“Viva la Vida or Death and All His Friends”, Coldplay

por Marcelo Costa

Fragmentos de um texto antigo:
“X&Y” eleva a milésima potência a grandiloquência exibida em “A Rush of Blood to the Head”

“A banda continua na árdua caminhada para se transformar no novo U2?.

“Copiando o U2, o Coldplay está mais para um Simple Minds”.

“O Coldplay pinta ser a grande banda da década, porém, ainda deve um grande álbum aos críticos”.

“Chris Martin precisa aprender a cantar sem chorar”

“Algum produtor fodaço (como Daniel Lanois e Brian Eno) precisa mostrar para os músicos que não existem apenas teclados, pianos e sintetizadores no mundo”.

Resenha de “X&Y” datada de 13 de julho 2005 (a integra está aqui).

Três anos se passaram desde o texto acima. Neste meio tempo, o Coldplay baixou na América latina para uma mini-turnê, o vocalista enfezadinho abandonou jornalistas em uma entrevista coletiva de imprensa em São Paulo e mais de 350 comentários superlotaram uma coluna que escrevi em março de 2007 sarreando Chris Martin (incrivelmente, 50% querendo o meu pescoço, 50% me elogiando – e eu achei que fosse ser linchado em praça pública sem nenhum amigo para me dar a mão). Ah, e o Coldplay chamou Brian Eno para produzir o seu novo disco…

Brian Eno dividiu os trabalhos com Markus Dravs – recomendado por Win Butler, do Arcade Fire, após ter assinado a produção do maravilhoso “Neon Bible” – e chegou chutando a porta da lojinha Coldplay no geral, e de Chris Martin em particular, falando tudo aquilo que a gente já sabia: “Suas canções são longas demais. Você é muito repetitivo, e usa excessivamente os mesmos truques – e coisas grandes não são necessariamente boas. Você recorre demais aos mesmos sons, e suas letras não são boas o suficiente” (contou o vocalista em entrevista a Rolling Stone norte-americana).

Após uma estreia bonita e inocente, um segundo disco mediano e um terceiro álbum grandiloqüente e decepcionante, o Coldplay chega ao quarto disco assumindo os próprios erros e com desejo de traçar caminhos novos. “Viva la Vida or Death and All His Friends”, resultado do encontro da banda com Eno e Dravs, chega a surpreender pela forma radical com que a banda nega o passado e se prepara para o futuro. Domados pelas mãos sábias da dupla de produtores, o quarteto britânico coloca nas ruas o seu melhor disco.

Além de ser um comparativo de sucesso, o U2 passa agora a ser uma inspiração para Chris Martin, que graças aos céus deixou de cantar em falsete (ele usa o expediente em poucos segundos da gravação), mas investe nos berros a la Bono. O som da guitarra que havia sido aposentado em “X&Y” retorna forte e lembrando em muitos momentos os harmônicos de The Edge. E até órgãos de igreja entraram no álbum (da mesma forma que entraram em “Joshua Tree”, segundo álbum produzido por Eno – e Daniel Lanois – para o U2).

A influência descarada, no entanto, não faz de “Viva la Vida” um pastiche, muito pela qualidade – tanto musical quanto temática – do repertório. Chris Martin voltou no tempo e de lá trouxe boas histórias para suas letras antes romanticamente – corretas e – monotemáticas. “Cemeteries Of London” fala sobre cavaleiros que cavalgam até o amanhecer e enfrentam bruxas e fantasmas. “42” cita feitiçaria. “Yes” é sobre ceder à tentação. Em “Viva La Vida”, o vocalista ouve os sinos de Jerusalém e acredita que São Pedro irá chamar seu nome. “Violet Hill” relembra um tempo em que padres também seguravam rifles.

Musicalmente, Brian Eno enxugou os arranjos e deu personalidade aos sons de teclados (que fizeram muito mal aos repertórios de “A Rush of Blood to the Head” e, principalmente, “X&Y”) criando uma sonoridade com um pé no rock progressivo, mas sem cair na vala insuportável da grandiloquência. Outra boa nova é o resgate do som da guitarra de Jon Buckland (que enriquece faixas como “Violet Hill”, “Cemeteries Of London” e “Strawberry Swing”). Boa parte do repertório de “Viva la Vida or Death and All His Friends” soa grandioso e delicadamente bonito como poucas vezes o Coldplay conseguiu ser em seus dez anos de carreira.

A instrumental “Life in Technicolor” abre o álbum com som de órgão de igreja e é impossível não fazer um paralelo com “Where The Streets Have No Name”, faixa que abre “Joshua Tree”, do U2 (os vocais de Chris Martin ao fundo poderiam ser de Bono, se não forem – brincadeirinha). “Cemeteries Of London” traz Martin gastando voz sob uma cama de órgão, teclado, violão e guitarra. O órgão de igreja retorna no arranjo mantrico de “Lost” (uma das grandes letras do álbum). “42”, a melhor música, mostra o quanto a banda cresceu melodicamente: começa vagarosa e bonita a la Keane e depois se transforma em Radiohead. O arranjo de “Yes” também surpreende, com Martin cantando pausadamente sobre uma boa estrutura melódica que inclui cordas no meio da canção.

As guitarras dão a cara de verdade em “Chinese Sleep Chant”, faixa escondida que começa ao final de “Yes” e faz a cama para a belíssima melodia de “Viva La Vida”, com arranjo de cordas e sons de órgão e teclados vindos do céu. “Eu costumava controlar o mundo / Os oceanos aumentavam quando eu dava a palavra / E agora pela manhã eu me arrasto sozinho”, canta Chris no começo da canção. “Violet Hill” é o mais próximo que o Coldplay já chegou dos Beatles (sonoramente e geograficamente: Violet Hill é uma rua paralela a Abbey Road). “Strawberry Swing” tem clima cigano, e poderia ser o final conceitual do disco, já que “Death and All His Friends” e “The Escapist” (outra faixa escondida, esta com o mesmo órgão que abre o álbum) são o mais próximo que o velho Coldplay aproxima-se do novo.

Mais do que ser um grande disco, “Viva la Vida or Death and All His Friends” coloca em primeiro plano a função do produtor. O que o lançamento sugere é que qualquer bandeca mediana pode lançar um grande álbum se estiver devidamente assessorada. É quase isso, e não é vergonha nem demérito. O que seriam dos Beatles sem George Martin? Possivelmente uma grande banda, mas será que chegariam no lugar em que chegaram? Ok, não há como comparar Chris com Lennon e McCartney, mas “Viva la Vida” coloca definitivamente o Coldplay no rol das grandes bandas dos anos 00. Chris Martin continua sendo um mala de marca maior (os recentes casos de abandono de entrevista, de recusa a lançar uma música por ser sexy demais e o risco de cancelar a turnê por um acidente no ensaio – isso mesmo, ensaio – só confirmam sua postura coxinha), mas já pode dormir tranquilo: o Coldplay lançou um grande disco. Agora ele só precisa de um assessor para cuidar de sua vida pessoal, mas uma coisa de cada vez, não é mesmo.

“Viva la Vida or Death and All His Friends”, Coldplay (EMI)
Preço em media: R$ 30
Nota: 8,5

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

Leia também:
– Coldplay ao vivo em 2001: show provoca catarse, mas não surpreende (aqui)
– Sete motivos para rir de Chris Martin, vocalista do Coldplay (aqui)
– Coldplay, Travis e Starsailor pertencem ao grupo das bandas coxinhas (aqui)
– “Viva La Vida Special Edition”, Coldplay: reedição é indicada para completistas (aqui)
– Em “X&Y”, Coldplay alterna baladinhas, baladas e baladões. E dá sono. (aqui)
– Os dois primeiros discos do Coldplay e a estreia do Starsailor (aqui)

31 thoughts on ““Viva la Vida or Death and All His Friends”, Coldplay

  1. Ô Mac, você sabe porque o cabrito caga umas bolinhas pretas ? Não ?

    Você não entende nem de %!@$&@#como quer entender e criticar o trabalho artístico de uma banda musical, aposto que vc não sabe tocar nem berimbau…

  2. Ahahahha, bom dia amiguinho!
    Putz coincidência, fiz um comentário na matéria do “Spiritualized” onde pergunto à vc sobre “Coldplay-Viva la Vida” a que postou hj,rs
    Gracinha mesmo o cd, já tenho, ouvi pouco ainda, mas…sou realmente, incondicionalmente, apaixonada por eles, nem ao menos sabia de tudo o que comentou ai, mas…to pouco me lixando se o cara é mitchidu, gosto do estilo, da voz, da melancolia, enfim, do conjunto de coisas que sempre ouço nas músicas deles.
    Legal saber, estar por dentro, embora isso não me faça gostar menos dele, mesmo assim, mais uma vez, agradeço a vc pela passagem desses conhecimentos, Vc é ótimo. Bjs, boa semana e até um próximo comentário meu, tá??

  3. Acho um saco, em todos os lançamentos de discos do Coldplay o que mais falam é sobre a influência do U2. O Chris Martin cansa insistindo nesse mesmo ponto… Gosto das músicas da banda, mas acho que Coldplay deve soar como Coldplay e parar com essa insistente corrida pra ser U2. Até pq pra chegar ao U2 ainda tem chão… e muuuuito

  4. Esse Wellington é um burro, hein. O Marc elogia o disco, e o cara ainda pega no pé. Eu acho até que você foi bom demais com a banda. Coldplay é insuportável, mas até que esse cd é audivel.

  5. Para mim “Viva la Vida…” é o 2º melhor álbum do Coldplay, ainda prefiro o Parachutes. Gostei bastante das mudanças nesse novo álbum, espero que continuem nessa linha. X&Y realmente foi uma decepção para mim como fã, apesar de conter ótimas canções como “Fix You” e “A Message”, o conjunto da obra ficou bem a quem do esperado. Mais acredito que a banda já passou dessa fase de querer ser o U2, acho que eles almejam agora mais identidade, apesar do excelente trabalho do Brian Eno levar para uma sonoridade similar ao do U2. Ter uma identidade musical que ficará marcada na história para mim é mais importante do que ser a maior banda do mundo. Eles já passaram da fase
    mirar grandes vendas e conquistar prêmios, querem melhorar o som, isso ficou bem claro nas entrevistas concedidas no decorrer da produção de “Viva La Vida…”. O Chris Martin precisa urgentemente aprender a lidar com a imprensa, em vários casos ele é provocado e tem suas declarações distorcidas, mais não pode simplesmente fechar o bico e sair, tem que ser diplomático, saber se comportar diante de maus e bons profissionais de imprensa, para que não seja transmitida aos fãs uma imagem antipática, e contrariar as letras que escreve.

  6. Boa crítica, de quem ouviu o disco MESMO. Agora “A Rush Of Blood To The Head” mediano? Não, não filho…

  7. Marcelo, o segundo álbum do Coldplay se chama “A Rush of Blood TO THE HEAD”. Você chama de “A Rush of Blood In the Head”. Pô cara, você já escreve no IG, o site mais migué do Brasil, e ainda fica errando o nomes dos discos que você quer dar palpite? Aí fica difícil… um abraço…

  8. Concordei demais com você, Marcelo. Mas concordei mais ainda com as críticas do Brian Eno dirigidas ao som do Coldplay. Ele conseguiu resumir em poucas palavras as principais falhas dos discos anteriores da banda.
    O Viva La Vida me fez ouvir de novo boa parte dos discos que o Eno produziu e fica claro que o cara é meio extraterreno. Principalmente, ao meu ver, por discos como Achtung Baby, do U2, e a trilogia de Berlim, do Bowie.

  9. eu gosto da banda e da sonoridade seja ela com a sonoridade apimentada ou amenizada de orgãos, pianos e CIA. Ainda não ouvi o novo album mas já tô vendo bafafás aki e ali.

  10. Eu li todas as críticas,os comentários feitos aqui( tirando os irrelevantes do wellington,of course) e concordo que a simplicidade de Parachutes,as letras mais descontraídas e ao mesmo tempo profundas de quem não sabe ainda se vai fazer sucesso,fazem do disco o meu favorito. A partir do momento em que veio o sucesso,Coldplay repetiu muitas vezes a mesma fórmula.Eu vejo o novo disco como o começo de uma libertação mas ainda espero ver algo realmente diferente,talvez eles nunca consigam ser como o Radiohead,capaz de produzir um disco completamente diferente do outro, mas que prevaleça sempre a qualidade musical,que o Coldplay tem de sobra!

  11. sempre acompanho oque considero um dos melhores resenhistas desse país, sinceramente, achei o album bem produzido mas não menos ruim, Coldplay em sua ardua tentativa de ser o novo U2/Radiohead é apenas, o Coldplay, uma banda mediana que sonha em ser grande.

  12. Adorei a crítica. Percebe-se que vc realmente ouviu o disco e soube apreciá-lo. 🙂
    Só discordo da parte do A Rush Of Blood to the Head, que é meu segundo disco preferido da banda, só perdendo pro Viva la Vida, que está maravilhoso!

  13. Mac, meu chapa…ainda nao sei se gostei do disco…ja escutei um monte de vezes. Ele é bom, isso nao pode-se negar, mas é tao, tao U2 mesmo que….
    No mais, pelo menos voltei a gostar de Coldplay, coisa que nao acontecia desde o primeiro disco.
    Bela resenha.
    Abs.

  14. fala mac!

    realmente, lendo os comments acá vejo como o codiprei é daquelas bandas q causam comoçao em geral,,,

    a mi por lo menos no me gusta NADA, pero,,,

    por sua “culpa” vou dar um confere nesse viva la vida aí,,, hehe

    o texto tá coisa fina.

    y bueno, se os tecladoes por fin se foram e a bronquinha vegetal cris martin deixou de cantar como uma gazela asmatica,,, a ver q pasa.

    vou escutá-lo,,, com má vontade. hahahaha

    abraaaaaaaço

  15. Não sei se já comentaram, mas o The Joshua Tree é o 2º álbum do U2 produzindo pelo Eno e o Lanois. Já a crítica tá boa. Sempre achei q o ponto fraco do Coldplay eram as letras mesmo. Só falta ouvir o disco agora!
    =P

  16. Ótima análise do Cd.

    E aproveitando… vc bem que poderia fazer uma outra análise sobre o novo álbum da Aimee Mann, “smilers”.

  17. Opa! Vo ouvir agorinha mesmo e depois deixo minhas impressões.

    PS: Como pode existir gente tao imbecil como esse wellington? huauaha… fala ´serio q panaca

  18. Bom, Mac, já que mencionastes uma resenha em inglês, leia essa, por favor, que dá o devido valor a, na minha opinião, a melhor banda do século 21, até agora:

    http://www.bbc.co.uk/music/release/2h54/

    Ahh, essa também:
    http://www.thesun.co.uk/sol/homepage/showbiz/bizarre/article1202492.ece

    Talvez a participação do Eno tenho sido decisiva mesmo, mas pra mim Codplay tem sempre evoluído, desde Parachutes, nunca o contrário. X&Y é um álbum incompreendido, pela crítica (isso inclui você). O tema pode ser “um só”, mas a forma como foi tratado é que importa.

    Ah, só mais uma coisa: Os Beatles seriam Os Beatles, com ou sem George Martin. É só escutar os discos solo do Paul para saber disso…

  19. Gosto de Coldplay, ouvi o “Viva la vida (…)” com pouco critério (sem prestar muita atenção) e não vi muita novidade. Agora depois da ótima crítica do Marcelo, vou revisitar os detalhes com mais calma!

  20. Achei complicada essa crítica…que elogia, mas somente qndo a banda não é a banda…ou seja, o coldplay só é valorizado qndo não é o coldplay…é o U2, é o Keane, é o Radiohead… Confesso que de primeira achei o disco chato, mas depois fui descobrindo melodias e reavaliando o disco que agora entendo como muito bom. Diferente, realmente. O Eno traz vitalidade e novas paisagens para a banda, mas ainda sim é Coldplay e se em Yes ele canta com tom baixo, o falsete perdido em algumas faixas matam a saudade de quem realmente gosta do coldplay. Novidade…sempre queremos, mas a novidade surge em atrito com as características próprias do grupo…e é impossível dissociá-las. palmas para o coldplay, que mesmo diferente ainda é agrande banda de sempre!

  21. É impressionante como os criticos soam iguais, hein?(principalmente para criticar o que faz sucesso)Se o Coldplay ficou tão parecido com o U2 por conta do Bian Eno e você acha isso uma virtude, me desculpe mais pra mim soa mais como cópia. E chamar o Coldplay de “bandeca”, é muito despeito pro meu gosto… Cara va ouvir bandas “cabeçudas” e não torre o nosso saco com estes comentários cretinos.

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