“Daqui Pro Futuro”, Pato Fu

“Daqui Pro Futuro”, nono trabalho de inéditas do Pato Fu, é um disco carregado de exclamações. A banda mais genial do lado debaixo do Equador assume a independência e privilegia a internet ao mesmo tempo em que lança um de seus álbuns mais melancólicos e poéticos. O lirismo sempre marcou o texto de John, guitarrista e principal compositor da banda, mas no passado vinha carregado de uma dose de ironia que escondia o azedinho da tristeza. Agora não. John e Fernanda compuseram um disco que parece ter sido feito de encomenda para Nina, a filhinha do casal: é calmo – como que para não assustar crianças – e cheio de recadinhos sobre o futuro.

Se o clima não irá incomodar crianças, adultos podem até se assustar com a verve afiada de canções como “Espero” (que narra um fim de romance de forma desoladora, porém bela: “É difícil respirar sem você, não que eu goste de ser má, mas sorrir pra quê?”), “Tudo Vai Ficar Bem” (que, apesar do título “pra cima”, crava: “Eu distribuo amor, eu curo solidão, mas peço por favor, alguém me dê a mão”), Woo! (do ótimo verso “A confusão pode ser doce, a perfeição pode matar”), “Nada Original” (do também ótimo verso “Você é como um filme ruim, que eu já sei o fim e é nada original”) ou “1000 Guilhotinas” (que fala sobre guerra e traz outro poderoso verso: “Aqui não é lugar pra quem não tem coragem de atirar”).

Produzido “em casa”, no estúdio pessoal do guitarrista John em Belo Horizonte, “Daqui Pro Futuro” é um disco para ser ouvido prestando muita atenção no encarte, mas sem desviar a atenção dos arranjos. A famosa guitarra de John (que já levou prêmio de guitarrista do ano da finada Bizz em uma época que Edgard Scandurra ainda não era hors-concours) acrescenta detalhes, mas quem brilha são os barulhinhos eletrônicos que pontuam de forma especial cada arranjo. John usou a computação para emular harpas, realejo ou mesmo buscar outros tons para cada melodia do novo álbum. Esse trabalho cuidadoso deu ao disco um sotaque atemporal, cuja ligação com o título se aprofunda mais e mais conforme o laser bate no CD.

“30.000 Pés” abre o álbum de forma leve com violão e teclado (tão suave quanto uma caixinha de bailarina); “Mamã Papá” (parceria do casal Pato Fu com o genial Rubinho Troll) brinca com versos infantis e tenta inverter o foco de atenção quando Fernanda canta “Estou aqui pra te escutar”. A bela “Espero” bate forte na memória enquanto a cover de “Cities In Dust” (Siouxie and The Banshees) surge eletrônica e totalmente encaixada no espírito do álbum. A excelente “Tudo Vai Ficar Bem” conta com a colombiana Andrea Echeverri (do grupo Ateorcipelados) assinando a letra e dividindo os vocais com Fernanda Takai. As fofas “A Hora da Estrela” e “Vagalume” sugerem influência da pequena Nina enquanto “Woo!” é a faixa dançante do álbum, com guitarras altas, batida eletrônica marcada e refrão sacolejante.

“Daqui Pro Futuro” não é fácil (no conceito pop de música e letra), mas despeja inteligência em baldes sobre o apático cenário mainstream nacional. È um disco maduro de uma banda que insiste em buscar novos caminhos para a música popular brasileira, seja em termos musicais, seja em termos de mercado. Neste último caso, destaque para o fato do álbum ter chego primeiro às lojas onlines antes mesmo do disco ter ganhado um formato físico. Agora, com o álbum em mãos, optaram por lançar por selo próprio (o Rotomusic) e pela distribuição da pequena Tratore (que trabalha com selos indies como a Monstro Discos) ao invés de majors que pararam no tempo com relação à tecnologia ( confira entrevista com a banda no iG Música). Com o Pato Fu, a música brasileira caminha – daqui pro futuro – sintonizada com o que de melhor acontece no mundo.

“Daqui Pro Futuro”, Pato fu (Rotomusic)
Preço em média: R$ 20

Assista ao clipe de “30.000 Pés”

12 thoughts on ““Daqui Pro Futuro”, Pato Fu

  1. Fala grande Mac!

    Cara, li no La Nación q o WILCO está para ser confirmado no festival argentino ‘Personal Fest’ em dezembro deste ano!!!

    Pô, pro Brasil é um pulo, né não?,,, hehe

    Vamos torcer pro Jeff Tweedy querer dar uma esticada por aqui – nem q seja pela caipirinha,,,, hahahaha brincadeeeeeira,,, =)

    Sobre o Pato Fu, vi o show do disco novo este fim de semana, adorei as novas mas tbm me peguei um pouco triste pela exclusão sumária de alguns clássicos (‘o mundo ainda não está pronto’, ‘o processo,,,’ e ‘spoc’, por ex – ok, coisa de trintão nostálgico q sou,,, hehe), mas a fernanda já tinha avisado no início do show q isso fatalmente aconteceria,,,

    esse é o ‘problema’ de uma banda boa q tem muita história pra contar, ou melhor, música pra tocar.

    a primeira vez q os ouvi (no ‘rotomusic,,’) achei a banda mais insana da época e ainda os acho geniais e necessários hoje – menos debochados mas subvertendo o desgastado pop com,,, conteúdo – , e sempre arriscando (independentes na música eles sempre foram) num meio onde há tanta obviedade se arrastando por aí.

    abração!!!

  2. MAC, acho meio esdrúxulo esse lance de “banda do ano”, “disco do ano” e tals, mas pra esse eu não resisto: disparado o melhor disco nacional do ano, top 5 década.

    Cara, eles vão tocar no SESC Vila Mariana dias 21, 22 e 23 desses mês. Meu ingresso já tá comprado. Vamo aê?

    Abraços,
    Reimão

  3. Até gosto do Patu Fú, só que a canção ‘Nada Original’ faz jus ao nome já que o Pulp gravou TV Movie há algum tempo:
    “Without you my life has become a hangover without end.
    A movie made for TV:
    bad dialogue, bad acting, no interest.
    Too long with no story and no sex.”

  4. Cara, gostei muito do novo álbum; me parece que ele é resultado direto do processo de criação do “Toda Cura” e por isso discordo um pouco quando você diz que ele não é fácil. O álbum anterior,para mim, foi uma casacata de criatividade que em alguns momentos até me incomodaram um pouco, mas que acabei me acostumendo. Nesse, vejo os elementos do álbum anterior trabalhados de maneira mais “redondinha”. talvez eu apenas tenha me acostumado, mas acho que, por exemplo, os barulhinhos eletrônicos, sutis, são uma expressão disso. E quanto ao fato de o disco ser dedicado à filha deles, concordo 50%, porque tanto quanto dizer algo sobre/para a Nina, no fundo vejo que eles estão dizendo muito sobre o Pato fu mesmo daqui pro futuro, de maneira independente e super antenados.

    Assisti ao novo show no CCBB do RJ, lugar sensacional, perfeito para o show. Uma galera saudosista tanto que pediu que eles tocaram Spoc no lugar de uma outra música. Uma pena pois foi uma canjnha no lugar de uma música de verdade. Definitivamente não sou saudosista..hhhehe

  5. Cara, ótima crítica, parabéns! O álbum é fabuloso, prova da força criativa que o Pato Fú tem! Abraços!!!

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