resultado é outro. E tudo isso organizado por mim, que é o sujeito que está fora de tudo, o cara das artes plásticas. Acho que tudo isso que estava espalhado nos outros discos está aqui, e tem o Nuno e o Clima fazendo letra, pensando sobre tudo isso. Eles nunca escreveram tão bem. No último disco as letras já estavam boas, mas agora eles pegaram o jeito de escrever, que é uma letra que não fala sobre absolutamente nada, meio abstrata. Acho legal pra caralho. E foi chegando num nível de que você vai elencando versos e foda-se, esse negócio vai fazer sentido de algum jeito. Porque a guitarra está com o cavaquinho, e a música é um samba que não fala do samba. Vai ser uma espécie de síntese dos outros discos.
Quantas músicas vocês estão trabalhando?
A gente vai gravar 14, espero muito ficar nesse número. Talvez 12, se eu conseguir tirar umas duas para fazer um disco foda. Estou num momento de fazer um disco desses, tipo: “Essas duas músicas estão tirando força, então foda-se, adeus, sai fora”. Estou a fim de pensar a ordem (das faixas). No último foi uma zona. “Vamos gravar tudo”. “E qual é a ordem?”. “A que está no pro tools”.
E foi considerado um dos melhores do ano por muita gente…
Sempre digo que se eu faço um disco dos dois ele ia ser muito mais forte. Tenho certeza. Vou fazer isso agora. Não à toa estou pensando em chamá-lo de “Romulo Fróes” pela primeira vez, e aparecer na capa – lógico que de uma maneira esquisita, até já andei tirando umas fotos estranhas. Tenho um sentimento que é um disco com vocabulário mais definido. Não que os outros não tivessem. Tem uma coisa que estou testando, que nunca fiz, que é a minha voz não ser esse canto pasmacento que sempre foi, essa coisa que faz o João Gilberto parecer um cantor lírico. Estou a fim de tentar mais. Posso achar tudo uma bosta e voltar a cantar do mesmo jeito, mas quero fazer coros. A voz sempre ficou em segundo plano, era só pra cantar as coisas, até chamei cantoras pra dar outro colorido. Eu sempre tive esse ar cool: “Ah, eu canto como brasileiro”. Mas era uma coisa meio de covardia, meio vergonha de pegar e soltar pra fora, ser um cantor. Não que eu ache que cante mal, mas é muito sem expressão.
Um amigo nosso sempre diz que não gosta do jeito que você canta…
Fico puto quando me chamam de desafinado! Não tem que ver se eu canto afinado ou não, pois tem gente que canta afinado e é uma bosta. Afinação não é o canto brasileiro. Foda-se. Tem lá a Elis Regina, tudo bem, mas tem o Nelson Cavaquinho, o maior cantor de samba de todos os tempos e o cara nunca acertou uma nota. Isso me deixa puto. E tem quem fale e não sabe nada de música, não sabe se estou afinado. Entendo quando dizem que tenho um canto besta. Mas até hoje isso me serviu como estilo: é o cara que canta besta, que está num puta rock e não muda o jeito de cantar. Quando elogiam é por isso também: “O bacana do Romulo é que a banda está lá detonando e ele não perde a sua sisudez”. Tem gente que ama, que se eu soltar a voz vai ficar puto. Mas eu entendo quem não gosta, tanto que estou pensando em mudar, fazer coro, estou com isso na cabeça. Lógico que vai ser de um jeito esquisito de novo.
Você acha tão esquisito assim?
Como o Rodrigo fala, quando eu digo que está esquisito é porque está bom (risos). No começo eu falava que o cavaquinho estava esquisito e ele achava que estava fazendo merda, agora ele persegue essa esquisitice. Mas não é esquisito pra quem está acostumado. Eu não persigo o esquisito. Persigo o não natural, até o não musical. A minha banda agora está foda, como nos outros discos, mas são pessoas de perfis diferentes. O Pedro Ito é um batera formado, muito ligado em tudo. Ele não consegue deixar de ser músico por minha causa. Ele faz o que quero, mas tem que se satisfazer, e isso leva o som prum outro lugar sensacional, muito novo. Ele sacou também que persigo o não normal. Mas não considero meus discos difíceis. Não fiz o “Araçá Azul”. Faço disco que dá pra cantar, mas não é pop, não é o “Japan Pop Show”. É muito diferente. O Curumin tem uma facilidade com a música pop que eu nunca vou ter. Adoro o jeito dele cantar, não me imagino fazendo aquilo, mas quero tentar, e talvez minha música não agüente o que ele faz.
Mas você tem uns momentos pop.
Nunca no canto.
Mas a música com a Nina (“O Que Todo Mundo Quer / Ninguém Liga”) é bem pop dentro do conceito do samba…
É, um frevo. Tem um disco paralelo que sairá em algum momento, juntando os frevos meus, do Clima e do Nuno. Já tem seis, a gente quer lançar um daqui a muitos anos. Tanto que o frevo que pode entrar no disco novo está muito sobre alerta, porque está muito frevo, muito especifico. Vou gravar ele porque o acho muito foda. A Nina vai cantar, mas talvez não entre, porque eu não quero algo que se destaque muito. Quero que essa coisa do canto, que é uma massa meio amorfa, vá para o conjunto todo, para a composição, pro som, e você não sabe bem o que está acontecendo. É samba, mas o baixo é diferente. A música é triste, mas a letra não. Eu não quero que fique algo que você consiga identificar, nada que fique claro. Porque o outro disco tinha vários capítulos pequenos, que eram lindos. Por exemplo, “Astronauta”, que acho uma das canções mais lindas que já fiz, mas dentro do universo ela tirava força de “Para Fazer Sucesso”, de “Sei Lá”, das canções mais bem feitas. Mesmo que eu tenha uma música linda, se ela está tirando força de um negócio mais abstrato, ela vai sair fora.
Você é formado em artes plásticas?
Sou, na verdade em licenciatura, mas minha vida é artes plásticas. Primeiro eu quis ser desenhista, depois pintor, depois desencanei, mas trabalho com isso, com o Nuno desde 92, só que entre idas e vindas, porque ele não tinha grana (naquela época), era pobrão. E em 2000 ele fez uma retrospectiva, me chamou pra trabalhar por um ano, e depois o negócio foi indo e estou lá desde então. Agora estou num outro caminho, de sair fora de lá, mas é difícil pra caralho, porque é um trampo ótimo. Por exemplo, agora faz 15 dias que não vou lá porque vou ganhar dinheiro com outra exposição de um amigo meu e o dinheiro dessa exposição eu vou gastar no disco. Então o Nuno me permite que eu saia do trampo pra fazer outra exposição, pra gravar o disco e ainda me paga um salário, porque sou funcionário dele. Tenho uma situação muito cômoda. Ele é meu amigo, parceiro, e a partir de julho estou fodido, porque ele vai estar na Bienal e eu vou parar tudo em função disso. Eu criei uma relação perfeita, tão perfeita que se deixar vou ser assistente dele até os 80 anos. Eu estou no dilema do Tostines: eu não vivo de música porque tenho essa situação confortável ou eu tenho essa situação porque não vivo de música? Será que se eu cair fora eu não vou me virar? Porque meu plano perfeito não deu certo. Era trabalhar com ele, aprender um monte, então eu gravava um disco, estourava no segundo e ia embora. Eu lancei o primeiro, o segundo, o terceiro, todos figuram nas listas de melhores do ano, as pessoas me chamam de gênio, sou capa da Ilustrada três vezes por ano e não tenho a menor possibilidade de viver de música. Então o plano perfeito fodeu. E lá se vão 18 anos. Mas minha vida é ótima. Só trabalho com arte. De certa forma o plano se realizou, eu vivo de arte – não da minha, mas de arte.
Como foi a aproximação musical de vocês?
Primeiro eu era artista e fui trabalhar com ele. Aí fui desencanando, vi que podia virar um emprego e pensei: “beleza, não vou mais pintar, mas vou fazer isso”.
Você não pinta mais?
Não, faz tempo. Mas fiz um desenho recentemente e fiquei muito feliz, porque a Tulipa Ruiz vai lançar o disco dela e chamou uma galera pra desenhar tulipas, a flor, e eu não desenhava há 20 anos. Foi um tesão. A tulipa ficou linda, deu vontade de voltar. A música sempre esteve na minha vida, sempre com bandinha e tinha essa porra do Losango Cáqui. Inclusive tem uma parceria minha com o Nuno em um dos discos, mas é forçada, porque eu peguei um poema dele e musiquei. Ele detesta, nunca falou pra mim, mas ele achava uma bobagem. Numas dessas saídas, porque ele não tinha grana pra eu ser funcionário dele no começo – pintava uma exposição, trabalhava, rolava a grana e depois eu saía –, a forma que eu ganhava dinheiro era com produção de filme publicitário. Foi quando conheci o Clima, que era diretor. Me aproximei dele, porque ele também é artista plástico e quando ele soube que eu trabalhava com o Nuno se aproximou de mim. Ele foi mais generoso comigo do que o Nuno no sentido da música. Porque ele sacou que a minha música era ruim, mas ele até hoje acha que canto bem, e ele começou a perceber que eu tinha umas melodias boas. Ele enxergou que a única coisa ruim eram as letras. E comecei a compor alucinadamente com ele. Um dia cantei uma música pro Nuno, porque sempre tem um violão no atelier, e o Nuno perguntou de quem era. “A letra é sua?”. “Não, a letra é de um cara, o Clima”. O Nuno teve uma experiência mínima com música, é casado com a irmã do Arnaldo Antunes, em alguma hora ele quase foi um Titã, já foi gravado pelo Belchior – ele não conta qual foi a música, uma parceria dele com o Arnaldo. E o Nuno começou a me falar de umas músicas que tinha feito e quando a gente viu estava compondo, e desde então nunca mais paramos. Acabamos de fazer uma parceria, e estou num momento foda, porque a última música que você fez é sempre a melhor, e estou assim, sem querer colocar uma música nova (no disco). A gente fez uma música linda hoje – e lógico que ela pode não ser linda daqui um mês. A coisa mais forte do meu trabalho é a coisa entre eu, Clima e Nuno. Isso é uma cena. É o nosso grupo. A gente só fala de música o tempo inteiro, de um jeito que as pessoas se assustam. Da minha música mesmo. Porque neguinho tem medo de ser criticado. Eu adoro a crítica, se o cara tiver o que dizer. Se não, mando tomar no cu. A gente sempre brinca que tinha acabado de pegar o “Cão”, e eu adoro o disco, mas a gente sentou num boteco e destruiu faixa a faixa, falou que tinha feito uma merda de álbum. Temos a consciência de não nos acharmos gênios, se proteger de algo.
E quando te chamam de gênio?
Ninguém me chama de gênio. Até hoje ninguém falou mal de um disco meu melhor do que eu falo. Não é que eu fique esperando que alguém fale mal, pelo contrário, mas acho importante que um crítico tivesse algo pra falar num sentido mais profundo, coisas que eu penso. A galera fala mal de um jeito péssimo. Pra falar mal não pode ser: “Esse cara é paulista e fica fazendo sambinha” (fala com voz de ironia), essas besteiras. O que significa isso? Nada. Tem uns caras do Rio, A Camarilha dos Quatro (veja aqui), eram uns caras que escreviam sobre cinema e agora falam de música, e cada um deles escreve sobre você páginas. É muito foda. O Lívio (Vilela), do Bloody Pop (veja aqui), é foda. O mesmo que acontece na música acontece no jornalismo. Você pega a Rolling Stone e o Tiago (Agostini) tem que dar conta de um Em Estúdio com 1000 toques. Você paga suas contas com isso, mas pode fazer as coisas paralelas, do jeito que mais gosta, e isso que eu acho legal hoje. Antes só tinha a Bizz. Ou você estava lá ou não estava. (Hoje em dia), o blog é onde as coisas mais legais de músicas saem.
Você tem uma linguagem das artes plásticas que é muito contestatória. Você já pensa arte num certo ambiente. Não é como o Curumin, que acorda e faz música porque é músico, e não precisa um conceito.
O meio em que eu vivo é muito mais profundo, até porque é um tipo de arte que pega coisas de outras artes. O Nuno, boa parte do trabalho dele tem a ver com literatura, música popular. O cara vai esculpir em areia versos do Cartola, e eu sou de uma turma que é assim. O Caetano é de música e também tem isso. Mas eu sou mais de artes plásticas. Toda vez que alguém de música fala de artes plásticas erra 100%, inclusive o Caetano. Ele deu sorte que conheceu o Helio Oiticica, que é o maior artista brasileiro de todos os tempos, se não neguinho iria achar até hoje o Portinari foda. A música se basta muito. O Jards também deu sorte, que estava ali com o Wally Salomão. Porque música não precisa de artes plásticas. Música é a coisa mais forte que existe no Brasil, tem uma puta história. Artes plásticas não têm história, está começando. A minha geração não discute bem a história da musica. Eles falam de pedal, porque tiveram que aprender. Como eles manjam de equipamento, parece que não contribui pra nada, mas o som dos discos é foda, obra prima. O papo pode ser mais chato. Eu acho que sou o cara que menos manja de equipamento, mas sei do que eles tão falando, e sei da importância daquilo.
Você, assim como o Wado, teve a sorte de estar com as pessoas certas…
E há uma grande inteligência nisso. É o grande lance do Caetano, e o que o faz estar vivo até hoje. Quando ele viu que o Jaques Morelembaum tinha dado o que tinha que dar, pegou a molecada. E daqui a pouco talvez eles não dêem mais conta. Vão gravar um terceiro disco e beleza. Teve a época Jards Macalé, teve a época da banda Black Rio, que foi a que durou menos, teve o Morelembaum… ele é um cara exemplar disso. O Gil não tem isso, porque ninguém toca melhor que ele. Ele se basta. Ele arruma os caras para fazer o trampo dele. Como o Curumin: ninguém nunca vai tocar melhor que ele. O Catatau nem se fala, agora eu não. Pra parecer eu tem não parecer nada.
A sua música no disco da Mariana Aydar difere um pouco…
Na composição. Ai sim difere um pouco. O som não. O som eu acho parecido com o da galera porque gosto do disco deles. Eu chamo o Gustavo Lenza, que é o cara que faz o disco da Céu, do Curumin, do Lucas, e ele faz daquele jeito. Então você tem uma bateria no meu disco que está no disco de todo mundo. E isso eu acho foda. Hoje o som é muito bom. Nos anos 60 tinha um puta som, mas era sorte. Tinha um maestro, mas às vezes ele estragava. E é curioso porque a galera de hoje usa os mesmos instrumentos dos anos 70, tudo que foi renegado nos 80 e 90. A gente está revivendo. Nego grava disco em gravador de rolo – depois põe no pro tools, mas grava em rolo – tudo é valvulado, o instrumento é de 68, mas tudo isso com pensamento. Lá era o jeito de gravar. O livro do Tim Maia é legal porque mostra que ele ficava puto porque não conseguia o som que queria. O Caetano é outro. Primeiro porque eles não sabiam como fazer. Tim Maia falava: “porra, o disco que eu ouço nos EUA não tem esse som”. Então ele comprava o mesmo baixo, o mesmo microfone, tudo, jogava na mão dos caras e não tiravam o mesmo som. O Curumin tira o som da Motown, do Tim Maia, ele sabe tudo.
Estamos num momento em que a tecnologia está muito avançada. O Nevilton, por exemplo, comprou os equipamentos e grava tudo em casa.
E neguinho trata isso como algo menor e não é.
Exato. O som do último EP dele é muito melhor que o do “Quatro Estações”, da Legião Urbana, que tem uma produção terrível.
O Caetano voltou à tona por causa do som. Alguém perguntou outro dia: “Qual o melhor disco dessa geração?”. E alguém respondeu: o “Cê”. Achei perfeito, porque a banda é dessa geração com as canções do Caetano. Foi a inteligência dele de, aos 70 anos, sacar que algo estava acontecendo. É o primeiro sinal de relevância dessa cena.
O que incomoda algumas pessoas é o batismo da máfia do dendê…
Mas é um batismo diferente. Ele gravou dois discos com os caras, até porque o que ele fala que gosta ninguém ouve mais. Esse é um batismo mais profundo. Ele gravou dois discos lindos com o Pedro Sá, um guitarrista sensacional que estava no Mulheres Q Dizem Sim. Outro dia me perguntaram se eu achava que o Los Hermanos era o big bang da geração, e pra mim é o Mulheres, porque estavam lá o Domenico, o Pedro Sá, o Kassin estava por ali…
Ainda faltava um letrista…
Faltava, se bem que tem uma das maiores letras da geração: “Todo homem tem voz grossa e tem pau grande. E é maior do que o meu”. Mas é verdade, faltava o Camelo e o Amarante ali. Mas o Caetano diz muito mais gravando dois discos com os caras. A banda é foda. O Marcelo (Callado) tem o DoAmor com o Ricardo (Dias Gomes), que era do Brasov, e tem o Pedro que era do Mulheres Q Dizem Sim, um povo com tentáculos musicais fodas. O Caetano vai lá e pega e grava. Se ele falasse que gosta de mim eu ia achar foda. Não ia mudar nada, e essa é a novidade de hoje. Se a Marisa Monte gravasse música minha, talvez não mudasse nada. Aliás, a chance de mudar nada é gigante. Talvez se ela lançasse um disco só com músicas minhas, mas ainda tenho dúvidas. Antigamente a Elis Regina pegava uma música do Milton Nascimento e puf, ele estourava. “Vou gravar o Belchior”: mudava de rumo. João Bosco, Fagner, Ivan Lins, todos mudaram de vida. A Gal Costa pegou duas músicas dos meus discos e ninguém sabe disso. Porque não toca mais, as coisas não são mais assim. O Marcelo Camelo mudou um pouquinho de tamanho depois da Maria Rita, mas nada se compara ao Belchior. Nada do que era… Eu saí na capa da Ilustrada quatro vezes. Muda a vida de alguém? Na vida pessoal, talvez. Naquele dia você fica numa alegria, mas minha tia não sabe que eu gravo disco, a família não lê a Folha. Faustão? Talvez, mas você vai do jeito errado. A Mallu (Magalhães) foi no Faustão e se fodeu. Ela nunca mais vai fazer sucesso na vida depois que foi lá.
O negócio é o rádio…
Isso é foda, cara! A gente não tocar no rádio. Imagina ficar tocando “Para Fazer Sucesso” no rádio o tempo inteiro, em varias rádios? Duvido que essa porra não vire. A rádio é mais forte que a TV. Na TV você é um mico de circo. No rádio não, é perfeito, você fica feliz. O que importa ali é a música. Toda vez que toquei em rádio era uma loucura, todo mundo ligava, mas são eventos muito especiais. A minha piada é que toda vez que toco no rádio é porque eu estou na estação. Eu sei que já aconteceu, mas nunca tive o prazer de me ouvir no rádio…
Nosso problema é que aqui eles se acostumaram a receber R$ 30 mil pra tocar o disco da gravadora, então ele não vai tocar seu disco de graça porque abre precedente. Então ele pega e toca o Caetano – velho. Não toca o disco novo do Guns, toca “Sweet Child of Mine”. Só velharia, as novidades são de quem está pagando, e as pessoas não mudam. Tanto não mudam que o Caetano é o terceiro maior arrecadador de direitos autorais do Brasil hoje…
E não tem nenhuma música do “Ce” e do “Zii e Zie”. A TV eu quero que se foda, o jornal é legal porque todo dia tem alguém na capa, mas rádio tinha que mudar. O povo me conhece em Curitiba por causa da Rádio Lúmen (ouça aqui), que me toca bastante. Não tem disco meu em Curitiba pra vender. A minha tia iria saber que sou músico se eu tocasse no rádio. A minha mãe é um caso clássico. Ela não tem gosto nenhum, e ouve radio desde que nasceu. Ouvia Aracy de Almeida, ama Dolores Duran, Orlando Silva, até hoje, porque ouviu no rádio. Hoje ela ama o Zezé di Camargo, a Claudia Leitte, porque ela não faz distinção. Está todo mundo tocando no rádio, ela canta igual. Então o que tocar ela vai gostar. Falar que o rádio toca o que o povo quer ouvir é uma balela.
Ele dita o que o povo quer ouvir.
Sim. E meu pai, que tem um gosto foda (mas não ouve mais música, nem o meu disco), diz que também tinha música ruim naquela época, mas as duas tinham o mesmo peso, você escolhia o que queria ouvir, e a música boa eventualmente ganhava. Hoje a concorrência é desleal: como eu vou concorrer com a Claudia Leitte? A Maria Bethânia criou um subselo, lança um disco por ano, e não toca na rádio, mas está lançando. A Gal Costa morreu. Mesmo quando ela quis fazer um disco de novos compositores fez tudo errado, não se envolveu. Ela esqueceu quem eu sou, e eu já tive com ela. Pra mim a Gal é a maior cantora de todos os tempos, mas a carreira de hoje morreu. O Jorge Ben morreu. O Caetano está vivíssimo. O Gil vai ressuscitar agora, já gostei do último disco dele. O Paulinho da Viola lança um clássico a cada dez anos, tem o tempo dele. O Chico…
O Chico às vezes se perde nesse negócio de pegar uns puta músicos para fazer uns arranjos e se esquece da simplicidade de “João e Maria”…
Mas ele não sabe nada de som. Ele está pouco se fodendo. O último disco dele, “Carioca”, é foda. Tem um documentário… o produtor está ali na frente dele fodendo a música, com um arranjo horrível, e o Chico preocupado com um cacófato, nego começou a dar risada e ele: “O que foi?”. “Ah, Chico, é que está ‘como um gato a sua dona’, é a suadona, né”. E ele começa a se preocupar. A música é linda, o cara estragando o arranjo até que ele chega a “aos pés da dona”. E fica. O Caetano não. Ele chama o Pedro Sá pra fazer rock. O Chico quer fazer música boa – e ele faz aos rodos – e dá na mão de um mané. Às vezes dá certo, às vezes não, mas ele não fica pensando nisso. Ele pensa na suadona. “Carioca” é foda, a primeira música é muito boa, mas o som do disco é uma bosta.
O que você pensa sobre o seu futuro?
Eu estou ficando velho, meu truque perfeito não deu certo, e já saquei que não vai acontecer ou se acontecer será por questões que não estão ao meu controle. Então quero continuar gravando disco, continuar com o que conquistei. Fazer o disco, lançar, dar entrevista, então acaba e começa tudo de novo. Tem o momento pré-disco novo, que é do caralho, e ele nem existe ainda. Então você ouve umas coisas que você não tava pensando… vou sair daqui cheio de coisa na cabeça. Acho legal registrar esse processo. Conquistei algo que é poder fazer música, e acho isso foda. Se o Caetano falar que gosta de mim vou achar foda. Se a Marisa Monte gravar uma música minha vou achar foda. Se a Universal quiser me contratar eu ia achar foda, mas só se eu puder fazer o que eu faço, senão vai tomar no cu. É ridículo artista novo que vai pra gravadora e diz que faz o que os caras querem. Foda-se. Trouxa, você não precisa disso. Antes você não gravava em casa, tinha que depender de uns caras desses. O Liminha ficava falando merda pros Titãs. Você tinha que dar conta daquilo, mas não precisa mais engolir sapo hoje em dia. Talvez você também esteja perdendo coisas, porque o Liminha também tinha algo a dizer…
Essa liberdade em excesso não faz as pessoas passarem dos limites?
Não acho ruim passar dos limites. Acho merda ficar aquém dos limites, porque não ouve outra pessoa, não se expõe. A pior coisa da arte é o neguinho não se expor, o gênio de boteco. E hoje ele não cola mais. Nos anos 60 tinha o gênio de boteco que dizia que não gravava porque era um artista integro, não faz pacto com ninguém. Em artes plásticas tem muito disso. Em música não tem mais. Eu faço o que quero na minha gravadora, no estúdio. Você lança seu disco. Pode não ter o esquema da grande gravadora, e é isso que eu falo: se a Warner me chamasse eu ia amarradão porque eles tem algo que não tenho. Vão me fazer tocar no Canecão. A Mariana Aydar tem isso. Ela é da minha geração, tocou no Canecão e eu no Cinematheque. Ela tocou no Canecão por que é melhor que eu? Talvez, mas também porque ela tem gravadora. E isso não faz dela uma artista menor, porque ela fez o disco que ela queria, ninguém encheu o saco. O Zeca Pagodinho está lá porque ela ama ele, e cantando música dela. Se você não faz o disco nas suas condições está fora. Eu prefiro a Nina como artista. Ela vai lançar dois discos lindos, bem mais que o da Mariana. Mas a Mariana é uma cantora fenomenal que gravou um disco super bonito, e eu acho legal, porque eu quero ter as duas pra mim. E já que não da pra ter duas em uma eu pego as duas. A Mariana que é uma cantora fenomenal e a Nina que é mais parecida comigo. A Mariana é coração. A Nina não, vai lançar dois discos, gravou três (canções do Jorge) Mautner. Ela é louca de ter feito isso. A Mariana é mais clássica. É a Maria Bethânia e a Gal Costa.
Você chegou a conversar com a Karina Buhr?
Não, só de oi mesmo. Preciso chegar mais junto dela. Ela compõe pra caralho, o disco inteiro é dela, lindo, muito lindo, letras ótimas. Acho a Andréia Dias uma ótima compositora, a Lulina também, a Mariana – mas ela só triscou nesse ultimo disco – a Nina compõem muito bem. E a Thalma, a Thalma é muito boa, e ela não lança esse primeiro disco, todo mundo fica cobrando dela, e ela fica aflita. A música do disco da Orquestra (Imperial) é linda O dia que ela conseguir vai lançar um disco espetacular. Ela canta uma música inédita minha no show, que fiz pra ela e acho muito bonita. E ela escolheu cantar samba jazz.
Pra finalizar, como você vê essa cena de hoje? É uma das melhores dos últimos tempos?
Acho uma das melhores da história. É foda porque estou dentro dela, e fica difícil comparar com os anos 30, ou com 60/70. Vai ter que passar uns 20 anos pra neguinho olhar pra trás, mas o Cidadão Instigado já lançou dois discos que, pra mim, estão entre os maiores da história da música brasileira. O Los Hermanos, o + 2… tem uns dez discos que acho que estão entre os melhores da discografia de todos os tempos. Tenho certeza disso. Agora, é uma cena que surgiu no fim do mundo, terra desvastada. Ninguém ouve…
Leia também:
– Entrevistão do mês de fevereiro: Nevilton e Heitor (Banda Gentileza) (aqui)
– Entrevistão com Wado, por Marcelo Costa (aqui)
– Romulo Fróes lança “No Chão sem o Chão” no Sesc Pompéia, por Marcelo Costa (aqui)
-“No Chão Sem o Chão”, de Romulo Fróes, no Melhores de 2009 do Scream & Yell (aqui)
Fazia tempo que não lia uma entrevista tão honesta e tão boa.
Uau! Sensacional entrevista.
Entrevista foda!
Ficou bem boa a entrevista. Parabéns!
E concordo muito com o que ele fala dos artistas não irem nos shows uns dos outros. Acho que até já tinha comentado disso com vocês. Se nem os caras se apóiam, como esperar apoio de um público que nem os conhece.
Muito boa entrevista. Fantástica. Um belo raio x da “cena”. Quando ele fala que ninguém vai ao show do outro é verdade. E isso desde sempre. Não há união, é cada um por si. Algumas panelinhas em alguma casa “da moda” e com isso, grandes discos e boas bandas ficando pra história de uma ou duas dezenas de entendidos.
Só para complementar: Acho que nunca mais teremos “artistas grandes”, de encherem ginásios, venderem milhares e milhares de cópias…
Teremos cada vez mais, ótimos artistas e bandas, porém com público restrito. As opções são infinitas, muitas facilidades…A tendência é que haja cada vez mais, pequenos nichos, pequenos shows lotados, audiências de 300, 500, até 1.000 pessoas. O que fica difícil proporcionar ao artista viver de música/arte.
No caso do Rômulo, ele trabalha com samba, o que poderia render um público bem maior à ele. Talvez tenha que abrir algumas concessões… mas o samba não é a nossa música raiz?
Difícil aceitar que bandas pop como Ludov, Gram (já extinto), Pullovers e muitas outras de qualidade inegável, apelo pop e shows vibrantes não tenham tido espaço nas rádios e até alguns programas de Tv. Algumas até tiveram um pouco e não vingaram…tempos estranhos esses nossos…
Exceção aos Fresnos, Pittys, Breganejos…esses sempre existirão.
otima entrevista, que venham mais como essa
super a ver! bem legal! mas eu também gostei de tik tok, da kesha.
Definitivamente, uma das pessoas mais lúcidas que li.! Parabéns pelo teu trabalho.
Só uma dica legal pra você (Rômulo). O autor da música e dos versos: “Escolher entre chuva e sol é como sofrer de hérnia e correr uma maratona de cem passos de animais”. Se chama: Danilo Guilherne, um gênio do bairro da varjota lá de Fortaleza/CE.
Ele tem um lance muito massa, chamado: Terceiro Dan.
Ouça aqui: http://www.myspace.com/terceirodan
Valeu
Entrevista foda, e o Romulo foi corajoso em destrinchar um perfil para a “cena”, mas ao mesmo tempo apontou o revólver para o pé.
O problema da geração atual é que lhes falta sex appeal. O lance de produzir em casa, trancado no quarto, isolado, acabou com o jogo de cintura dos artistas. Se o cara antes precisava ir à TV ou a rádio para divulgar o seu disco, ele ia, falava a linguagem do grande público e convencia, diferente do exemplo do Lucas Santtana no Altas Horas, citado pelo Romulo.
Ficar na defensiva o tempo todo não vai ajudar ninguém. Jornalista engole sapo o tempo todo em nome do trabalho. Para artistas deve valer o mesmo: encarar o grande público como trabalho, pois enquanto ficar só no séquito da arte…
“O foda dessas discussões é que neguinho daqui fica puto achando que o Fabrício e o Capilé tão comendo camarão, o que não é verdade. Os caras agitaram um negócio importantíssimo.”
Entrevista boa, lúcida, mas eu gostaria de saber que negócio importante que esse pessoal agitou que não possa pagar cachê pra banda.
Uma das melhores entrevistas que já li, sem dúvida. Perguntas legais, entrevistado super lúcido, desencanado e tranquilo. Rômulo deu um showzasso, foi uma das leituras mais prazerosas que tive em anos de web. Por isso o S&Y também é um puta site. Parabéns mesmo!
Sugiro, Mac, que tu pegues agora o China pro entrevistão. Ele é foda sobre muitos aspectos e ficou bem chatinha a situação pra ele depois da entrevista do Capilé. Dá uma colher de chá pro cara se explicar, falar do sheik, da cena de recife, de “canção que não morre…”, do del rey, da cardume discos, do mombojó… enfim, assunto não falta. Abs,
é pra ler com calma]
li coisas que bateram bem comigo.
Marcelo e Tiago, PARABÉNS, velhos. E parabéns pro Romulo também. Grande entrevista. Acho que todos os comentários comprovam isso. Como já disseram, uma entrevista muito lúcida, de um cara que soube colocar as coisas em perspectiva, raciocinar sobre a própria geração, que, sim, vive uma angústia: fazer boa música, que dialoga com maestria com o passado sem deixar de apontar pro futuro, mas que não é ouvida , não rompe a barreira dos nichos, dos iniciados. Angústia que não é de fácil solução, dado o estado em que nos encontramos. Enfim, como disse o kafé, coisa pra ler com calma e refletir. Abraços.
Entrevista bacana, entrevistado honesto.
Mas a última pergunta me deixou uma dúvida: quantos barris de cerveja foram consumidos ali?
marcos, essa turma conseguiu criar uma agenda de festivais que nao existia, ou se existia era tosca e desorganisada e eles arrumaram tudo. precisa valorizar o que os caras fazem.
Entrevista linda, fodona mesmo.
O engraçado é que, como músico (amador) e jornalista, me identifico com os dois lados. Fiquei tão doido pra sair tocando e compondo por aí quanto para sair escrevendo e analisando tudo isso. Vai entender..
Abç
Maravilhosa matéria, parabéns à dupla. Entrevista lúcida, detalhada, sincera, profunda. Deu vontade de mandar para vários coleguinhas que, como o Mr Jones, não têm a mínima idéia do que está acontecendo na música brasileira de hoje. Mas tenho a impressão de que a TDAH desse povo não os deixa ler mais que 140 caracteres…
abraço,
RB
Entrevista lúcida, pontual, destrinchando os defeitos e os ganhos da “cena”.
Cada vez mais essa cena deve ser discutida, colocada em qustionamento. Principalmente pelos atores dela.
Abraço
Eduardo
Você tá se superando,Mac,rsrs!
Gostei demais dessa entrevista,bastante completa e elucidativa da coisa como um todo.Romulo Froes fala com propriedade,sinceridade(demais até) e convicção.Coisa que passa os proprios discos dele,o que é muito bom.Fora que ele sabe expor,o que dá essa longa,mas ótima,entrevista.Eu também queria os discos dele aqui em Curitiba(alô YB)!
Um papo sensacional esse !!! Tinha que ser um cara honesto como esse, pra fazer música verdadeira como aquela. Tá a fim de tocar em Recife ? Tem gente aqui também doido pra que você venha tocar. Mal posso esperar..
UAU. SENSACIONAL. INCLUA AÍ NO ‘MOCHILA’ NAS 5 MAIS.
Cada geração tem o Lobão que merece!
Como todos os outros comentários já disseram, entrevista muito foda. Profunda, sincera, didática, explicativa e outros adjetivos que cada um queira por. É do tipo de texto que força vários insights em que lê, e por isso mesmo também merece uma relida e uma re-relida.
Penso que Rômulo é um exemplo muito lúcido da maluquice dos tempos de hoje. Com a tremenda possibilidade de conhecimento através da internet, todo mundo (ou quase todo mundo) pode escolher o que quiser escutar/ver/jogar a cada minuto, a cada hora, num tipo de autonomia inédita que não tem precedentes para comparar. Provavelmente por isso é que ninguém consegue apontar o “futuro” para esse cenário, porque ele não é um nem dois futuros e sim trocentos, diferente (e exclusivo) para cada ator nele envolvido, do artista ao seu fã/espectador/ouvinte, etc.
Entendendo isso, talvez cada um dos tópicos tratados na entrevista seja um pouco melhor compreendido, do porquê os própios artistas não vão ver os outros da sua suposta cena (“tem tanta coisa pra ver, pq eu vou prestigiar meus “semelhantes” seu eu posso 1) ficar em casa curtindo minha recém baixada discografia do Sam Cooke remasterizada 2) ir num show da mínha “ídala” de infância Gal Costa, um desejo que tenho desde sempre?”) até a pouca presença de público para escutar essa nova cena (“depois de décadas escutando o que a rádio/tv induz, eu não tenho saco pra ir atrás de uma coisa nova; estou tão acostumado a me dizerem o que ouvir que, agora, não quero me dar o trabalho de ser autônomo e eu mesmo escolher o que quero ouvir; além do mais, já me acostumei com o que a tv/radio me mandava escutar desde pequeno, e não vai ser agora que vou mudar”).
O negócio é seguir acompanhando pra ver no que vai dar. O que é certo é que nunca escutamos tanta música boa (velha e nova), e isso é demais de bom, não?
Pois é Marco Segio, ( em relação aos festivais ) fica o velho lance : só participa se tiver grana pra se bancar mas se tiver grana pra bancar ( própria divulgação ) não precisa participar desses esquemas…
Mesmo em relação ao “faça vc mesmo”, as coisas não são tão faceis assim. Supondo q neguin ao longo da vida acumule conhecimento e equipto mínimos pra gravar tdo sozinho, ainda vai precisar contratar os músicos pra ensaiar e mandar ver ao vivo.
Assim, se a vocação do cara não for multimídia, for “apenas” cantar e/ou compor, como a do entrevistado, fodeu do mesmo jeito antigo pra maioria, a não ser q como ele, tenham a sorte d descolar um emprego q banque tempo livre e grana pra agitar as coisas…
Ao menos até q, neste ritmo, entre outras coisas, a economia d Cauda Longa coloque no mercado tanto equipto qto pessoal técnico em qtidade à preços acessíveis.
Demais a entrevista, muito sincera, me identifiquei!
Algum andou levando essa conversa toda para o lado pessoal:
http://colunistas.ig.com.br/caleidoscopicas/2010/04/02/desabafao-ou-uma-coisa-diferente-2/
Caceta, era a própria Dulce Quental ali em cima. Achei que era pseudônimo.
fui ler o txt da dulce quental que colocaram ai em cima e fiquei na duvida se ela leu realmente a entrevista. tem varias coisas que ela escreve la diferente do que o romulo fala aqui.
Alguém tem um link do disco do Romulo para baixar?
Ótima entrevista, sobre shows… concordo, não costuma ter artista nenhum em show, além do Tatá que vai em vários! Outra coisa, o público de todo mundo que o Rômulo cita na entrevista parece ser o mesmo. Se você for sempre, conhece, pelo menos de vista, metade da platéia, isso eu acho foda. Mas não sei o que fazer (claro, formar público…. como eis a questão)
Marcos Sérgio, fiquei com essa mesma impressão.
Nota do editor: A formação do Mulheres Q Dizem Sim era Pedro Sá, Domenico, Palito e Maurício Pacheco. Kassin era do Acabou La Tequila. A Thalma lançou o primeiro álbum nos anos 90, com produção do Max de Castro. Depois veio o EP.
A Dulce Quental viajou legal. Pra mim, tirou as coisas do contexto, virou muita coisa do avesso que o romulo disse.
o rômulo fala claramente dos principais problemas da música e seu mercado hoje. a dulce polemizou emocionalmente. sem ler direito ou sem entender o que leu. falando do que ele não falou: a cena de sp é bacana do ponto de vista artistico. mas é uma cena boêmia. nenhum show fora do sesc começa antes da meia noite. é por isso que o amigo aí em cima constata que dá para conhecer metade da platéia de qualquer show. o público que eles querem/precisam trabalha e acorda cedo. enquanto não cruzar a barreira da boemia, da augusta, do cb, etc.de lugares que começam a encher na hora que trabalhador foi dormir vai ser uma cena linda, porém elitista.
Ponto de vista interessante!
Cena? E linda? E elitista, ainda por cima? Desde quando boêmios são elite? “Ah, são a “elite pensante”… Entendi.
E se o ponto for outro? E se o ponto for qualidade + popularidade? Beethoven e Tarkovsky eram populares em suas épocas.
Não tá faltando nada pra essa cena nova, não? É tanta qualidade assim?
esse fabrizzio sabe oque esta sedno discutido aqui?
A entrevista está bastante franca mesmo, o que é bacana.
Mas, sem querer engrossar o coro dos descontentes, não vejo toda essa qualidade nessa nova galera paulista. Já vi vários shows do Curumim, que tem uma ou outra música realmente legal, mas, no geral, não tem muito apelo – não dá para nem citar Jorge Ben ou Tim Maia quando se fala de Curumim. Não tem uma música que seja simplesmente foda e irresistível e soe como uma personalidade musical muito particular, e as letras são fracas…O Cidadão Instigado, sim, tem, embora sejam bem mais difíceis (e a insistência no brega psicodélico e as constantes dissonâncias às vezes cansa a paciência melódida de qualquer um…), mas eles são do Ceará, né, não de SP.
As pessoas falam de falta de mercado, mas o fato é que a última banda brasileira que fez discos fodas com músicas lindas e marcantes e soando como algo diferente e massa fez um sucesso da porra – Los Hermanos, citados aí em cima da matéria. O que isso diz?
Maurício, concordo com você! Boa parte dos shows são muito tardes. São depois da 1 da manhã, em geral. Mas existem casas novas por aí abrindo o espaço mais cedo, como se fosse um “pré-balada”… torço para dar certo
Eu confesso que reclamei de não ter trazido os metais pra Sorocaba, (ia ser muito legal, o som do asteroid é bom) mas não tinha idéia de quanto um artista é mal pago e do sofrimento que é fazer um show.
Pelo preço q eu e meus amigos pagamos pra ver o killers, dava pra ter trazido o Romulo e a banda pra tocar em casa.
Alguma coisa ta errada né.
Excelente entrevista.
Só um porém quanto ao discurso dessa “nova geração”, super ligada na internet e tal: você acompanha o trabalho dos caras, vai no show e tudo mais, mas aí manda um e-mail pro Wado perguntando onde achar os últimos discos – pois além de escutar você quer prestigiar e comprar o CD (nada como ser romântico) – e não recebe uma puta de uma resposta!
De qualquer forma, vamos em frente que a música está mesmo empolgante.
Abs a todos
Entrevista foda! Parabéns para todos!
Gostei muito da entrevista porque acho que o Romulo pode sim e sabe falar dessa nova cena! Que bom q ele é maluco sufuciente pra investir em programar bar, quere fazer documentário e etc…
Mas vou aqui colocar que assim como os artistas têem que saber um pouco de tudo hj pra conseguir participar desse mercado, onde a internet é um veículo a mais, muita gente faz parte desse cenário, cavando o espaço junto.
Sou produtora e empresária, porque além de projetos culturais vendo os artistas que produzo. E como fazer isso hj se suas músicas não tocam no rádio, não tocam na novela, não tocam no BBB.
Aprovar projetos em lei, isso não é segredo pra ninguém, mas como buscar patrocínios se quem tem que aprovar, nunca ouviu falar da pessoa em que vc busca o patrocínio?
O que o Romulo citou aqui é a nova lei da sobrevivência da nova cena musical! E dela faz parte: donos de selos(como YB), fotógrafos, jornalistas, assessores de imprensa, designers gráficos e vários outros profissonais que assim como eu, cavam os espaços pra viver dele.
E como não abrir espaço para um Romulo Fróes, Bruno Morais e Rodrigo Campos?
É uma labuta sim e tá na hora de uma união ,maior como o Romulo citou, não só entre os artistas mas por todos os profissionais que estão por trás desses trabalhos. Entendam que é uma nova forma de trabalhar e que a cooperaçãoo é fundamental para que todos consigam continuar trabalhando e que esse momento é histórico sim, sem pretensão nenhuma, apenas porque tudo o que está aparecendo é frutio de pelo menos 5 ou 6 anos de muito trabalho.
Eu já faço parte desse mercado há 11 anos, então nada disso começou agora, por isso também me sinto à vontade para falar!
gostei muito da materia…muito honesto tudo o que foi dito!
massa, romulo…a gente cria nosso circuito e é isso!
E aí, entra o velho dilema:
Suar p/contratar por 1 tempo limitado, entre outros profissionais, músicos competentes pra apresentar um trabalho e aí, deixar no mesmo uma cara “sem gosto”, burocrática, sem tempero, sem sal, sem açúcar como é o caso d mtos arranjos d MPB feitos tanto aos chamados medalhões ( 1 deles criticado pelo próprio Rômulo na entrevista, citando C.Buarque ) como às caras novas, vide as mtas cantoras q se bancam c/mto suór Ou
Ir no velho e delicado esquema d montar a própria banda na base da compatibilidades d ideais ( q na prática nem sempre se revelam tão compatíveis qto na teoria ), da camaradagem ( idem ), etc o q garante em qq estilo o vigor, o tempero, a garra, a “marca registrada” mas q na maioria dos casos acaba por derrubar o avião antes mesmo da decolagem devido a briga d egos, amadorismo financeiro e planejamento, falta d espírito “ou tdo ou nda” etc etc ?
A música nesse sentido é como outro negócio qq, assim novamente, ou vc tem dinheiro pra se bancar d forma consistente ao longo d mto tempo contando c/os reveses, o pior ( planos d contingência ) Ou
vc tem a sorte d conhecer e se unir à “malucos” apaixonados pelo mesmo ideal, ligados explícita ou implicitamente no fazer música como os citados pela Lili acima ( não apenas outros músicos mas tb vendedores [d seu trabalho], videomakers, técnicos d som, etc etc ) q não desistam nunca, não temam em aprender c/os erros e q demonstrem na prática q tem como prioridade, Sua música do qual a “a banda” “o grupo” etc é o canal d expressão, dedicando à mesma tempo, recursos à um projeto coletivo d vida
…Difícil…
Pois a maioria não quer nem ouvir falar em planos d contingência, desiste na 1ª grande porrada e/ou trata d dedicar maior parte d seu tempo à sobreviver, e assim o máximo q conseguem justamente é… apenas sobreviver.
“Para cada Sucesso, centenas de Fracassos” , “Sucesso de um: Fracasso de mtos” Provérbios Chineses
“O insucesso é apenas + 1 oportunidade d recomeçar d novo, c/ + inteligência” H.Ford
“Se queres obter sucesso, dobra tua taxa d fracassos.” L.Mlodinow
“Uma dos requisitos p/o sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo.” W. Churchill
Quando saiu matéria do Romulo na Folha, algum tempo depois eu baixei o disco. Escutei e achei apenas interessante, mas não tive vontade de ouvir novamente. Começei a ler essa entrevista e apesar de também estar interessante, não consegui ler inteira, pulei alguns pedaços. Agora minha má-vontade com ele se concretizou, quando li no final da entrevista que ele considera que os discos dos Los Hermanos estão entre os melhores de todos os tempos.
Parabéns pela entrevista – aos dois – , quem dera nós dos Outros Críticos termos uma tarde ou manhã pra ficar conversando sobre música… continuamos nós nas entrevistas por e-mail…
abs
Júlio, somos fãs do Outros Críticos. 🙂 Mas foi uma noite que conversamos com o Romulo, mais precisamente entre 19h e 00h. Quem derá tivéssemos o dia inteiro pra conversar sobre música, né. Como não dá, usamos o tempo que sobra.
Abraço
Marcelo
Mac, que cerveja você serviu ao Romulo? É um detalhe importante da entrevista. hehe
Pô, Samuel… risos
Foi a 1795 Dark, da República Tcheca, mais algumas Baden Baden,,, >)
Li a entrevista toda, adorei, e segue aí para o Rômulo o nome da música do Nuno Ramos e do Arnaldo que o Belchior gravou:
PARAÍSO
(1982) WEA BR 22.034
Artista(s):
Belchior
Fonogramas:
1. E Que Tudo o Mais Vá Para o Céu
(Belchior / Jorge Mautner)
2. Monólogo das Grandezas do Brasil
(Belchior)
3. Ma
(Aguilar / Arnaldo Antunes / Nuno Ramos)
4. A Cor do Cacau
(Guilherme Arantes)
5. Bela
(Belchior)
6. Paraíso
(Belchior)
7. Do Mar, do Céu, do Campo
(Belchior)
8. Estranheleza
(Arnaldo Antunes)
9. Ela
(Sergio Kaffa / César de Mercês)
10. Rima da Prosa
(Ednardo Nunes)
ah…esclarecido. Isso pode ter ajudado na tal “lucidez” da entrevista. hehe…E eu sabia que incluiria as Badens na sua carta. São ótimas. Custo/benefício ideal, eu diria.
Voltando para a entrevista e seu enfoque. Andei (re) escutando umas coisas bem antigas dos Titãs, Paralamas…pensando bem, acho que falta uma música, ou um conjunto delas, que marque essa nova geração. Uma construção mais precisa delas. A maioria das músicas novas, mesmo boas, parecem uma experimentação. Um exemplo. Sonifera Ilha, de 84. Um Ska bem estranho, cheio de metais, letra esquisita também. Porém, parece feita para ser assim, há certeza do que está sendo feito.
Marvin, Tempo perdido, Televisão, Insensível, Meu erro, Que país é esse, O beco, Ainda é cedo. Essas músicas jogaram as cartas na mesa. Só para citar algumas e só entre Legião/Paralamas/Titãs. Quais são as canções que estão dando cara para essa nova geração? Princesa? Semáforo? Você pode ir na Janela? O amor verdadeiro não tem vista pro mar? O tempo? Todas bem legais? SIM. Mas pouco, muito pouco se formos comparar…não acham?
Samuel, o rock brazuca nessa época era mainstream, cara!
Tava no Chacrinha, no Globo de Ouro, na novela…
O papo foi justamente sobre isso.
Essas musicas que seguem aí embaixo, se bem executadas nos meios de comunicação, não pegariam? Duvida que não!
Cira, Regina e Nana – Lucas Santana
Saudade – Otto
Como as Luzes – Cidadão Instigado
Bubuia – Céu
Abraço a todos, e mais uma vez digo: Ótima entrevista!
Ainda sobre a Entrevista do Romulo e respondendo a algumas questões que ficaram no ar.
Li com atenção a entrevista e reagi emocionalmente a ela num primeiro momento, mas discordo daqueles que aqui afirmaram que eu distorci o que ele falou. Eu não distorci, eu discordei de alguns pontos de vista. Então fica combinado que concordamos em discordar. Que um debate pressupõe idéias diferentes.
No que discordei:
1 – A Biscoito Fino hoje é a maior gravadora independente do mercado. Apesar de ter grandes nomes no seu cast, como Chico e Bethania, contem na maioria dos seus contratados, artista que vendem em torno de 1.000 CDs. Não tem como disponibilizar o seu catalogo para download gratuito senão quebra. O Radiohead pode oferecer ao seu público um disco novo e dizer que cada um paga o que quiser para baixar as suas musicas. Faz show no mundo todo, tem uma renda de um catalogo de sucessos que pode sustentar as eventuais perdas que possam vir a acontecer. Mas quase todos os artistas independentes da Biscoito estão nas mesmas condições que eu e o Rômulo, temos que ter outras atividades para sobreviver.
OBS: A Biscoito Fino é uma gravadora que fica numa casa e onde trabalham praticamente estagiários. O único cara que recebe salário mesmo é o engenheiro de som.
2 – Quanto aos arranjos do Luiz Claudio Ramos no disco do Chico. Luiz Claudio é antes de tudo violonista e segue o que de melhor a tradição do violão brasileiro nos deixou. O sincopado joaõgilbertiano, o chorinho, o samba canção e a valsa, legados dos grandes da MPB. Seus arranjos orquestrais para Carioca foram construídos, com algumas exceções, sobre a espinha dorsal desse violão autoral, mesmo violão que se encontra em grande parte na arte dos grandes compositores brasileiros, entre eles o próprio Caetano. Isso me lembra um livro que li alguns anos atrás chamado “Bim Bom, A contradição sem conflitos de João Gilberto”, de Walter Garcia, com apresentação de Caetano Veloso. Me lembrei de Walter Garcia por causa do baixo de Jorge Helder em Carioca. Walter discorre na sua dissertação de mestrado sobre a função do contrabaixo na bossa nova. Mas enfim, isso é outra discussão. O que estou querendo dizer aqui é que não há nada gratuito e sem sentido na orquestração de Carioca. Todo foi muito pensado sob uma tradição que se construiu em um século de musica.
2- Aqui chego ao ponto onde queria chegar. Hoje não podemos dizer que há somente uma linha evolutiva na MPB. Muito pelo contrário. O que se apresenta agora são muitos caminhos e muitas possibilidades de futuros. Isso me remete também a uma fala do físico e filosofo Luiz Claudio de Oliveira: a aceleração do tempo e o encurtamento das distancias entre culturas diferentes provocou uma dobradura no tempo. Hoje vivemos em vários níveis diferentes de presentes e em outras dimensões. Logo muitas possibilidades de futuros se apresentam.
3 – O Cê do Caetano é uma. O Carioca do Chico é outra. O Rômulo está lá no samba dele. Eu tento trabalhar com o sincopado do meu violão procurando aprender com todos para traçar a minha linha de fuga, a minha trajetória como artista. Não tem nada errado. Está tudo certo. A questão principal é: De onde você está falando, ocupando que função de autor, esgarçando qual tradição, com qual consciência de si e do outro.
Obrigado mais uma vez pela possibilidade do debate construtivo e regenerador.
gravadora independente que vende cd a 40 reais. me engana que eu gosto.
“gravadora independente que vende cd a 40 reais. me engana que eu gosto” –
O que tem o cu a ver com as calças, independente é sinônimo de “barato”? Cada um dá o preço que quer pro que põe a venda, ué, e ninguem é obrigado a comprar. Daí a insinuar desonestidade vai um bom caminho.
Fiz um comentário (em áudio e em texto) no Rádio Blog sobre a entrevista do Romulo Fróes ao S&Y. Passem lá. http://gazetaonline.globo.com/radioblog
bernardo, nao sei se voce compra cd, mas eu comrpo. uma edicao de luxo de um cd importado sai mais barato que um cd da biscoito fino. uma gravadora independente entao mesmo com frete sai pela metade do preco. complicado voce culpar a pirataria ou blog ou o que seja quando voce cobra 40 reais um cd num pais como o nosso. entao, o cu tem a ver com as calcas.
Yuri,
Interessante o seu comentário na Rádio Blog. Acho que muitos artistas da minha geração se esqueceram da musica preocupados demais com a sobrevivência no mercado, com o sucesso, a grana e tudo mais. Esse aspecto a partir de certo momento comprometeu muito a qualidade do trabalho e a consistência do discurso. As pessoas mais interessantes morreram e sobrou pouca gente com quem dialogar. Ao mesmo tempo não dá para fazer musica sem fazer alguma concessão; isso em qualquer profissão. A não ser que a música seja apenas um hobby, que você faz só pra você e os seus amigos. Mas como é indústria, ou pelo menos era, porque havia a reprodução e a venda, implicitamente a questão do Outro para quem você estava falando, o custo beneficio e todas as questões relacionadas à arte e à indústria não poderiam deixar de ser pensadas. No momento acho que tudo virou de cabeça pro ar. Não precisa mais ser indústria, não precisa vender, pode ser oferecido, sem intermediários, enfim, outro momento que esta sendo pensado agora por pessoas como você. Obrigado!
Dulce diz: abre aspas:
As pessoas mais interessantes morreram e sobrou pouca gente com quem dialogar.
Fecha aspas.
A quem ela se refere? Cazuza? Renato? Fulano? Sicrano?
E lá fora? E dentro de cada um? Não tem nada?
Olha, Dulce… Nunca fui seu fã, nunca comprei um cd seu. E olha que compraria numa boa, se gostasse: hoje mesmo adquiri – num sebo, é verdade – o primeiro do Cansei de Ser Sexy. Mas esse seu discurso é furadíssimo…
Quem tem qualidade não abre nem faz concessões.
Considero essa discussão toda importantíssima.
Embora adore boa música, entendo o mercado, a realidade, as conjunturas e tal. Sou redator publicitário, trabalho há anos em agências de publicidade e conheço, por tabela, um pouco dessa merda.
Conheço muitos músicos talentosos que vivem de criar jingles. Ganham seu dinheirinho em produtoras musicais. Na maior parte do tempo, fazem porcarias que servem a um propósito que, afinal, depõe contra eles. Os cabeções estão lá, ganhando muito dinheiro com isso.
Se perguntarem, eles, cabeções, dirão que acham o novo cenário musical brasileiro muito bacana, superpromissor, provavelmente um dos melhores que o país já viu… Alguns desses cabeções, inclusive, apresentam programas de novos talentos musicais… Bem…
É triste, é uma pena e lamento mesmo. Mas é fato: a classe média no Brasil cresceu e o espaço para a boa arte diminuiu. Diminuiu, afunilou, segmentou. Até aí, à princípio, nenhum problema. Isso seria normal. O problema é que não somos os EUA. Não há mercado aqui que sustente segmentos da mesma classe artística. Rock Indie, aqui, não rola. Samba Indie, então, nem pensar. Pode até vir a rolar, mas vai demorar.
Quem quiser reconhecimento artístico e financeiro vai ter que suar muito. E olhar para o presente, futuro e, principalmente, passado.
“bernardo, nao sei se voce compra cd, mas eu comrpo.”
Nao no ritmo alucinante de antigamente, mas compro sim.
“complicado voce culpar a pirataria ou blog ou o que seja quando voce cobra 40 reais um cd num pais como o nosso. entao, o cu tem a ver com as calcas.”
Ah tá, achei que você tinha dito “gravadora independente que vende cd a 40 reais. me engana que eu gosto”, como se fosse desonestidade cobrar caro num CD e não ser de uma major. Eu chutaria (sem saber fatos) que o fato da gravadora ter um estúdio, e provavelmente oferecer ele para seus artistas (que por tabela não pagam do bolso a própria gravação como a maioria dos independentes sem lei de incentivo por trás), por exemplo, interfere no custo operacional do selo. Se isso é viável ou não hoje em dia já são outros quinhentos. Mas então era outra coisa, eu que não entendi que você escreve uma coisa querendo dizer outra.
Já escrevi isso lá lo blog da Dulce, vou colocar aqui.
“Quem não faz concessão não existe” Gilberto Gil
Fabrízio, quem não faz concessão não dialóga, cara.
É claro que não é pra abrir as pernas. Uma cruzadinha a lá Sharon Stone não mata ninguém e ainda baixa a soberba.
PS: Cansey de Ser Sexy é o Mamonas Assassinas dos alternativos.
WOW!
Ducaralho, pessoal. Valeu!
Depois de tanto debate apenas uma coisa a dizer, o som do Rômulo é chato, muito chato.
Ô, José Henrique, escuta o titio aqui: concessão só gera concessão. Ou, popularescamente: de concessão em concessão o patrão enche o rabo e o artista enche nosso saco. Deu pra sacar?
Quem quiser, que vá dialogando… Mas precisa haver qualidade de verdade para sustentar o diálogo. E quando há, meu amigo, quem abre as pernas é o patrão. Porque ele não sabe fazer música. Mas sabe ganhar dinheiro. E quem está fazendo música hoje em dia? Quem está ganhando dinheiro?
Adorei a entrevista e estou ansiosa pelo disco novo do Rômulo. Parabéns!
O Arnaldo Block outro dia escreveu um artigo muito interessante sobre isso comparando Gil a Macalé. Um fez concessões demais e manteve uma carreira regular. Outro, concessão nenhuma e viveu 20 anos de ostracismo. Concordo com o Fabrício quanto à questão de se fazer concessão demais. E não concordo quando ele diz que não se deve fazer nenhuma. É impossível não fazer nenhuma. “A próxima existência do Outro pressupõe uma concessão”. Para dialogar você precisa ser capaz de se colocar no lugar do Outro e nesse momento você se cala. Sinto muito Fabrício que você não goste do meu trabalho e fale dele com tanto desprezo. Lembro-me aqui do nosso querido Nelson Rodrigues. “A unanimidade é burra”. Nesse sentido acho que posso sobreviver a sua rejeição. Isso porque tem muita gente que gosta do meu trabalho e respeita e eu não teria tido o reconhecimento que tive da grande imprensa e da critica se não tivesse algum mérito. Mas isso é outro papo. Gosto não se discute. E tem também o fato de que para se fazer qualquer tipo de arte tem que se começar de algum lugar. Os primeiros trabalhos às vezes são muito ruins. Mas o importante no decorrer da trajetória é o processo e não o resultado. Viver o processo de crescimento. Mas quem está de fora muitas vezes não vê isso. Fica sentado como diria Raul: “com a boca escancara cheia de dentes esperando a morte chegar”
Você tem toda a razão, Dulce. Gosto é gosto. Em todo caso, não entrei no mérito da qualidade do seu trabalho. Nem conheço o suficiente para isso. Mas achei interessante sua citação do Nelson. Desde quando você é ou foi unanimidade? Menos, minha cara, bem menos…
E quanto à citação do Raul, bem, sei lá… Acho que pior são as pessoas que já morreram e não percebem isso.
Aliás, são citações demais, não acha não? Começo a entender porque seu maior sucesso é um cover do Michael Jackson…
Fabrizzio, ela citou Nelson justamente para ilustrar que ela não é unanimidade nenhuma. Leia com atenção antes de desandar a criticar.
Tio Fabrizzio não leu errado. A Dulce quis dizer o que o Cláudio entendeu, mas não foi errada a maneira como Tio Frabizzio interpretou. Tb era possível.
Tem um filosofo – esqueci o nome – que dizia espantar-se como duas pessoas podem conversar a contento. Já que – segundo ele – as percepções de cada um são completamentes díspares.
Não acho que o Gil fez concessão demais, ele dialogou e fez uma obra belíssima.
Gil é um dos homens – filosoficamente falando – mais inteligentes do mundo.
PS: Engraçado vc se intitular titio, Fabrizzio. Já que o discurso de menino é o seu.
Já que estamos falando de citações, deixem-me fazer uma:
“Comunicação não é o que você diz; é o que os outros entendem” – David Ogilvy
Dizem que ambiguidade costuma ser uma das marcas do artista, vai saber…
Bem, agora o titio vai trabalhar…
Natureza Humana não é um cover muito menos um versão ao pé da letra mas uma recriação de Wally e Jorge Salomão. Não é o meu maior sucesso. Meu maior sucesso talvez seja Caleidoscópio de Herbert Vianna. Mas Natureza Humana toca nas radios há 20 anos. E se ainda toca todo esse tempo é porque tem algum merito. Mesmo mérito que Bem Que Se Quis, gravado por Mariza Monte, também uma recriação feita por Nelson Motta de uma canção do Pino Danielli.
Caraio, eu pensei que ia acabar de ler essa entrevista só em 2013 mas vamos.
É quase o alcorão do compositor.
Eu conhecia pouca coisa dele e quase tudo bom de se ouvir, o que é o contrario da imensa maioria de bandas que vejo fazendo estardalhaço e MTV e o caralho.
Também é um barato ver um cara centrado na realidade e não no discurso sectarista.
Também fecho com ele de que é melhor cena de todos os tempos, é muita gente boa compondo e com muita criatividade e consistencia. O problema é que ninguem ta nem aí, daqui a pouco nem no encarte o compositor entra mais. Só chamam compositor pra participar de festival de cartas marcadas e fazer volume em concursos de internet. As cantontas compondo mais um pouco de lixo é só detalhe, todos os seres do universo estão querendo compor, e todos eles querem vender. O buraco é bem mais embaixo. Ou faz com tara e vontade, como esses cara aí, ou fica embaixo aplaudindo.
O dia que eu perder meu empreguinho , vou vender amendoim e continuar compondo. Quando em cansar, vou pra baixo do palco e aplaudo. Assim, mesmo, que nem ele.
O bom é que a imensa maioria que a acha que vai encher o bolso de grana, a cara de pó e o carro de loiras, vão apenas ser mais uma geração que quebrou a cara.
Porra, porque vocês não gravam essas entrevistas e colocam num podcast pra gente ouvir????? Vai ficar louco!
Romulo falou certo, nem toda gente gosta… mas é mesmo assim.