Três discos: Leonard Cohen, Elvis Costello, Brian Ferry

textos de Marcelo Costa


“Ten New Songs”, Leonard Cohen (Columbia)
Quebrando um silêncio de 10 anos sem um álbum de inéditas, o bardo Leonard Cohen nem se deu ao trabalho de buscar um nome para batizar o décimo disco de sua carreira e saiu com o original “10 novas canções”. A produção irritantemente certinha de Sharon Robinson (que já havia trabalhado com o poeta em 1988) incomoda, mas o que fica em se tratando de Cohen é sua voz grave a frente desfilando os belos versos de suas canções. Assim, “In My Secret Life” é linda de doer (que tal começar um álbum com “I saw you this morning / You were moving so fast / Can’t seem to loosen my grip / On the past”), “A Thousand Kisses Deep” já vale pelo título (a canção é matadora) e “That Don’t Make It Junk” é… bêbada. Como um todo, “Ten New Songs” não alcança o brilho de seu antecessor (“The Future”, de 1992), mas é o amor como só caras como Cohen (e Neil Young) sabem descrever. E vale a pena, sempre.

“When I Was Cruel”, Elvis Costello (Universal)
Reunião em algum boteco no céu e os santos decidem, de porre, que a saída para melhorar a vida aqui embaixo seria boa música. Só isso poderia explicar o lançamento de discos de Billy Bragg, Neil Young, Wilco e uma coletânea de Patti Smith num curto espaço de tempo. Junte ao clube, agora, Elvis Costello. O título, inclusive, remete a reunião inicial: “Quando eu era cruel”. Elvis pegou toda sua carreira, jogou no liquidificador e da mistura saiu “When Is A Cruel”, com canções que remetem aos melhores momentos de álbuns dispares como “My Aim Is True” de 1977, “Spike” de 1989 e “Kojak Variety” de 1995. Entre lirismo e violência, entre passionalidade e política, entre jazzy, rock e baladas memoráveis, Costello quebra um silêncio de quatro anos com um disco magnífico, para ficar em um adjetivo. Outro? Sensacional. Quer mais?

“Frantic”, Brian Ferry (Virgin)
Sem dúvida, 2002 vai entrar para a história rocker como o ano em que a molecada tomou uma surra dos coroas. Neil Young, Elvis Costelo, Billy Bragg, Leonard Cohen e Van Morrison já haviam lançado grandes álbuns. Agora é a vez de Brian Ferry juntar-se ao grupo. Aos 57 anos, Ferry deixa de lado sua posição de crooner romântico e lança um disco de rock setentista. Com vocal mais rasgado e com uma produção extremamente cuidadosa que, por várias vezes, chega a colocar quatro guitarras em uma faixa, “Frantic” é de um bom gosto atroz. Inspirando elegância, Ferry mistura canções novas com várias covers. Assim, temos regravações de clássicos dylanescos (“It’s All Over Now Baby Blue” e “Don’t Think Twice, It’s Alright”, está última apenas com harmônica e piano) e um bluezaço de Leadbetter (“Goodnight Irene”) dividindo espaço com quatro canções em parceria com o ex-Eurythmic Dave Stewart (“Godess of Love” mescla programações eletrônicas com inspirações setentistas que misturam harmônica, quatro guitarras e quatro teclados, com Brian Eno e o próprio Ferry tocando os últimos), uma balada dolorida de própria autoria (“A Foll For Love”) e, para o final, uma parceria com Eno que remete aos tempos do Roxy Music (“I Thought”). E, sim, Jonny Greenwood do Radiohead toca em uma faixa (“Hiroshima”).

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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