roteiro, apresentação, edição e entrevista por Sarah Quines
Formado por um brasileiro no violoncelo e um argentino no acordeon, o Duo Finlandia mistura ritmos do folclore latino-americano com elementos eletrônicos num som essencialmente instrumental. A dupla, que surgiu em 2010, lançou o álbum “Migrantes” em 2019, um trabalho que reflete o impacto dos deslocamentos dos povos na América do Sul.
Em 2020, o Duo Finlandia se preparava para embarcar na turnê em comemoração aos 10 anos de estrada mas, poucos dias antes de comprarem as passagens para o México, os músicos tiveram que cancelar a programação por conta da pandemia. Depois do hiato de dois anos, a dupla retorna aos palcos e bateu um papo com o Garimpo Sonoro sobre a retomada das apresentações ao vivo, as últimas canções gravadas e o processo de criação que, mesmo antes da enxurrada de reuniões online durante a pandemia, já funcionava de forma virtual, com cada um dos integrantes morando num país diferente. Confira:
A banda tá em turnê pelos dez anos de estrada, e já lançou seis álbuns. Ouvindo o som de vocês, dá para perceber a riqueza dos ritmos que influenciam esse trabalho: da milonga, ao frevo, da chacarera à cumbia. Eu quero começar perguntando como vocês chegaram a esse formato do folk eletrônico?
Mauricio: Foi natural assim, começamos a compartilhar música dos dois países, aí a gente já tinha algumas músicas próprias e começamos a montar a ideia sonora e aí, depois do primeiro disco, aí sim, já começou uma pesquisa mais focada nessa ideia. Mas foi natural, porque a música dos países, da nossa vida, não foi uma coisa forçada, foi bem leve assim a ideia. Depois sim foi mais investigação, pesquisa…
Raphael: A gente trouxe muita coisa das nossas vivências também, não só como músicos mas como pessoas no mundo, tanto questões de ouvir familiares que tocavam quando a gente era pequeno, isso tudo influencia. Morar em cidades impulsionou muito essa questão de a gente entrar na modernidade, mas valorizando a tradição também.
E aí a gente tem um argentino e um brasileiro. Contem de onde cada um de vocês é, de qual região da Argentina e do Brasil, e se o local de origem de vocês também influencia nessa paisagem sonora que o Duo Filandia cria?
Raphael: A gente é de vários lugares né Mauri? Bom, começando por mim: eu nasci em Belo Horizonte, mas nunca morei em Minas Gerais, uma pena porque eu tenho muito orgulho de ser mineiro. E sempre rodei muito no Brasil, morei em Recife, Pelotas, São Paulo, Fortaleza…e vários lugares. Hoje tô morando fora do país também (em Paris), isso tudo influencia muito no projeto o tempo todo. Não só essa bagagem que a gente tem desde pequeno, mas também o que a gente tá vivendo hoje né? Com esses novos ambientes, com esses novos lugares que a gente tá morando. E isso traz muito elemento o tempo todo para alimentar os próximos discos e tudo mais.
Mauricio: Eu sou de Córdoba, que fica no centro da Argentina, e é uma cidade que tem influência de toda Argentina, porque tá bem no centro e todo mundo passa por lá e deixa alguma coisa. E, claro, depois que começou o Duo Finlandia, as viagens começaram a influenciar nos discos, ouvir outras músicas, conhecer países que nem fazia ideia que a gente iria conhecer. Acho que foi uma combinação de lugar de origem e viagens.
As referências dos sons da América do Sul não aparecem só na pesquisa dos formatos musicais que vocês fazem, mas também na interação com as comunidades tradicionais, que é o caso das lavadeiras do Jequitinhonha, por exemplo, que aparecem no álbum “Mundo Rural” de 2015 né?
Raphael: As lavadeiras foi um grande orgulho assim, a gente tá sempre, no conceito do projeto, buscando sonoridades mais tradicionais e, principalmente, aquelas que estão mais esquecidas. Então, trazê-las dentro da roupagem que a gente faz, um pouco mais contemporânea. E uma delas foi fazer essa homenagem às lavadeiras, que é um coral de Jequitinhonha, no interior de Minas, que lavam a roupa no rio, ainda tem essa tradição. Elas cantam e isso já cresceu, esse coral já fez apresentações até internacionais, e a gente realmente se apaixonou por esse projeto e entramos em contato com elas. Isso tá totalmente conectado com a essência do Duo Finlandia, essa questão da gente sempre fazer essa pesquisa, trazer e valorizar esse ambiente mais tradicional. Elas aceitaram e a gente fez uma roupagem, podem ver que essa música tem uma roupagem bem mais contemporânea não é basicamente o que elas fazem normalmente no coral delas, mas essa interação, essa essência, essa conexão rolou muito bem. E pra gente é realmente uma homenagem a elas, por isso que a música se chama “Homenagem às lavadeiras”.
Assista a entrevista na íntegra no link abaixo:
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– Sarah Quines (@sarahquines) é jornalista e criadora do canal Garimpo Sonoro