ENTREVISTÃO DO MÊS DE FEVEREIRO
Nevilton de Alencar e Heitor Humberto
por Marcelo Costa e Tiago Agostini
fotos: Liliane Callegari
Nevilton de Alencar tem 23 anos, nasceu em Londrina, mas mudou-se para Umuarama ainda pequeno, um pouco depois de arrebentar uma porta de vidro da casa dos pais com uma flautinha de brinquedo. Heitor Humberto tem 25 anos, é de Joinville, e aos sete começou a tocar violino, instrumento que o acompanhou até os treze, quando a família mudou-se para a pouco amistosa Curitiba. Nevilton e Heitor fazem parte de uma novíssima geração de músicos que vem sacudindo o cenário independente da música brasileira.
Acompanhado de Tiago Lobão (baixo) e Eder Chapolla (bateria), Nevilton (guitarra e voz) lançou quatro EPs caseiros, mas vem chamando a atenção devido às apresentações incendiárias do trio, que já renderam elogios à banda em lugares como Palmas, Cuiabá e São Paulo. Não à toa, a banda ficou em segundo lugar na categoria Melhor Show da votação de Melhores do Ano do Scream & Yell (aqui).
Heitor (voz, guitarra, violino, cavaquinho) está à frente da Banda Gentileza, sexteto paranaense que ainda conta com Artur Lipori (trompete), Emilio Mercuri (guitarra), Diego Perin (baixo), Diogo Fernandes (bateria) e Tetê Fontoura (sax, teclado). O álbum de estréia da Banda Gentileza, homônimo, foi eleito pelo júri do Scream & Yell como o 11º melhor disco de 2009, sendo o melhor disco de estréia do ano.
Convidamos Heitor e Nevilton (e também Diego, baixista da Banda Gentileza) para uma cerveja de fim de tarde buscando não só conhecer a história de duas bandas promissoras do cenário independente nacional, mas também vasculhar os caminhos que levaram os dois músicos a se aventurarem pelo cada vez mais inóspito território da música popular brasileira, uma terra de ninguém, um local cômodo e bastante aprazível para o crescimento de parasitas viciados em fórmulas, clichês e jabá.
Nevilton e Heitor se assumem animados com o futuro das duas bandas, mas buscam alternativas para mostrar o trabalho para o maior número de pessoas possível. A internet até ajuda: o disco da Banda Gentileza você pode baixar gratuitamente aqui. “Pressuposto”, o EP mais recente do trio Nevilton, também pode ser baixado gratuitamente aqui. As histórias destes dois jovens talentos da música brasileira você confere abaixo. E cuidado ao convidá-los para uma cerveja: eles bebem bastante.
Qual a primeira lembrança de vocês em relação à música? Essa coisa de começar a tocar, pegar um instrumento, fazer um som…
Heitor: A minha mãe é professora de piano, então desde que nasci tem música em casa.
Nevilton: Ai é covardia (risos)
Heitor: Ela se aposentou este ano, então já faz um tempo que ela não estuda, mas ela tocava bastante, e eu cresci com ela tocando piano em casa. Quando comecei a crescer, não sei por que e de onde, pirei que queria tocar violino, e toquei dos sete aos treze, quando me mudei de Joinville. Nessa época fiz violino e teoria musical, e toquei na Orquestra de Joinville, uma coisa mais clássica. Quando fui para Curitiba, eu mal conhecia a minha vida sem ter que parar uma hora por dia e estudar violino para ir pra aula. Era uma obrigação. Várias vezes quando a piazada ia brincar, eu ficava tocando violino. Enchia o saco. Quando cheguei em Curitiba, com treze anos, decidi dar um tempo e fiquei sem fazer nada. Óbvio que nunca mais voltei, parei de estudar e hoje em dia toco apenas por hobby na banda.
Nevilton: Meus pais dizem que eu me acalmo muito com música desde pequeno. Eu era agitado e ficava calminho com a música. Botava um Gonzagão na vitrola e eu parava de chorar. Quando eu tinha uns cinco ou seis anos me colocaram na aula de teclado. Alguns primos já tocavam algum instrumento. E do teclado eu fui para o violão, do violão fui para a guitarra, e da guitarra… comecei a pular (risos) e virei isso aqui…
E as primeiras bandas?
Nevilton: Tive várias bandinhas… Tudo começou com um amigo que chegou e disse: estou tocando baixo, tem um amigo baterista, e queria que você tocasse, cantasse uns Nirvana que a gente está tirando…
Com quantos anos?
Nevilton: Uns 14 anos. Coloquei um captador no meu violão de cordas de aço, colocava distorção e tocava Nirvana. Passei uns três anos tocando um pouquinho com essas bandas, e algumas queriam tocar um negócio meio metal, um lance pesado. Comecei a estudar mais a guitarra quando comecei a tocar oficialmente. Ai veio a Superlego, que fazia covers dos anos 80, e a gente fez show pra caramba. Comprei a guitarra, o ampli, todas essas histórias. A gente começou a fazer o trabalho autoral porque eu já vinha compondo músicas. Acho que a gente tocou com o Heitor no Festival Tinidos (em Curitiba), no Motorrad…
Heitor: A Superlego tocou com a gente antes, no Porão do Rock, em 2006 (acho), numa noite que tinha a gente, o Vanguart e o Charme Chulo e não foi ninguém ver (risos), mas foi muito divertido. Eles tocaram Inimigos do Rei (risos).
Nevilton: Isso (risos). O nosso repertório já era bastante autoral, mas a banda já não era um quinteto. Eu cantei nesse dia (em Curitiba), e a Superlego inicialmente não era isso. Quando começamos a fazer um som autoral, rolou um papo de “a gente está tocando e ganhando pouco”, e a galera foi saindo. Eu e o (Tiago) Lobão conversamos. “Acho que os caras não vão querer mais tocar. Vamos fazer uma viagem?”.
O Lobão (baixista) já estava tocando com você?
Nevilton: Já. O Lobão e o Fernandinho, baterista anterior do trio, eram do Superlego. Do quinteto a gente virou um trio. Nesse meio tempo deu aquela bambeada. “Não sei se quero tocar esse som autoral, é muito difícil”. O Fernando também estava desanimado. Então eu e o Lobão fomos para Los Angeles e voltamos cheios de idéias. Vamos agitar. Conversamos com o Fer, mas o resto dos meninos nem queria mais saber da gente.
Eles fizeram outra banda cover?
Nevilton: Não. Um virou pai agora, o outro entrou no terceiro curso de faculdade, e pararam de tocar. Eu e o Lobão estamos nessa. O Fernandinho desistiu pouco tempo atrás. O ano passado foram 49 shows oficiais, mais umas coisas alternativas (tipo se apresentar na escola), e o Fer tinha outros compromissos e não aguentou o tranco. De repente a banda não estava rendendo o suficiente para ele estar satisfeito e ele pulou fora… do nada.
Heitor, como rolou essa fase de parar de tocar violino e encontrar a galera? Você já conhecia alguém quando chegou em Curitiba?
Heitor: Quando sai de Joinville, estranhei muito. Em Curitiba o pessoal é mais fechado, eu não conhecia ninguém, então continuei voltando pra Joinville várias vezes, aquela coisa de moleque pré-adolescente que não se adapta. Eu tinha um grande amigo lá, que é meu amigo até hoje, o Ronaldo, e a gente começou a fazer um som. Ele tocava violão, e eu comecei a compor – com 12, 13 anos – aquelas letras de rimas bem primárias, e ele musicava. Inclusive, uma que a gente toca até hoje, “Sempre Quase”, uma bem baladinha, foi ele quem fez. É dessa época. A gente chegou a gravar uma demo em casa, que tenho até hoje. Era uma dupla que se chamava Àhotten (risos), violão e voz e uma batucada que a gente fazia com berimbau. Dois anos depois, gravei outra demo. Eu e um amigo do colégio falávamos muita besteira, e escrevíamos essas besteiras. A gente cantarolava e as pessoas ao redor, na sala de aula, já começavam a reconhecer as nossas músicas, e pensei: “Cara, vamos gravar?”. Ele tocava baixo e eu arranhava a guitarra, e marcamos um estúdio, por uma hora, pra gente ensaiar e fazer as músicas, e na hora seguinte gravar. O nome dessa banda é Tomara Que Você Morra (risos), e é uma bosta (mais risos).
E como eram as cidades de vocês? Tinha lugar pra tocar?
Heitor: Até por estar no colégio, eu não saia. Nem sei dizer. Lembro de alguns bares de nome, como o Café Beatnick, o Circus…
Alguma banda de Curitiba…
Heitor: Na época havia algumas bandas que tocavam no teatro do colégio, como Oskão… Tinha o Pelebrói Não Sei, que durou um bom tempo, o Boobarelas, essas são as que mais me lembro de acompanhar.
Vocês chegaram a tocar em teatro de colégio?
Heitor: Não. A gente chegou a vender 50 cópias da nossa fita demo naquele esquema de chegar para o professor: “Compra”. Nessa época eu saia pouco, não acompanhava tanto a cena musical de Curitiba. Isso aconteceu mais na época da faculdade, quando a gente começou a montar a banda.
Nevilton: Umuarama nunca teve cena (risos). Até hoje (mais risos). Então quando comecei a tocar mais, eu sabia que tinha uma banda na cidade chamada Hypnoise, que o Lobão e o Fernando tocavam, e eles tocavam covers de Pixies, Cake, Pavement, essas coisas que hoje em dia eu escuto pra caramba. Até acho que isso tenha influenciado na sonoridade do trio. Foi um choque ouvir Pavement pela primeira vez. “Que louco, que estranho”. E eles praticamente eram a cena, e só tocavam covers. Eles tinham umas quatro ou cinco músicas gravadas, mas não sei se publicaram. Eu tenho essas gravações e acho super bonitinhas, bem legais. Quando comecei a tocar também encarei umas festas de escola, mas só Nirvana… Quando a gente começou a tocar um pouco melhor já arriscou um (Black) Sabbath. Então a gente fez umas músicas falando do verde (risos), que eram muito engraçadas, para participar do festival do IAP, o Instituto Ambiental do Paraná. A gente gravava as demos na sala, aquela barulheira, ninguém entendia porra nenhuma, mas era legal. Hoje em dia, nós somos a cena de Umuarama. E, ao mesmo tempo, somos bem falados, tipo: “Eles vão tocar em Cuiabá”, mas quando a gente está na cidade é aquela coisa: “Esses caras não desistem dessa merda” (risos).
Próximo passo: como foi formar as bandas que vocês têm hoje? Como se deu isso de encontrar a galera e decidir fazer um som?
Heitor: Eu fui fazer jornalismo, e me identifiquei mais com o pessoal veterano, e alguns deles já tinham bandas. Inclusive, em várias festinhas de faculdade que a gente fazia no Salim, um bar bem pequeno em Curitiba, essas bandas faziam uns showzinhos. Comecei a conhecer o pessoal, e eu tinha algumas músicas dessa época do Ronaldo, de Joinville, já estava tocando violão, e pedi para me deixarem tocar umas três ou quatro músicas entre as bandas, coisa de chato que pede espaço para tocar a sua música. Um dia eles cometeram o erro de deixar, e eu fui lá e toquei algumas, e quem estava lá acabou gostando bastante. Quando rolou uma festa seguinte, eles falaram: “Heitor, toca aquelas músicas suas de novo, a gente quer ouvir”. Eu fui e toquei e foi legal. Na terceira eles pediram de novo, e o pessoal das bandas que estava lá subiu no palco pra me acompanhar. Pegaram baixo, guitarra e bateria, ficavam olhando o que eu tocava e tentavam acompanhar. Ficou uma… ninguém conhecia as músicas e começaram a estragar pacas o que já não era grande coisa (risos). Um dia fizeram um convite oficial para eu tocar numa festa, então chamei algumas das pessoas que tinha tocado comigo na festa anterior pra gente ensaiar. E era mais ou menos o Johnz, a banda que o Túlio, do Pagodeversions, tinha montado em Curitiba. A gente ensaiou, fez esse show e no começo do ano seguinte me convidaram para fazer um show no Putz, o Festival de Cinema Universitário de Curitiba, e daí era num cinema, um show de verdade. A gente ensaiou e formatou as músicas. Ficou o Diego Garapa (baixo), o Diogo Fernandes (bateria) e o Jota (guitarra). Daí eles já botaram o arranjo deles. E quando acabou aquele show, a gente gostou do resultado. Não tinha pretensão nenhuma. Era só mais um ensaio para mais um show, e muita gente veio comentar, então decidimos continuar e gravar as músicas.
Em 2004 a cena de Curitiba estava bem agitada. O De Inverno fazia festivais, havia bandas boas no circuito alternativo. Vocês viam essas bandas?
Diego: Era uma cena mod, na verdade. Tinha Faichecleres, Dissonantes e mais trocentas bandas mod.
Heitor: Tinha a Reles… mas a gente não via muito, até porque não se identificava com o som.
Nessa época o Terminal Guadalupe já tinha disco, a Poléxia já tinha disco…
Heitor: Eu ouvia falar, mas não ia muito atrás. Ia ver umas bandas de fora que tocavam na cidade. O Fuck Fuckers… o Resist Control. Um pouco depois a gente gravou o primeiro EP, e ai sim, caímos pros bares e começamos a conhecer as bandas e fazer parte da cena musical de Curitiba. Antes era mais evento de faculdade mesmo.
Nevilton: Uma pergunta? Qual foi o teor alcoólico para você tocar na primeira festa de faculdade? (risos)
Diego: O Heitor sempre foi cara de pau… (mais risos)
Heitor: Mas deve ter tido uma iniciativa alcoólica… (mais risos)
E vocês, Nevilton. O trio já estava formado…
Nevilton: No terceiro ano do colégio, quando a gente estava começando a pensar na faculdade, eu comecei a gravar uma fita demo chamada “A Base do Teto Desaba”. Nessa demo tem algumas músicas que a gente chegou a tocar com a banda, como “Luz e Sol”. E eu fiz como o Heitor: vendi 70 fitas demos no colégio, na formatura do terceiro ano, pra todos os pais de amigos (risos). Eu passei em Engenharia, na UEM, conheci uma galera de música, mas ninguém fazia nada, e eu já estava bem empolgado com essa história de tocar. Um dia, eu ainda estava morando em Maringá, bem próximo a desistir da Engenharia, fui pra Umuarama abrir um show do Hypnoise. Era violão e voz, e eu tocava MPB e aquelas músicas da minha demo. Foi ali que conheci o Lobão. Ele olhou a minha pasta e disse: “Nossa, velho, você toca Anjos do Inferno?”. É um grupo na linha dos Demônios da Garoa, mas anterior, 1940, algo assim. E a gente ficou super amigo e começou a conversar um monte nesse dia, e já combinamos: eu tinha um monte de músicas, ele tinha um monte de riffs, “Sábado, o que você vai fazer?”. Eu ia dar umas aulas de violão, mas marcamos dele passar lá em casa. Em doze horas, o tempo todo junto, a gente escreveu, arranjou e gravou a primeira versão de “Delicadeza”. Tinha acabado de abrir uma padaria 24 horas em Umuarama (risos) – hoje ela nem existe mais – e a gente ficou ali em casa compondo, e se batesse uma fome às 4h da manhã, a gente ia pra padaria. Depois dessa eu desgracei a vida do Lobão (risos). Ele parou de tocar cover, deixou o emprego no banco…
Heitor, e como vocês partem para gravar o primeiro disco…
Heitor: Quando a gente fez o show na Cinemateca e percebeu que estava legal, eu pensei: preciso registrar essas músicas para concretizar que é uma banda. Pois não era uma banda. Era eu chamando eles para tocar num show ou outro. Eles já tinham um outro projeto e eu pensando que tinha que materializar aquele negócio. E lá em Curitiba estava rolando uma história que eu acho genial, que é a Grande Garagem que Grava. Eles pegam uma verba e lançam um monte de disco gravado ao vivo com uma qualidade bacana…
Prum monte de banda que não tem registro…
Heitor: Isso. E eles dão o CD pra você e você vende pelo preço que você quiser. E você pode mandar fazer mais discos com o dinheiro que você arrecada. Muita banda gravou discos de uma hora pra outra, gente que ninguém conhecia. Só que era um projeto de lei municipal de incentivo, e a banda tinha acabado de surgir. Eu fui lá bater na porta deles perguntando se tinha como gravar, e eles me falaram que o projeto tinha acabado, mas que eles estavam com a estrutura toda lá. Então eu propus: “Eu pago uma quantia que seja suficiente para vocês realizarem esse projeto pra mim, e a gente lança o disco”. Eles toparam. Juntei uma grana, e começamos a ensaiar para gravar ao vivo. A idéia era boa. Você gravava o disco e em duas semanas ele estava na sua mão e você já podia sair divulgando. Só que era ao vivo. Imagina a banda sem entrosamento… A gente estava super nervoso, e errou tanto. Quando terminou o show, eu fui pra salinha e o pessoal contou que tinha queimado uma placa de som. E eu falei: “Graças a Deus, cara” (risos). E eles: “Vocês estavam tocando e se divertindo tanto que a gente não quis falar nada. Vamos marcar um novo show pra daqui um mês?”. E a gente voltou a ensaiar, ensaiar e ensaiar, e ficou um pouco melhor. Ai a gente começou a divulgar…
Esse momento, esse clique nos interessa. Como surgiu em vocês essa vontade de mostrar o trabalho, essa coisa de acreditar que vocês estavam fazendo algo legal…
Heitor: A gente nem tinha público. Ninguém nos conhecia além de alguns amigos. A idéia foi gravar e depois começar a divulgar. Parti do pressuposto de que com o disco eu iria conseguir chegar às pessoas, chegar nas casas e conseguir um espaço para fazer show. A gente já tinha percebido que a recepção da galera tinha sido muito positiva nos shows anteriores. Não era só elogio de amigo. Era gente comentando a letra, a música, sabe. E acho que isso acabou incentivando mais a gente.
E vocês, Nevilton? Como foi gravar os EPs que renderam o Pacotão?
Nevilton: Desde que fiz “A Base do Teto Desaba” comecei a aprender umas coisas de gravações… em casa mesmo. Tanto é que as gravações do Pacotão são todas caseiras…
Você ainda não tinha entrado em estúdio em Umuarama?
Nevilton: Não. No meu caso, é tudo caseiro. Os meninos já tinham entrado em estúdio com a Hypnoise, mas eu tinha mesa de som, um computador e um programa, e comecei a mexer com isso, comecei a aprender algumas coisas. Um dia vou achar uma cópia do “A Base do Teto Desaba” e trago pra vocês. É horrível (risos). É natural. Guitarra e voz. Uma música ou outra que a gente fazia uma arranjinho com teclado, Fruit Loop (risos). No “Pacotão”, a bateria das três últimas músicas, que são da nossa primeira demo, são todas em Fruit Loop. Eu tinha que gravar tudo. A gente participava de um site chamado DemoClub e já tinha música publicada no começinho do Trama Virtual. No começo, a parada do Trama Virtual era Cansei de Ser Sexy, Bonde do Role, Leela e Nevilton de Alencar, em sétimo com uma música chamada “Flores”, que era de uma gravação bizarra: guitarra, gaita e voz. A gente vai rearranjar ela. E desde essa época eu comecei a divulgar, mandar pra todos os amigos, e de gostar dessa coisa de gravar. Quando a gente voltou de Los Angeles, eu trouxe vários equipamentos que ajudaram a facilitar o processo todo…
Como foi essa ida para Los Angeles?
Nevilton: A Superlego começou a se desmaterializar e eu o Lobão decidimos viajar. “Vamos viver em inglês um pouquinho?”. Foi uma idéia maluca. A gente teve um mês pra vir pra São Paulo, pegar o visto e ir. Chegamos lá e ficamos fascinados. Tinha um monte de shows de bandas que a gente nunca tinha ouvido falar, tipo My Morning Jacket. Um puta show animal com som foda, iluminação bonita, e tudo organizado. Vimos vários artistas em lugares menores e voltamos super empolgados. Decidimos apostar naquelas músicas, coisas como “Delicadeza”, que é uma parceria minha com o Lobão, “A Máscara”, que a gente tocava na Superlego. Fiquei pensando que não queria montar uma banda nova que, do nada, os caras desanimassem e a gente tivesse que mudar o nome. “Vai ser Nevilton e quem quiser nos acompanhar que nos acompanhe”…
Quanto tempo vocês ficaram lá?
Nevilton: Seis meses. Foi o suficiente para ter um puta choque.
Fazendo o que lá?
Nevilton: Qualquer coisa (risos). A gente foi pra lá num esquema de trabalhar em staff, em shows e eventos, tipo a Semana do Automóvel de Los Angeles. A gente ficava lá trabalhando “overnight” em vários empregos. De showzinhos a showzões. Shows de hip hop maluco, mas a gente também viu dois shows do Foo Fighters, Elvis Perkins, três shows do Guns ‘n Roses, Raconteurs, Gnars Barkley, Beck…
Trabalhando?
Nevilton: Trabalhando. Ganhava 80 dólares por cada show como segurança, e eles nunca colocavam a gente num lugar muito sério. Arranjavam lugares tipo a saída de emergência – olhando pro palco.
Eles pagavam para vocês verem os shows… risos
Nevilton: Sim (risos). A gente chegava duas horas antes pra pegar todas as coordenadas. Tipo um show do Guns, você tem muitas restrições. Ninguém podia entrar de cartola no local… e ai se o cara insistisse, a gente ia e chamava o supervisor, que era um cara bem forte (risos). A gente ganhava dinheiro pra ver esses shows, e ficava empolgado querendo fazer um som. Com o dinheiro que ganhei lá comprei microfone, controlador midi, notebook. Deixei todas as roupas lá e voltei com a mala cheia de coisinhas. O Lobão ficou mais um mês e meio, e assim que cheguei comecei a gravar “Balada da Vida Irônica”. O Lobão gravou o baixo de “Boleroteque” quando voltou, o resto eu já tinha feito. Ele chegou dia 27 de junho e eu já tinha fechado um show pro dia 30. E a partir do momento que eu peguei o gosto por gravar, divulgar ficou mais fácil, e fui virando esse marketeiro que sou hoje (risos).
Nesse ponto as duas bandas pegam um caminho diferente. O Heitor foi e gravou um disco enquanto vocês gravaram as demos, mas se concentraram nos shows…
Nevilton: Por causa das demos. A gente mandava para algumas bandas e fazia algumas parcerias. O primeiro show da Superlego em Maringá foi com a Família Palim. O primeiro show em Curitiba foi com a Poléxia, e a gente levou a Poléxia pra Umuarama, e foi um show legal numa boate bizarra. Foi lindo. A gente levou o Charme Chulo pra lá nessa época. Eles tocaram no mesmo dia de um baile de uma banda chamada Tradição, mas o bailão custava R$ 25 e o show do Charme Chulo era R$ 10 homens, R$ 8 mulheres, e lotou. Quando eles tocaram aquelas brincadeiras deles, “Moreninha Linda”, a galera dançava. Muito legal.
E a Banda Gentileza chegou a tocar fora de Curitiba nessa época?
Heitor: A gente tocava num bar de Curitiba tentando fazer o nome e ralando muito. Demorou pra ter público. Acho que no show que a gente fez semana passada em Curitiba finalmente tinha gente pra assistir de verdade. Antes eram amigos.
O disco “Banda Gentileza” foi gravado quando?
Heitor: Ano passado. A gente fez esse disco a jato. Decidimos que queríamos gravar um disco, e em janeiro já traçamos o cronograma do ano. Fechamos com o Plínio (Profeta, produtor), fechamos estúdio, fizemos ensaio até maio, quando o Plínio chegou para a pré-produção e em junho a gente foi para o estúdio. O disco tem 12 músicas, e a gente já tinha gravado várias nos dois GGG. Decidimos regrava-las porque gostávamos delas. Hoje em dia, por mim, eu regravaria todas (risos)…
O que você mudaria?
Heitor: Principalmente a voz. Foi a nossa primeira vez em estúdio, afinal, os dois anteriores eram ao vivo, e pelo fato da gente tocar sempre em barzinho com o som sempre bizarro e sem retorno, eu não sabia como eu cantava. Quando a gente foi gravar o disco eu pensei que precisava aprender a cantar e fui fazer aula de canto. Na primeira aula a professora falou: “Para de berrar. Agora. Pode cantar baixinho. No estúdio você aumenta o volume depois”. E então comecei a interpretar, tentar dar uma certa dinâmica para aquilo. “Preguiça”, por exemplo, eu acho que ficou bem boa, mas nas outras… eu poderia ter feito melhor, mas o que está no disco é bem espontâneo, sincero.
Você não está sozinho: todo mundo eclama da inexperiência no primeiro disco. O Rodrigo Lemos, inclusive, reclama da voz dele no primeiro disco da Poléxia…
Heitor: Ele acha frio…
Nevilton: E é um disco tão bonito. “O Avesso” é dessa época que a gente fez a festa em Umuarama e foi sensacional. A Poléxia fazia um trabalho bonito, tocava o coração…
Diego: Eles eram o top (em Curitiba) na época…
Heitor: Houve uma expectativa muito grande em Curitiba pelo disco deles. A gente ouvia a galera comentando: “Eles estão gravando”. “Eles vão lançar o disco”.
Diego: E ao vivo tinha o efeito Dudu, que era foda…
Qual foi o primeiro show que vocês viajaram tipo 100 km pra tocar?
Nevilton: Qualquer show pra gente é fora (risos), porque Maringá é 170km de Umuarama. Maringá foi um dos primeiros lugares em que a gente chegou tocando música própria. “Sem cover hoje. Sem tocar Nenhum de Nós” (risos).
Heitor: Antes de Umuarama mesmo?
Nevilton: Antes. Em Umuarama a gente estava fazendo um dinheirinho legal tocando nas duas boates que tinha na cidade, mas só cover, e lotava. A gente não passou barra em relação a público na região. A barra que a gente passou foi fora, lugares como Curitiba… teve uma vez lá que deu R$ 43 de bilheteria.
Heitor: Bem vindo a Curitiba (risos).
Quanto é um bom público em Umuarama?
Nevilton: No show da Poléxia foram 600 pessoas. A gente sempre tentava levar uma banda da região que tivesse fazendo algo autoral e uma banda de fora pra tocar com a gente lá.
Heitor: A gente fez algo parecido em Curitiba, o “Gentileza convida”. Era mensal e sempre tinha uma banda de Curitiba e outra de fora. Começamos com Supercordas, que estava bombando na Folha de São Paulo, e Charme Chulo, que estava na mesma onda. Fizemos um cartaz lindo, o preço estava acessível e… show vazio. O segundo foi Instiga e Sabonetes. Baixamos o preço, divulgamos e… ninguém foi. A gente fez outros…
Quando pegou?
Heitor: Não pegou! A gente fez um especial de natal no final do ano com um cartaz lindo. A galera comentou. O preço era R$ 3, convidamos integrantes de várias bandas de Curitiba – para que não houvesse outro evento concorrendo com a gente (risos) – e… bar vazio. Desde então desisti de produzir shows em Curitiba. Não pegou. Foi triste.
Nevilton: Nós tocamos três vezes em Curitiba em 2007, e nenhuma em 2008. A gente não tinha essa coisa de “saiu na Folha de São Paulo”, sabe, mas a gente fazia a nossa divulgação bizarra. Vários jornais do interior falavam da gente, mas porque nós mandávamos material pra eles.
Como vocês vêem as carreiras das bandas agora nesse cenário doido que a gente está vivendo? Como vocês pensam o futuro da Banda Gentileza e do Nevilton?
Heitor: Agora com o disco, percebemos uma ascensão nos últimos meses em termos de público…
Em termos de crítica também. O disco foi eleito o 11º melhor álbum de 2009 na votação do Scream & Yell, sendo o melhor disco de estréia do ano…
Heitor: Sim, sim. A gente tocou em Joinville no final do ano e foi bem legal. Um mês e meio depois eles nos chamaram de novo pra tocar e a gente pensou: “Faz tão pouco tempo que tocamos lá. Será que vale a pena?”. Mas fomos e a casa lotou e tinha fila para entrar, a galera cantando as músicas. Daí voltamos pra tocar em Curitiba. Começou tarde, bar lotado, e a mesma coisa que Joinville, galera cantando e tal. Aqui em São Paulo o lugar era grande, era no final da tarde, choveu, e mesmo assim deu um público legal. Terminou o show e a galera veio pra cima do palco conversar, comprar CD. Teve dois caras que viajaram para nos ver. É tipo um sonho de moleque de você montar uma banda e ter uma receptividade, sabe. Já estou realizado. O trabalho agora é tentar fazer essa música chegar ao maior número de pessoas possível. Confesso que estou bem otimista e bastante animado.
Vocês têm alguma idéia de como fazer a música chegar a mais pessoas?
Heitor: A gente fez alguns brainstorms…
Diego: E acabou bêbado… (risos)
Heitor: Talvez fazer um clipe legal ajude bastante… porque ter uma entrevista, ter uma resenha não significa nada…
Diego: A minha prima leu a resenha que saiu do nosso disco na Folha de São Paulo, e o cara detona, e ela: “Que legal que saiu na Folha, que massa”. E eu: “Mas o cara não gostou”… (risos)
É aquele velho ditado: não existe publicidade ruim… porque vai o cara e diz que o disco não é bom porque lembra isso, isso e isso, e o leitor lê e pensa: “É exatamente o que eu gosto”…
Heitor: Tanto o cara do Globo quanto a Folha falaram: “A banda se perdeu em meio a muitas influências sem saber onde queria chegar”. E esse foi o ponto que mais elogiaram em todos os outros lugares, essa coisa de dar uma unidade a tantas coisas diferentes.
E você, Nevilton. Como foi receber a notícia de que vocês fizeram o segundo melho show nacional do ano, segundo a votação do Scream & Yell?
Nevilton: Fiquei assustado, mas acho que a nossa tática está funcionando, que é de tocar em qualquer lugar. E isso só está ajudando. Quando a gente completou dois anos de banda já tínhamos 100 shows. É show pra caramba. E isso faz a gente criar pegada, anima cada vez mais…
Faz vocês pularem cada vez mais alto (risos)…
Nevilton: E eu já descobri que dar cambalhota não é uma boa idéia (risos). Fiquei com uma dor na coluna por dois meses… mas isso tudo é resultado da gente estar tocando muito… e metendo a cara. Eu sempre fui muito otimista. Tanto é que o Lobão não ia largar o emprego no Banco do Brasil se não tivesse um cara com ele que acreditasse muito nas coisas. As nossas músicas sempre foram acessíveis. Não tem crise. A gente mostra pra mãe dos amigos, e elas gostam. Os amigos gostam. Por que uma pessoal normal no fim de tarde, passando roupa e ouvindo rádio, não vai gostar de uma música dessas?
Heitor: É a mesma coisa que a gente sente…
Nevilton: A nossa tática pra chegar até a galera é tocar em todas as situações possíveis que estiverem ao nosso alcance. Vai virando uma bola de neve.
Ser um trio facilita pra vocês?
Nevilton: Facilita muito… (risos)
Ser um sexteto dificulta pra vocês, Heitor?
Heitor: Das seis pessoas, duas volta e meia tem plantão no fim de semana.
Nevilton: Tenho certeza que a Banda Gentileza não tocou em Umuarama ainda porque é mais difícil levar vocês. A Poléxia foi num carro só… o Charme Chulo também… o Terminal Guadalupe só tocou em Umuarama porque eles já tinham fechado Paraíso do Norte e Maringá. A gente tem um Uno, que a gente bateu depois de um show: “Chorei. Acabou. Acabou”, mas nessa última viagem ele fez 17km o litro (risos). Ele agüenta muita viagem ainda (mais risos). Você coloca o trio ali dentro, enche de comida e vamos encarando. Demoramos dois dias de estrada para chegar em Palmas para um show. No dia seguinte, o jornal do Estado do Tocantins dizia: “Na noite do Pato Fu, o melhor show foi de uma banda do Paraná, Nevilton”. Isso não tem preço.
Já que falamos do futuro, queremos saber um pouco do passado e o quanto incomoda vocês quando alguém escreve, por exemplo, no caso da Banda Gentileza, que vocês lembram Los Hermanos…
Nevilton: A gente fala em Los Hermanos. Acho que hoje em dia, qualquer coisa lembra…
Heitor: Não tem ranço, não incomoda, mas eu fico pensando: “É só isso que ele consegue escrever?”. Não dá para levar muito a sério um cara que escreve isso. A Adriane Perin escreveu no blog da De Inverno uma coisa legal após ter visto um show nosso: “Volta e meia comparam eles a Los Hermanos, mas não foram os Los Hermanos os primeiros a misturar rock com MPB. Por que eles não são comparados a Novos Baianos?”.
Mas é diferente. Pra essa nova geração, da qual vocês fazem parte, o Los Hermanos bateu muito forte. Tanto que não só o “Bloco do Eu Sozinho” ganhou disparado a votação de Melhores da Década, como o “Ventura” ficou em segundo com uma larga vantagem. Por isso queremos saber: o Los Hermanos influenciou vocês? Quais bandas influenciaram?
Heitor: Pô, foi no início da faculdade (o sucesso do Los Hermanos) e bateu muito forte. Eu não gostava do rock nacional, porque nada me agradava, não dizia nada pra mim. E fui ouvir o “Bloco” um tempo depois de lançado. Eu vi o clipe de “Todo Carnaval Tem Seu Fim” na MTV, numa madrugada, e fiquei pensando: “Eles estão fazendo isso?!?!”. Não tinha nada a ver com o primeiro disco, era diferente. Comecei a ouvir, ouvir e ouvir e não tinha ninguém fazendo aquilo. Tinha uma qualidade nas letras, uma preocupação estética, mas com muita espontaneidade. Aquilo é muito sincero, autêntico. Bateu e bateu muito forte. Havia uma comoção no país inteiro, shows lotados com todo mundo cantando de cabo a rabo todas as canções. A influência é inegável, mas não é só isso.
Diego: Tanto é que gravamos o disco agora, e a banda são seis pessoas: cada uma escuta uma coisa diferente.
Heitor: Perguntaram pra nós, numa entrevista, o que cada um estava ouvindo, e eu nunca tinha parado para pensar nisso, e cada um falou uma coisa diferente. Então, tem uma influência grande (de Los Hermanos), mas não é só isso. Não é difícil perceber. Agora eu pergunto pra vocês, que são do meio, porque será que falam isso?
Por vários pequenos motivos: o espaço para uma resenha em um jornal ou numa revista é mínimo. Você precisa apresentar algo para o leitor de uma forma rápida, sucinta, e que faça com que ela leia e tenha uma idéia do som. Impresso é diferente de site, por exemplo, que não há limitação de toques. Essa entrevista de duas horas vai entrar inteira. Na revista seria 1/5 dela. Então, no impresso, você precisa focar em imagens que ampliem o universo para o leitor.
Heitor: Mas é de uma forma negativa?
Não acredito. De repente o cara achou que o som era apenas isso, e cravou. É a leitura dele. É uma maneira de situar o leitor…
Heitor: Mas no nosso caso não é só isso…
Mas é a referência que mais bate…
Nevilton: No meu caso, o Los Hermanos me aproximou da música brasileira. Tive outras aproximações também, mas o Los Hermanos impressionou. Não era como ouvir um disco do Chico Buarque ou um do Detonautas. Era novo, acessível.
Heitor: E o Mombojó veio na cauda, depois veio o Móveis (Colônias de Acaju). Porque quando se fala deles ninguém fala em Los Hermanos?
O Mombojó é cauda mesmo, mas ai já rola uma diferença estética. O Los Hermanos era Chico Buarque. O Mombojó era Jorge Ben. E isso faz diferença. Mas tem algo ali, inevitável. Já o Móveis… o público do Móveis é herança dos Los Hermanos. E o “C_mpl_te” aproximou ainda mais as duas bandas, sonoramente.
Nevilton: Foi o Lobão quem me mostrou o Mombojó pela primeira vez. Ele tinha ido ver o show do Pixies, em Curitiba, e o Mombojó abriu. E depois, quando rolou aquele show com a gente, Banda Gentileza, Charme Chulo e Vanguart, vocês tocaram uma versão de “Adelaide”, do Mombojó, e ficou lindinha…
Diego: E que verso bonito, né: “O que eu entendo por seu meu é tudo que posso lhe dar”…
Nevilton, e quando falam pra você “Nando Reis”. O que você acha?
Nevilton: Eu acho divertido. Não está estreitando. É muito por causa de “A Máscara”. Talvez pelo jeito que a gente tenha gravado… a estrutura daquela demo talvez lembre algumas coisas, mas eu nunca tive um contato muito próximo com o som do Nando Reis. Faz pouco tempo ganhei aquele disco que ele gravou em Seattle, “Para Quando o Arco-íris Encontrar o Pote de Ouro”…
Diego: E tem o seu timbre de voz…
Nevilton: Mas se falar das minhas desafinações comparando com o Nando Reis, eu ouço muito mais Stephen Malkmus e… eu acho ok (risos). Não me sinto nem um pouco ofendido com nada. Sem contar que o Nando Reis às vezes até aproxima outras pessoas, tipo: “Oi, eu sou do fã clube do Nando Reis”, e eu: “Que legal, você gostou da nossa música?”. E ela: “Gostei, gostei pra caramba”. Que lindo.
Tem gente que já falou em The Who…
Nevilton: Olha a impressão que a gente está dando (risos)…
…e o Supegrass dos primeiros discos…
Nevilton: Hoje estou ouvindo mais Supergrass. E conhecia, mas comecei a ouvir mais depois que o pessoal começou a comentar. E fui ouvir para descobrir o porquê, né. Me identifiquei muito. Tem vários backing vocals no estilo “lalalalalalalala” e umas coisas muito divertidas. Mas eu conhecia o “In It for the Money” e o “I Should Coco” muito superficialmente. Não foi uma influência direta.
Talvez sejam as mesmas referências…
Nevilton: Talvez o The Who…
Sem pensar muito: tem uns sete mil CDs aqui. Se tivesse que pegar um e sair correndo, qual seria?
Heitor: Um só? … Acho que iria ser o disco que mais me marcou, que é o “Roots”, do Sepultura. Marcou demais.
Nevilton: Não sei. Juro que não sei. Acho que seria o máximo que coubesse na minha mão. Eu sempre tive contato com Pavement por MP3. Talvez eu levasse uns Pavement… mas é muita coisa boa.
Quais bandas com quem vocês tocaram juntos ou já viram ao vivo que vocês acharam fodas?
Heitor: Móveis Coloniais de Acaju. Você sai de casa pra ver uma parada que te deixa feliz.
Nevilton: Eu fui ver eles no Planeta Terra e me chocou. Na hora que eu entrei já tinha um buraco no meio da platéia e eles estavam lá agitando. Que louco. Mas tem vários shows que me deixaram impressionado. Por exemplo, eu conhecia as músicas do Beto Só fazia uns quatro anos, mas nunca esperava ver ele ao vivo, já que ele não tem uma agenda lotada, e fui vê-lo em Curitiba, e foi um show lindo. Um show incontestável é o do Macaco Bong. Vi alguns shows deles, e todos foram chocantes. Eles fizeram um show com a Pata de Elefante no Itaú Cultural que, pra mim, separou meninos de homens. O show deles foi amplo, abriu a história. Das bandas que conheço, o grande show é o do Macaco Bong.
E o que vocês pensam de suas bandas no futuro?
Nevilton: O mesmo que eu vinha pensando dois anos atrás, mas com muito mais animo. Eu já era animado sem saber que existia uma critica que falava de pessoas que não estão na mídia, reles mortais (risos), hoje em dia sou muito mais “putinha” do que era (mais risos). Tem muita música ainda pra fazer. Tem uma turnê pela frente. Nós já confirmamos o Abril Pro Rock, no Recife, e vamos aproveitar o festival para fazer mais umas dez datas no Nordeste. Eu vejo que vamos fazer mais de 50 shows até junho. Se em 2009 foram 49 shows no ano, em seis meses de 2010 a gente já vai ter feito isso. É a tática que eu falei antes: a gente vai atingir muita gente pessoalmente, no palco. Não há negatividade. Está muito legal…
Heitor: Eu quero montar um trio (risos) e fazer 50 shows até o meio do ano (mais risos).
Diego: A gente está pensando em dividir a Banda Gentileza em dois trios… (risos), mas… sério, a gente ainda nem começou…
Heitor: Temos plena noção disso. A gente precisa plantar mais, precisa fazer a música chegar ás pessoas. Temos uma dificuldade muito grande de fazer show. Existe convite que a gente recusa porque não tem como faltar dois dias no trabalho. Estamos buscando meios…
Diego: Um milionário para adotar a gente (risos)…
Heitor: … mas a gente também está otimista. A recepção está sendo muito boa, então o plano é continuar o trabalho. Divulgar, circular, tocar. Quando a gente decidiu gravar o disco, estávamos numa reunião na casa do Artur (Lipori), e conversamos: “Vai custar tanto. A gente não tem esse dinheiro. Vamos ter que fazer uma dívida. Vai valer a pena?”. A gente gravou e está acontecendo um monte de coisa legal. O disco não passou em branco, entrou em listas de melhores do ano, estou realizado. Agora é pensar no segundo disco…
– Marcelo Costa é editor do Scream & Yell e assina o blog Calmantes com Champagne
– Tiago Agostini é jornalista, colaborador da Rolling Stone e assina o blog A Day in The Life
– Liliane Callegari é arquiteta e fotógrafa. http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari
muito bacana. ótima iniciativa essa de entrevistão. que venham outras.
Muito massa a entrevista. Vocês já pensaram em publicar o áudio? tipo um podcast? acho que seria bacana, para as próximas claro. Falando em próximas entrevistas, já sabem quais serão? uma sugestão: Dave Grohl e Jack White, hehe.
Abç
Não conheço a banda Gentileza, mas esse comentário será atual apenas até amanhã quando baixarei o cd deles.
Já o Nevilton tive a feliz atitude de baixar várias músicas. Vida longa a banda e que ela venha logo para o Nordeste, quem sabe para o PIauí
Excelente. Efeito nostálgico desta entrevista com o De Inverno e a Garagem que grava, o show do Pixies, a cena Mod de Curitiba nossa me lembrei de muita coisa.
Outro lance interessante é esta parada de Los Hermanos, que birra que estes barbudos trazem e trouxeram a todos. Muita gente compara as bandas com eles depreciando e etc e para mim que estava presente na época do bloco(parece que foi no século passado), vi os shows era incrível o quanto era verdadeiro os shows, a reação do público e tudo mais. Pra mim não seria problema algum ser comparado com eles se fosse o caso da minha banda e os entrevistados mostraram também que para eles não é problema, ponto para eles.
Acabei de baixar os dois discos(Nevilton, Gentileza) e são ótimos. E a Gentileza desta-se muito pela arte, pela produção do site, os textos, encartes, muito legal, parabéns a todos.
MUITO BOM!!!
Os discos são ótimos, as bandas… demais!
A entrevista também haha, tudo muito bom! 😀
Entrevista deliciosa. A leitura passou rapida que só. Que venham mais!
Belíssima entrevista, Mac!
Show de bola!