introdução por Marcelo Costa
Faixa a faixa por Rosana Puccia
Como antecipa o título, “In Jazz autoral” (2023) é um álbum de jazz que explora vertentes clássicas do estilo, como jazz blues, traditional jazz e jazz balada. Sexto trabalho da cantora, letrista, compositora e cientista da Escola Paulista de Medicina-UNIFESP Rosana Puccia, “In Jazz autoral” é mais um fruto da parceria da artista com o músico, compositor e produtor David Pasqua, cujo primeiro fruto, “Cadê?”, lançado em 2016, ancorava-se no samba e MPB. Aos poucos, o duo foi sendo levado para o samba jazz numa trajetória que, agora, abraça o jazz apaixonadamente.
Com melodias de David e letras de Rosana sobre amor e as fases do relacionamento, do apaixonar-se às DRs, “In Jazz autoral” já estava pronto quando Gabriel Jammal e Andrea Rosas, jovens cineastas, apaixonaram-se pelas canções e aceitaram escrever um filme de roteiro curto para dar identidade visual às composições inéditas dos artistas. As músicas soam como trilha de “bons musicais dos anos 40 e 50” e, naturalmente, inspiraram cenas com toques de glamour e enquadramentos que valorizam os cenários e a produção meticulosa de fotografia e arte.
“In Jazz autoral” tem como base instrumental o trio de piano (David Pasqua), baixo acústico (Marcelo Rocha) e bateria (Edson Ghilardi), enriquecidos com solos de sax (Chico Macedo), clarinete (Ivan de Andrade), trompete (Felipe Aires), guitarra (Diego Trindade) e até pandeiro (Cleiton Pellado). O curta é narrado através de seis das oito canções do disco e tem um interlúdio que conecta uma faixa à outra. Este é o primeiro álbum visual da carreira de Rosana Puccia e a segunda parceria dela com os diretores Gabriel Jammal e Andrea Rosas, que também assinam a produção do videoclipe do single “No Camarim da Ilusão”, lançado em março.
Abaixo, ouça o disco e leia os comentários de Rosana sobre cada uma das oito faixas do álbum. Ao final, assista ao curta de Gabriel Jammal e Andrea Rosas.
01. “Ando Assim”: É uma balada que dói, incomoda. Alguém, que não consegue se encontrar plenamente dentro da relação, reclama disso e daquilo, mas conclui que bom mesmo é se entregar ao amor sem se preocupar com os rótulos. No filme, a música ganha o clipe 3, com cenas de recordação do casal. David Pasqua e eu achamos que essa é a música mais bonita do disco.
02. “Let’s Stop and Decide”: A melodia revela um confronto que a letra traduz como uma competição de ideias que faz o casal viver em constante tensão. A guitarra duela com o vocal. Mas não é hora de parar pra pensar se não é melhor crescer juntos como um time do que jogar o amor ao vento em meio a tanta discussão? No filme, a música ganha o clipe 2, que sustenta visualmente a tensão entre o casal e se mostra também na impaciência da cantora/criadora dos personagens. Adoro assistir e adorei filmar este clipe.
03. “Café pra Dois”: O filme começa com essa música solar, solta, gostosa como uma tarde de domingo despretensiosa, que culmina num encontro de olhares capaz de mudar tudo e fazer levitar entre chaminés. Aquele café agora são dois… e a cantora/criadora dos personagens interage, invisível, com o casal vivendo momentos de descontração amorosa no quarto e no viaduto Santa Efigênia. A dança de rua é a linguagem dos corpos do casal. Ah! A canção inicia com um recitativo que explica tudo. Paixão no ar!
04. “We Are Done”: Essa é a música mais triste porque mostra que a separação do casal é irreversível. Não há explicação convincente de um erro porque o orgulho do outro predomina. O clipe, também 4, mostra os autores, David Pasqua e eu, fazendo um show muito bem vestidos. O casal protagonista assiste separado e o rapaz (Sorriso) faz uma coreografia de dança de rua repleta de emoção durante um solo de sax que machuca o ventre.
05. “Mera Voz”: Essa composição antiga de David Pasqua ganhou meu recitativo e uma repaginada irresistível em jazz. David canta comigo, completando o charme. É uma música dedicada àqueles que sofrem com críticas ao seu modo de cantar, mas que nem ligam (muito) e mandam ver no microfone. A faixa não entrou no filme.
06. “Voyeur”: essa faixa também não está representada no filme. A melodia de David Pasqua me levou a uma letra que retrata a sensualidade do preparar o corpo para o dia, dos cremes ao perfume, da lingerie ao vestido que o parceiro dispensa, em meio ao frenesi…
07. “Love’s on Board”: Essa canção é muito pra cima! Foi com ela que o projeto “IN JAZZ autoral” começou. O cantor Bruno Vincenzi encomendou um jazz de David Pasqua com letra minha e assim nasceu um amor à primeira vista no meio do oceano, com direito a um cruzeiro sem ondas nem tempestades. No filme, é o clipe 5, com o casal protagonista e a cantora/criadora dançando em meio a uma paisagem super urbana decorada pelo Teatro Municipal de São Paulo. Literalmente dança de rua!
08. “Jazz na Balada”: O disco e o filme terminam com esse samba jazz de David Pasqua que ganhou uma versão minha em inglês cantada em jazz, mas que passa para ao samba na voz do David e vai para um solo de pandeiro em jazz sensacional! Para completar a mistura saborosa de estilos, o dançarino protagonista do casal (Sorriso) faz um solo em hip hop. Tudo combina no maravilhoso mundo do som e da dança. O casal e os autores/criadores se encontram nessa festa, quebram a quarta parede e comemoram juntos o encontro.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.