por Marcelo Costa
Começando uma nova sequencia de cervejas produzidas na cidade de São Paulo com uma West Coast IPA da Trilha Cervejaria, do bairro da Pompéia, em São Paulo, a Malibu, cerveja do clube Ultrafresca, mês de agosto de 2020, com os lúpulos Citra, Centennial e Galena. De coloração dourada com creme branco de boa formação e retenção, a Trilha Malibu exibe um aroma que combina notas frutadas intensas (toranja e casca de laranja) com um herbal discreto e leve percepção resinosa. Na boca, a sugestão de toranja bate ponto logo no primeiro toque seguindo adiante acrescentando casca de laranja, herbal distante, resina comportada e leve mineral. O amargor é presente, cerca de 50 IBUs que começam suaves e vão ganhando intensidade enquanto riscam a garganta com resina suave. A textura é suave e dai pra frente segue-se a pegada de uma West Coast frutada, amarga e levemente resinosa, numa releitura caprichada da Trilha. No final, amarguinho persistente e leve resinoso. No retrogosto, amargor e toranja.
A segunda da Trilha é uma releitura da casa para o estilo belga Farmhouse Ale, aqui turbinado com flor de hibisco. De coloração vermelha lindíssima com creme branco avermelhado que sobe rapidamente e desce mais rapidamente ainda, não promovendo nenhuma retenção, a Trilha Saison Hibisco apresenta um aroma com sugestão de frutas amarelas (apesar da cor), com maracujá doce e muito pêssego em destaque – há leve sensação de morango e de cereais. Na boca, sugestão de cereja e pêssego chegam praticamente juntas ao primeiro toque, seguido de leve floral, um toque sutil de fermento belga, mais pêssego e amargor bem discreto. A textura é leve e discretamente efervescente. Dai pra frente a sensação é a de um suquinho refrescante de pêssego com cereja (e 5.2% de álcool), numa releitura bastante pessoal e interessante do estilo feita pela Trilha. Não bate uma Saison tradicional belga, mas diverte. No final, pêssego e cereja. No retrogosto, efervescência e refrescancia.
Da Pompéia para a Vila Ipojuca com duas Baltic Porter da Cervejaria Avós. A primeira é a Baltic Base, uma cerveja de coloração marrom com creme bege claro de boa formação e retenção. No nariz, notas derivadas do malte tostado se destacam remetendo a caramelo tostado, chocolate meio amargo e café. Há leve remissão a torra. Na boca, o primeiro toque traz doçura de caramelado tostado no primeiro toque com leve sugestão de bananada na sequencia (sem tanta doçura), chocolate meio amargo, café e malte torrado suave. O amargor é suave (30 IBUs), mas presente. Já a textura é suave, meladinha, com discreta percepção dos 8.4% de álcool – maravilhosamente inseridos no conjunto. Dai pra frente, uma Baltic Porter para se tirar o chapéu, que oferece bastante doçura de malte tostado, mas está bem longe de enjoar. Equilibradíssima, com álcool “invisível” e doçura cativante, eis uma baita cerveja que finaliza com leve remissão a bananada. No retrogosto, malte tostado, chocolate amargo e calorzinho alcoólico.
A segunda da Avós é uma versão da Baltic que passou por barril de carvalho de Jack Daniels Honey feita especialmente para o aniversário de 5 anos do Bro’s Beer. De coloração marrom com creme bege claro de boa formação e retenção, a Avós Baltic Porter Bourbon Honey Edition apresenta um aroma com torra mais acentuada e melhor definida do que na versão anterior trazendo consigo notas de café. Há, ainda, bastante presença de mel, mas absolutamente nada de madeira muito menos de Bourbon. Na boca, a sensação que o aroma adianta se concretiza com sugestão absolutamente deliciosa de café no primeiro toque com mel incrível na sequencia. Aqui é possível perceber notas que remetem a Bourbon, com muita sutileza. Mas nada de madeira. O amargor é apagado por uma doçura saborosíssima e meladinha. Já a textura é suave. Dai pra frente, uma Baltic Porter BA mais torrada e mais adocicada que a anterior, e muito gostosa. No final, meladinho e café. No retrogosto, sorrisos.
Da Vila Ipojuca para Santa Cecilia, na capital paulista, com a primeira de duas Dogmas, a Nelson Memories, uma American IPA com 6,6% de teor alcoólico e os lúpulos Nelson Sauvin (NZ), Southern Cross (NZ) e Mosaic (EUA), que exibe uma coloração dourada levemente translucida e com creme branco de ótima formação e retenção. No nariz, uma pancada de frutas cítricas que remete não só a toranja como também, levemente, a blood Orange. Há, ainda, uma suave presença resinosa e também laranja. Na boca, um suco intenso de toranja no primeiro toque abrindo com refrescancia num perfil frutado, levemente amargo (na casa dos 60 IBUs comportados) e de resina bastante sutil. A textura é suave com picância discreta. Dai pra frente, uma American IPA com muita sugestão de toranja, resina leve e amargor comportado. No final, toranja. No retrogosto, mais toranja e refrescancia cítrica.
A segunda da Dogma é a Vanilla Late, uma Russian Imperial Stout de 9.2% de álcool cuja receita recebe adição de baunilha e o café mineiro Catuaí Vermelho, da W1. De coloração marrom intensamente escura, praticamente preta, com creme bege escuro de ótima formação e retenção, a Dogma Vanilla Late apresenta um aroma que consegue equilibrar muito bem os dois itens adicionados, com o café mais destacado e a baunilha, mais sutil, na base. É possível ainda perceber notas de torra, chocolate e melaço. Na boca, café marcante no primeiro toque atropelado pelo malte torrado na sequencia, que consegue, ainda, deixar a baunilha ainda mais distante do que no aroma. O amargor é alto e potente (com auxilio da torra). Já a textura é sedosa. Dai pra frente, uma boa RIS com café e baunilha que parece pecar pela torra excessiva, que acaba, em alguns momentos, atropelando tudo e matando a sutileza dos ingredientes adicionados. No final, café e amargor. No retrogosto, amargor.
De volta ao bairro da Pompéia com duas cervejas da Kinke. A primeira delas é a Maverinke, uma American Pale Ale com dry hopping do lúpulo Vic Secret. De coloração dourada levemente turva com creme branco espesso de boa formação e média retenção, a Kinke Maverinke apresenta um aroma com cereais em destaque e um aceno bastante discreto de frutas cítricas, sem profundidade ou distinção. Há, ainda, leve herbal. No paladar, doçura maltada remetendo a cereais maltados no primeiro toque abrindo caminho para um conjunto refrescante, que reprisa a sensação sutil de frutas cítricas seguida de herbal, de leve hortelã e de um amargor bastante leve. A textura é suave e, dai pra frente, uma American Pale Ale caramelada, e com sugestão de hortelã roubando o espaço do que, aparentemente, deveria ser frutado cítrico. No final, meladinho. No retrogosto, hortelã e cereais.
A segunda da Kinke é a 555, uma American IPA que combina lúpulos estadunidenses e alemães e exibe uma coloração âmbar levemente turva com creme bege clarinho, quase branco, de ótima formação e longa retenção. No nariz, um aroma bastante interessante que combina sugestão de caramelo tostado, damasco, algo que remete a amendoim, guaraná e herbal sutil. Na boca, sugestão de damasco no primeiro toque seguida de reforço de damasco, guaraná, herbal leve e amargor médio, 48 IBUs equilibrados. A textura é suave. Dai pra frente, uma IPA com bastante sugestão de guaraná e de damasco, com herbal leve e absolutamente nada de frutado cítrico (o caramelo também se distancia da maneira usada nas tradicionais Caramel IPAs nacionais, um mérito). No final, guaraná e amarguinho leve. No retrogosto, guaraná e damasco.
Da Pompéia para a Vila Madalena com a primeira de duas Croma, a Time To Czech, uma Pilsner tcheca com dry hopping do lúpulo Saaz e decocção, método tradicional usado em pilsens, bocks e weizens que busca realçar o sabor do malte e melhorar a clarificação da cerveja e que consiste na separação de uma parte do mosto, que é fervido e volta a ser adicionada ao mosto para elevar a sua temperatura. De coloração âmbar clara levemente amarelada com creme branco espesso de excelente formação e retenção, a Croma Time To Czech apresenta um aroma com sugestão intensa de cereais e de malte, herbal picante leve e um chulezinho encontrado tradicionalmente em Heineken. Na boca, herbal intenso com pegada suave de amargor desde o primeiro toque seguido por um perfil mais pujante do estilo, com as tradicionais remissões a biscoito. O amargor é médio e interessante (na casa dos 40 IBUs) e a textura, cremosa. Dai pra frente, uma Pilsner mais intensa do que normalmente se encontra por ai, com o Saaz levemente exagerado. No final, herbal arisco e amargor leve. No retrogosto, herbal e amargor.
Fechando a série com a segunda da Croma produzida ali pertinho do Beco do Batman, a Ynfynyty é uma Russian Imperial Stout feita a partir de um blend de duas bases distintas e envelhecidas por 12 meses em barricas de carvalho americano que antes envelheceram bourbons WoodFord Reserve e Four Roses. Trata-se de uma cerveja de coloração marrom escura intensa, praticamente preta, com creme bege de média formação e rápida dispersão. No aroma, Bourbon e sugestão de baunilha explodindo juntos numa paleta que ainda traz chocolate, coco sutil, mel, madeira e defumado leve. Na boca, chocolate seguido de baunilha no primeiro toque abrindo prum conjunto intensamente intenso, pegado, com muito Bourbon, madeira, leve coco, defumado sutil e 12% de álcool belamente inseridos. A textura é sedosa, licorosa, com álcool e Bourbon dançando sobre a língua. Dai pra frente, uma RIS BA incrível, deliciosa, potente e intimidadora. No final, Bourbon e chocolate. No retrogosto, chocolate amargo. Uou.
Trilha Malibu
– Produto: West Coast IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 6.4%
– Nota: 3.40/5
Trilha Saison Hibisco
– Produto: Farmhouse Ale
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 5.2%
– Nota: 3.36/5
Avós Baltic Base
– Produto: Baltic Porter
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 8.4%
– Nota: 4.01/5
Avós Baltic Bourbon Honey Edition
– Produto: Baltic Porter BA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 8.4%
– Nota: 4.02/5
Dogma Nelson Memories
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 6.6%
– Nota: 3.39/5
Dogma Vanilla Late
– Produto: Russian Imperial Stout
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 9.2%
– Nota: 3.49/5
Kinke Maverinke
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 5.6%
– Nota: 2.90/5
Kinke 555
– Produto: India Pale ALe
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 7.6%
– Nota: 3.40/5
Croma Time To Czech
– Produto: Pilsener
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.49/5
Croma Ynfynyty
– Produto: Russian Imperial Stout Barrel Aged
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 12%
– Nota: 4.11/5
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